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MELGAÇO, DO MONTE À RIBEIRA

História e narrativas duma terra raiana

MELGAÇO, DO MONTE À RIBEIRA

História e narrativas duma terra raiana

A LENDA DO PEDREGAL DE IRIMIA

melgaçodomonteàribeira, 31.07.21

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AS FEITICEIRAS DE ARBO E MELGAÇO

“Quem atravessar o rio Minho em Melgaço há-de levar na boca um seixinho para durante a viagem não poder falar se as feiticeiras se meterem com ele” (Leite de Vasconcelos 1931, 70 en Alonso Romero F 1996, 75).

Vamos que para atravesar o río en Arbo e Melgaço o mellor é levar unha pedriña, un coio pequeno na boca para non poder falar en ningún caso.

As feiticeiras amedoñan ás personas dunha e doutra beira que cruzan o río Miño, sexan pescantíns, barqueiros ou calquera tipo de xente, que deben levar coios entre os dentes para asi non repostar ás súas palabras enmeigadas. Son fermosas e poden engailar os mozos, que os levan profundidades e xa se sabe.

O parecer estas feiticeiras aparecen exclusivamente no río Miño.

O parecer cando alguén abre a boca para falar métense por ela cara o cerne do corpo da víctima, respostando esta crenza á medieval que cría  na entrda dos diaños e certos intres de xantar e do falar. Daquela a alma podía ser posuida por eles, ata ser expulsada por certos medios como os exorcismos, en diversos santuarios cristiáns.

O parecer tamén actuaban contra as embarcacíons e a pesca. Para actuar neste caso dábanlle unha tunda cun pau a rede e repetian: Ah desgraciada! Toma! Toma!. Si o volver a botar a rede esta flotaba é que a feiticeira inda estaba na rede, volvian a facer o mismo cambiando as palavras por: Sae de aqui, filla de puta!. (Alonso, E. 1984, 353).

 

Retirado de: www.rios-galegos.com/lendafeiticeiras.htm

RIOS, REGATOS E CORGAS MELGACENSES

melgaçodomonteàribeira, 04.08.20

 

O MOURO E OUTROS RIOS

Este rio que, segundo li não me recorda já onde, em tempos antigos se teria chamado Urgedo – de urze, que corre entre matagais desta ericácea – nasce também no sítio do Gavião Grande, perto de Alcobaça; atravessa a antiquíssima povoação de Lamas do seu nome, onde, um tudo nada a jusante, junto à vetusta, típica e pitoresca ponte romana, recebe as águas de dois ribeiros, que de poente para nascente lhe vem ao encontro, cujas fontes são, respectivamente, na Portela do Lagarto e na Chã dos Fetos (cume da montanha 1216 metros de altitude).

Daqui, descrevendo um grande círculo no sentido Sul-Norte-Poente, na sua margem esquerda, molha as freguesias de Parada do Monte e Gave, e, na direita, as de Cubalhão e Cousso, recolhendo como tributários mais importantes em terras de Melgaço o Regato de Cubalhão e o Medoira(?) o Mourim(?) de Parada do Monte. A partir de Tangil, ruma novamente directa e francamente ao Norte, indo confluir no Minho, junto a Ceivães povoação outrora chamada Mouro de Juzano; isto é: Mouro de Baixo, ou de Jusante, em oposição a S. Pedro de Um ou Mouro hoje Riba de Mouro freguesia que se nenhuma vez se denominou Mouro de Susano… chamou-se Cima de Mouro, isto em oposição a Mouro de Baixo. Os chamadiços Riba de Mouro e Ceivães, ou melhor Seivães, como se escrevia no século passado, ainda não ganharam patina, pois são de origem recente, e significam: Riba = margem, e Seivães = seivas, verduras, etc. Como se vê, crismas com seu que de poesia; mas, cem por cento, acertados.

O rio Mouro é riquíssimo em trutas, mas também aqui los aficionados não deixam por pé em ramo verde a estes tão saborosos salmonídeos.

O Folia – Da arquisecular ponte romana da Folia recebeu este rio o seu crisma; não obstante abundarem documentos oficiais onde se chama regato de Remoães…

É ele formado, junto ao balneário das Termas, por dois regatos a saber: ao da esquerda, que nasce em Pomares, Paderne, chamam-lhe Lages ao passar por Crastos e Peso no sítio deste nome; e o da direita, que nasce por cima da Rasa de S. Paio, tem o nome de Lavandeiras no Pontilhão e suas proximidades, e Martingo a partir de Cortinhas. In Águas Minero-Medicinais de Melgaço, o prof. Charles Lepierre chama-lhe Ribeiro de Bouça Nova, porém onde ele foi buscar esta denominação não sei. Deste é seu principal tributário (no inverno que no verão o seu caudal é bem aproveitado para regar as terras…) a Corga de Pontizelas, e a partir do Pontilhão até ao pavilhão das Termas ou seja precisamente por onde há menos de cem anos corria a desviada Corga de Varzielas limita as freguesias de prado e Paderne, e daqui até à sua foz, que dista 900 metros e tem, a cota de 85 ditos, a última é de Remoães.

Por último, vejamos agora o Pontepedrinha, assim denominado da ponte de pedra do mesmo nome ponte que também crismou o local.

Este rio, cuja foz é no sítio chamado Freijoas donde sai a famosa represa de Fontenlas, que a tradição diz ter sido delineada e cavada por dois irmãos de Remoães, para fertilizar terras da sua freguesia é também formado com água de dois regatos, confluentes nas Várzeas: o S. Lourenço e o Bulegães, ou Regato da Vila, como vulgarmente é mais conhecido.

Destes cursos de água, o primeiro, o S. Lourenço, tem as suas respectivas fontes em Cavaleiro Alvo e em Loviô; deste lugar até ao Porto do Carro, extrema as freguesias de Rouças e S. Paio; dali até à Ponte de S. Lourenço, aquela e a de Prado, e daqui até à Pontepedrinha esta e a da Vila. É um dos mananciais mais fertelizantes do concelho de Melgaço, donde sai um ror de represas, entre as quais as mais importantes são as do Escourido, em S. Paio; a de Canles, em Roucas, e a de Alça-pernas em Prado. E é também o que mais moinhos faz mover, pois para cima de vinte destes engenhos tenho eu conhecimento, não incluindo os arruinados e desaparecidos.

Quanto ao segundo e último Rio do Porto, Bulegães, Mejanços, ou Souto dos Loiros, como lhe chamou José Augusto Vieira, no seu Minho Pitoresco, ao passar por Cavaleiros, ou ainda S. Mamede, como se denomina em certo documento do século XIII (prova provada que a ermida deste Santo já existia no monte do mesmo nome naquela época…) quanto ao segundo e último, dizia, nasce em Fiães, por cima do Outeiro da Loba (771 metros de altitude), onde em 18 de Julho de cada ano, comparecem os respectivos utentes da Vila, Roucas e Chaviães, para aí tomarem conta, e dividirem entre si em partes iguais, durante o período chamado das sete semanas, as águas do Ranhadouro.

De todos os cursos de água do concelho, é este o que desde sempre mais sarilhos e discórdias tem provocado, até com dares e tomares na justiça; e, isto pelo simples motivo de «na casa onde não há pão todos ralham e ninguém tem razão». Quero dizer: o seu caudal é insuficiente para regar a área que dele depende, o que se podia remediar com a construção de duas ou três albufeiras, onde se julgasse mais conveniente. A sugestão aí fica…

Como pude e soube, cheguei ao fim. Releio agora tudo quanto fica para traz e chego à conclusão de que bom serviço prestaria à nossa terra quem limasse as muitas arestas e suprimisse as grandes deficiências destes meus pobres e despretensiosos linguados.

 

  1. Júlio Vaz Apresenta Mário
  2. Júlio Vaz

Edição do autor

1996

Pág.s 84, 85, 86

 

 

BOLETIM CULTURAL DE MELGAÇO Nº 10

melgaçodomonteàribeira, 16.05.20

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DO MITO À REALIDADE: CULTO E SACRALIZAÇÃO DA ÁGUA NO ENTRE DOURO E MINHO

 

CARLOS ALBERTO BROCHADO DE ALMEIDA

 AS TRAVESSIAS DO RIO MINHO

 

Na ausência de pontes as travessias do rio Minho faziam-se de barca ou então aproveitando as travessias naturais que ficaram conhecidas por vaus.

Ao longo do seu percurso inferior este rio tem, desde época romana, uma ponte em Orense, sendo que as demais são de cronologia bem recente. No tramo inferior a mais antiga é sem dúvida a Ponte Internacional de Valença que abriu ao público em 1886, porque a de Vila Nova de Cerveira, a chamada Ponte da Amizade, essa data de 2004. Depois ainda há as pontes internacionais de Valença-Tuy (1993), a de Monção-Salvaterra (1995) e a do Peso-Arbo de 1999.

Desde a antiguidade que a forma mais comum de atravessar este rio foi o barco e no caso vertente a barca mais conhecida operava entre as duas margens, precisamente, entre o Areínho (Valença) e a margem oposta em Tuy. Esta barca é seguramente anterior àquela que a Rainha D. Teresa instituiu no começo do século XII (Marques, 1991 e 1997) e operava no mesmo ponto onde havia sido a travessia da estrada romana, a Via XIX do Itinerário de Antonino. A ajuizar pela presença de um cruzeiro, atribuível ao século VXIII, localizado a uma escassa meia centena de metros do ponto de acostagem da barca, ficamos com a certeza que os viajantes procuravam junto da imagem de Cristo Crucificado pintada numa chapa cravada num  fuste de granito, o conforto de uma travessia que pretendiam segura e sob a protecção divina. Outras barcas de passagem estão documentadas, por exemplo em meados do século XVIII. Naquela altura o pároco da freguesia de Chaviães escrevia que “nesta freguezia corre muito arrebatado em tanta forma que senão passa para a Galiza em barcas, senão em huma espécie de jangada que não cabem mais que meia dúzia de pessoas e besta nenhuma. Hé desta casta de barcos de passage no distritto desta freguezia quoatro sujeitos à camera da vila de Melgaço, que bem a ser o barco e pasage da Cureia, Outeiro, Bousa e Porto Vivo, porém este hé do Reino de Galiza” (Capela, 2005, 153-155). Para além de outras, referiremos ainda a travessia que se fazia no lugar de Casais (Cristóbal) para a Galiza: “em cujo direito há hum barco no rio Minho, que faz pasage no rio Minho para Galiza” (Capela, 2005, 157-160).

Travessia sacralizada era uma outra no rio Trancoso, afluente do rio Minho. Vamos encontrá-la numas alminhas que foram levantadas junto de uma antiga ponte, hoje reconstruída, que faz a ligação entre a freguesia de Cristóbal (lugar de Cevide) e a vizinha Galiza. As alminhas cravadas na parede exterior de uma casa, que já foi o antigo posto da Guarda Fiscal, são uma bela peça escultórica do século XVIII e são o relato visível do respeito que os caminhantes tinham pela travessia de um curso de água, estreito e ravinoso, que bem podia tornar-se perigoso em tempos mais invernosos. Esta mesma ideia poderá ser colhida no padroeiro da freguesia de Cristóval, também ela separada da Galiza pelo curso do rio Trancoso.

Embora o orago seja São Martinho há que atender à origem do nome da freguesia que é uma variante de Cristovão (Cristóbal em castelhano) ou não estejamos perto da fronteira galega. De acordo com a lenda, Cristovão era um homem avantajado que passou parte da sua vida a servir viajantes e peregrinos na travessia de um rio. Até que um dia atravessou um rio, aos ombros, um menino que era afinal Jesus Cristo (Réau, 2000, 354-355). No rio Trancoso várias são as travessias para a vizinha Galiza o que nos leva a admitir a hipótese da figura do santo ter estado presente na altura da formação desta paróquia nos alvores do II milénio. Se não atente-se nas gravuras da ponte de São Gregório feitas no começo do século XX para se perceber da perigosidade com que a travessia deste rio se revestia.

pp. 158 - 159

 

BOLETIM CULTURAL

Nº 10

Edição: Câmara Municipal de Melgaço

2018

 

 

MIÑO OU MINHO, O NOSSO RIO

melgaçodomonteàribeira, 12.04.14

 

Rio Minho em Melgaço

 

 

RIO MIÑO OU MINHO

 

 

O Rio Miño ou Minho era conhecido na antiguidade pelos nomes de Minius ou Baenis e seria, segundo Estrabão o maior rio da Lusitânia (Estrabão, filósofo e geólogo grego, que teria vivido no tempo de Cristo, autor da Geographia, enciclopédia de saber geográfico, cujo livro III é dedicado à Ibéria), embora hoje se considere que o rio Baenis seria mais provavelmente o Rio Neiva que desagua no Oceano Atlântico 8 Kms a Sul de Viana do Castelo.

As águas do Rio Miño ou Minho teriam características medicinais e Francisco da Fonseca Henriques, nascido em Mirandela em 1665 e médico de D. João V no seu Aquilégio Medicinal, livro em que se dá notícia das agoas de caldas, de fontes, rios, poços, lagoas e cisternas do Reyno de Portugal, escreveu acerca delas: são as suas agoas boas para matar as lombrigas e para preservar de que se gerem; e para beberem os galicados: por haver nas ribeiras quãtidade de vermelhaõ, em que há parte de azougue…, sendo galicado alguém atacado pela sífilis ou doença venérea, vermelhão, sulfato de mercúrio pulverizado ou cinabre de cor vermelha, e azougue, mercúrio.

Zacuto (astrónomo, matemático e historiador, nascido em 1450 e que serviu D. João II) disse: as agoas do Minho saõ boas para dourar os cabellos e para tingir a lã, e todo o género de panos.

O Rio Minho ou Miño passa nas áreas mais chuvosas do Norte de Espanha: Maciço Galaico, e entre os Montes de Leon e a Cordilheira Cantábrica. Na Meseta de Lugo flui a uma altitude entre 450 e 650 metros.

É interrompido pelas Barragens de Belesar, Os Peares, Velle, Castrelo e Frieira.

São célebres, a montante de Valença, as suas quedas ou rápidos denominadas localmente de Ranhas.

Segundo alguns autores o Rio Miño ou Minho nasce a Norte de Lugo, Espanha, na Serra de Meira, mais precisamente em Pedregal de Irimia, Concelho de Meira, a uma altitude de 695 metros.

Para outros a sua nascente estaria na Laguna de Fonmiña, Concelho de A Pastoriza onde estas águas se aliariam, em movimentações mais ou menos subterrâneas, às da junção do Rio Meira com o Rio Longo.

Os Concelhos de Meira e de A Pastoriza reclamam ambos a sua paternidade e, para acalmar os ânimos num esforço conciliatório louvável diz-se agora, eufemísticamente, que o Rio Miño ou Minho tem a sua Nascente Natural ou Fonte Primária no Concelho de Meira, e a sua Nascente Histórica no de A Pastoriza.

Neste Rio, bem recheado de lendas e figuras mitológicas, que os Romanos consideravam embruxado (julgando mesmo que por detrás da sua Foz se esconderia no nevoeiro o Fim da Terra, Finis Terra), abundavam hechicheras, feiticeiras ou magas habitantes do rio, xarcos, seres escondidos em poços e hombres pez, homens peixe, que tanto podiam viver no rio como fora dele.

Entre Arbo, Espanha, povoação que se situa frente à de Peso (Melgaço), Portugal, um pouco a jusante do ponto em que o Rio Minho ou Miño inicia o seu percurso internacional, avisava-se a quem por ali transitasse deveria levar uma pedra na boca para não falar, senão as magas e as feiticeiras criar-lhe-iam problemas, método que, aliás, com o sem mangas, hechiceras, hombres pez ou qualquer outro ser sobrenatural, é o mais utilizado em todas as ditaduras para criador de consensos.

 

 

Retirado de: Rios Ibéricos Internacionais

                      

                     www.riosibericos.com

 

PESQUEIRA MOSQUEIROS EM REMOÃES

melgaçodomonteàribeira, 13.08.13

 

 

PESQUEIRA MOSQUEIROS EM REMOÃES

 

 

   Esta pesqueira pertenceu ao Convento de Paderne segundo o ‘Inventário’ de 1770. Em 1903 era de Maria Teresa Mosqueiro Almeida e outros. Segundo um pescador de Melgaço, a ‘Mosqueiros’ era, no tempo do ‘Minho farto’, “uma das melhores pesqueiras. Chegou a dar 20, 25 ou 30 lampreias e 60 ou 70 sáveis” (segundo depoimento de um pescador local).

   Em 1962 foi objecto de uma reclamação de proprietários de outras pesqueiras a montante pois viam-se prejudicados com a rarefacção do peixe em resultado deste não poder ultrapassar a barreira da ‘Mosqueiro’ e da ‘Folgado’ que chegaram a estar completamente ligadas. Na decisão então proferida pelos Serviços da Hidráulica ordenava-se que “os rabos deveriam ser separados por forma a que ficasse um canal para a passagem do peixe com a largura de cerca de 1/3 da largura total do rio” (Capitania de Caminha – Procº 313 PS 54).

   Em 1967 e de acordo com relação existente no Arquivo da Capitania do Porto de Caminha, encontrava-se subdividida em quinhões de pesca por Magnífico da Conceição Calheiros e outros.

   A pesqueira tem 68m de comprimento, 2,7m de largura e 4m de altura.

 

Retirado de:

 

2008 ACER – Associação Cultural e de Estudos Regionais

 

http://acer-pr.org

 

RECEITA DA LAMPREIA, sécs. XV – XVI

melgaçodomonteàribeira, 26.03.13

 

 

« Receita da lampreia » no Livro de Cozinha da Infanta

Dª. Maria de Portugal (séculos XV – XVI)

 

 

    O Livro de Cozinha da Infanta Dª. Maria, códice portugués da Biblioteca Nacional de Nápoles, de fins do século XV e principios do XVI, ilumina moito mellor a antiga arte de cociñar en Portugal nunha época histórica de que pouco se coñece sobre matéria gastronómica. Dona Maria de Portugal (1538 – 1577), filla do Infante D. Duarte e neta de D. Manuel I, era una muller de notable formación e sensible á cultura de súa pátria.

    No seu manuscrito lemos esta receita da lamprea: « Tomarão a lampreia lavada com água quente e tirar-lhe-ão a tripa sobre uma tigela nova, porque caia o sangue nela, e enrolá-la-ão dentro daquela tigela e deitar-lhe-ão coentro e salsa e cebola muito miúda, e deitar-lhe-ão ali um pouco de azeite e põ-la-ão coberta com um telhador, e como for muito bem afogada, deitar-lhe-ão muito poucochinha água e vinagre, e deitar-lhe-ão cravo e pimenta e açafrão e um pouco de gengibre ».

    Esta xoia bibliográfica, xunto coa de Rupert de Nola, veñen a ser as máis antigas referencias – fins do século XV e comezos do XVI – que ensinan de maneira clara receitas sobre a lamprea. Estes autênticos « libros de receitas », aparecidos finalizando o período medieval, posiblemente recollan unha tradición culinaria de séculos anteriores, e igualmente demonstran que o petromyzon fluvialis era prato coñecido de grandes señores e de ilustres señoras, tal o caso da infanta dona Maria de Portugal e o rei don Hernando de Nápoles.

 

 

Retirado de:

 

Caderno da XLIII Festa da Lamprea

2003

Arbo – Galicia  

 

GALIZA, ARBO EM 1905

melgaçodomonteàribeira, 08.03.13

 

Estação de Arbo

 

Fotografia de Guillermo Gonzalez

 

 

GALIZA,  1905

 

    Arbo – Gente do tipo pequeno e provincial rústico; senhores de barbaças negras e lunetas ou óculos, e chapéu mole e fatos largos de aldeia. Galegas feias e fétidas, de botas. Da gare de Arbo vê-se, por cima do rio que muge, uma escapada de culturas que vão até às montanhas; das casuchas da encosta agricultada saem fumos; nas encostas pascem bois; ribas mais próximas, de pinheiros; a água faz ondulações espumantes, quebrando-se nas pedras e muros dos açudes, faz uma pele de réptil, viscosa, bolhosa, verde e respirante. Uma galega que me vê escrever, põe em mim grandes olhos desconfiados. Uma barca a distância, gente do outro lado, à espera de passar. Em Arbo dois ou três chalés. Grande desfiladeiro de rochedos, com pequeno túnel; vinhedos sobre a direita, admirável escapada de vales e de outeiros, de casas e agriculturas, e montanhas. Uma ribeira cuja ponte passamos, confluente do Minho. Rampas de rocha viva. Canaviais nas encostas ou ribas que vão ao rio, grande corrente neste, ínsuas de rochas trágicas, açudes, barcos nos pontos sossegados. Agrava-se o campo. Uma região dura, sem culturas, curta; grande robleda da via-férrea ao rio, verde e de sombra, com grandes quebradas. Desfiladeiro enorme de penedia. Robleda. O rio afasta-se, com açudes, ondeando. Desfiladeiro de rochas. Cai água do alto. Túnel curto: montes, povitos rústicos, quebradas violentas à esquerda, outeiros áridos de rocha, e urze e mato. Da direita, grandes montes escalonados de fincas e vinhas e bosques. Menos rochedos nas margens, mais sossego nas águas. É o Douro, com arvoredos frondosos e vegetação nas terras. De novo margens de penedos, agora enormes e terríveis, alternativamente ocultos e descobertos pelos desfiladeiros que penetramos. A cada momento muralhas a suster a via. Da esquerda, montanhas de pedra, e de vinhedos e de pinhal. Da direita o rio, de margens abruptas, ínsulas de rocha, escarpas piramidais, donde brotam árvores a flux. O rio é todo ziguezagueando entre outeiros de pedra que nós imaginamos ou cortamos por túneis ou desfiladeiros, conforme calha; grandes montanhas altíssimas se adivinham aos dois lados por trás dessas ravinas, ou se vêem, se acaso nos voltamos para trás, a olhar entre dois montes ou desfiladeiros, os anfiteatros verdes, de casas, culturas e igrejotas.

 

 

FIALHO DE ALMEIDA

 

CADERNOS DE VIAGEM. GALIZA,  1905

 

EDICIÓNS LAIOVENTO, SANTIAGO DE COMPOSTELA

 

1ª EDIÇÃO

 

 Retirado de:

 

FIALHO DE ALMEIDA

 

GALIZA, 1905

 

EDIÇÃO DE LOURDES CARITA

 

O INDEPENDENTE

 

2001

 

pp. 80 – 81

 

GALIZA, POUSA - CRECENTE EM 1905

melgaçodomonteàribeira, 08.03.13

 

Estação de Pousa-Crecente

 

Foto de Guillermo Gonzalez

 

 

GALIZA,  1905

 

 

    Pousa. Todo o caminho percorrido é cultivado de vinhas, ou milho, ou árvores sempre que o terreno o permite: sente-se o galego pobre, tenaz e trabalhador. O país é terrivelmente pedregoso e montanhoso. A voz do rio acaba por cansar. Madeiras de pinho em montes na gare. O que será Pousa no Inverno? Há ravinas de oito e dez andares de altura, entre que o comboio vai, num frio de gelo, sem sol. Oh que vertentes, picos e quebradas! Os campinhos escalonados vão lá riba, com escadas de pedra, paredes de pedra segurando os cordões de vinha latada, que trepam aos mais altos cimos; os fumos desgrenham-se nos pinhais. Nos altos cimos solitários, os pinheiros isolados fazem gólgotas, e tem o ar de cruzes. Que custoso deve ser ir daqueles casais à missa às igrejas dos altos, subindo, descendo, pelo Inverno! É o Douro dez vezes mais agravado e montanhoso. O rio agora sem rochas parece morto e estagnado, com a água palustre em lagunas turvas.

 

 

FIALHO DE ALMEIDA

 

CADERNOS DE VIAGEM. GALIZA,  1905

 

EDICIÓNS LAIOVENTO, SANTIAGO DE COMPOSTELA

 

1ª EDIÇÃO

 

 

Retirado de:

 

FIALHO DE ALMEIDA

 

GALIZA,  1905

 

EDIÇÃO DE LOURDES CARITA

 

O INDEPENDENTE

 

2001

 

pp.81-82

 

VIDA DE RICO, MORTE DE POBRE

melgaçodomonteàribeira, 08.03.13

 

 

   Dinheiro e mais dinheiro. A movimentação de homens, carroças e sacos no armazém de Adolfo Vieira, por detrás do actual Palácio da Justiça de Monção, significava mais uns contos largos a amealhar ao seu já milionário pecúlio. Os negócios, legais ou ilegais, terão feito dele um dos indivíduos da vila. A acreditar nas histórias de amantes, filhos e de alguns que o conheceram, Adolfo não era do género de correr riscos, andar a saltar de um lado para o outro da fronteira. Raramente conduzia a carroça até à pesqueira do rio.

   Não. O contrabandista sempre terá preferido o recanto do seu armazém para gerir a actividade. Ali recebia e pagava. Apenas algumas vezes ia ao Porto, onde mantinha contactos com os bancos.

   Mas Adolfo Vieira era um esbanjador por excelência. Ninguém lhe conhece uma nega a quem lhe pedia emprestado ou dado. O resto era para as mulheres, que o levariam à ruína. Sem fundo de maneio, o contrabandista, então a deixar o negócio, emigrou para Bologne, perto de Paris, França, em finais da década de 50. Lá, trabalhou como recepcionista e foi doméstico em casa de uma família que alugava quartos.

   Voltou a Monção alguns anos mais tarde. Sem dinheiro. Pouco depois sofria uma trombose que o deixava parcialmente paralítico, para morrer em Março de 1970, com 68 anos. Na miséria.

 

(continua)


SAMARRA, O COMENDADOR

melgaçodomonteàribeira, 08.03.13

 Ponte do Mouro

 

 

A “INICIAÇÃO” DE GOMES

 

  Abastado, Adolfo Vieira caiu no goto de todos pelas manifestações de solidariedade e os actos de generosidade para quem precisava de ajuda. Nem só os seus descendentes enaltecem as qualidades do homem.

   Muitos, amigos, colegas ou simples desconhecidos, safaram-se à custa do saco sem fundo do contrabandista, que não temia qualquer tipo de concorrência. A maioria a ele deve uma vivência sem sobressaltos financeiros, os contactos com o lado de lá do rio Minho.

   À memória daqueles que mais de perto o acompanharam ocorre um nome: Gonçalves Gomes, natural da região, hoje um dos homens de negócios mais afamados do Norte do País.

   “A primeira carga de café que o Adolfo fiou foi ao Samarra”, lembra Helena do Ângelo, uma das conhecidas amantes de Vieira, de quem tem três filhos, ainda a viver na vila de Monção.

   O negócio era simples, conta: o contrabandista cedia o produto ou emprestava algum dinheiro, recebendo, depois, parte do lucro. Outras vezes, explica a antiga companheira, com o ar de condenação, “dava aos 20 ou 30 contos e não o pedia de volta”.

   Terão sido assim os primeiros passos na actividade do comendador. “Foi ele que lhe deu a mão, quem o iniciou”, repete, por sua vez, Fernando Vieira, o filho mais velho de Helena.

 

(continua)