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MELGAÇO, DO MONTE À RIBEIRA

História e narrativas duma terra raiana

MELGAÇO, DO MONTE À RIBEIRA

História e narrativas duma terra raiana

A IGREJA PERSEGUIDA NA 1ª REPÚBLICA

melgaçodomonteàribeira, 08.03.13

  

Gaspar Vaz-Guedes

 

 

CORRESPONDÊNCIA ENTRE GASPAR VAZ-GUEDES E    

 

RAIMUNDO MEIRA

 

 

   Meu excelentíssimo amigo

 

   Recebi a sua carta com os documentos inclusos e apreciei como mereciam o diálogo em verso do Satanaz com o Gaspar Gomes, que não é aliás meu caseiro, e o mais. A questão do arrendamento do passal cifra-se no seguinte: como Vexa sabe as freguesias por aí são muito pequenas e o povo vê-se e deseja-se para pagar aos padres; fiz portanto propaganda na minha freguesia no sentido de convencer os habitantes a que encarregassem um só padre de paroquiar as duas freguesias de Pedreiro, que é a minha e a vizinha de São Tiago de Cendufe. Parece que se convenceram e conseguiram convencer os padres, um dos quais, o de S. Tiago, está expulso da residência; parece que este concorda em se ir embora da freguesia com o que a Republica nada perderá, passando o encomendado de Pereiro a ir residir em São Tiago, o que também lhe dá jeito por causa de uma quinta que ali comprou, mas para ele ir é preciso que lhe permitam arrendar a residência e passal de S. Tiago pagando, é claro maior renda que a actual e evitando-se que esteja a deteriorar-se abandonada a residência de S. Tiago. Creio que seria muito bom conseguir o que deixo dito: lucrava o estado na renda, o povo das duas freguesias na diminuição dos encargos e a instrução, pois ficávamos com a residência do Pereiro, que é boa para a aplicar e suprir a falta essencial de casa para as escolas da freguesia. Peço portanto a Vexa que empenhe para o conseguir todo o seu bom esforço.

   Quanto ao administrador, se o bacharel a que Vexa se refere é como julgo o filho do Dr. Souza, é o pior que pode ser; além de parvo e talvez mesmo por o ser, é criatura completamente do José Guimarães, tendo pedido nas últimas eleições o voto a um meu caseiro afirmando-se Camachista. Isto para além das prendas do pai e dos tios nos Arcos e em Melgaço.

   Queria-se pessoa com tino, critério e um pouco de autoridade, aliás continuaremos na mesma ou pior.

 

   Com muita estima, de Vexa Correligionário e amigo muito dedicado

 

Lisboa 23/01/1914

Queiroz Vaz-Guedes

 

 

João Teixeira de Queiroz Vaz-Guedes, integrou as fileiras do Partido Republicano Português, ocupando, depois da Republica, o cargo de governador civil de Viseu em 1913-1914, ao mesmo tempo que iniciava vida parlamentar como deputado por Pinhel (1913-1915). Fez parte do elenco governativo em 1923. Pertenceu à Maçonaria, tendo sido iniciado, em 1909, na loja Liberdade III, com o nome simbólico de Gambetta.

 

Raimundo Meira, governador civil de Viana do Castelo em final de mandato (23/03/1914). Nomeado em Junho de 1913, governador civil de Viana do Castelo, é destacado durante o mês de Julho para o governo civil de Coimbra, volta em Agosto a Viana, e exerce o cargo até Março de 1914. É eleito senador por Viana nas listas do Partido Democrático em 1919, sendo reeleito em 1923 e 1925.

 

 

Retirado de:

 

Cartas Portuguesas – A primeira Republica por correspondência

 

http://cartasportuguesas.blogspot.com/2005_03_01_archive.html