ABEL BARRENHAS, O MESTRE DA TALHA EM MELGAÇO
Abel Augusto Rodrigues, mais conhecido por Abel Barrenhas
CARTAS DE MELGAÇO
É Cubalhão uma das nossas freguesias do monte, pequena e pobre, sim; mas constituída por fregueses de todo devotados à sua terra e à sua igreja. Há poucos meses ainda é que está a pastoreá-la o nosso bom e velho amigo ver. P. Custódio Domingues, a quem neste momento enviamos muitos e muitos parabéns. São eles merecidos, ninguém o duvide, pois em pouco tempo a sua acção paroquial conseguiu transformar a igreja matriz, alindá-la e engrandecê-la com um novo e lindo altar mor. E fê-lo porque ele tem sempre debaixo dos olhos o salmo de Moisés: O Senhor é a minha graça, o Senhor é o objecto dos meus louvores, porque ele se fez o meu Salvador. E levou a efeito esta sua obra, como é mister que os párocos trabalhem na vinha do Senhor, sem declamações nem espalhafatos; pois lê-se na Vida de Cristo segundo as revelações de Catarina Emmerich, «Então o Senhor lhes mostrou como deviam trabalhar no silêncio, e sem se gloriarem das obras praticadas», quando os seus discípulos, corria já o último ano das pregações, perguntaram ao Mestre: - Então como é que o vosso reino será conhecido? Isto não anda a cotio, eu o sei; como sei que é essa a razão por que em alguns jornais se publicam a propósito de tudo e de nada relatórios encomendados para engrandecerem homens insignificantes de minúsculos recursos; para encomiarem actos que repugnam a muita consciência pelo sabujismo de que vêm impugnados os artigos e pela malquerença e até pelo ódio em que mergulham as suas raízes. Ora esse altar mor é uma linda obra de arte riscado pelo entalhador Abel Augusto Rodrigues, um melgacense como nós, mas um artista de talha como poucos; trabalhado à guiva e ao formão pelo popular Abel Barrenhas, ele já está colocado no seu lugar e é uma obra que honra quem a encomendou e quem a fez, como honra e muito os sentimentos religiosos do povo da freguesia de Cubalhão, a quem neste momento felicitamos também. E felicitámo-lo por se não ter deixado imbuir pela ideia de ir buscar a Braga um mamarracho qualquer, quando aqui na terra há um artista de talha competente para as obras da igreja. Eu o afirmo, e para os leitores o acreditarem não esperem que lho digam também os de fora, pois é velha sina dos portugueses, reconhecer valor às obras dos nossos artistas só depois delas terem sido decantadas lá pela estranja.
(Publicado em Notícias de Melgaço de 12/1/1958)
Obras Completas: Augusto César Esteves
Nas páginas do Notícias de Melgaço
Volume I Tomo I
Edição Câmara Municipal de Melgaço
2003
p. 51