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MELGAÇO, DO MONTE À RIBEIRA

História e narrativas duma terra raiana

MELGAÇO, DO MONTE À RIBEIRA

História e narrativas duma terra raiana

EM DEFESA DO CONCELHO DE MELGAÇO

melgaçodomonteàribeira, 13.08.22

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DESINTERESSE DO SENHOR PRESIDENTE?...

 

O Secretário Nacional da Informação e Turismo visitou recentemente o distrito de Viana do Castelo.

Pelos relatos da imprensa soubemos que o Presidente da Câmara de Melgaço só pediu uma coisa: um subsídio para as Festas da Vila, também denominadas do Concelho. E vem um membro do Governo à Província com o objectivo de auscultar as necessidades dependentes do seu departamento, e há um Presidente de Câmara que lhe apresenta uma ajuda para as Festas!...

Vendo nos mesmos relatos da Imprensa, que nada mais dizem a respeito de pedidos feitos pelo Presidente da Câmara de Melgaço, achamos que devemos defender a honra da nossa terra, posta em causa, sem dúvida inconscientemente, pelo dr. Sidónio. Não seria mais objectivo pedir um auxílio para a Escola de Música, que se criou na nossa vila com tantos auspícios?

Não estaria de acordo com o Departamento de Informação e Turismo, pedir ajuda para o recheio do Museu, onde um lobo embalsamado guarda as paredes? Não há documentos a fotocopiar que dizem respeito à História de Melgaço? Não há obras publicadas que se devem adquirir? Não há quadros de Jaime Murteira e fotos de Sampayo que devem figurar nesse Museu?

Não carece Melgaço de uma Pousada, já que a de Castro não resolveu o problema central do Concelho e os hotéis do Peso encerram no Outono e Inverno?

Não havia, por imposição das exigências do Turismo, que pedir a influência do Secretário de Estado, que nos visitou, junto do Governo Português para que este interviesse em Madrid a fim de que as barragens do rio Minho fossem construídas de forma a permitir o acesso do peixe – salmão, sável, lampreia e truta – e assim se evitaria o desaparecimento de tão delicioso peixe?

Não seria oportuno falar da estrada do Mezio de forma a liga-la à de Lamas de Mouro, abrindo desta forma Melgaço ao turismo nacional, através das lindas serras que nos dominam com entrada por Castro? Fazendo-o não concorria para se criar o verdadeiro circuito do Minho: Braga, Arcos, Melgaço, Monção, Valença, etc.?

E sabendo-se que os Hotéis do Peso servirão, um dia, de apoio ao turismo do Parque Nacional «Peneda-Gerês», por que razão o dr. Sidónio não levantou o problema tanto mais que a Empresa pensa em construir um hotel?

Como classificar a atitude do Presidente da Câmara que esqueceu todos os verdadeiros problemas turísticos de Melgaço?

Não podem os representantes do Governo adivinhar. Estes factos levam-nos a perguntar: se o Governo Civil e o Ministério do Interior podem estar satisfeitos com um colaborador destes?

O Concelho não está, e a ajuizar pelos relatos da imprensa referentes à atitude do dr. Sidónio perante o Secretário de Estado de Informação e Turismo, mais uma razão e grave veio avolumar o seu descontentamento. Ninguém gosta de ser esquecido, sobretudo quando tem direito a ser lembrado. E o representante dos nossos direitos regionais não cumpriu.

Com vista aos srs. Governador Civil e Ministro do Interior.

 

                                                            JÚLIO VAZ

 

A VOZ DE MELGAÇO

MELGAÇO, 1 DE MAIO DE 1974

JUSTA HOMENAGEM

melgaçodomonteàribeira, 16.03.13

 

 

    O presente relatório, admirável memória de boa administração, irrefutável argumento de superior honestidade, foi a última obra do labor infatigável de Hermenegildo Solheiro.

    Como que adivinhando a morte, não quiz morrer sem dar contas de todos os actos da sua vida pública.

    O seu trabalho colossal ficou assim coroado com êste nobilitante gesto de honradez.

    Através das páginas deste relatório e dos outros que o precederam, vê-se o anseio generoso, o sacrifício fecundo dum homem que lutou e sofreu pela grandeza da sua terra.

    Melgaço, que ainda há cinco anos vegetava num atrazo vergonhoso, absolutamente carecido do que é preciso à vida de uma vila, sem ninguém que ousasse imprimir-lhe o mais leve impulso para o caminho do progresso, encontra-se hoje renovado, transformado por um milagre de amor e trabalho. Esse milagre realizou-o Hermenegildo Solheiro, com a excelente orientação da sua inteligência e a tenacíssima perseverança dum lutador invencível.

    As pátrias glorificam os seus homens notáveis, aquêles que as tornam grandes e imortais com o prestígio do seu nome e a celebridade dos seus feitos. O concelho é uma pequena pátria, a terra querida, onde floriram as nossas primeiras esperanças e por onde avoejaram os nossos primeiros sonhos. A pátria é um grande organismo, que tem o coração na terra onde nascemos. O concelho é a terra mãe, que prende os seus habitantes num abraço de irmãos. Ao traçarmos, pois, nêste relatório o elogio de Hermenegildo Solheiro, traduzimos o sentir de todo o concelho de Melgaço, que, sem distinção de opiniões políticas, quer prestar ao grande regionalista a homenagem da sua admiração e do seu agradecimento. Em todo o Melgaço não pode haver uma voz discordante, que procure diminuir a sua obra gigantesca, porque todos são filhos da terra que êle elevou com o ouro do seu amor e o sangue do seu sacrifício.

    Hermenegildo Solheiro foi o obreiro incansável e audaz que delineou e realizou em cinco anos aquilo que os outros não puderam fazer durante séculos. Não houve necessidade que êle não remediasse, aspirações que ele não tornasse efectivas. Dotado duma vontade forte, não conhecia obstáculos nem se enredava em dificuldades. Caminhava para a frente, porque não via outra coisa diante de si que o engrandecimento da sua terra.

    Fêz muito bem a Melgaço e o mais que há para fazer deixou-o indicado em projectos grandiosos, que não viu executados, porque a morte o derrubou quási no fim da sua jornada de actividade e progresso.

    O egoísmo era para êle uma palavra sem sentido. Exercia as suas funções administrativas com uma heróica abnegação. Esquecia os interêsses pessoais para se consagrar inteiramente aos interêsses do seu concelho. Nunca ninguém foi tão grande nesta terra, porque nunca ninguém trabalhou como êle para engrandecê-la.

    Os melhoramentos com que a dotou – antes dêle sempre reclamados e nunca executados – são motivo bastante para que o seu nome fique para sempre insculpido no coração de todos os melgacenses. Hermenegildo Solheiro morreu, mas a sua obra ficará como um exemplo a estimular energias e incitar empreendimentos em prol desta linda terra de Melgaço.

 

 

    Melgaço, 2 de Setembro de 1931

 

 

 

                                     João de Barros Durães

 

                                     Artur de Ascensão Almeida

 

                                     João Eugénio da Costa Lucena

 

                                     José Caetano Gomes

 

                                     Aurélio de Araújo Azevedo

 

 

 

Retirado de:

 

COMISSÃO ADMINISTRATIVA DA CÂMARA MUNICIPAL DE MELGAÇO

RELATÓRIO E CONTAS

EXERCÍCIO DE 1930 – 1931