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MELGAÇO, DO MONTE À RIBEIRA

História e narrativas duma terra raiana

MELGAÇO, DO MONTE À RIBEIRA

História e narrativas duma terra raiana

OS LIMITES DA FREGUESIA DE LAMAS DE MOURO

melgaçodomonteàribeira, 18.03.23

847 b igreja lamas mouro.jpg

igreja de lamas de mouro

 

PORTO DOS ASNOS OU DOS CAVALEIROS

 

Neste lugar meeiro de Lamas de Mouro e Castro Laboreiro se iniciaram todos os autos de limitação e demarcação de ambas as freguesias. No tombo da comenda de Castro Laboreiro de 1565 e nos da comenda de Távora é identificado como Porto dos Asnos, aparecendo com a designação de Porto dos Cavaleiros nos tombos de 1754 e 1785. Ainda são visíveis as ruínas do local primitivo, que foi abandonado há muitos anos.

A demarcação feita em Junho de 1785 principiou e terminou no marco ou marcos do Porto dos Cavaleiros. Segundo o documento eram dois marcos: o maior deles, na face voltada para o nascente, estava cheio de letras que os louvados não conseguiram perceber, mas que, no seu entendimento inculcam muita antiguidade; ambos estariam localizados no meio (da parede) da estrada que ia para Melgaço. No muro do rossio da única casa que ainda resta foi aproveitado um marco de pedra irregular com inscrições das eras de 1788 e 1796. Ao lado esquerdo do portão de entrada está também uma pedra com uma cruz parcialmente danificada, mas que parece ter servido de sinal limítrofe. Tempos anteriores houve em que o marco do Porto dos Asnos era um carvalho, conforme consta na concórdia amigável para se erigir a capela de Alcobaça lavrada, no dia 8 de Julho de 1635, junto ao carvalho do Porto dos Asnos, que servia de marco divisório entre os concelhos de Castro Laboreiro e o de Valadares (freguesia de Lamas de Mouro).

Embora a comissão do tombo de Castro Laboreiro de 1565 tenha reunido na bifurcação dos caminhos, o ponto exacto onde se juntam as duas freguesias de Castro Laboreiro e de Lamas de Mouro e a região da Galiza é onde o caminho que vem de Castro Laboreiro passa o rio Trancoso, no sítio do Porto dos Asnos ou dos Cavaleiros. Nesse mesmo sentido atesta a marcação do concelho de Castro Laboreiro, feita a 26 de Julho de 1538 – “E dahi pelo valle abaixo das Concellas ao porto do Malhaom a agoa do Porto do Malhaom todo per agoa agoa (sic) abaixo te onde se mete a sob o Porto de Mey Joanes como se vay meter n’agoa do sobredicto porto do ryo de Portelynha e que hy acaba o termo próprio desta desta (sic) vyla de partyr com a Galiza”; esta passagem é esclarecida no final do documento, com referência expressa ao Porto dos Asnos: “Item. Somente de Milmanda porque vem ter o seu termo a agoa do Porto do Malhao que vem por hy a estrada pubrica pera Melgaço chama se hy o Porto dos Asnos e por hy vai a estrada de pasar outra agoa que vem per dentro de Portugall e se junta em baixo com a de cyma aquy vem” –, integrada no projecto régio de D. João III definir toda a linha de fronteira entre Portugal e Castela, desde Castro Marim até Caminha.

Não há sombra de dúvida que, há muitos séculos, nesta precisa travessia começa a raia seca com a Galiza – corroborando na demarcação de Valadares, feita a seguir à de Castro Laboreiro, no dia 27 de Julho de 1538 – O tratado internacional de limites de 1864, v. g., partindo da confluência do Trancoso com o Minho segue a fronteira pelo rio Trancoso até “ao sitio chamado Porto dos Cavalleiros ponto em que atravessa este rio um caminho que de vários povos vae para Alcobaça. A demarcação da raia seca começa neste ponto”.

 

OS LIMITES DA FREGUESIA DE LAMAS DE MOURO

E OS CAMINHOS DA (IN)JUSTIÇA

José Domingues

1º Edição

Novembro 2014

 

GUERRA DA RESTAURAÇÃO EM MELGAÇO

melgaçodomonteàribeira, 18.09.21

675 - 2 -  moinho lamas.jpg

 moinho em lamas de mouro 

PORTUGAL RESTAURADO

 

ANNO 1641. SUCESSOS DE ENTRE DOURO & MINHO DE Q HE GOVERNADOR DAS ARMAS D. GASTÃO COUTINHO.

… passaremos a referir os sucessos da Provincia de Entre Douro & Minho. Logo que El Rei se acclamou, elegeu por Governador das Armas desta Provincia a D. Gastão Coutinho, nomeando-o do seu Conselho de Guerra. Na de Africa se havia exercitado os primeyros annos; depoys, vindo para Lisboa, se embarcou em alguas Armadas, & tinha conseguido, em todas as occasiões q se offerecéram, opinião de muyto valeroso. Nos primeyros dias de Janeyro partiu de Lisboa, chegou ao Porto, passou logo a Braga, onde se deteve alguns dias, & desta Cidade partiu para Viana, Villa a mays occidental da fronteyra de Galiza, & hu dos mays deleytosos lugares de todo o Reyno, banhando-a o Mar Oceano & o Rio Minho. Os seus moradores já não ignoravam os exercicios militares, nem os assombrava o estrondo da artilharia, ganhando valerosamente aquella fortaleza a os Castelhanos, como fica referido. Logo q D. Gastão chegou à fronteyra, a correu toda de Viana atè Melgaço: hua das attenções mays precisas q deve observar hu Governador das Armas, porque sem grande conhecimento da Provincia q governa, he quasi impossivel acertar as disposições necessarias nas occasiões que se lhe offerecem. Nesta jornada fez Dom Gastão alistar toda a gente de Entre Douro & Minho: achou muyta & valerosa com poucas armas & menos disciplina. Elegeu os officiaes mays praticos q pode descobrir, levantou trincheyras a Caminha, Villa Nova de Cerveyra, & Valença. Assistindo à fortificação da ultima, o rodeáram alguas balas de artilharia de Tuy, Praça de Armas dos Galegos, q divide de Valença o Rio Minho com pouca distancia de hua a outra parte. Os moradores de Salvaterra deram principio a o rompimento: quizeram impedir huns barcos, q hiam para Monção; os moradores desta Villa os defendéram, conduzindo-os a ella, & estimulados deste excesso levantáram hua plataforma junto ao Rio, & pondo nella tres peças de artilharia, as disparáram com prejuizo das casas de Salvaterra, situação da outra parte do Rio, como em seu lugar diremos. Nestes dias andando em Melgaço rondando as sintinelas junto do Rio o Capitão de Infantaria Francisco de Gouvea Ferraz, estimulado de ouvir da outra parte do Rio a hu soldado Galego alguas palavras contra o decoro del Rei, se lançou impetuosamente a o Rio, & passando-o a nado, se achou da outra parte sem opposição porq o Galego medroso do seu valor se retirou, antes q elle chegasse, podendo facilmente tomar vingança da sua ousadia: tornou da mesma sorte a voltar para Melgaço, & logrou o merecido aplauso da sua resolução. De Janeyro até Julho se passou de hua & outra parte sem mays empresa, que estes primeyros ameaços de guerra. Em Julho quando se rompeu a guerra em Alentejo, conhecendo El Rey q menear as armas só para a defensa era multiplicar o perigo, & que a paz q desejava, se havia de conseguir fazendo guerra, ordenou aos Governadores das Armas de todas as Provincias, q entrassem em Castella. Não dilatou D. Gastão a obediencia, deu logo ordem a frey Luis Coelho da Silva Cavalleyro da Ordem de S. João, q com a gente de Viana, embarcada em hua galeota, duas lanchas, & alguns barcos, passasse a queymar a Villa da Guarda, situada junto do Mar defronte de Caminha. Mandou a D. João de Sousa Capitão Mór de Melgaço, q entrasse no mesmo tempo pela ponte das Varzeas, Antonio Gonçalves de Olivença pelo Porto dos Cavalleiros, por Lindolfo Manoel de Sousa de Abreu, & pela Portella de Homem Vasco de Azevedo Coutinho. Todas estas entradas se executáram em lugares muyto distantes huns dos outros, & toda esta gente não levava mays disposição q a do seu valor: porèm ignorar os perigos q buscava, a fazia mays resoluta, achando fortuna favoravel, que costuma porse da parte dos temerarios.

 

HISTORIA DE PORTUGAL RESTAURADO

D, Luis de Menezes, Conde da Ericeyra

Anno de M. DC. LXXIX

 

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