UM MELGACENSE EM LA LYS
trincheira portuguesa em la lys
ANTÓNIO REIS
No relógio da eternidade já bateu a hora fatídica em que as parcas cortaram o fio da vida de António Reis. Estou-o a ver rapaz novo, cheio de vida, feito tropa na grande guerra, a partir para França levando no coração juntinhos o nome da mãe e o de Melgaço. Foram eles o seu amuleto e sob a sua influência soube ele impor-se na batalha de La Lys a um pelotão de alemães, quando, rotas as linhas portuguesas, um prussiano alto como as casas e valente como as armas o quis dominar e sentiu-se agarrado pelo António. E vira para aqui, vira para ali; tomba para um lado e tomba para o outro, lá estiveram os dois a medir forças e todo o pelotão parado, pasmado, a gostar de ver e a admirar o camarada português, que era valente. E quando o prussiano julgou levar a melhor e dar um tiro no António, todos os seus camaradas lhe gritaram: - Glória aos valentes! Em sentido! Apresentar armas. Só então o António Reis caiu em si e chorou. Estava prisioneiro. O nome da mãe e o de Melgaço foram na verdade o talismã mágico, que lhe insuflou na alma a valentia e a coragem dos tesos, que sempre mostrou em toda a campanha. E quem há por aí que possa dizer-nos não ter ele retemperado sua fé na vitória dos aliados sempre que rezou baixinho:
«Lá nas trincheiras exposto constantemente
Encarando em minha frente
A morte por tanta vez,
Pensava nelas e sentia-me tão forte,
Que não receava a morte
Porque eu era português.»
António Reis pertencia ao quadro da nossa Câmara Municipal e foi o notável requinta da banda dos B. V. Em qualquer destes lugares também brilhou e como sempre foi correcto, o seu nome foi um dos bem conceituados entre os seus concidadãos.
Paz à sua alma e condolências aos doridos.
(Publicado em Notícias de Melgaço de ../5/1958)
Obras Completas Augusto César Esteves
Nas Páginas do Notícias de Melgaço
Edição Câmara Municipal de Melgaço
Volume I Tomo 2
2002
Pág.s 689, 690