NOMADISMO DE CASTRO LABOREIRO
Branda de Portos
BRANDAS E INVERNEIRAS:
O NOMADISMO PECULIAR DE CASTRO LABOREIRO
José Domingues
Américo Rodrigues
“Tem os moradores desta Freguesia duas vivendas,
Huma a que chamão a Enverneira, e a outra
Varandas, que se compõe de vários Lugares.”
(Dicionário Geográfico,
Lisboa, 1751, vol. 2, p. 529)
Em Castro Laboreiro (que foi concelho autónomo, composto por uma só freguesia, até à reforma administrativa preconizada pelo Decreto de 24 de Outubro de 1855), actual freguesia do concelho de Melgaço, com uma área de 9 000 hectares, toda ela integrada no Parque Nacional da Peneda Gerês (PNPG), persiste um invulgar sinal do nomadismo agro-pastoril. Parece que o único caso que, de alguma forma, se lhe pode comparar é o dos Vaqueiros de Alçada, nas montanhas das Astúrias. Mas é claro e sabido que o fenómeno das brandas (embora tudo indique derivar de Verão, optamos pelo termo popular branda, em vez de veranda), que, essencialmente, consiste na mudança de habitação no tempo do estio, é vulgar e se encontra espalhado por todo o âmbito geográfico da Península Ibérica. Onde reside, então, a peculiaridade da conjuntura vivida em Castro Laboreiro?
Para responder satisfatoriamente a esta pergunta não precisamos sequer de nos afastar do território objecto deste singelo apontamento, que é mais de divulgação do que, propriamente, de investigação. Por isso, se nos focalizarmos na cordilheira mais a setentrião de Portugal, entre os rios Lima e Minho, – identificada na cartografia como Serra da Peneda ou do Soajo, mas nós, por motivos que não vem ao caso explanar, preferimos a terminologia arcaica de Montes Laboreiro – constatamos que todo esse maciço rochoso está pejado de brandas. Algumas são de cariz unicamente pastoril, outras também aproveitam o cultivo dos frutos da época. No entanto, todas elas são apoiadas por lugares fixos.
Por outras palavras, estas brandas surgem com o propósito fundamental de apoio aos pastores que, no tempo de Verão, sobem com os seus gados à procura de pastagens a maior altitude e, em alguns casos, acaba por se aproveitar o terreno em volta para as culturas sazonais. No entanto, o lugar de residência é sempre o lugar fixo. Esta conjuntura, em Castro Laboreiro, apenas se verifica nos lugares do Ribeiro, situados no extremo sul do seu território, com uma grande proximidade e afinidade às freguesias contíguas da Gavieira e Soajo (onde predomina este tipo de brandas). Por outro lado, estes povoados do Ribeiro (de Cima e de Baixo) são de formação muito recente, só aparecem no princípio do século XIX. Efectivamente, não constam no rol da Memória Paroquial de 1758 e a referência documental mais antiga conhecida é um registo de óbito de 1812. Por isso, situamos a sua formação neste espaço temporal de cerca de meio século.
Mas o Ribeiro é excepção à regra, porque em Castro Laboreiro – e aqui reside a sua maior especificidade em relação às outras conjunturas de nomadismo – as brandas são complementadas pelas inverneiras e vice-versa. Ou seja, os castrejos, tal como ficou consignado no Dicionário Geográfico, impresso em 1751, têm duas vivendas. A do lugar de cima (lugares de enrriba = brandas) e a do lugar de baixo (lugares de embaixo = inverneiras). A questão, que ainda nem sequer foi proposta, é a de tentar saber qual o lugar matriz. Para efeitos eclesiásticos (rol dos confessados, casamento, baptismo, óbito) o lugar de referência foi sempre a inverneira e também foi lá que se implantaram as capelas de culto religioso mais antigas. Em contrapartida, é nas brandas que os castrejos passam a maior parte do ano, onde se localizam os terrenos mais férteis e melhores baldios, estando-lhe associadas melhores casas e equipamentos. De qualquer forma, existem equipamentos comunitários (forno, eira, moinho…) em ambos os sítios.
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www.academia.edu/6875449/_Brandas_e_Inverneiras_o_nomadismo_peculiar_de_Castro_Laboreiro_