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MELGAÇO, DO MONTE À RIBEIRA

História e narrativas duma terra raiana

MELGAÇO, DO MONTE À RIBEIRA

História e narrativas duma terra raiana

O URSO NOS MONTES LABOREIRO

melgaçodomonteàribeira, 11.11.23

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PRESENÇA HISTÓRICA DO URSO EM PORTUGAL

E TESTEMUNHOS DA SUA RELAÇÃO COM AS COMUNIDADES RURAIS

 

Francisco Álvares

José Domingues

(…)

O último registo confirmado de urso nas montanhas fronteiriças do Noroeste de Portugal, é todavia mais recente e diz respeito ao abate de um urso, em Junho de 1946, por Camilo Lloves Gonzalez, habitante de Couceiros na Serra do Laboreiro, a menos de cinco quilómetros da fronteira portuguesa de Melgaço. Este facto, publicado no jornal “Pueblo Galego” de 17 de Junho de 1946 e frequentemente citado em fontes bibliográficas posteriores (e.g. FERNANDÉZ DE CÓRDOBA, 1964; TABUADA CHIVITE, 1971; PIMENTA, 2001, DOMINGUES, 2005), foi confirmado por um dos autores do presente trabalho (F. Álvares) através de uma entrevista a Camilo Lloves em 4.10.1996, o qual, apesar dos seus 80 anos de idade, relatou em pormenor os acontecimentos. O urso abatido era um macho com 102 Kg (possivelmente sub-adulto) e, na altura, dizia-se que nessa região andariam três ursos que com frequência destruíam colmeias e silhas, e dos quais um foi o que veio a ser abatido.

 

AÇAFA On Line nº 3

Associação de Estudos do Alto Tejo

2010

www.altotejo.org

UMA VIAGEM PELA SERRA DA PENEDA

melgaçodomonteàribeira, 21.05.22

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CAMINHOS E FRONTEIRA NA SERRA DA PENEDA

Suzanne Daveau

 

A SERRA DA PENEDA NA ACTUALIDADE: TRINTA E TRÊS ANOS DE COMPLEXA EVOLUÇÃO

 

Abandonando agora o apaixonante jogo de reconstrução do passado, queria resumir o que a experiência própria me ensinou sobre a evolução da serra. A partir de 1971, pude aproveitar uma dezena de oportunidades para percorrer a serra tanto no Verão como no fim do Inverno. Pude assim observar a enorme diversidade das paisagens serranas e dos modos de vida dos habitantes, bem como aspectos e ritmos da rápida evolução recente destes últimos. Durante as minhas primeiras viagens, impressionou-me em especial a importância das barreiras, não apenas naturais, que fragmentavam então a Serra. A fronteira espanhola era bastante estanque, com passagem oficial apenas em Melgaço ou no Lindoso, que funcionava segundo um horário restrito e exigindo a apresentação de complexa documentação.

A criação do Parque Nacional da Peneda-Gerês (8 de Maio de 1971) acabava de recortar a serra, segundo um limite que parecia ter pouco a ver com as deslocações habituais dos habitantes (Medeiros, 1986). A maior parte dos caminhos serranos continuavam apenas acessíveis aos carros de bois e as raras estradas macadamizadas eram tão precárias que se tornava uma verdadeira aventura tentar atravessar a serra pelos cimos, mesmo com carro todo terreno e com bom tempo. Passar pelos vales que recortam a serra era então de todo impossível. Como os viajantes do século XVI, tive mais de uma vez de renunciar e dar a volta ao maciço pelos vales periféricos dos rios Minho e Vez. A serra não tinha então a menor unidade funcional. Castro Laboreiro não passava de um beco sem saída, bem ao contrário do que era no tempo dos almocreves. No entanto, uma atenuante existia a este isolamento, mas só ocasionalmente perceptível pelo observador de fora: o contrabando funcionava. Vi um dia passar uma camioneta carregada de gado, que vinha clandestinamente da Galiza pelos difíceis caminhos do Parque, para escapar assim à fiscalização existente nas outras estradas.

Muito forte era na serra, noa anos 70, a marca da emigração para França, sobretudo em Castro Laboreiro. Construíam-se, durante o Verão, vivendas vistosas nas brandas que dominam a vila. Os emigrantes invadiam a montanha durante as suas vacanças, que aproveitavam para celebrar festas e alegres casamentos. No dia 30 de Agosto de 1976, pude ver autocarros carregadíssimos, que se preparavam para deixar a praça central de Melgaço em direcção a diversos pontos de França. A Peneda parecia-se então mais com um anexo afastado de França do que com a ponta avançada de Portugal para norte.

Durante a noite de 28/29 de Agosto de 1976 caiu em Castro Laboreiro uma forte chuvada, que invadiu o andar térreo da nova pensão, obra de emigrantes, vistosamente instalada a pouca distância da antiga vila, num lugar baixo para onde convergiam vários caminhos murados. Os donos da pensão, desenraizados da realidade serrana, ignoravam que o clima da Peneda já não é mediterrâneo e inclui abundantes chuvadas ocasionais no Verão. Ignoravam também as consequências práticas dos pormenores topográficos do lugar. Depois de um dia de muito trabalho, onde tinham servido um banquete de casamento, acordaram sobressaltados em plena noite, no momento em que a água alagava as suas camas e tinha já afogado o motor dos carros de numerosos hóspedes.

p.93

CAMINHOS E FRONTEIRA NA SERRA DA PENEDA

EXEMPLOS NOS SÉCULOS XV E XVI E NA ACTUALIDADE

SUZANNE DAVEAU

Revista da Faculdade de Letras – Geografia

I série, vol. XIX, Porto, 2003

CASTRO LABOREIRO E O PNPG

melgaçodomonteàribeira, 21.07.20

 

CASTRO LABOREIRO FACE AO PARQUE NACIONAL

PENEDA-GERÊS

 

Castro Laboreiro é uma das regiões que mais confiadamente pode encarar o futuro. E não só pela emigração, como até agora. Os naturais de lá emigram, desde muito cedo, amealham fortuna e procuram instalar-se fora da terra natal, no concelho ou longe dele.

Com a transformação da serra em Parque nacional, o futuro virou permitindo aos naturais enriquecer ou, pelo menos, transformar-lhes radicalmente a vida.

Claro que os naturais não vêem o futuro pelos nossos olhos. Situados adentro do perímetro do Parque, sentem-se espartilhados nas disposições tomadas oficialmente: proibição de erguer casas com materiais que não sejam a madeira devidamente preparada e abate dos carvalhos.

Obras já em construção foram embargadas, porque usaram ferro em lugar de madeira, como estava ordenado. Em relação aos carvalhos a abater, os serviços oficiais dão-lhes pinheiro.

Enquanto isto, a transformação do Parque processa-se lentamente.

O turismo, que vai ser a sua maior receita ainda vem longe. Força é mentalizar os habitantes, levando-os a erguer as infra-estruturas: abastecimento de água ao domicílio, saneamento, entre outros. E uma bomba de gasolina. E um talho. E tanta coisa mais…

Sendo tão inteligentes e de grande iniciativa, como se não lembraram ainda os naturais destas coisas?

E ligação para Espanha, por estrada. E livre trânsito na fronteira, para as populações locais, de Espanha e de cá. E comércio livre, ao menos nos dias de feira.

Isolados, encostados ao muro da fronteira, se lhes não é permitido o livre trânsito, asfixiam. Vegetam. Isto deverá ser uma das primeiras coisas a pedir oficialmente.

Aliás, quando a floresta adensar, desconhecendo a fronteira, como vai ser possível impedir-lhe a passagem?

 

A VOZ DE MELGAÇO

MELGAÇO, 1 DE MAIO DE 1974

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