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MELGAÇO, DO MONTE À RIBEIRA

História e narrativas duma terra raiana

MELGAÇO, DO MONTE À RIBEIRA

História e narrativas duma terra raiana

O REENCONTRO

melgaçodomonteàribeira, 09.11.24

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virgínia ferreira

MELGAÇO: ‘JOVEM’ DE 90 ANOS SOMA ADMIRADORES

COM POESIA E MEMÓRIA IMPRESSIONANTE

Rádio Vale do Minho

05/06/2018

“Mantenho sempre a cabeça a trabalhar. Sempre ocupada”. Com um sorriso enorme, Virgínia Ferreira mostrava-nos com orgulho os seus escritos ao longo das últimas décadas. Ora se sentava, ora se levantava do sofá com uma agilidade incrível. E nós, a puxar pela ferrugem, a tentar acompanhar esta jovem melgacense ainda com 90 anos de idade. “Quando tinha 18 anos, eu tinha um primo em Lisboa que era diretor do jornal O Mundo Desportivo. Era uma pessoa muito inteligente. Escrevia muito! Nesse tempo estava o Fernando Pessa na BBC de Londres”, contava a Dnª Virgínia com uma memória fotográfica que, ao longo desta história, nos deixaria ainda mais boquiabertos. “O meu primo gostava muito de escrever sobre as Termas do Peso, mas conhecia muito pouco de Melgaço. Pediu-me então para o ajudar”. A jovem Virgínia assim fez. Começou a ser elogiada e percebeu que tinha talento para a escrita.

Dois anos depois, chegou o casamento. “A vida modificou-se completamente. Tive filhos. Trabalhava como comerciante de manhã à noite sem horários”, recordava. E o tempo para escrever começava a ser menos. A esferográfica acabou mesmo por ficar arrumada de vez num canto. “Fiquei viúva e entregue a um desgosto profundo. Não havia nada que me animasse! Não dormia… e durante o dia estava sempre triste”. Chegou então aquela noite em que, já de madrugada, Virgínia sentou-se na cama. Começou a escrever. Brotou poesia. E nunca mais parou. Virou-se para a prosa… e para um romance que chamou de O Reencontro.

A GUERRA E A FOME EM MELGAÇO

Virgínia consegue recordar cada dia da sua vida como se fosse ontem. Literalmente. Desafiámos a nonagenária a recuar aos tempos da II Guerra Mundial. “Melgaço estava muito mal. Passou-se muita fome. Tinha havido a Guerra Civil em Espanha, que ficou completamente destruída. Foi uma guerra que começou em 1936 e acabou em 1939, diz-nos em tom professoral. Com uma lucidez e um conhecimento de História de fazer inveja. “A II Guerra rebentou nesse ano e foi até 1946. Foi muito mau! Não havia nada nas mercearias. De vez em quando lá vinha alguma coisa, mas os comerciantes não nos podiam vender sem que tivéssemos uma senha que tínhamos de ir buscar ao presidente da Junta”. Os olhos de Virgínia Ferreira brilhavam. Como que mergulhados nesses tempos mais negros de um país e de um mundo encobertos pela escuridão. “Passou-se muita fome! Um dia cheguei a ver aqui em Melgaço uma mãe com uma cesta de milho para semear no campo. Ao lado caminhava uma criança a chorar e a suplicar: Mãe, não ponhas o milho na terra. Faz pão para comermos!”.

O LUXO DAS TERMAS E O FLAGELO DA EMIGRAÇÃO CLANDESTINA

Nas décadas 40 e 50 do século passado, conta-nos Virgínia Ferreira, as Termas do Peso viveram páginas de ouro. Eram frequentadas por gente das mais altas sociedades de todo o mundo. Dos mais afortunados até aos incrivelmente milionários e com os caprichos mais estranhos. “Naquele tempo as praias não estavam na moda. Eram mais as Termas! Vinham aí duas senhoras… as senhoras Moutinhas, de Lisboa, que traziam um cão muito grande, num grande carrão com motorista fardado”, descreveu. “O cão dormia no quarto delas no Hotel Ranhada. Os empregados até iam ao quarto servir a refeição ao animal, que não podia sentar-se à mesa. E o motorista é que dava banho todas as manhãs ao cão”. A memória de Virgínia Ferreira não falhava.

Mas os menos afortunados, leia-se a maior parte da população, tinham também acesso às Termas. “Havia lá umas funcionárias com uns copinhos próprios para dar-nos de beber. Mas não mais que isso. Se quiséssemos uma garrafa, tínhamos de a comprar”, apontou a nonagenária.

Seguiram-se depois tempos muito duros para Melgaço com a emigração clandestina. “Foi terrível!”, avaliou a poetiza que nos leu alguns versos que a própria escreveu sobre este tema:

A década de sessenta corria

No nosso país havia gente com muita necessidade

A vida era-lhes muito dura

O nosso regime era a ditadura, e não havia liberdade…

As pessoas que queriam emigrar para da miséria se livrar

Não o podiam fazer

Não conseguiam autorização para sair da nossa nação

E na miséria tinham que viver.

DOS DIAS FELIZES

Chegou, por fim, o dia da liberdade. “Levantei-me de manhã e fui para a loja. Ia sempre às 7 da manhã para distribuir o pão para as mães darem o pequeno almoço às crianças antes de irem para a escola”, prosseguiu com uma memória precisa. Ao detalhe cirúrgico. “Chegou então um senhor já idoso que me disse que se estava a passar um caso muito grave em Lisboa. Diziam no rádio para as pessoas não saírem à rua porque podiam correr perigo”. Mas tudo acabou como a História nos conta vezes sem conta.

Aos 90 anos de idade, Virgínia Ferreira é um hoje uma mãe, sogra e avó feliz. Terminou recentemente de escrever O Reencontro. E a família inteira fez-lhe uma grande surpresa. Publicou o livro e foi realizada uma autêntica cerimónia de lançamento nas Termas do Peso com direito a sessão de autógrafos. Emocionada, Virgínia Ferreira garantiu-nos que pretende continuar a escrever e a bordar até onde a saúde permitir. “Vou juntando tudo em cadernos. Depois os meus filhos, que são muito meus amigos, que façam o que quiserem. Tem aí muita bagagem para isso”, concluiu com uma gargalhada.

radiovaledominho.com

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pessoal do antigo hotel ranhada em 1956

 

MELGAÇO, PARQUE TERMAL DO PESO

melgaçodomonteàribeira, 23.03.24

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O RENASCER DAS TERMAS DE MELGAÇO

Localizado num dos recantos mais belos do nosso país, o Parque Termal do Peso está a renascer e prepara-se para voltar a ser uma referência a nível nacional e internacional.

O Parque Termal do Peso, onde funciona a Estância Termal de Melgaço, tem uma longa história. Iniciou o seu funcionamento comercial na segunda metade do século XIX, quando as propriedades terapêuticas das águas foram descobertas. Em 1885 engarrafaram-se as primeiras águas e, quatro anos depois, foi aprovada a licença para a sua aplicação terapêutica. Do Parque Termal fazem parte as duas nascentes, a Buvete, o Balneário e a Oficina de Engarrafamento. À frente das instalações, há um belo jardim banhado pela ribeira da Bouça Nova, dando ao lugar um espírito bucólico, onde podemos relaxar.

Aproveitando esta beleza natural, o património arquitetónico e a qualidade das águas, a Estância Termal de Melgaço foi alvo de uma requalificação completa e encontra-se desde 2013 aberta ao público com novos equipamentos. Desde julho deste ano, há uma nova gestão das termas e uma nova estratégia: “vida em pleno”. O objetivo é atrair novos visitantes, nacionais e internacionais, e de todas as idades, de forma a devolver as termas ao esplendor de outrora.

Além do tratamento de patologias específicas, as Termas de Melgaço oferecem agora tratamentos focados no bem-estar, na estética, beleza e relaxamento, tais como diferentes tipos de massagem, tratamentos de beleza e faciais. A estância terá também disponíveis rastreios de colesterol, glicose, tensão arterial, triglicerídeos, entre outros. Mesoterapia, Pilates, Fisioterapia, Reiki e Zumba são algumas das atividades de lazer e terapêuticas disponíveis.

As Termas de Melgaço estão abertas todos os dias, entre as 09h30 e as 19h30 ao público em geral. O espaço, pelo seu esplendor e beleza, está disponível para reservas de eventos.

Para o futuro, está planeada também a recuperação do Hotel do Peso, hoje uma ruína nostálgica que lembra outros tempos. A unidade hoteleira complementará a oferta da estância termal e será um hotel-boutique de 4 estrelas, com 44 quartos.

Para já, quem visite as Termas de Melgaço, poderá ficar no Parque de Campismo ou na vila de Melgaço, a cerca de 10 minutos de carro.

SAPOVIAGENS

11 dez 2017

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MELGAÇO, ÁGUAS DO PESO

melgaçodomonteàribeira, 07.09.19

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LUGARES DE CURA E DE LAZER: PRAIAS E TERMAS DO NORTE DE PORTUGAL ENTRE OS FINAIS DO SÉCULO XIX E INÍCIOS DE NOVECENTOS

 

Alexandra Esteves

 

Eram igualmente afamadas as águas das termas do Peso, na freguesia de Paderne, concelho de Melgaço. O pedido de aproveitamento das águas do Peso para fins medicinais foi registado na Câmara Municipal de Melgaço em 1884. Após uma época aurea, em que se enchia de aquistas em busca de cura para os seus males, seguiu-se um período de abandono que se prolongou por mais de 15 anos. Entretanto, o complexo termal do Peso retomou a sua atividade.

O desenvolvimento da vertente lúdica e social acabou por se verificar nas estâncias termais, como consequência das longas estadias que os tratamentos exigiam. Deste modo, a falta de saúde acabava por servir de pretexto para momentos de reunião familiar, pois raramente o aquista partia sozinho. Para ocupar os tempos livres, os hotéis proporcionavam muitas vezes actividades de entretenimento, procurando atrair e satisfazer uma clientela cada vez mais exigente. Por isso, contratavam atores e músicos, organizavam-se bailes, festas, jogos, soirees e passeios.

 

http://academia.edu