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MELGAÇO, DO MONTE À RIBEIRA

História e narrativas duma terra raiana

MELGAÇO, DO MONTE À RIBEIRA

História e narrativas duma terra raiana

A CEMA E O BALTAZAR

melgaçodomonteàribeira, 21.01.23

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UM LUGAR ONDE NADA ACONTECIA

XVIII

FINAL

O Manel do Cerinha pelou oito meses de cadeia. Não conseguiu esquivar-se da acusação de defloramento da namorada que abandonou. Os rapazes comentavam estes casos como advertência uma vez que todos já namoravam.

- Quando chega certa hora a gente perde as estribeiras e esquece as consequências que virão, dizia o Zeca Chatice.

- Já dizia o Tito Betrano, o moleiro, que tinha uma rebanhada de filhos:

- O Timóteo contava, na alfaiataria do Mundo da Feira Nova, que, na hora da chegada, fez uma marcha-a-trás tão violenta que caiu escada abaixo.

E como o tema agradava àquele grupo de rapazes, o Manel Félix lembrou o caixeiro-viajante que volta e meia aparecia em Melgaço vendendo os produtos de que era representante. Hospedava-se na Pensão Braga. Numa das hospedagens ajeitou-se com a Cema, bonita rapariga com 16 anos, que trabalhava como arrumadeira, filha da cozinheira. O pai da rapariga deu parte no tribunal. O Baltazar foi chamado a dar explicações; como era casado, para evitar repercussão que lhe causaria transtornos familiares e comerciais, não tendo como negar o sucedido, optou pela conciliação proposta pelo delegado. Pagou a astronómica importância (para o tempo) de vinte contos (20.000$00).

O caso serviu de tema para a paródia que o Vasco incluiu no teatro que estava ensaiando:

e fazem os homens tontos.

Cuidado seu Baltazar

não se queira arruinar

que o preço são vinte contos.

 

Nesta mesma revista teatral parodiava, também, o retratista Dom Francisco da Feira Nova que descobriu o Scheelita no monte da Gavieira, e a piscina que o Emiliano queria fazer no regato do Rio do Porto.

* * *

Estes “nada” que aconteciam em Melgaço, no ponto de vista dos jovens, sucediam-se merencoriamente em relação ao cinema que em uma hora exibia muitas vidas e muitos acontecimentos entrelaçados.

 

“Que raio de terra onde nada acontecia, comentavam!”

 

                                                                  MANUEL FÉLIX IGREJAS

 

Publicado no jornal “A voz de Melgaço”

1 de Abril de 2015

CONVERSA DE RAPAZES

melgaçodomonteàribeira, 03.09.22

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UM LUGAR ONDE NADA ACONTECIA

XVI

Outra testemunha prestou depoimento sobre a conduta do Lili. Contou ao Juiz que o rapaz havia comprado um Cocciolo, bicicleta motorizada, mas usava-a pedalando.

Na saída da sala do tribunal, aquele grupo de rapazes ia discutindo as iluminação pública, no cruzamento da igreja, da avenida e da rua Direita, bem no meio da rua, como sempre acontecia quando o tempo permitia, aí ficaram longo tempo.

O Zé Nabeiro, o Zeca Chatice, o João Castro, o Norberto, o Zeca, o João Pires, o Manel Félix e o Neca Pires.

- Mas que raio, afinal, julgamento é isso? Dizer o que todo o mundo sabe do Lili? O Juiz só não sabe se não quiser! Quem assim falava era o Zeca Chatice que se mostrava confuso.

- O Lili nunca fez mal a ninguém. É meio esquisito, sim, mas que crime ele cometeu?

E dizendo isto, o Zé Nabeiro demonstrava uma certa simpatia que no fundo todos nutriam pelo Teodorico.

O barulho acontecido no final do desafio de futebol no domingo passado tomou conta da conversa dos rapazes.

- O Gorines ameaçou vingar-se de cada um. Ele é vingativo!

- Coitado do Miro, vai amanhã para Coimbra! Só lá vão conseguir concertar-lhe a cara. A pedrada abriu-lhe todo o lado do rosto.

- Foi o Ranilha no desespero do abafamento. Rolaram no chão, o Miro apertava-lhe o pescoço, ia-o esganar, estendeu o braço achando aquele pedregulho…

- Estavam todos bebendo na barraca da Isolina quando surgiu o assunto do contrabando.

- São todos frotistas, às vezes negoceiam juntos.

- Por isso mesmo é que o Zé Corujo deu o murro na cara do Gorines acusando-o de roubo.

- Sem mais nem menos todos se agrediram. Foi soco e pontapé para todo o lado.

- A gritaria das mulheres parecia o fim do mundo.

- Eram uma dez as que cuidavam das três barracas.

- O Ná não apanhou porque a mulher, a Violeta, mais a Peta, o seguraram, arrastando-o para longe do barulho.

- Nós não vimos tudo. Depois do jogo do Rápido contra o Monçanense ficamos no campo treinando e só depois demos pela coisa com os gritos das mulheres.

- Eu vi bem quando o Ranilha apanhou a pedra já estava sufocado.

- Todos bateram e apanharam.

- Homens maduros, chefes de família, colegas e amigos de todos os dias, como se meteram numa confusão daquelas?

- Devem ter bebido demais…

- Bebem bastante todos os dias e nunca aconteceu daquilo.

- Tu é que não sabes! Nunca chegaram àquilo mas em todas as festas tem zaragata. Na festa de Santa Rita andaram aos empurrões.

- Vós soubestes que o Manel da Mena viu na Central a Biti beijando o Vasco?

- Aquele namoro está adiantado.

- Outro dia a Toupeira disse-lhe que não ia conseguir desflorar a Biti, virgem com mais de trinta anos…

- Engraçado foi o Tostas: disse que o Vasco ia ter de escachar uma acha.

- É mesmo! A Biti é tão magra que parece uma acha de lenha.

- O Fernando do Ferreirinho emprenhou a Maria do Manel da Chica. Soube-se esta semana. A rapariga não teve mais como esconder a barriga.

- Eram namorados há mais dum ano, isso ia acontecer.

- Só têm que casar!

- Pois sim! Dizem que desde que ela lhe falou na prenhez ele afastou-se. Não os viram mais namorando.

- Ele tinha outra namorada em S. Martinho, filha de uns lavradores ricos e agora só se vê com essa.

- O Manel da Chica e a mulher são humildes jornaleiros… o Fernando é empregado do primo e não ganha para manter uma casa.

- No domingo vai passar um filme de cow-bois sensacional, vou ver se consigo os cinco escudos para o bilhete.

- Eu também! Este aqui é que vê tudo o que é fita, de graça.

- Que grande favor… também pinto de graça os cartazes para o senhor Hilário. O do filme “Deus lhe Pague” levou-me o dia inteiro.

A conversa daquele grupo de rapazes, colegas da mesma idade, abordava todos os assuntos. Quando estes escasseavam os diálogos iam arrefecendo e sempre um deles arrematava com a “filosófica” sentença reclamatória:

- Que raio de terra onde nunca acontece nada!

O Manel Carrapito, metido a sabido, aproveitava para encaixar uma frase que julgava erudita e tinha lido em algum lado:

- Aqui não se vive, vegeta-se!

Coitada daquela rapaziada que se deixava influenciar pelo cinema americano que lhe impingia nos filmes de aventura, nas comédias musicais e até nos romances melodramáticos, um estilo de vida requintado, cheio de felicidades, com acontecimentos de prazer, alegres, coloridos, recheados de abastança. Aquilo sim, é que era estilo de vida!...

O cinema, um dos poucos passatempos da terra e fonte de cultura alienígena, acontecia uma vez por semana, aos domingos.

Nesta altura a energia eléctrica, que continuava a vir de Espanha, era mais constante; não se verificavam tantas interrupções como no tempo de cinema do Pires. O senhor Hilário reformara o salão Pelicano, dotara-o de moderna aparelhagem e assumira a exibição dos filmes. Estes, os filmes, eram noventa por cento americanos. Em Portugal já se faziam filmes de total agrado da população, porém, as empresas distribuidoras só alugavam filmes nacionais para cada dez filmes estrangeiros. As pessoas mais simples não discorriam que o que o cinema mostrava era fictício, mentira.

O que causava reboliço entre a rapaziada eram os filmes históricos e de guerra; pelo jornal da tela ficavam sabendo o que acontecia nos países mais “evoluídos”, coisas fabulosas ou importantes que comparadas com o bucolismo da terra achavam que ali não acontecia nada.

 

                                                                                      Manuel Igrejas 

Publicado em: A Voz de Melgaço

 

CEM ANOS DE RETALHOS DE UMA FAMÍLIA 1852-1952 V

melgaçodomonteàribeira, 09.07.22

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CAPÍTULO V

 

A Conceição Costa, mulher do Félix, passou os tormentos da vida para parir os dezoito e criar os dez que sobreviveram, com altos e baixos financeiros. É certo que os maiorzinhos ajudavam a cuidar dos menores deixando-lhe algum tempo para amanhar a horta, e ir e vir do moinho com os foles de milho e farinha à cabeça. Às vezes o cansaço era tanto que naquele vai e vem, já de noite, tropeçava e caía derramando o conteúdo do fole. Jurava a pés juntos que fora empurrada pelas feiticeiras. Esses personagens lendários, bruxas e feiticeiras, eram, na época, parte integrante da cultura daquele povo a quem se atribuía todos os factos inusitados e inexplicáveis. Havia feiticeiras para todos os gostos. As brincalhonas, as malvadas que se comprasiam as projudicar e as agourentar que pressagiavam eventos catastróficos ou a próxima morte de alguma pessoa.

A Conceição era uma dessas criaturas que acreditava piamente na existência do sobrenatural. Mais tarde, viúva e idosa sujeita a contracções musculares, afirmava que durante a noite o falecido marido lhe pusera as mãos nas costas, braços ou cabeça.

À medida que os filhos cresciam novos sarilhos sobrevinham. As filhas, quando ganhavam corpo de mulher o que acontecia bem cedo, mulheres bonitas e bem feitas, produto apurado de Godos e Celtiberos, tornavam-se a gula de todos os rapazes das redondezas.

A Maria Josena, a mais velha das raparigas, engraçou-se e deixou-se engraçar prlo Luiz Garcia, rapaz bem parecido, do lugar, dinâmico e sonhador. Para reparar a excitação juvenil que resultou em gravidez, o Luiz, meio contra gosto acabou casando com a namorada. Ao primeiro filho, Artur, seguiu-se o Roberto. A vida sem perspectivas do lugar e as notícias dos que se abalavam mexia com a cabeça de todos os jovens. O Luiz e a Maria Josena também almejaram buscar melhor vida. Ao final de muita lamúria a mãe Conceição com a acordância do Félix, concordou em ficar com as crianças. De resto já se convencera que a sua sina era cuidar de crianças, suas, das filhas e quem sabe de quem mais. A Josena e o Luiz emigraram para o estrangeiro. Houve boatos, muito tempo depois que teriam ido para a África. O certo é que não mais aconteceu contacto. O Artur e o Roberto fizeram-se homens de bem ao lado da avó e como todos debandaram para longe. O Artur ficou no país e mais tarde, já com família, voltou e radicou-se na terra. O Roberto foi para a África dando notícias da família que construiu.

O Augusto do Félix, em Belém do Pará, ganhara a amizade e confiança do patrão de quem passara até a ser confidente. Era tanta a confiança que o proprietário da alfaiataria Portas de São Miguel querendo proporcionar uma viagem de recreio a uma das amantes, incumbiu o Augusto de acompanhá-la para dar uma versão de que era este o namorado daquela mulher.

Foi assim que, quatro anos após a sua chegada ao Brasil o Francisco Augusto regressou a Portugal como pagem da concubina do seu patrão, viagem paga e alguns meses de férias.

Depois de se desembaraçar da amante do chefe o Augusto rumou para a sua terra. Chegou a Melgaço quase de surpresa. Enviara um telegrama que chegou dias antes.

A euforia da família foi enorme especialmente de sua mãe Conceição, que, via naquela visita após tão pouco tempo de permanência nas terras do Brasil, pronúncio de furtúnio temporão, quem sabe a sorte extraordinária que costuma brindar uns poucos que nascem com o trazeiro virado para a lua não beneficiou seu filho? Se bem que ela não se lembrava seu filho ter nascido naquela posição.

Chegou o Augusto como autêntico brasileiro, a carácter. Fato branco impecável no corte mas empoeirado pela viagem terrestre no comboio e nas carroças desde o porto do desembarque até àquelas lonjuras, na serra.

O chapéu panamá na cabeça e a bengala encastoada de prata davam o toque de requinte indispensável. Quando o carro de burros que fazia a carreira de Valença apontou na Loja Nova, os rapazotes que por ali costumavam vagabundear na espectativa de carregar alguns pacotes ou malas de possíveis viajantes, reconheceram o Augusto do Félix, largando-se em desabalada, anunciando a boa nova ao povo da terra, uns, outros foram dar a notícia à mãe, a tia Conceição Félix que, mesmo anoitecendo ainda se achava ali perto, no depósito de milho, ramo de negócio que mantinha de sociedade com a Dona Ludovina da Loja Nova, e ainda outros rapazes fazendo questão de carregar a bagagem do Augusto, duas malas e um grande baú de porão, cartão de visita anunciando luxo e abastança. A mãe correu a abraçar o filho e de relance não deixou de reparar no imponente baú que lhe suscitou a confirmação da boa sorte do filho. Ao mesmo tempo ocorreu-lhe um pensamento nefasto: outros haviam trazido bonitas e pesadas malas que, mais tarde, soubera-se estarem cheias de objectos sem valor e pedras, maneira de ser bem recebidos aparentando riqueza. Aquele baú do Augusto vinha recheado de fortuna diferente que teve utilidade por anos a fio na mão dos filhos, a fortuna da cultura. A bonita arca estava recheada de livros e revistas.

O pouco dinheiro que o Augusto trazia dava para fazer a figuraça que pretendia e a tradição exigia uma vez que não era sua intenção prolongar a estadia, de acordo com o seu patrão.

No desfile desde a Loja Nova até sua casa no Carvalho, dentro da vila, Augusto, sua mãe, os carregadores e outros parentes que acorreram ao anúncio dos arautos que tinham espalhado a notícia, foram festejados pela população que morava no trajecto e outros que por curiosidade vieram apreciar a novidade. Na verdade o Augusto do Félix despertava a atenção. Trajando a rigor na concepção do estilo brasileiro, desde os sapatos de verniz brancos e pretos, até ao chapéu, gravata de laço e bengala, espelho, bonitão, esbanjando a juventude dos seus vinte e dois anos, era realmente uma atração.

                                                                                   M. Félix Igrejas

CEM ANOS DE RETALHOS DE UMA FAMÍLIA 1852-1952 III

melgaçodomonteàribeira, 25.06.22

817 b manuel igrejas, arte e cultura melgacense no

CAPÍTULO III

 

O Augusto do Félix teve uma viagem bonançosa e alegre. A quase totalidade dos passageiros daquele vapor inglês eram jovens portugueses e espanhóis a caminho da fortuna. Nos vinte e oito dias da travessia outra coisa não fizeram que projectar mirabolantes sucessos. Tudo era festa, o mar imenso com os enjoos do balanço, a precaridade das acomodações amontoados em cabines exíguas e neda higiénicas, não obstava para abater a animação da próxima prosperidade.

Muitos daqueles jovens nunca tinham visto o mar e as surpresas que diáriamente lhes reservava. Teve um dia que apareceu coalhando de grandes bolhas coloridas quais imensas bolas de sabão, tão grandes que chegavam à amurada do navio. O comandante avisou que não tentassem estourá-las ou pôr-lhe as mãos, podiam estar cheias de gás venenoso.

Chegando a Belém não foi difícil ao Augusto arranjar colocação. Exibindo suas qualidades profissionais logo foi contratado como oficial na Alfaiataria Portas de São Miguel, das mais conceituadas da cidade. Belém do Pará era o Eldorado da época. Vivia-se o esplendor do ciclo da borracha. Tudo era grandiosidade na fulgurante metrópole. Companhias de ópera, estrangeiras, famosas, acorriam a exibir-se. Em pouco tempo o Augusto tornou-se contra-mestre da alfaiataria e amigo do proprietário. Levava uma vida de fidalgo fora das horas de trabalho, motivo por que, embora ganhasse razoávelmente bem, andava sempre atrapalhado de finanças. Não perdia estreia de temporada teatral, de bailes e saraus e outras manifestações artísticas, culturais e desportivas. Era destacado na roda de amigos onde fazia tudo para sobressair. Um dia, em plena festa de casamento de um amigo, influenciado pelos vapores do champanhe e outras bebidas achou de fazer-se engraçado: meteu-se por baixo da grande mesa onde estavam as iguarias e levantando-a com as costas derrubou-a espalhando pelo chão tudo que estava em cima. Foi um grande alvoroço que arrancou gargalhadas dos mais eufóricos e custou ao engraçadinho seis meses de salário.

O fruto proibido do jovem Dr. Vasconcelos e da condessa Constança nasceu em meio a jurado segredo da parteira e da meia dúzia de pessoas intímas. Na noite do nascimento um serviçal da máxima confiança levou a criança com riquíssimo enxoval, jóias e dinheiro, por caminhos escusos, Galiza a dentro até ao convento de Orense, cidade espanhola bastante retirada de Melgaço. A trouxa com o recém-nascido e pertences, foi posta na Roda do Mosteiro e tocada a sineta que avisava de mais uma prevericação da nobreza.

Com a complacência da igreja fora instituída essa forma de orfanatos. As crianças rejeitadas eram encaminhadas a essas instituições onde recebiam criação e educação esmeradas. As criaturas instruídas nesses internatos ao completar a maioridade saíam preparadas para enfrentar a vida.

O recém exposto na roda oriundo de Melgaço foi acolhido com o habitual carinho e baptizado para ser mais um cristão. Foi-lhe dado o nome de Félix que quer dizer feliz e o sobrenome que a instituição dava a todos os enjeitados, Iglesias, que quer dizer filho da igreja. Ficou sendo então, oficial e cristãmente Félix Iglesias que mais tarde, quando requereu a nacionalidade portuguesa passou a ser Félix Igrejas.

Educado e instruído segundo os cânones da  instituição ensinaram-lhe o ofício de alfaiate de que se tornou mestre.

Os desentendimentos entre os Félix e os Violas sofreram um estremecimento quando constou que a Amália do Félix estava namorando o Ilídio dos Violas. Os membros de lado a lado não queriam acreditar. Os Félix viram naquilo um grande insulto, uma vilania. Iria-se repetir a tragédia da Jelcemina? Cruz, credo, Deus nos livre de tal desgraça.

Era novamente domingo. Só aos domingos tinham tempo para se envolverem em zaragata. Naquele domingo a discussão e os empurrões estavam acontecendo nas portas da vila, nos fojos, perto da fonte da galinha. Enquanto os contendores se destratavam e ameaçavam a Amália e o Ilídio escondidos entre os arbustos da Feira Nova, onde mais tarde foi construído o edifício da Câmara, se apalpavam e faziam juras de amor eterno.

 

(Continua)

                                                            M. Félix Igrejas

CEM ANOS DE RETALHOS DE UMA FAMÍLIA 1852-1952 II

melgaçodomonteàribeira, 18.06.22

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CAPÍTULO II

A Jelcemina, terceira dos dezoito filhos de Félix Igrejas e da Conceição Costa, era uma moça trigueira, desembaraçada, bem feita de corpo e bonita, como de resto todas as raparigas daquela família. Não lhe faltavam namorados. Estava por surgir o seu ái-jesus. Este apareceu na figura do Ismael, um guapo rapaz, vizinho quase porta com porta, membro da família Sousa mais conhecida pela alcunha de Violas.

O namoro desenvolveu-se naturalmente como todos os namoros da juventude recatada e super-vigiada da época. As famílias embalaram aquele namoro em que faziam gosto.

Com o tempo a vigilância abrandou concedendo maior liberdade aos namorados. Já se falava em futuro casamento.

Surgiu, então, o fantasma que assombrava a todos que pretendiam constituir família: uma vida monótona, sacrificada, beirando a mizerabilidade. O futuro risonho estava do outro lado do mar. O Ismael, como todos os rapazes instruídos, não aceitava resignar-se à mesma vida das gerações anteriores. Sabia dos sacrifícios, a falta de recursos com que lutaram seus pais para alimentar as inúmeras bocas que Deus lhes destinara. Pior ainda, outros chefes de família que emigraram na ânsia de ir buscar sustento para os seus, não mais voltaram nem mandaram recursos. Constava que tinham constituída nova família lá nas lonjuras e na terra, a coitada da mulher fazia das tripas coração para que não faltasse uma côdea de pão à baca dos filhos. Essa côdea era conseguida entre parentes e vizinhos como esmola. Era por isso que as famílias preferiam que emigrassem solteiros.

O Félix Igrejas permitiu e ajudou seu filho Francisco Augusto a embarcar nessa aventura. E havia um detalhe bastante intrincado que ajudou na decisão. O rapaz estava com 16 anos, logo teria de se decidir sobre a nacionalidade que lhe interessava: se portuguesa ou espanhola e a consequente prestação de serviço militar num ou noutro país. É que, em virtude do pai ter sido registado em Espanha, onde, teoricamente nasceu pois foi aí que apareceu, residindo, embora, em Melgaço, Portugal, ainda não tinha requerido a nacionalidade portuguesa, o que aconteceu mais tarde; os filhos, pela lei vigente na época, só na maior idade podiam optar pela nacionalidade que lhe conviesse: se a de onde nascera ou a do pai. Na idade própria assumia a nacionalidade portuguesa como o resto da família por que o pai já fizera o mesmo.

Foi Francisco Augusto embarcar em Vigo, cidade portuária da Galiza rumo a Belém do Pará, cheio de ilusões e qualificação profissional. O pai ensinara-lhe a profissão de alfaiate de que era mestre, ofício aprendido no estabelecimento onde fora criado. Corria o ano de 1896.

Melgaço era um vilarejo bastante agradável para se viver quando se tinha recursos. Os fidalgos detentores de propriedades e os comerciantes, burgueses, levavam vida regalada. O povo, humílimo e subserviente considerava-se feliz por ter uma malga de caldo e um naco de pão de milho ou centeio ao fim do dia para sua família. A não ser uns poucos artesãos os demais dedicavam-se à agricultura cultivando as terras daqueles senhores, de quem recebiam uma mínima percentagem da colheita por altura do São Miguel. Valia ao povo as galinhas e os porcos. Cada família mantinha, pelo menos um porquinho na corte que geralmente era o térreo da sua humilde casa ou um anexo no quintal, animal que durante o ano engordavam com restos de hortaliças, legumes especialmente abóboras, landras e farelo de milho. No início era o suíno abatido, salgado e defumado para durar o ano inteiro. As partes mais nobres do animal eram consumidas em datas festivas.

Uma fortaleza medieval em ruínas donde sobressaía a torre de menagem ainda intacta, restícios de guarda avançada da nacionalidade, davam certa imponência ao lugar. O desmantelar das muralhas deveu-se aos da classe dominante que aproveitavam os grandes blocos de granito para construir ou melhorar os seus casarões. E por ser um lugar de magníficas paisagens, de ares salutares, povo ordeiro, era propício a retemperamento da saúde de fidalgos doutras terras que se hospedavam, por temporadas, em casa de parentes ou amigos.

Na casa solarenga do Dr. Vasconcelos estava hospedada uma jovem fidalga da cidade de Barcelos que por linhagem vinha a ser condessa. Formosa de corpo e bonita de rosto fora para retemperar-se dum princípio de anemia. Ao fim de algumas semanas voltaram-lhe as cores da saúde e a vivacidade da juventude que viraram a cabeça do Dr. João, jovem médico recém- formado, filho da casa. A convivência e o ardor da juventude fez aqueles jovens se enlearem. Uma gravidez indesejada veio transtornar certos projectos de vida. A moça fidalga era compremetida com um mancebo de alta linhagem. Compromisso de honra que não poderia ser desfeito por vários factores, inclusivé por representar alto interesse pecuniário e político. As famílias envolvidas no acontecido, para evitar o escândalo decidiram pelo processo usado na época em tais situações.

A jovem continuou em Melgaço o tempo suficiente para a criança nascer, ao nobre pretendente foi dito que ela contraíra doença contagiosa que exigia isolamento sendo-lhe proibida a visita.

 

(continua)

                                                                                    M. Félix Igrejas

CEM ANOS DE RETALHOS DE UMA FAMÍLIA 1852-1952 I

melgaçodomonteàribeira, 11.06.22

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félix igrejas e conceição costas

 

CEM ANOS DE RETALHOS DUMA FAMÍLIA

1852 – 1952

 

CAPÍTULO I

 

Era domingo. As criaturas que saíam da missa do dia, espantadas, entreolhavam-se inquirido sobre o alarido que vinha da rua de Baixo. Alguém, vindo daquele lado informou que era mais uma zaragata entre os Violas e os Félix. Maioria das pessoas deram de ombros e foram à vida, outros, os que tinham amizade ou parentesco com os contendores, acorreram ao largo da Misericórdia onde acontecia a balbúrdia.

Com a chegada dos espectadores a rusga foi arrefecendo e os contendores deixaram para lá e debandaram.

Discussões entre os membros das duas famílias vinham de algum tempo após um infausto acontecimento. As consequências dos encontros não passava das ofensas verbais e um ou outro empurrão. Apesar de toda a animosidade eram criaturas tementes a Deus e com a necessária dignidade para evitar consequências desastrosas. Afinal, eram gente da mesma comunidade que se haviam querido bem até algum tempo atrás. Agora, sempre que membros daquelas famílias se cruzavam o bate-boca era  inevitável.

O Félix Igrejas ficou arreliado com a decisão do filho homem mais velho quando este falou em ir para o Brasil. Era uma sina, todas as famílias da terra tinham um ou mais membros naquelas lonjuras. Era o destino inevitável. Não havia condições de tanta gente se manter numa terra de recursos tão escassos. Agricultura de sobrevivência e os ofícios tradicionais eram os únicos recursos para atender as necessidades dos habitantes. As famílias tinham proles numerosas, as mais pequenas com oito ou dez filhos. Emigrar era a única alternativa para quem aspirava um futuro melhor. E os engajadores oferecendo mirabolantes perspectivas nos Brasis onde se ficava rico do dia para a noite, era só abanar a árvore das patacas. O interesse deles era a comissão que as companhias de navegação lhes ofereciam por cada passageiro engajado. Os candidatos a ricos, geralmente os mais jovens, pediam aos pais e estes empenhavam os parcos haveres que possuíam para custear a passagem. Sabiam que os bens penhorados eram bens perdidos, dificilmente os recuperariam. Dos muitos rapazes que abalaram, poucos remetiam dinheiro que compensasse o sacrifício. Num ou outro natal vinham minguados mil réis que davam para pouco mais que as rabanadas. Sinal que na terra da tal “árvore das patacas” não havia a facilidade apregoada. É bem verdade que de longe algum que já tinha partido há um ror de anos voltava de visita alardeando abastança. Exibiam roupas extravagantes e um linguajar arrevezado decorado durante a viagem, para impressionar os papalvos da terra. Os antigos sabiam muito bem que aquilo era fogo de vista, já tinham feito encenação igual ou parecida. Houve o caso de um “brasileiro” que foi visitar a família após dezenas de anos, com todo o espalhafato da praxe que apenas durou um mês. Os restantes cinco meses que a passagem de vapor lhe permitia, passou-os trabalhando na forja do cunhado para se manter.

Houve, sim, no espaço de cinquenta anos, dois ou três emigrantes que voltaram com considerável fortuna lhes permitindo comprar as propriedades de fidalgos arruinados.

Não obstante os prós e contras, mais contras que a favor, os chefes de família faziam o impossível para proporcionar meios ao seu membro de pagar a passagem. Era um jogo de sorte. Quem sabe seu filho ía ser um daqueles que voltavam ricos?

 

(continua)

                                                       Félix Igrejas

FÁBRICA DE PIROLITOS

melgaçodomonteàribeira, 12.02.22

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UM LUGAR ONDE NADA ACONTECIA…

 

VIII

 

O julgamento do Lili ainda estava por marcar. Talvez o Delegado do Procurador da República e o próprio Juiz, achassem de somenos importância aquele caso e o protelassem sine-die.

Enquanto isso outro momentoso caso ia a julgamento. Um conhecido industrial, rapaz lisboeta casado com uma moça da terra, convenceu o sogro, industrial de panificação, a montar uma fábrica de gasosas, refrigerante a que davam o nome de pirolito devido ao formato da garrafa e processo de tampa, esfera de vidro que, com a pressão do gás da bebida, era impelida contra uma arruela de borracha no gargalo, interiormente. O cidadão, embora casado, era namorador e foi acusado de desflorar uma rapariga menor de idade. Depois dos trâmites legais, foi indiciado e levado a julgamento. Na noite em que o caso ia ser debatido em plenário o auditório do tribunal esteve repleto. Um caso daqueles era assunto que daria debates entre os advogados e, logicamente, detalhes escabrosos viriam à baila. A rapaziada estava interessada nos detalhes que lhes dariam certa excitação. Verificando que a assistência era formada, na maior parte, por jovens, quase crianças, o juiz mandou que os oficiais de diligências fizessem uma vistoria e retirassem os menores de 21 anos. Formou-se tremendo burburinho, raparigas escondendo-se entre os bancos para passarem despercebidas. O João Antí, um dos oficiais fazia vista grossa e deixou a Rosinda amochada. Foi uma sessão ao gosto de povo que para tal fora ali. O advogado de acusação explorou ao máximo os lances de sexualidade que o acusado teria feito contra vontade da estrupada. Por sua vez, o advogado de defesa atenuava as circunstâncias e incriminava a desflorada como provocadora da situação. Por ser hora tardia, o julgamento foi adiado.

 

                                                                     Manuel Igrejas

Publicado em A Voz de Melgaço

NEGÓCIO SUJO

melgaçodomonteàribeira, 29.05.21

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igreja paroquial de roussas

 

UM LUGAR ONDE NADA ACONTECIA

XV

Na Galiza, província espanhola que confrontava com Melgaço e outras localidades portuguesas na margem do rio Minho, a carência de produtos importados era total. A guerra mundial tinha terminado mas a Espanha continuava sob bloqueio comercial por parte das potências aliadas que haviam vencido o conflito. O pouco que os galegos conseguiam era através do contrabando. Se os produtos tradicionais eram difíceis calcule-se as novidades científicas. Casos de tuberculose e meningite que eram frequentes naquela época, poderiam ser melhor combatidos caso a penicilina e outros derivados fossem acessíveis. Os contrabandistas forneciam aqueles produtos a troco de fortunas. Como podia ser se eram controlados? Causava espécie tais produtos miraculosos em Portugal não surtirem o mesmo efeito na Espanha.

A quantidade de penicilina e estreptomicina que agora ia para Espanha era um assombro. Trataria-se de milagre ou mágica? Os sinais de riqueza de alguns cidadãos tornaram-se acintosos.

O Zézé Peres fora atacado de infecção pulmonar que estava sendo atacada com estreptomicina com resultados satisfatórios que o levaram à cura. Um dia, conhecido comerciante e contrabandista, chegou-se ao Zézé e em modos de confidência propôs-lhe pagar três escudos por cada frasquinho vazio da estreptomicina. Não aceitou mas outros pacientes devem ter aceitado.

O arcipreste, pároco de Roussas, faleceu vitimado pela idade. Freguesia considerada rica pelos óbolos, côngrua e espórtulas auferidas pelos serviços religiosos e consolo espiritual, era cobiçada pelos padres de paróquias carentes. As solicitações ao Arcebispo de Braga eram numerosas. Cada pretendente apresentava suas razões à petição. O pároco de Fiães era sério concorrente e seus méritos apregoados, principalmente pelo sobrinho, na altura da vila de Melgaço. Tudo levava a crer que ele seria o indicado. Para espanto geral e irritação daquele sobrinho foi nomeado para Roussas com o cargo de arcipreste, um padre filho do Concelho que exercia seu apostolado em Vila do Conde. A revolta do padre da vila foi grande; aliado ao estado nervoso que nos últimos tempos o assolava e motivava atitudes desairosas; a carta irreverente escrita a tinta vermelha que enviou ao arcebispo precipitou a sua transferência.

Por algum tempo o jovem e nervoso padre tentou desprestigiar o novo arcipreste e sua família que contava com mais dois padres. Um destes padres tinha sido apelidado quando estudante no seminário, de Campaínhas.

Valeu-se dum filho do sacristão, garoto habilidoso para o desenho, pedindo-lhe que fizesse a caricatura daquele outro padre enfiado numa batina recoberta de campainhas.

 

                                                                                     Manuel F. Igrejas

 

Publicado em: A Voz de Melgaço

 

OS AMORES DO VASCO

melgaçodomonteàribeira, 07.07.20

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UM LUGAR ONDE NADA ACONTECIA

XIII

Nos ensaios do teatro a rapaziada cochichava sobre o namorico do Vasco. Viúvo já há uns anos, com poucas sequelas do tempo da prisão, voltara a ser um homem interessante. Empregado na Central, serviço de camionagem em combinação com o caminho de ferro, que só chegava a Monção, tinha uma situação desafogada, tanto mais que, prevalecendo-se do seu cargo, facilitava os negócios aos contrabandistas.

Riam à socapa achando algo ridículo. A Biti, solteirona, loura, elegante, pela sua figura esbelta, pertencente à burguesia que se arvorava em fidalguia, portanto, tida como socialmente superior, não daria confiança a alguém de passado obscuro. Seria mais uma cena teatral na imaginação do Vasco, diziam.

O espectáculo foi encenado com o sucesso esperado, duas representações apenas. Como das outras vezes, a vaidade pessoal sobrepunha-se ao grupo, por dá cá aquela palha alguns elementos se afastavam desorganizando todo o elenco.

O namoro do teatrólogo foi confirmado. A Beatriz Ribeiro Lima, em horas calmas de expediente visitava a Central e, segundo os bisbilhoteiros, ficavam aos beijinhos. A Ana Toupeira, contemporânea do Vasco, para o arreliar, dizia-lhe: “estás velho não dás mais nada”.

 

Publicado em A Voz de Melgaço

 

                                               Manuel Igrejas

 

 

 

AINDA O JULGAMENTO DO LILI

melgaçodomonteàribeira, 02.06.20

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tribunal no r/c esquerdo. no topo o antigo escudo de melgaço

UM LUGAR ONDE NADA ACONTECIA

XIV

A venda da penicilina sem autorização já não era mais crime contra a economia nacional, mas continuava controlada. Outros medicamentos mais evoluídos já tinham aparecido.

A Estreptomicina era agora o antibiótico mais usado para combater a tuberculose pulmonar. Mas o processo criminal contra o Lili perdurava, pois tratou-se de denúncia sobre contrabando. Nova sessão foi marcada para inquirição de testemunhas.

Oito horas da noite ia iniciar-se a sessão. As janelas que davam para a Feira Nova foram abertas de par em par, mesmo assim o calor era sufocante. Havia excesso de gente no plenário, tinham colocado bancos suplementares mas não chegaram, tinha gente em pé. O fim do verão tornava insuportável o ambiente no salão de audiências. O burburinho cessou quando o Juiz tomou o seu lugar. O Lili, metido na sua roupa nova como se fosse para uma festa, estava em pé, com um sorriso apalermado, intimamente vaidoso por ser o alvo das atenções. Era vaidoso a esse ponto.

Foi chamado para depor o José Félix. Nada sabia sobre a penicilina, disse, mas podia dar informações sobre procedimentos do indiciado. Contou que em determinado dia o Lili entrou no café Melgacense, sua propriedade, e dirigindo-se ao balcão vitrina pediu que lhe mostrassem alguns tipos de queijo. Das três qualidades que lhe exibiram fez questão de provar, um deles ainda por encetar. O funcionário, julgando que fosse comprar grande quantidade deu-lhe as provas. Com aquele seu jeito afectado, meticuloso, saboreou com calma as provas e após reflectir decidiu: “deste aqui, pese-me cem gramas”. Houve riso geral no plenário. A rapaziada que estava assistindo ficou perplexa. Entreolhavam-se e faziam gestos de espanto, por não entenderem o que se estava passando ali. O que estava sendo dito nada tinha a ver com o assunto do julgamento, que de resto era de domínio público aquela maneira de ser do Lili, que passara a incorporar-se no folclore da terra.

Outra testemunha informou, no depoimento, que na sua farmácia, o Lili adicionava goma-arábica em algumas fórmulas que manipulava. Novo assomo de perplexidade tomou conta da assistência, era sabido que tal adição de goma fazia parte de determinadas fórmulas.

Começou a tornar-se nítido na cabeça das pessoas que a única finalidade daquele julgamento era desmoralizar o Lili. Procurar saber se alguém vendia penicilina no contrabando, não interessava. Convinha preservar os figurões.

 

Publicado em A Voz de Melgaço

 

                                                               Manuel Igrejas