JUSTA HOMENAGEM
O presente relatório, admirável memória de boa administração, irrefutável argumento de superior honestidade, foi a última obra do labor infatigável de Hermenegildo Solheiro.
Como que adivinhando a morte, não quiz morrer sem dar contas de todos os actos da sua vida pública.
O seu trabalho colossal ficou assim coroado com êste nobilitante gesto de honradez.
Através das páginas deste relatório e dos outros que o precederam, vê-se o anseio generoso, o sacrifício fecundo dum homem que lutou e sofreu pela grandeza da sua terra.
Melgaço, que ainda há cinco anos vegetava num atrazo vergonhoso, absolutamente carecido do que é preciso à vida de uma vila, sem ninguém que ousasse imprimir-lhe o mais leve impulso para o caminho do progresso, encontra-se hoje renovado, transformado por um milagre de amor e trabalho. Esse milagre realizou-o Hermenegildo Solheiro, com a excelente orientação da sua inteligência e a tenacíssima perseverança dum lutador invencível.
As pátrias glorificam os seus homens notáveis, aquêles que as tornam grandes e imortais com o prestígio do seu nome e a celebridade dos seus feitos. O concelho é uma pequena pátria, a terra querida, onde floriram as nossas primeiras esperanças e por onde avoejaram os nossos primeiros sonhos. A pátria é um grande organismo, que tem o coração na terra onde nascemos. O concelho é a terra mãe, que prende os seus habitantes num abraço de irmãos. Ao traçarmos, pois, nêste relatório o elogio de Hermenegildo Solheiro, traduzimos o sentir de todo o concelho de Melgaço, que, sem distinção de opiniões políticas, quer prestar ao grande regionalista a homenagem da sua admiração e do seu agradecimento. Em todo o Melgaço não pode haver uma voz discordante, que procure diminuir a sua obra gigantesca, porque todos são filhos da terra que êle elevou com o ouro do seu amor e o sangue do seu sacrifício.
Hermenegildo Solheiro foi o obreiro incansável e audaz que delineou e realizou em cinco anos aquilo que os outros não puderam fazer durante séculos. Não houve necessidade que êle não remediasse, aspirações que ele não tornasse efectivas. Dotado duma vontade forte, não conhecia obstáculos nem se enredava em dificuldades. Caminhava para a frente, porque não via outra coisa diante de si que o engrandecimento da sua terra.
Fêz muito bem a Melgaço e o mais que há para fazer deixou-o indicado em projectos grandiosos, que não viu executados, porque a morte o derrubou quási no fim da sua jornada de actividade e progresso.
O egoísmo era para êle uma palavra sem sentido. Exercia as suas funções administrativas com uma heróica abnegação. Esquecia os interêsses pessoais para se consagrar inteiramente aos interêsses do seu concelho. Nunca ninguém foi tão grande nesta terra, porque nunca ninguém trabalhou como êle para engrandecê-la.
Os melhoramentos com que a dotou – antes dêle sempre reclamados e nunca executados – são motivo bastante para que o seu nome fique para sempre insculpido no coração de todos os melgacenses. Hermenegildo Solheiro morreu, mas a sua obra ficará como um exemplo a estimular energias e incitar empreendimentos em prol desta linda terra de Melgaço.
Melgaço, 2 de Setembro de 1931
João de Barros Durães
Artur de Ascensão Almeida
João Eugénio da Costa Lucena
José Caetano Gomes
Aurélio de Araújo Azevedo
Retirado de:
COMISSÃO ADMINISTRATIVA DA CÂMARA MUNICIPAL DE MELGAÇO
RELATÓRIO E CONTAS
EXERCÍCIO DE 1930 – 1931