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MELGAÇO, DO MONTE À RIBEIRA

História e narrativas duma terra raiana

MELGAÇO, DO MONTE À RIBEIRA

História e narrativas duma terra raiana

TRAGÉDIA A CAMINHO DE FRANÇA

melgaçodomonteàribeira, 09.09.17

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NOTÍCAIS DE MELGAÇO Nº 1201, DE 10/6/1956

 

 

Pelos diários de Lisboa soube-se aqui na passada sexta-feira, à tarde, a triste notícia de na fronteira franco-espanhola, próximo da povoação de Tostela e na estrada de Figueras para a França, terem sido avistados pela Guardia Civil dois automóveis de matrícula portuguesa e a escaparem-se à sua fiscalização, e porque não obedeceram às suas ordens balearam-nos, furando os pneus a um dos veículos e ferindo os passageiros do outro. Neles iam emigrantes indocumentados portugueses e espanhóis e dessas balas dois deles vieram a falecer, os nossos conterrâneos de Alvaredo, José Diogo Fernandes (casado) e Bento Fernandes (solteiro, irmão do José Diogo), estando no hospital de Gerona gravemente ferido José Abreu Barreiros (nascido a 3/8/1931), e dois outros, cuja gravidade dos ferimentos se desconhece, Francisco Fernandes Domingues (nascido a 10/6/1928, solteiro, da Sobreira) e António Abreu Gonçalves (nascido a 21/9/1933). Nas cadeias de Gerona encontram-se ainda os nossos conterrâneos, José Augusto Afonso Domingues, Eduardo Besteiro (nascido a 2/11/1924), Franklim Lopes Rodrigues (nascido a 28/2 1927) e Augusto Vilarinho, que morava em Felgueiras. Estes e os feridos seriam mais tarde julgados em Portugal em tribunal militar.(1)

 

  • Eram todos melgacenses.

 

 

Retirado de:

                   Dicionário Enciclopédico de Melgaço

                   Volume I

                   Joaquim A. Rocha

                   Edição do autor

                   2009

                   p- 222

 

O BARQUEIRO DE S. MARCOS

melgaçodomonteàribeira, 01.07.17

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JORNAL DE MELGAÇO Nº 1174, DE 8/9/1917

 

 

Há dias apareceu por aqui um fulano da Beira que, depois de ter casado com uma mulher de Orense resolveu emigrar para Buenos Aires; uma vez aí trabalhou e economizou de tal maneira que em pouco tempo conseguiu juntar 550 pesos; até aqui bem foi; mas… depois, sente-se doente, vai consultar um médico que lhe diz estar tuberculoso, e por isso tem de recuar imediatamente; o infeliz retira, trazendo consigo o dinheiro que só o acompanha até Lisboa, pois aí, com um pequeno descuido, fica sem dinheiro, sem conhecimento algum e sem roupa, além da que traz vestida. Como viajar nestas condições? Aí vem o desgraçado a pé desde Lisboa, mendigando uma esmola de porta em porta. E sabem o que o traz a Melgaço? A recordação de que em tempos mais felizes por aqui andou ele a trabalhar, e por isso encontraria por cá alguns dos seus amigos daquele tempo. Infeliz! Doente, e com fome talvez, ninguém o conhece! Dirige-se ao rio Minho para o passar a nado, mas vê que se encontra sem forças e nessas condições tal tentativa equivaleria ao suicídio. Em vista disso, aproxima-se do barqueiro e diz-lhe que desejava transitar para Espanha, mas que não tinha dinheiro para lhe pagar. Em virtude duma declaração tão franca, o barqueiro mandou-o entrar para a barca e não só o conduz gratuitamente à outra margem, como ainda na estação de Arbo promove uma subscrição que excede a importância do bilhete que no caminho de ferro lhe dá passagem até Orense; aliás, teria de fazer esse trajecto a pé e mendigando como de Lisboa a Melgaço. Quereis, leitores, que o nome desse barqueiro figure na lista dos benfeitores que vós conheceis? É o barqueiro do posto de S. Marcos, e chama-se Ponciano Ferreira.

 

 

Retirado de: Dicionário Enciclopédico de Melgaço

                     Volume I

                     Joaquim A. Rocha

                     Edição de autor

                     2009

                     pp. 241, 242

 

Joaquim A. Rocha edita o blog  Melgaço, Minha Terra

 

O CRUZEIRO DA ORADA

melgaçodomonteàribeira, 18.11.15

3 b2 - cruzeiro da orada.JPG

Cruzeiro da Orada 

 

CRUZEIROS

 

 

Aparentando maior antiguidade outro cruzeiro se levantou na Orada, à margem da estrada macadamizada e precisamente no sítio onde se tocam as extremas das freguesias de Santa Maria da Porta e Santa Maria Madalena de Chaviães. Colocado noutros tempos junto da Capela de Nossa Senhora da Orada para o actual sítio foi transferido por ocasião da abertura da estrada nacional de Melgaço para São Gregório.

Como então o deixaram bem junto à parede do suporte do terreno onde fora colocado e só com muita dificuldade as procissões religiosas andavam à sua volta, a junta de freguesia da vila em sessão de 15 de Fevereiro de 1898 deliberou colocá-lo no centro do pequeno recinto e em consequência mandou terraplanar o terreno e encarregou um dos vogais de proceder à nova colocação deste modesto monumento, símbolo da religião cristã do nosso povo.

À arte nada deve o cruzeiro e entrementes a imagem do Cristo crucificado, de bárbara e tosca configuração, contorcido e sem proporções, afinal um aborto saído das mãos de ignorado lapicida, tem muitos e muitos devotos.

Datado de 1567 ele é um ex-voto dos melgacenses daquela era, ali colocado naquele ano de peste, para agradecer a Deus ter poupado Melgaço aos seus horrores ou a pedir um Pai nosso por alma dos ceifados por ela nestas redondezas. Muitos e mui fervorosos devotos teve este cruzeiro, mas foi a sua inércia e o seu desinteresse pela letra de forma quem conseguiu travar uma campanha jornalística encetada num semanário local para aquela imagem de Cristo ser dali arrancada e substituída por outra trabalhada com arte flamejante e resplandecente. No jornal defendiam-se as belas-artes, mas inadvertidamente se atacavam a crença e a tradição e como o povo mal sabia ler, esta obra dos nossos maiores não foi profanada.

 

(Publicado em Notícias de Melgaço de 18/3/1956)

 

Obras Completas

Augusto César Esteves

Volume I  tomo 2

Edição Câmara Municipal de Melgaço

p. 552