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MELGAÇO, DO MONTE À RIBEIRA

História e narrativas duma terra raiana

MELGAÇO, DO MONTE À RIBEIRA

História e narrativas duma terra raiana

ESTÁ NA HORA DO REGRESSO A CASA

melgaçodomonteàribeira, 23.03.19

48 a2 - antigo escudo da vila, desaparecido.jpg

antigo escudo de melgaço

 

ACHADOS

 

Não sabendo eu explicar a razão pela qual os arqueólogos portugueses, ou outros, nunca se interessaram por Melgaço, à excepção da freguesia de Castro Laboreiro, que nos últimos anos tem sido palco de investigações nesse domínio, não quero contudo deixar de lado o assunto. E a verdade, apesar dessa ausência, aqui e ali ao acaso, vão aparecendo objectos de antanho, os quais logo desaparecem como por bruxedo!

Escreveu Figueiredo da Guerra no “Correio de Melgaço” nº 31 de 5/1/1913: Da idade do bronze apareceram em (Novembro de) 1906, na Carpinteira, S. Paio, em esconderijo subterrâneo (quando se arrancava um pinheiro numa bouça), cinco machados de cobre, tipo morgeano (…), que nós classificamos como modelo grande do Minho. Da mão do nosso amigo Serafim Neves, onde os vimos, passaram ao Dr. José Leite, indo aumentar a colecção oficial de Lisboa.

No adro da igreja do mosteiro de Paderne existia desde tempo imemoriais uma curiosa lápide ornamentada; os paroquianos admiravam o par, representado toscamente, e o comentavam a seu modo. Era nada menos que um cipo luso-romano agora lajeando o pavimento, e tendo na parte superior um nicho com duas figuras, homem e mulher, dando as mãos; no rectângulo inferior e também abaixo dele, a inscrição, que diz: «Fulana, de cem anos, e seu companheiro Valus, filho de Arda, de 50 anos, aqui estão sepultados. O companheiro Pento mandou fazer este monumento.» Este padrão, tão cobiçado pelo Director do Museu Etnográfico de Belém, acabou por seguir para lá em 1906.)

No “Arqueólogo Português”, volume XII, 1907, o Dr. José Leite de Vasconcelos escreveu: «Junto da igreja de Paderne… existia… uma pedra lusitano-romana… ocupa hoje lugar de honra no Museu Etnológico…»

No Notícias de Melgaço, nº 224, de 4/3/1934, escreveram: «Numa propriedade ultimamente adquirida por Avelino Júlio Esteves, perto da nova avenida em construção, em volta das antigas muralhas desta Vila, e quando se procedia a um desaterro para a construção dum prédio, foram encontrados seis sarcófagos, abertos em Piçarra, saibro duro e espesso, calculando-se uma idade de 700 anos. Naquele local existiu em tempos uma capela, que foi demolida. O achado tem sido muito visitado por curiosos, inventando cada qual, a seu belo prazer, interessantes lendas, que a falta de espaço não nos permite reproduzir.»

Leite de Vasconcelos levou alguns desses achados, e ainda bem, para os museus da cidade, de outro modo ter-se-iam perdido. Na década do 90 do século XX, quando se rasgava a estrada Monção a Melgaço, os trabalhadores encontraram diversos objectos de longa idade. Os curiosos logo apareceram e levaram tudo que viram e tinha, do seu ponto de vista, algum valor comercial. (Sobre este assunto ver Jornal de Melgaço, nº 48, de Maio de 1994, Jornal de Melgaço, nº 55, de Janeiro de 1995, Voz de Melgaço nº 1054, de 1/7/1996, Jornal de Melgaço, nº 114, de Maio de 2000, jornal de Melgaço, nº 123, de Março de 2001).

 

 

Dicionário Enciclopédico de Melgaço I

Joaquim A. Rocha

Edição do autor

2009

pp. 22, 23

 

 

DOS MUSEUS DE MELGAÇO

melgaçodomonteàribeira, 01.12.18

25 c2 - museu contrabando.jpg

museu do contrabando

 

A MEMÓRIA COMO PATRIMÓNIO: DA NARRATIVA À IMAGEM

 

  O município de Melgaço, em alternativa à criação de um único espaço museológico, tem optado pela criação de uma rede de pequenos museus. O núcleo museológico da Torre de Menagem e as Ruínas Arqueológicas da Praça da República têm, também eles, uma evidente conotação histórica, mas o «Espaço Memória e Fronteira» é o único que procura fazer uma ponte com o presente, isto é, que procura dar sentido e conteúdo à memória colectiva através da construção de uma narrativa em que a comunidade pode e deve rever-se. A junção do contrabando e da emigração no mesmo espaço físico e em semelhantes balizas expressivas faz por isso todo o sentido. Não só pela permeabilidade entre as duas actividades – em lugares de fronteira a emigração incrementa-se não tanto pela diminuição do contrabando mas pelas transformações internas da actividade – mas também porque congregam tópicos discursivos convergentes. As ideias de travessia, de clandestinidade, de enfrentamento dos perigos e da luta pela sobrevivência e melhoria das condições de vida para a família, contam-se entre esses tópicos.

 

Luís Cunha

Universidade do Minho, CRIA

2010

 

MELGAÇO, MEMÓRIA E FRONTEIRA

melgaçodomonteàribeira, 29.08.15

123 - azulejo museu.jpg

 

A PATRIMONIALISAÇÃO E A TURISTIFICAÇÃO DO CONTRABANDO

 

Em Portugal, existe um museu (municipal) que tem uma exposição permanente sobre o contrabando, designadamente o Espaço Memória e Fronteira em Melgaço (Viana do Castelo), também conhecido por museu do contrabando e da emigração. Este museu foi criado por iniciativa da Câmara Municipal de Melgaço, em colaboração com o Departamento de Ciências Sociais da Universidade do Minho, através do Prof. Doutor Albertino Gonçalves. A obra foi comparticipada pelo programa comunitário INTERREG III A, o que ilustra a importância dos programas e iniciativas de âmbito comunitário na sustentação financeira de projectos relacionados com o património, o turismo e desenvolvimento local em meio rural.

A implementação das anteriormente referidas políticas nacionais e comunitárias de combate aos efeitos nefastos da desruralização do país foi acompanhada pela criação de programas e iniciativas de financiamento de projectos elegíveis – museus locais, unidades de turismo rural, trilhos, reabilitação de patrimónios edificados, recuperação de aldeias (históricas e rústicas), valorização de sítios arqueológicos, etc. -, incluindo o FEDER, o LEADER e o INTERREG. As autarquias e os agentes privados têm uma acção importante na promoção destes projectos, mas o seu principal promotor é a administração central, que em Portugal tem desempenhado um papel determinante e decisivo na conversão dos espaços rurais em espaços turísticos.

Inaugurado em Abril 2007, este museu tem duas exposições permanentes, uma mais vasta dedicada ao tema de emigração, outra dedicada ao contrabando. A denominada “sala do contrabando” tem cerca de 36 metros quadrados, preenchidos com uma panóplia de registos associados a este fenómeno de transposição e usufruto de uma fronteira política e administrativa para negociação de bens e obtenção de capital. Aqui se incluem réplicas dos principais produtos contrabandeados (tabaco, café, sabão, chocolate, açúcar, arroz, amêndoa, panelas de esmalte, volfrâmio, ouro, prata…), recortes de jornais alusivos ao tema – um deles noticia o aparecimento nas margens do rio Minho do cadáver de um contrabandista abatido pelas autoridades – , autos de apreensões efectuadas pela guarda-fiscal, uma embarcação para a travessia do rio Minho, denominada batela, um colete adaptado para transporte de contrabando, uma farda utilizada pela guarda-fiscal, um torrador de café, imagens fotográficas de locais de passagem de contrabando e um grande painel fotográfico de uma paisagem onde está impresso um excerto de uma obra de Miguel Torga que fala justamente do tema e que a seguir se apresenta:

 

Desde que o mundo é mundo que toda a gente ali governa a vida na lavoura que a terra permite. E, com luto na alma ou no casaco, mal a noite escurece, continua a faina. A vida está acima das desgraças e dos códigos. De mais, diante da fatalidade a que a povoação está condenada, a própria guarda acaba por descer da sua missão hirta e fria na escuridão das horas. E se por acaso se juntam na venda do Inácio uns e outros – guardas e contrabandistas – , fala-se honradamente da melhor maneira de ganhar o pão: se por conta do Estado a vigiar o ribeiro, se por conta da Vida a passar o ribeiro (Torga,1984, 28).

 

Por: Luís Silva

Departamento de Antropologia, Faculdade de Ciências Sociais e Humanas, Universidade Nova de Lisboa

 

luís.silva98@gmail.com

 

ACHEGA À HISTÓRIA DE PADERNE

melgaçodomonteàribeira, 08.03.13

 

 

ESTELA SEPULCRAL ARCAICA DO ALTO-MINHO

 

    Junto da Igreja de Paderne, aldeia do concelho de Melgaço, existia há annos uma notavel pedra lusitano-romana, com uma inscripção e figuras esculturadas, a qual fazia parte do lagedo granitico do adro, e estava pois sendo constantemente profanada e maltratada por quem lhe passava em cima. Por diligencias do meu amigo o Dr. Antonio José de Pinho Júnior, advogado em Monção, e moço illustrado a quem os estudos de archeologia e ethnografia locaes merecem particulares estima, a pedra occupa hoje logar de honra no Museu Ethnologico Português: SECÇÃO LAPIDAR – MINHO.

    Tem de altura 1m,61; de espessura 0m,16; de largura 0m,50. É pois uma estela. Com quanto lhe falte já a extremidade superior, póde esta lapide considerar-se dividida na superfície anterior em quatro segmentos.

    O segmento superior, que, como digo, está incompleto, parece que representa um busto acephalo; duas mãos sustentam adiante do peito, em alto relevo, um objecto indeterminavel, mas muito provavelmente vaso.

    O segundo segmento é constituído por um nicho, encurvado em cima. Nelle se vêem, em baixo-relevo, duas toscas figuras, com feições desiguaes, de pé, sem nada na cabeça, – uma, a da direita, apparentemente do sexo masculino, vestida de roupagem mais curta (simples tunica); a outra, a da esquerda, apparentemente do sexo feminino, vestida de roupagem que chega até quasi aos pés (tunica muliebris); cada uma das figuras tem na mão direita um objecto indecifravel e dá a esquerda á outra figura.

    O terceiro segmento, separado do antecedente por um bordo, contém uma inscripção, que foi gravada no campo depois de um pouco rebaixado, como o terceiro.

    O resto do quarto segmento era destinado a fixar o monumento no solo.

    Os lados da estela são irregulares, e estão em parte quebrados; pelas costas a lapide foi levemente desbastada. A extremidade inferior acha-se tambem falha.

    A tribu romanizada a que pertencia o monumento era, com muita probabilidade, aquella que tinha o seu oppidum num monte que fica a dois passos da igreja parochial de Paderne, e que ainda hoje se chama A Cividade, do latim civitatem; ahi encontrei uma casa redonda, do typo já conhecido noutros castros de Entre-Douro-e-Minho, e varios objectos de pedra (esculpturas) e restos ceramicos, tudo de origem pre-romana. O nome d’esta tribu começava acaso pela enygmatica syllaba Comp – que se le tres vezes na inscripção.

 

Retirado de: O ARCHEOLOGO PORTUGUÊS

 

                     pp. 275-281

 

                     por:

 

                     J. Leite de Vasconcelos

 

http://www.archive.org

 

ESPAÇO MEMORIA E FRONTEIRA

melgaçodomonteàribeira, 08.03.13

 

 

UN VIAJE A LA MEMORIA DEL CONTRABANDO

 

Melgaço cuenta con uno de los pocos museos que hay en la península dedicado a esta actividad

 

Marisol Oliva – 24/08/2009

 

El Museo de la Memoria y la Frontera, en la localidad portuguesa de Melgaço, permite al visitante viajar al tiempo em el que la raia era cruzada por miles de personas dedicadas al tráfico ilegal de mercancías. El espacio recoge también la emigración en el régimen salazarista.

‘El contrabando unió durante siglos los pueblos de la frontera y se convertió en una forma de economía que les ayudaba a sobrevivir en zonas aisladas y sin apenas recursos, salvo la emigración’, explica Angelina Esteves, responsable de los servicios culturales de la Cámara de Melgaço, donde desde hace dos años funciona el primer museo de Portugal.

En sus salas se puede hacer un recorrido por la historia de esta actividad en la que café, cobre y tabaco se fueron alternando para ‘ayudar en las economías familiares’. Entre los objetos que se pueden ver se encuentra un uniforme de la Guardia Fiscal portuguesa, la misma que peinaba las sierras del Alto Minho buscando a los que desafiaban los caminos.

El visitante puede escuchar en la sala voces que narran sus proprias historias. El objetivo, según explica Angelina Esteves ‘es hacer un documental en el que los protagonistas cuenten sus recuerdos, tanto de contrabando como emigración’............

 

Retirado do jornal La Region

 

http://www.laregion.es/noticia/100586

 

DO SONHO À REALIDADE

melgaçodomonteàribeira, 08.03.13

 

Jean Loup Passek

 

 

      Sinto-me na Cinna Citá, ao lado do mestre, no alto de uma grua a olhar para  as cúpulas, telhados, jardins suspensos, bairros de lata e ele a dizer, voz rouca, a gritar:

      — Roma, mi cittá.

      Frederico é o nome do meu avô; Fellini é o nome dum génio.

      Conheci Felinni, em 74 ou 75; preto e branco no 8/5; o Ciccio  no Amarcord, o Satiricon, as bichas p’ra entrar no Palácio Foz.

      Em Melgaço naveguei na fonte com a deusa nórdica; em Melgaço encontrei o outro, o nosso, o senhor Fellini, o homem que não precisa de nome; em Melgaço há muito para descobrir.

      E o senhor cinema, décadas depois do Ti Pires e do Sn.r Hilário, Jean Loup Passek, melgacense aprofilhado não contente com o espaço que lhe foi conferido pela C M M  conseguiu que o museu não parasse. E nós agradecemos. O antigo cine Pelicano vai ser reconvertido e o museu alargado.

 

Depois de Fellini é Bergmam!

 

Erros ortográficos são da responsabilidade de:

 

Io volo una dona….io volo una dona

 

Camborio Refugiado