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MELGAÇO, DO MONTE À RIBEIRA

História e narrativas duma terra raiana

MELGAÇO, DO MONTE À RIBEIRA

História e narrativas duma terra raiana

ORDEM DO HOSPITAL EM LAMAS DE MOURO

melgaçodomonteàribeira, 10.12.22

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As primeiras referências escritas ao couto de Lamas de Mouro, por seu turno, surgem em meados do século XIV. Duas confirmações aos párocos da sua igreja, feitas em Tui (Espanha), continuam a ser os testemunhos escrito mais arcaicos da existência de uma comunidade humana organizada no seu espaço territorial: por denúncia do anterior reitor Estevão Martins, no dia 21 de Abril de 1355 o bispo de Tui confirmou, por apresentação do prior da Ordem do Hospital de S. João de Jerusalém em Portugal, Estevão Eanes de Ceivães como pároco da igreja de Lamas de Mouro – testemunha presente o procurador do bailio do Hospital de Jerusalém – ; falecido o pároco supra referido, foi apresentado pelo prior da Ordem o clérigo Gonçalo Nunes de Melgaço, confirmado pelo bispo de Tui no dia 29 de Setembro de 1362.

Enquanto não surja documento comprovativo, a minha convicção gratuita é de que o Couto de Lamas de Mouro terá sido outorgado por decisão régia à Ordem do Hospital por questões de estratégia militar e defesa do próprio reino. Trata-se de um vale cavado entre ásperas montanhas, encostado à raia seca com Galiza, de forma que a sua situação geográfica e morfológica converte este exíguo espaço territorial no estreito por onde mais facilmente poderia penetrar uma invasão dirigida ao entre Lima e Minho – assim rezam alguns documentos e outros relatos mais fabulosos, que não podemos estar agora a desfiar. – O facto de ser coutado aos cavaleiros maltezes seria um tampão aos intentos invasores mais audazes, fechando a linha defensiva entre os castelos de Melgaço e Castro Laboreiro.

 

OS LIMITES DA FREGUESIA DE LAMAS DE MOURO E OS CAMINHOS DA (IN)JUSTIÇA

José Domingues

1ª Edição

Novembro 2014

 

ANÉMONAS NO PLANALTO

melgaçodomonteàribeira, 15.06.19

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ANÉMONA DOS BOSQUES

 

Além dos sinos azuis, há outras plantas de filiação nórdica que em Portugal nunca avançaram muito para cá da fronteira galega. Uma delas é a Anemone nemorosa, espécie de que as duas ou três populações existentes no planalto de Castro Laboreiro são as únicas que se conhecem em território nacional. A existência da anémona-dos-bosques em Portugal só foi confirmada em 1999 pelos botânicos Francisco Barreto Caldas, João Honrado e Henrique Nepomuceno Alves. Até então tinha havido uma história de equívocos remontando a Brotero, que identificou como sendo A. nemorosa a planta que hoje designamos por A. Trifolia subsp. albida, e que é mais ou menos frequente no norte de Portugal. De facto, as duas anémonas têm aspecto semelhante, são ambas de floração temporã, e comungam uma preferência por bosques caducifólios húmidos. A distinção entre elas faz-se sobretudo pela folhagem: as folhas de A. nemorosa têm margens marcadamente lobadas, a ponto de por vezes os três folíolos se converterem em cinco.

Estas poucas plantinhas que encontrámos com certa dificuldade, em dia de chuva – e as flores da anémona entristecem irremediavelmente com um aguaceiro – , são uma importante achega à nossa plena integração europeia. Antes de 1999, éramos, com a Islândia, um dos dois países europeus onde a Anemone nemorosa nunca tinha sido avistada. Depois disso ficou a Islândia sozinha sem as suas anémonas e com os vulcões. Até que a economia, pressurosa, veio restabelecer, com o défice no PIB e a bancarrota, os laços de penúria entre os dois países.

 

Retirado de:

Dias com árvores

 

http://dias-com-arvores.blogspot.pt

RIOS DE MELGAÇO

melgaçodomonteàribeira, 16.09.15

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O PARQUE NACIONAL DA PENEDA – GERÊS TEM UM “NOVO” E EXCELENTE ATRACTIVO

 

Melgaço juntou-se aos vizinhos galegos para criar a primeira reserva fluvial da Europa nos Rios Trancoso e Laboreiro.

 

Abel Coentrão

03/11/2014

Jornal Público

 

Já se sabia que o Parque Nacional da Peneda-Gerês (PNPG) tem um certo carisma, que lhe advém de um certo magnetismo que nos atrai para as suas paisagens de montanha. Mas Carisma é também o acrónimo, em castelhano, para Qualidade Ambiental das Reservas Naturais Fluviais Internacionais do Meio Aquático, o projecto galaico-português que transformou os rios Trancoso e o Laboreiro na primeira reserva fluvial europeia.

 

O Trancoso e o Laboreiro são dois rios pequenos, de montanha: o primeiro está no Parque do Xurés e é um afluente do Rio Minho, de 13,6 quilómetros de extensão; o segundo está no PNPG, tem 8,4 quilómetros e é um afluente do Lima, ao qual se junta na Albufeira do Lindoso. Para além de servirem, em grande parte dos seus troços, como (antiga e porosa) fronteira entre Portugal e Espanha, mantêm muita da biodiversidade que outros cursos de água, em zonas mais povoadas, já perderam. O que explica a vontade transnacional de investir cerca de dois milhões de euros, grande parte dos quais de fundos comunitários, em acções que valorizassem ainda mais essa qualidade ambiental e permitissem uma maior fruição deste património natural.

 

Em termos práticos, o projecto terminou em Setembro, mas não se ouviram “foguetes”, apenas uma pequena notícia da Lusa em Portugal e uma longa e entusiástica explicação na página do Ministério do Ambiente Espanhol, sobre o resultado de um trabalho de dois anos, levado a cabo pela Confederação Hidrográfica Minho-Sil, da Galiza, que convidou a antiga Administração Regional Hidrográfica do Norte (ARH), e os municípios de Entrimo, Padrenda e Melgaço para este projecto no qual o município português investiu 250 mil euros. Dinheiro que acrescenta outra fonte de interesse a esta zona mais setentrional do PNPG.

 

O parque já está classificado como Reserva da Biosfera da Unesco. Abriga espécies de fauna e de flora que o resto do país viu desaparecer e o Laboreiro, que atravessa a conhecida vila de Castro Laboreiro e as suas brandas, as antigas aldeias de verão dos pastores, está integrado no território desta que é a única área protegida de carácter nacional. E esta localização ajuda a perceber, segundo o chefe de divisão de Obras e Serviços Urbanos de Melgaço, Humberto Gonçalves, as reticências da gestão do PNPG a algumas componentes do projecto, como a abertura de caminhos de acesso ao rio, que acabaram por não se concretizar.

 

O plano de Ordenamento do PNPG impede a abertura de novos caminhos, permitindo apenas a limpeza e requalificação de trilhos existentes, e desde que estes não ponham em causa valores naturais protegidos. Ou seja, se a componente de intervenção na qualidade da água, pela eliminação de alguns pequenos focos de poluição, foi atingida, a componente ligada à fruição destes espaços só parcialmente foi concretizada. Teve de ser abandonada a intenção de criar acessibilidades a alguns pontos mais belos do Laboreiro, explicou o responsável pelo projecto na Câmara de Melgaço. Ainda assim, foi possível construir alguns acessos, noutros pontos, tal como aconteceu no Trancoso.

 

Apesar destes percalços, o projecto foi considerado um sucesso. Em Setembro, numa sessão de apresentação das conclusões do mesmo, na Galiza, o presidente da Confederação Hidrográfica do Minho-Sil, Francisco Marín, destacou que, através do Carisma, “pela primeira vez na Europa administrações de diferentes países puseram-se de acordo para proteger e valorizar rios partilhados”. E, acrescentou, esta iniciativa promove o desenvolvimento deste território periférico e das suas populações, outrora unidas pelas cumplicidades do contrabando.

 

Melgaço pretende agora dar continuidade a este projecto, promovendo-o, quer do ponto de vista ambiental, quer em termos turísticos. O concelho é uma das entradas para o Parque Nacional da Peneda-Gerês – através da porta de Lamas de Mouro – e compensa a distância a que está do resto do país com uma diversidade de paisagens, quase todas elas em Rede Natura 2000. Seja no vale do Minho, com as margens pontuadas pelos vinhedos de alvarinho, quer na montanha, entre as casas graníticas de Castro Laboreiro ou da branda da Aveleira, cujas casas de pastores estão a ser adaptadas ao turismo em espaço rural, está bem presente o papel do homem na definição deste território. Uma presença que, ainda assim, conseguiu não estragar dois pequenos rios internacionais.