VOLFRÂMIO EM CASTRO LABOREIRO E GAVE
PATRIMÓNIO, MUSEUS E TURISMO INDUSTRIAL:
UMA OPORTUNIDADE PARA O SÉCULO XXI
Em Melgaço, concelho rural, a exploração de volfrâmio, no decorrer da II Guerra Mundial, trouxe algum alento à economia local. A importância do volfrâmio para as populações locais residia no facto de se constituir, a seguir ao contrabando, como o segundo elemento dinamizador das expectativas na melhoria da vida que se viriam a concretizar, ainda através da emigração.
“Durante a Segunda Grande Guerra, por volta de 1942/43, abriu também a exploração do volfrâmio nos montes de Castro Laboreiro. Era um metal muito procurado para armamentos e pagavam-no bem – em quinze dias que passei lá juntei o dinheiro que precisava para pagar as três vacas que tinha “de ganho”. (Virgílio Domingues, memórias de um emigrante pioneiro).
Em 1942, Portugal estabelece um acordo comercial com a Alemanha, em troca de aço, ferro, e vagões de comboio. Os alemães controlavam a exploração de volfrâmio que lhes interessava para armamento tornando-se essencial ao seu esforço de guerra. Este minério metálico, disputado também pelos ingleses, por razões estratégicas e bélicas, era então intensamente explorado nas poucas grandes e muitas pequenas e médias minas na zona norte e centro do país, para além das companhias e empresas estrangeiras e nacionais, exercendo-se também a céu aberto por indivíduos isolados, conforme testemunhado, como se evidenciou atrás, a título de exemplo, por muitos naturais de Rouças da Gavieira, Arcos de Valdevez e Castro Laboreiro em Melgaço.
Daí que a autarquia projecte, actualmente, a requalificação das antigas minas de volfrâmio de Castro Laboreiro, pretendendo-se transformá-las num novo ponto de interesse no concelho, preservando as memórias de um período importante da sua história, relacionada com a exploração deste minério metálico de grande valor estratégico na 1ª e 2ª Guerra Mundiais e na Guerra da Coreia.
Apesar do número de galerias conhecidas ser superior a 40 e a área total da zona mineira ser grande, prevê a autarquia, apenas a recuperação de duas galerias, de forma a não tornar o percurso de visita repetitivo, para além da recuperação da represa de água.
Mas conhecer Gave, onde se localiza a mina de volfrâmio conhecida por “Mina do Pedro” que ainda nos anos 1950 se encontrava em exploração, é também conhecer a Serra da Peneda, desde as suas paisagens, às tradicionais Brandas ou Verandas.
Por exemplo a branda da Aveleira situada a cerca de 1100 m de altitude é uma zona de montanha onde são ainda visíveis os vestígios da era glaciar conhecida como “Glaciação de Wurm”.
Aqui já foi criado, o primeiro trilho geológico português, iniciativa do Instituto Geológico e Mineiro que configura um interessante atractivo turístico.
(…)
Obtinham assim o mineral volfrâmio que conseguiam vender para o contrabando. O contrabandista mais conhecido a quem vendiam era o Mareco, pertencente à bem organizada rede de contrabando “A Companhia”. Com o lucro obtido nesta transacção, a maioria das mulheres comprou fios de ouro com várias voltas, tal como a tradição minhota.
A caminhada até às minas era dura, pelo que as mulheres superavam-na cantando todo o caminho:
(Versos recitados por antiga lavadora de volfrâmio em Castro Laboreiro, D. Angelina Esteves).
Eu hei-de ir ao minério
Trabalhar o filão
Com o dinheiro do minério
Hei-de comprar um cordão
Eu hei-de ir ao minério
Hei-de ir lá trabalhar
Todo mundo anda no luxo
Eu também quero luxar
II CONGRESSO INTERNACIONAL SOBRE PATRIMÓNIO INDUSTRIAL
22-24 MAIO
2014