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MELGAÇO, DO MONTE À RIBEIRA

História e narrativas duma terra raiana

MELGAÇO, DO MONTE À RIBEIRA

História e narrativas duma terra raiana

CISTER E TERRITÓRIO NA ÉPOCA ROMÂNICA

melgaçodomonteàribeira, 25.11.23

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CISTER E TERRITÓRIO NA ÉPOCA ROMÂNICA

O ESPÍRITO DO LUGAR NOS MOSTEIROS CISTERCIENSES

 

Maria Leonor Botelho

 

(…) O mesmo já não aconteceu com o Mosteiro de Santo André de Fiães (Melgaço), erguido na margem esquerda do rio Minho, numa rechã planáltica a 700 m de altitude.

Num contexto de defesa e organização do território, as comunidades monásticas foram favorecidas durante a primeira dinastia. A par das construções fortificadas, os mosteiros que com elas alternam o controlo do território fronteiriço marcam a paisagem, assinalando também locais de protecção física e psíquica. Criou-se assim uma linha praticamente contínua de construções em pedra ao longo da margem esquerda do rio Minho.

Filiado em Tarouca desde finais do século XII, este cenóbio não deixa contudo de mostrar uma peculiar implantação, afastado dos eixos de circulação e numa localidade com magras possibilidades agrícolas, suprimidas em larga escala pelo recurso à pastorícia e à criação de gado. Os extensos carvalhais e os soutos propiciavam uma desenvolvida criação de suínos. Carvalho da Costa refere que os melhores presuntos desta província do Minho eram produzidos neste couto, curados sem sal. Bronseval aludiu à existência de oficinas de trabalho junto aos muros ou num pátio a que a portaria do mosteiro dava acesso.

Tendo em conta estas circunstâncias, este cenóbio da fronteira minhota mostrar-se-ia a partir de 1194, rico e poderoso. Foi ampla a sua acção no povoamento da área, com as suas granjas e póvoas e na resolução dos problemas administrativos desta mancha da fronteira portuguesa. Da sua porosa acção (ao nível do povoamento e da defesa local) ficou-nos a informação, expressa por Carvalho da Costa, de que vulgarmente se dizia não haver algum tam poderoso como do dom Abade de Fiães, depois del Rey.

Data de 12 de Dezembro de 1142 o mais antigo documento conhecido sobre este mosteiro e nele não há qualquer menção à Regra seguida. Mas sabemos contudo que passados quinze anos era seguida a Regra de São Bento. Nesta data terá sido constituído o couto de Fiães e importantes doações régias como a que lhe fez D. Afonso Henriques (1143-1185) a 24 de Outubro, outorgando-lhe tudo que ele possuía desde Melgaço até ao termo de Chaviães e de Cótaro até ao rio Minho. Em 1173 regista-se nova doação régia e nela ainda se alude à observância da regra beneditina. Sabemos, seguramente, que só a partir de 1194 se professa a observância cisterciense em Santo André de Fiães, passando este mosteiro a estar filiado em São João de Tarouca. Este cenóbio da fronteira minhota torna-se a partir de então rico e poderoso.

José Marques considera que o período áureo do Mosteiro de Fiães se estende, assim, desde meados do século XII a meados do século seguinte. Além deste intervalo cronológico ter ficado marcado pela constituição de um vasto património fundiário, que inclusivamente se estendia a algumas propriedades na Galiza, coincide também com o início da construção da actual igreja e que foi alvo de avultadas doações para a prossecução das obras. Com esta cronologia concordam os elementos arquitectónicos de Fiães e os raros vestígios de escultura que patenteia, a par da qualidade do seu aparelho, reflexo da arte de bem construir. Sendo, pois, uma obra cisterciense de raiz, a actual igreja conserva ainda a cabeceira e o portal principal dos tempos da medievalidade, pois o seu corpo foi refeito na época moderna. Embora edificado já em plena época gótica, o gosto com que se desenhou a cabeceira é ainda românico. Programada segundo o melhor espírito cisterciense, ainda “bernardino”, é constituída por capela-mor composta por dois tramos e ladeada por duas capelas laterais, todas elas quadrangulares e dotadas de abóboda de arco bastante quebrado.

Neste sentido, o mosteiro cisterciense de Fiães é, pois, um reflexo das condições geográficas. Não fora a sua posição estratégica na fronteira com a Galiza e uma real necessidade de ocupação territorial e de controlo de domínios fundiários, não teria sido este cenóbio dotado de tantas propriedades e de tantos apoios financeiros que permitissem edificar tão monumental edifício. Sabemos que Bronseval se impressionara com a obra de restauração que o velho abade, ex-prior de Alcobaça, aí levara a cabo: recobrira a igreja, o capítulo, o claustro, os aposentos abaciais, embora tudo o resto fossem já ruínas. Destas estruturas nada resta hoje. A igreja surge sozinha no centro de um adro ajardinado.

 

MOSTEIROS CISTERCIENSES

HISTÓRIA, ARTE, ESPIRITUALIDADE E PATRIMÓNIO

TOMO II

DIRECÇÃO DE José Albuquerque Carreiras

ALCOBAÇA 2013

ARTE ROMÂNICA EM MELGAÇO

melgaçodomonteàribeira, 16.06.20

 

A ARTE ROMÂNICA NA ANTIGA DIOCESE DE TUI

Margarita Vásquez Corbal

Na arte românica da antiga diocese tudense, a arquitectura tem uma estreita relação de interdependência com a escultura. Embora seja considerada rural e mesmo pobre, devemos enfatizar a sua singularidade, especialmente quanto ao uso de decoração escultórica. As estruturas e motivos são o resultado de um importante processo de absorção das correntes artísticas europeias, feita através das catedrais de Tui, Compostela, Braga, Ourense e das igrejas cistercienses de finais do século XII, e da reutilização do passado como exemplo: a influência castreja que aparece no gosto pelas formas geométricas nas hexapétalas herdadas da decoração dos castros como o de Castro Laboreiro (Melgaço, Portugal) e Santa Tegra (A Guarda, Pontevedra), que se reflectem em exemplares românicos como o de Santa María de Castrelos (Vigo, Pontevedra). A herança pré-românica reflectida no uso do sogueado no capitel historeado de São Salvador de Paderne (Melgaço, Portugal) ou na decoração de uma arquivolta de S. Vicente de Barrantes (Tomiño, Pontevedra) que apresenta uns arquinhos similares aos da igreja de S. Pedro de Balsemão (Lamego, Portugal). Outro nexo comum destas relações artísticas Galaico-Minhotas está nas tradições e na cultura popular comum, como acontece com os motivos apotropaicos e de longa tradição popular, como o serpentiforme de San Fins de Friestas (Valença, Portugal) ou o canídeo ou leão de Santa Maria da Porta (Melgaço, Portugal), referindo a atitude de guarda e protecção que devem ter os que entram na igreja e no espaço sagrado, embora os animais da Capela da Nossa Senhora da Orada (Melgaço, Portugal) sejam parte do motivo da árvore da vida, que também aparecem na área galega da diocese no tímpano de S. Miguel de Pexegueiro (Tui, Pontevedra), que se relacionam com o grifo e o dragão em luta, representação da batalha entre o bem e o mal do tímpano norte de São Cristóvão de Rio Mau.

 

Retirado de:

www.ptdocz.com/doc/241321/a-arte-românica-na-antiga-diocese-de-tui

121 - matriz 1 porta lateral.jpg

porta lateral da igreja de santa maria da porta - igreja matriz