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MELGAÇO, DO MONTE À RIBEIRA

História e narrativas duma terra raiana

MELGAÇO, DO MONTE À RIBEIRA

História e narrativas duma terra raiana

ENQUADRAMENTO HISTÓRICO CASTRO LABOREIRO II

melgaçodomonteàribeira, 14.01.23

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CASTRO LABOREIRO – ENQUADRAMENTO HISTÓRICO II

 

O período da reconquista foi marcado por sucessivos avanços e recuos territoriais, mas nos finais do século IX, os reinos do Norte encontravam-se consolidados em três unidades, as Astúrias (ou Leão), Galiza e Castela. A sua malha administrativa estava parcelada em terras e estas eram atribuídas a um conde, para as governar. As sucessivas discórdias resultantes da formação dos reinos e do seu desenvolvimento, tornaram a Galiza independente e desmembrada em duas partes, “dando o sul a Ramiro Ordóñez que foi assim “rei de Portugal” antes de herdar a totalidade dos domínios do seu pai, como Ramiro II (931-951)” (Marques, 1996, p. 26). Mais tarde, o território entre o Lima e o Douro, ficou desagregado da Galiza e entregue a um duque. Esta nova unidade política tinha a sua sede em Portucale, sendo governada por nobres locais destacados pelo reino de Leão e estando vinculada politicamente aos seus interesses.

Aquando da consolidação do condado Portucalense surge D. Afonso Henriques (1139-1185), filho de D. Teresa e do Conde D. Henrique, herdeiro deste território. Em rebelia contra a mãe, inicia um processo de desvinculação do reino de Leão. Com a sua ambição ao título de rex e eficaz expansão territorial, torna-se vassalo da Santa Sé e não do imperador dos reinos cristãos do Norte da Península, D. Afonso VII (1111-1157), tornando-o um soberano superior ao imperador. É neste contexto expansionista que D. Afonso Henriques toma Castro Laboreiro.

Para este período histórico, do século IX ao século XII pode mencionar-se um conjunto de elementos que atestam a presença das monarquias do Norte e da vinculação do território de Castro Laboreiro ao reino de Portugal, nomeadamente fontes históricas e elementos arquitectónicos, principalmente de carácter militar e, em grande quantidade.

Após o primitivo período Afonsino, em termos gerais, a administração do território de Castro Laboreiro entre o século XIII e século XIX, pertenceu à Provedoria de Viana do Castelo, à Comarca de Barcelos (Casa de Bragança), era Comenda da Ordem de Cristo e situava-se na Província do Minho. Castro Laboreiro foi instaurado como sede de Concelho em 1271. Segundo os mapas consultados, a circunscrição do território de Castro Laboreiro, alterou-se pouco durante as reformas do Antigo Regime, mantendo-se muito fiel à sua delimitação original. Com a Revolução Liberal, após 1832, Castro Laboreiro passa a integrar-se na Comarca de Ponte de Lima e mantém-se Concelho. Durante o período de estabilização, a partir de 1842, Castro Laboreiro integra-se no distrito de Viana do Castelo e perde o estatuto de Concelho em 1855. Passa a ser Junta de Paróquia e posteriormente Junta de Freguesia até 1974. Neste ano torna-se numa comissão administrativa, que terá duração de, aproximadamente, 2 anos, acabando depois por retornar o anterior estatuto de Junta de Freguesia. A reforma administrativa de 2013 consuma uma união política com a freguesia vizinha de Lamas de Mouro, formando a União de Freguesias de Castro Laboreiro e Lamas de Mouro.

 

CASTRO LABOREIRO E O SEU CASTELO

CONTRIBUTO PARA O SEU ESTUDO

Diana Carvalho

Mestranda em História e Património

Dianacarvalho.pt@gmail.com

 

ABELTERIUM

Volume III

Maio 2017

 

ENQUADRAMENTO HISTÓRICO CASTRO LABOREIRO I

melgaçodomonteàribeira, 07.01.23

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CASTRO LABOREIRO – ENQUADRAMENTO HISTÓRICO I

O TERRITÓRIO

A síntese histórica que se segue procura agregar em linha cronológica os eventos que tiveram lugar na área territorial de Castro Laboreiro. Como nem sempre as fontes permitem a elaboração de uma cronologia específica e linear, o texto que se segue situará o território no Norte peninsular, no noroeste hispânico, nas montanhas do Alto Minho interior, na Calécia, na Galiza e no território nacional, conforme foi possível enquadrá-lo na historiografia, esperando que daqui resulte uma brevíssima história local, prolongada no tempo, desde a ocupação romana deste território. Enumeram-se também elementos patrimoniais das diversas épocas, que substituem até hoje, por funcionarem como indicadores cronológicos na ausência da informação documental e reforçarem a existente.

Relativamente à ocupação humana do território de Castro Laboreiro, sabe-se que desde a pré-história tem sido palco de sucessivas ocupações. Os vestígios megalíticos de culto funerário situados no planalto a nordeste de Castro Laboreiro, o povoado castrejo a sudeste do castelo (cujas fundações datam da Idade do Ferro), e outros elementos, como o altar de cremação do Alto da Cremadoura, assim o indicam. As escavações arqueológicas locais desvelaram uma linha contínua de ocupação de vários povos, subsequentes a este período e prévios à fundação da nacionalidade, como os romanos, suevos e visigodos. Durante a época romana havia duas grandes áreas, a bracarense, mais urbana e civilizada, e a lucence, mais selvagem, contudo, a vinda dos povos suevos e visigodos alterou este panorama dando origem a uma maior concentração e dispersão dos núcleos habitacionais intercalares dessas duas regiões. Neste contexto histórico, o território de Castro Laboreiro situou-se entre as cidades de Bracara Augusta e Lucus Augusti, fazendo uma transição daquilo que seriam as duas grandes regiões citadas.

Mais tarde, após a vinculação visigoda ao cristianismo e sua definitiva ocupação do noroeste português, quando os reinos godos se confrontam  com as invasões muçulmanas, “a organização territorial e administrativa introduzida e fixada pela implantação do sistema paroquial com S. Martinho de Dume não podia, no entanto, deixar de contribuir para dar grande solidez à distribuição dos principais centros e dos povoados que deles dependiam,” (Mattoso, 1997, p. 396).

Relativamente ao legado romano este encontra-se presente nas variadas pontes e pavimentos estrategicamente distribuídos em todo o território da freguesia, pela Geira, situada na proximidade do território e pelo forte romano, Aquis Querquennis (“a Cidá”), situado em Baños, Concelho de Ourense, que terá sido construído para vigiar uma das vias que ligava a Bracara Augusta e para controlar a região. Dada a sua proximidade a Castro Laboreiro, este terá exercido influência sobre o território. Os vestígios suevos e visigóticos (séc. V-VI) encontram-se na política pública (direito visigótico; vindo do baixo império romano), nas liturgias e na arquitectura religiosa cristã. O povoado a sudeste do castelo é um forte indicador da presença destes povos, pois a quadratura das estruturas a par com outros elementos exumados durante as escavações arqueológicas revelam também presença romana e visigótica, além da ocupação humana durante a idade do ferro (Lima, 1996).

As invasões muçulmanas de 711, diluem a ocupação sueva e visigótica e acentuam o carácter rural do território noroeste hispânico, não por influência directa, pois a economia dos grupos dominantes do norte peninsular baseava-se no intercâmbio dos géneros e bens provenientes do saque e despojo militar resultante das constantes guerras, era incompatível com a economia urbana do Sul: “tudo leva a crer que o váli de África e os chefes árabes e sírios estivassem muito mais interessados nas cidades das antigas províncias da Bética e da Tarraconense do que nas selvagens montanhas do Noroeste, difíceis de controlar militarmente e bem poucas rendosas para uma economia monetária como a do mundo muçulmano” (Mattoso, 1997, p. 397). Contudo, a influência árabe no território de Castro Laboreiro faz-se sentir através da toponímia, do vocabulário, das lendas e em algumas práticas gastronómicas como o bolo da pedra, entre outras influências de carácter mais generalista como a numeração, por exemplo.

Em meados do séc. XVIII, as guarnições muçulmanas do Ocidente Peninsular, incluindo as da Galécia, rebelaram-se contra os seus chefes por motivos relacionados com injustas distribuições de terras, e por motivos religiosos. “As tropas colocadas na Galécia, abandonaram as suas fortalezas e não se saber sequer se voltaram a ser ocupadas. A sua revolta desencadeou uma guerra civil, que durou até 756” (Mattoso, 1997, p. 397). A debilidade da ocupação islâmica foi perturbada sobretudo na parte final pelo rei Afonso I (739-757 d. C.), das Astúrias. As cidades “reconquistadas” enumeradas na Crónica de Afonso III abrangem praticamente todos centros urbanos de alguma importância situados entre as montanhas cantábricas e a margem sul do vale do Douro, onde se situam também os montes do Laboreiro. A Crónica atribui-lhe também a iniciativa de levar consigo para o Norte a população cristã de todas as cidades. O chamado “repovoamento”, nas suas diversas expressões, fez também uso da presúria, contudo, nas zonas montanhosas do Noroeste peninsular “algunas comunidades rurales se verían libres de presión, pudiendo organizar sus espacios de producción de forma más autónoma y con menor – o ninguna – carga fiscal. Se trataria de “comunidades castreñas de montañas”, instaladas em castros de origen prerromano o romano, que se sitúan en el centro de un valle rodeado de altos montes, donde predomina el bosque y los pastos de montaña” (González, 2001, p. 24). Neste caso o autor exemplifica com o caso de Castro Pelaggi (Valdoré), mas também Mattoso (1997) refere as zonas montanhosas do Entre Douro e Minho (Peneda, Laboreiro, Gerês, Gralheira, Cabreira, Marão e Montemuro), como potencialmente excepcionais. Em suma, a Reconquista cristã, é um momento de oportunidade que aproveita a debilidade das forças muçulmanas e que se inicia com as guarnições visigodas refugiadas nas montanhas asturianas nesta altura organizados com os dirigentes do reino das Astúrias sob o comando de Afonso I. Este é o processo que desencadeia a formação das primeiras monarquias do Norte peninsular que por sua vez darão origem ao reino de Portugal.

 

(continua)

 

HISTÓRIA DOS MUNICÍPIOS

melgaçodomonteàribeira, 14.05.22

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MELGAÇO: SENTINELA AVANÇADA

 

Melgaço é de todos os municípios portugueses o que se situa mais a norte e mais profundamente penetra na Galiza. Não são muito claras as circunstâncias históricas em que foi outorgado o seu antigo foral. É, porém, evidente que existiu um processo negocial e os hiatos verificados no decorrer do mesmo serão até responsáveis por que a datação ficasse ambígua (1183-1185).

Alguns documentos do antigo Cartulário de Fiães dão conta do movimento que acompanhou a erecção do município. Em 30 de Junho de 1185, os juízes e o concelho de Melgaço fizeram um acordo com o Abade do mosteiro de Fiães sobre a construção da nova igreja paroquial. No entanto, o projecto de construção da igreja não foi avante, talvez pela incapacidade do mosteiro, há posta em dúvida num dos documentos anteriores: “sit facta ecclesia ab abbate et conventu si tamen potuerint”. Em Abril de 1187, fazia-se um novo acordo, desta vez entre “omnes homines de Melgazo tam viri quam mulieres” e o arcediago Garcia, em que ambas as partes se comprometiam a ajudar-se mutuamente na edificação do templo “tali pacto ut facias illam et edifices nobiscum te adiuvantibus et de necessarii ecclesie tibi ministrantibus donec sit perfectam et consumatam”.  Dali a cinco anos o templo estava concluído, conforme consta de um acordo, de Abril de 1205, entre o arcediago e o abade de Fiães, sobre o serviço na igreja de Melgaço, o qual é assinado, em representação do concelho, pelos juízes Paio Garcia e João Rodrigues.

As negociações relativas ao foral decorreriam sob as ordens de D. Sancho I, associado à governação nos últimos anos da vida de seu pai, D. Afonso Henriques. O rei povoador estaria já a preparar as acções militares que planeara para os primeiros anos do seu reinado na fronteira do Minho, se não para a estender, pelo menos para a consolidar, e interessar-lhe-ia garantir o apoio do activo grupo de migrantes que, descendo pelas margens do rio, avançara mais para ocidente que outros, nos caminhos que prolongavam a estrada que atravessava o norte da Península e veio a ser conhecida pelo nome de estrada de Santiago.

O modelo que os moradores propuseram ao monarca foi o de Ribadávia, povoação que se localizava nesse caminho. A carta de foro desta comunidade foi outorgada em 1164 e reproduzia a que tinha sido concedida a Allariz e iria ser comunicada a outros lugares. A sua mais remota referência é o foral de Sahagún.

 

HISTÓRIA DOS MUNICÍPIOS

(1050-1383)

António Matos Reis

Livros Horizonte, Lda.

Lisboa, 2006

pp. 330-332

MIL E DUZENTAS MISSAS

melgaçodomonteàribeira, 28.07.20

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casa da serra - prado

DIOGO MANUEL DE SOUSA GOUVEIA E GAMA (P.e)

 

Nasceu em Prado aos 8 de Fevereiro de 1714 e como seguiu a carreira eclesiástica, seus pais lhe fizeram o património em 19 de Agosto de 1735. Dez anos depois saiu da casa paterna para a freguesia da Bela no termo de Monção, que paroquiou como vigário e como vigário também paroquiou depois a freguesia de Santiago de Penso. Pelo testemunho escrito a seu pedido a 7 de Maio de 1783 apura-se ter sido este padre o reformador da fortuna da Casa da Serra, pois com o dinheiro de seu bolso particular pagou as dívidas dos pais, readquiriu os bens alienados por seus antepassados em horas amargas, melhorou os bens vinculados fazendo o canastro de pedra, o lagar e a respectiva casa, tomou a iniciativa de comprar outros bens e de nenhum deles nem mesmo do seu património recebeu rendimentos tempo algum.

De resto tudo quanto conseguiu agenciar na vida, o deixou ao seu irmão morgado,

«atendendo ás muitas obrigaçoins que devia a seu irmão Luís Caetano de Sousa Gama Cappittão Mayor deste termo e affecto e amor que lhe tinha por aspirar sempre a honra que herdara de seus Pays e conserva-la, acção que elle testador sempre dezejou em toda a sua vida e por lhe pedir seu Pay e Senhor no ultimo da sua vida que o amparasse para que não deslustrasse o seu nascimento e como sempre lhe foi obediente e amigo leal comprazendo em tudo com a sua vontade...»

pois o instituiu seu herdeiro universal.

O P.e Diogo Manuel e outros colegas formaram certa mesa do Santuário da Senhora da Peneda e como depois julgaram má a sua administração, este mesário teve de pagar de seu bolso o correspondente à sua quota parte de prejuízos dados àquela confraria.

E como a doença o não deixou exercer a provedoria da Santa Casa nem fazer a função dos Passos, por indicação sua comprou-se uma túnica e o respectivo cordão para a imagem mais comovente da Misericórdia,

«cuja túnica e cordão será obrigado o seu irmão Luis Caetano de Souza e Gama e sua Irmã Donna Joanna e seu genro Caetano Joze de Abreu a levarem a dita túnica e cordão nesse mesmo dia e mandarem cantar huma missa ao Senhor dos Passos por alma delle testador».

Vê-se ainda no referido testamento: a alma deste padre foi sufragada com quatrocentas missas rezadas no convento de Pastoriza e mais oitocentas repartidas pelos padres do termo.

 

 

O MEU LIVRO DAS GERAÇÕES MELGACENSES

Volume I

Edição da Nora do Autor

Melgaço

1989

pp. 635-636

 

 

O FORAL DE AFONSO HENRIQUES A CASTRO LABOREIRO

melgaçodomonteàribeira, 14.07.20

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cruzeiro de s. julião na antiga gafaria se s. gião

 

CAMINHOS E CASTELOS MEDIEVAIS

 

Violando a impraticabilidade desta barreira natural dos montes Laboreiro rasgaram-se caminhos de ligação, novelando ribanceiras, levantando pontes e fazendo calçadas, por onde circulam livremente pessoas, animais e produtos, mas que, em tempo de guerra, se podem revelar perigosas vias directas de penetração para a pesada estrutura de uma hoste medieval.

Começando pela zona ribeirinha, vindo da Galiza, entrava em Portugal pela Ponte Barjas o velho caminho que passava debaixo do alpendre da capela da Orada em direcção a Melgaço, seguindo depois pela margem esquerda do Minho para Monção e Valença. À margem deste caminho, documentando o trânsito considerável para a Galiza, já no tempo de Sancho II existia uma gafaria na quinta de S. Gião. O melhor testemunho autêntico dessa leprosaria medieval continua a ser a capela de S. Julião, construída, de acordo com as deduções de Luís de Magalhães Fernandes Pinto, no segundo terço do século XIII.

O castelo de Melgaço seria a principal sentinela avançada da segurança desta via, que penetrava no reino de Portugal a setentrião dos montes Laboreiro, coadjuvado pelas populações locais e pelo fronteiriço mosteiro de Fiães.

Do lado oposto, pelo sul, vinha de Galiza um velho caminho que entrava no reino de Portugal pelo Lindoso, em direcção ao centro da terra de Nóbrega. Aqui existia um vetusto castelo já referido em documento de 1059, do cartulário de Mumadona. Reconstruído no século XII por Honorigo Honorigues, que, na época de 1180, recebeu do rei de Portugal dois casais em Penelas (concelho de Ponte da Barca), por ter construído o castelo da Nóbrega à sua custa. Também os inquiridores de 1220 registaram que D. Afonso Henriques dera S. Martinho de Paço Vedro ao mesmo Honorigo Honorigues, “quia fecit illi castellum de Anovrega”.

Mas este castelo ficava bastante recuado da linha de fronteira, por isso, para cerrar essa débil passagem fronteiriça, foi necessário levantar o castelo de Lindoso, que se sabe já existir na segunda metade do século XIII e teria sido iniciado no ano de 1217, segundo Figueiredo da Guerra.

Enquanto não foi levantado este ouriço fronteiriço de Lindoso, esta zona seria um ponto vulnerável de penetração no reino de Portugal, não só em direcção ao Entre Cávado e Lima, como também ao próprio Entre Lima e Minho. Por isso não admira que fosse uma preocupação primordial do nosso primeiro monarca, impondo a sua guarda aos aguerridos montanheses de Castro Laboreiro. Esta preocupação agrava-se com a proximidade ameaçadora da fortaleza de Araújo.

Este caminho ligava directamente a Orense e, em determinada altura, bifurcava-se em direcção a Castro Laboreiro. Penso que pode ter sido este o imaginário rumo tomado por D. Sancho I, partindo do castelo de Castro Laboreiro, para ir atacar o castelo de Araújo, passando o Lima no afamado Porto de Araújo – isto para completar o raciocínio suspenso quando abordei a questão da estadia deste monarca em Castro Laboreiro. Seguindo a rota inversa – do castelo de Araújo em direcção a Castro Laboreiro – “marchando do nascente pela província de Trás-os-Montes”, também poder ser este o caminho de Afonso VII quando veio a Valdevez. Por ora não tenho qualquer fundamento documental para esta conjectura, pelo que continuarei a seguira do P. Bernardo Pintor e seus doutos argumentos.

Esta via rasgava o âmago dos montes Laboreiro, desde Milmanda e Celanova, passando por Castro Laboreiro, vinha ter ao Porto dos Asnos, seguindo pelo vale de Lamas de Mouro em direcção a Padrão de Sistelo, Porto do Cousso, em Cabreiro, passava o rio na ponte medieval desta freguesia de Cabreiro, até às Choças, no coração da terra medieva de Valdevez. Tudo leva a crer que teria sido esta a via calcorreada por Afonso VII de Castela, quando se deu o Bafordo de Valdevez. A tradicional passagem do imperador por Lamas de Mouro foi coligida por José Augusto Vieira. Padrão de Sistelo, à margem deste caminho, provavelmente por causa das invasões de Leão, uma vez que o próprio monarca adverte que se de novo houver guerra forte entre Portugal e Leão possam retirar-se com todos os seus pertences, regressando logo que a paz seja restaurada.

Os pontos mais vulneráveis deste caminho merecem a maior atenção do poder central, recaindo sobre os moradores locais a obrigação de os vigiarem. Assim os de Cabreiro “se guerra vem do regno de Leom, vam guardar o porto de Couso”, tal como os de Vilar, da mesma freguesia, “vam guardar o porto de Couso. Mas este ponto, como adverte Iria Gonçalves, era “já bastante internado e talvez a servir de reforço de vigia no caso de entrada de hostes pelo sopé do monte Laboreiro”.

Muito antes do Porto do Couço impunha-se a guarda do Porto dos Asnos, que, como já se disse, o P. Bernardo Pintor identificou com o Porto de Araújo do foral de Castro Laboreiro e sob alçada dos seus moradores. Discordando dessa interpretação, considero poder identificar esta portela com as passagens frágeis do monte de Laboreiro que os de Riba de Mouro tinham que guardar e, à voz de apelido, a repelirem de mão armada os inimigos do castelo de Laboreiro, que, em contrapartida, em caso de perigo, os refugiava dentro dos seus muros seguros e protectores, conforme testemunharam às inquirições afonsinas de 1258.

 

O FORAL DE D. AFONSO HENRIQUES A CASTRO LABOREIRO.

“ÁDITO” PARA O DEBATE.

José Domingues

Porto, 2003

http://www.academia.edu/3470740/O Foral de D. Afonso Henriques a Castro Laboreiro. Adito para o debate

jdominguesul@hotmail.com

 

6 de Maio de 2013

 

 

 

MELGAÇO, COLONIZADORES EM 1700 - 1800

melgaçodomonteàribeira, 27.06.20

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OS PRIMEIROS COLONIZADORES PORTUGUESES NO CEARÁ 1700 - 1800

 

Aqueles que se aventuraram na empresa do Ceará eram ao mesmo tempo conquistadores, povoadores e colonizadores. Alguns, aventureiros apenas, mas, a maior parte, indivíduos com uma meta, uma vontade de engrandecer a pátria portuguesa e reviver os heroísmos dos primeiros penetradores do solo brasileiro. Carregavam no sangue a herança dos velhos troncos avoengos, a par de uma fé ardente, tanto no fervor da prática religiosa como na crença de que estavam dando um testemunho de tenacidade e firmeza.

 

ALVES, António Manuel

Nasceu em Melgaço

Casou em Sobral, 1758

Entrelaçou com a família de Pires Chaves

 

MELGAÇO, José Rodrigues

Nasceu em Melgaço

Casou em Amontada

Fixou-se em Uruburetama

Entrelaçou com a família de Pereira de Azevedo

 

PONTES, Gregório Alves

Nasceu em Melgaço

Casou em segundas núpcias em Fortaleza, 1775

Entrelaçou de primeiras núpcias com a família Pires

 

 

Retirado de:

 

OS PRIMEIROS COLONIZADORES PORTUGUESES NO CEARÁ 1700 – 1800

 

http://www.angelfire.com/linux/genealogiacearense/index_povoadores.html

 

 

LEBOREIRO E LABOREIRO

melgaçodomonteàribeira, 23.06.20

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MONTES DE LABOREIRO

 

Não pareça descabida neste estudo a descrição dos Montes de Laboreiro. Por eles presumo terem sido feitas as invasões, havendo indícios de um rota militar através destes montes.

Há várias opiniões sobre a etimologia da palavra Laboreiro. Querem alguns, como Santos Rosa de Viterbo, que Laboreiro signifique penhascoso e derive da palavra laporetum aparentada com lapis, palavra latina que significa pedra. Como razão apresentam a situação do castelo entre penhascos e numa região de muitos penedos. Querem outros que Laboreiro signifique laborioso ou trabalhoso, e seria portanto nos seus princípios Castrum Laborarium por causa do muito trabalho que se despendeu na construção da altaneira fortaleza. Repare-se que em latim a palavra trabalho se traduz por labor. Poderia, ainda, explicar-se a origem da palavra Laboreiro pelo facto de esta terra usar a cultura do centeio, principal cereal da freguesia, em lavores arroteados em sistema de cultura extensiva. Esta foi a minha opinião durante muito tempo.

Há, porém, a opinião de J. Leite de Vasconcelos que deve ser a verdadeira, embora o sábio filólogo não tenha talvez conhecido as fontes que me levam a perfilhá-la. Diz J. Leite de Vasconcelos que Laboreiro significa lebreiro, ou terra de lebres. Funda-se na forma antiga que era Leboreiro e que deve vir de leporarius, adjectivo derivado de lepus-leporis, palavra latina que significa lebre.

Razões documentárias temo-las nesta passagem que transcrevo de España Sagrada: «El insigne Monasterio de Celanova tiene su asiento ácia el Mediodia de Orense à tres , ò quatro leguas en el territorio Bubalo (como el de S. Esteban) debajo del monte Leporario, hoy Leboreiro, entre los rios Arnoya y Limia».

Entre ambas as edições deste estudo pude ter à mão fotocópias de muitos documentos do mosteiro de Celanova em que se descrevem inúmeras propriedades «sob o monte Leboreiro».

Documenta a mesma opinião uma escritura de Fiães do ano 1191 relativa a um quinhão de Parada do Monte, terra identificada «sub monte leporario».

Eis, portanto, documentos a confirmar com a fórmula latina, a opinião do insigne filologista. A versão portuguesa Leboreiro é corrente nos documentos dos primeiros séculos da nossa nacionalidade e vem ainda no foral de D. Manuel I concedido em 1513.

Qual seria, nos tempos antigos, a extensão dos Montes de Laboreiro?

Se aqueles que pretendem derivar Laboreiro de Lapedo alegassem o facto da serra da Peneda derivar também o nome de um sinónimo de lapis e ser a herdeira do espaço, ao menos em grande parte, ocupados pelos antigos Montes de Laboreiro, teriam uma carrada de razão.

Pela transcrição atrás feita vimos que Celanova, na Galiza, ficava «debaixo do Monte de Laboreiro». Parada do Monte, também ficava «sob o Monte Laboreiro», e até me está a parecer que o designativo «do Monte» seria para distinguir Parada do Monte da Laboreiro de outras várias terras que têm o nome de Parada.

Há um documento que anda mal interpretado e testemunha que os Montes Laboreiro ainda iam mais além. É a carta de foro concedida em 1271 por D. Afonso III ao lugar de Padrão que fica na margem esquerda do rio Vez, na freguesia de Sistelo, concelho de Arcos de Valdevez. Franklin no seu Índice de Forais indica-o sob os nomes Monte de Leboreiro e Padrão em Monte de Leboreiro, na relação III. Alexandre Herculano examinou este documento e só fala no aforamento do Monte de Leboreiro. O título do documento é «Karta de foro de Monte de Leboreiro que vocatur padron». No texto o rei faz doação daquele seu «monte ermo que fica no lugar chamado Padrão que é no monte que se diz Laboreiro». A povoação de Padrão, na freguesia de Sistelo, foi por mim identificada à face da carta de aforamento de D. Afonso III. Em sua volta existem ainda todos os nomes de referência na delimitação, um dos quais é o rio Vez. Do exposto ficamos a saber que os Montes de Laboreiro chegavam desde Celanova, que fica na Galiza a alguns quilómetros da fronteira, até Padrão de Sistelo pelo menos.

   Nas Inquirições de 1258 à freguesia de Grade ficou registado que os moradores desta freguesia tinham a obrigação de «correr monte com o rei ou rico-homem em Laboreiro ou na Fornia a sua vez por mês», donde nos é lícito concluir que a denominação de Laboreiro se estendia à maior parte da serra da Peneda.

O castelo de Laboreiro terá sido levantado para dominar estes montes. Os antigos monteiros de Soajo tiveram questões com o seu alcaide por causa, de certos tributos que lhe deviam satisfazer, donde se vê que também os montes do Soajo eram dependências de Laboreiro.

Os moradores de Riba de Mouro, ao tempo simplesmente S. Pedro de Mouro, nas Inquirições de 1258 «disseram que quando houver guerra hão de guardar as travessas do Monte de Laboreiro». Estas travessas, ou melhor, travessias, deveriam ser na região de Val-de-Poldros, limites da mesma freguesia, onde Paio Rodrigues de Araújo, alcaide-mor de Castro Laboreiro e de Lindoso, demarcou um couto, o que fez, naturalmente, por todos aqueles montes estarem na sua dependência.

Nesses recuados tempos os Montes de Laboreiro abrangiam a maior parte da serra da Peneda, e hoje a extensa freguesia de Castro Laboreiro é considerada como faldas da serra da Peneda. Como a denominação passou de Laboreiro para Peneda é que não sei explicar.

 

Obra Histórica

Padre Manuel António Bernardo Pintor

Edição do Rotary Club de Monção

2005

pp. 339-342

 

 

 

MENDIGOS E VAGABUNDOS NO CONCELHO DE MELGAÇO

melgaçodomonteàribeira, 26.05.20

166 - 2 Arte Pintura António Ramalho Mendigo 1896

antónio ramalho - mendigo - 1896

 

ENTRE A POBREZA E A MARGINALIDADE: MENDIGOS E VAGABUNDOS NO ALTO MINHO DE OITOCENTOS

Alexandra Esteves

Segundo o número 8, do artigo 249.º, do ( …) Código Administrativo de 1842, competia aos administradores dos concelhos o exercício da vigilância e polícia sobre os mendigos e vadios. Em 1869, o governador civil do distrito de Viana do Castelo recordava que nenhum mendigo podia esmolar no respectivo concelho de residência sem estar munido de licença. Determinava ainda que só poderia ser concedida permissão para mendigar aos indivíduos naturais do concelho, ou que nele residissem há mais de dois anos, e desde que fossem reconhecidamente pobres e estivessem  impossibilitados de trabalhar. A indigência, a idade e a residência dos peticionários tinham que ser comprovadas pelos párocos e regedores, ao passo que a incapacidade física ou mental devia ser atestada por documento médico. Considere-se, a propósito, o requerimento para pedir esmola, formulado por João Manuel Esteves e confirmado pelo regedor da freguesia de Castro Laboreiro:

 

“Diz João Manoel Esteves solteiro da Villa de Castro Laboreiro da Comarca de Melgaço que achando-se já de idade de sessenta anos, e sem meios alguns de subsistência como mostra pelos documentos juntos, do Reverendo Parocho, e do Administrador do Concelho, e alem disso sem vista por cauza das cataratas, e lezo do corpo da parte direita de hum ataque que sofreu do estupor já há mais de quatro annos, durante os quaes tem sido socorrido por hum seu irmão, porque do contrario já teria sido vitima da morte: hé neste estado miserável que o supplicante implora a benovolência de V. EX. a fim de que todas as juntas de Parochia do Districto concorrão com hum subsidio; bem como todos os thezoureiros das Misericórdias e confrarias segundo suas forças  para a conservação de seus dias; pois por esta graça o supplicante não cessara de rogar a deus pela conservação de V. EX.ª”.

 

Através de editais afixados nas freguesias, mencionando os documentos a apresentar, os mendigos eram convocados para comparecerem na administração do concelho. Na ocasião, deviam estar presentes os regedores, para conferiram a sua identidade, e os médicos, para analisarem o seu estado de saúde. Concluído o processo de triagem, os que fossem considerados aptos para trabalhar tinham que assinar uma declaração onde se comprometiam a abandonar a mendicidade e procurar uma ocupação. Se fossem encontrados a mendigar sem causa superveniente e sem licença, eram entregues ao poder judicial para serem punidos na conformidade da lei.

 

INTERCONEXÕES

Revista de Ciências Sociais

Vol. 1  N.º 1

 

http://academia.edu

 

 

CASTRO LABOREIRO E O FORAL DE AFONSO HENRIQUES

melgaçodomonteàribeira, 19.05.20

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De todos é sobejamente conhecida a personalidade guerreira do primeiro Afonso, que, na ânsia desmedida de consolidação da autonomia e alargamento dos limites do Condado Portucalense herdado de seu pai, rebelou-se contra a própria mãe, teve os mouros do sul a ferro e fogo e aguentou acesas escaramuças com os nossos vizinhos galegos – S. Mamede, Cerneja, Valdevez, Ourique, Santarém, Lisboa, Alcácer, Galiza…

Numa das suas inconstantes investidas contra Galiza conquistou às armas de Leão o castelo de Castro Laboreiro, como consta da carta de couto outorgada à abadessa do mosteiro de Paderne, Elvira Sarracine. O monarca concede o dito couto ao cenóbio em compensação do tributo de dez éguas com suas crias, trinta moios de vinho, um cavalo avaliado em quinhentos soldos e cem moedas de ouro, que a dita abadessa lhe tinha prestado durante o assédio da fortaleza.

À data deste monumento – 16 de Abril de 1141 – já o castelo de Laboreiro sofria novamente por Portugal e tudo leva a crer que foi efémero o estear da bandeira alheia na sua torre de menagem, pois, se é verídica a indução do ilustre investigador, tenente-coronel Augusto Botelho da Costa Veiga, a perda de Castro Laboreiro derivou de uma contra-ofensiva galega lançada por Fernando Eanes, no Inverno de 1140,, durante a ausência temporária de Afonso Henriques.

Se o relato desta carta de couto é demasiado seco na apresentação das operações aguerridas em volta do baluarte dos montes Laboreiro, é o único, e outros documentos se não conhecem. Existe, no entanto, um, menos comentado, que poderia ser da maior utilidade para aclarar o intrincado da questão, se não estivesse hoje praticamente delido pela erosão dos séculos. Trata-se de um documento epigráfico que, durante séculos a fio, integrou os muros robustos do castelo. De acordo com a leitura que lhe dá o incansável magistrado Luís Figueiredo da Guerra, testificaria a sua conquista ainda no decurso do ano 1140, ajustando-lhe o monarca Conquistador avultadas obras de restauro no ano de 1145, completadas pelo seu filho – D. Sancho I:

“D. Afonso Henriques conquistou em 1140 o castelo aos espanhóis, reparando-o em 1145, mas D. Sancho I completou a obra, como memora a inscrição que lá existe”

Na ânsia de ver de perto esse monumento, contactei o P. Aníbal Rodrigues, pároco de Castro Laboreiro, que me indicou uma pedra no adro da igreja paroquial, supostamente a referida epígrafe ou parte dela, que, segundo informação do mesmo, para ali foi carreada aquando das obras de restauro do castelo, levadas a cabo sob o comando da Direcção Geral dos Monumentos e Edifícios Nacionais – Zona Norte. Apesar do acesso fácil, foi-me o préstimo minguado porque não consegui identificar, com firmeza, um único caracter, apenas alguns sulcos bastante apagados parecem inculcar a veracidade e antiguidade da epígrafe.

Esta inscrição já tinha chamado a atenção de José Leite de Vasconcelos que, estando no ano de 1904 a veranear nas Águas do Peso, se dirigiu a Castro Laboreiro, não dispensando uma visita ao vetusto castelo, onde deparou com a inscrição. Também um correspondente de A Neve, individual periódico publicado em Castro Laboreiro, presta informações de algum interesse, nomeadamente, a existência de mais do que uma pedra epigrafada, a dificuldade de leitura e o seu estado de abandono do topo sul, junto da gruta natural formada pelos dois penedos que juntam as extremidades, e que o autor, erradamente, identifica com a capela de Santa Bárbara.

A conservação deste monumento deve-se ao esmero do arquitecto Roberto Leão, conforme o mesmo refere no artº 23º de um extenso relatório. De 16 de Agosto de 1981, dirigido ao Director dos Monumentos Nacionais do Norte, onde denuncia certos atropelos nas obras de restauro desta fortaleza:

“Felizmente, em 1974 foram retiradas por nós e depositadas na igreja, duas pedras e um fragmento, com inscrições históricas, do séc. XII, entregues à guarda do Pároco e onde se encontram, o que evitou serem possivelmente aplicadas em alteamento de muralhas ou partidas para enchimentos”

A verdade é que, dada a condição do documento, nenhum dos autores, à excepção de Figueiredo da Guerra, se atreveu a uma leitura ou qualquer achega. Por incrível que pareça, essa leitura parece aproximar-se bastante das deduções cronológicas de Botelho da Veiga e dos singelos factos que temos vindo a referir, nomeadamente, a atenção dispensada por D. Sancho I a Castro Laboreiro.

 

O FORAL DE D. AFONSO HENRIQUES A CASTRO LABOREIRO.

“ÁDITO” PARA O DEBATE.

José Domingues

Porto, 2003

http://www.academia.edu/3470740/O Foral de D. Afonso Henriques a Castro Laboreiro. Adito para o debate

jdominguesul@hotmail.com

 

ARCHIVO HISTORICO DE PORTUGAL III

melgaçodomonteàribeira, 14.03.20

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azulejo de manuel igrejas

 

Durante a guerra da invasão napoleónica, não menos digna foi a attitude de Melgaço.

Esta foi a primeira praça de armas que saccudiu o jugo do odioso Attila moderno. Foi d’ali que partiu o primeiro grito da libertação, e de lá também se levantou a famosa plêiade de valentes, que pondo à sua frente o general Sepúlveda, tão nobremente contribuíram para o resultado da lucta.

Cabe a esta villa também a honra de ter sahido da família dos Castros de Melgaço o laureado ministro da nossa marinha, Martinho de Mello e Castro, nome altamente sympático e bemquisto da nação.

Nasceu o illustre varão a 11 de novembro de 1716.

Seguiu a carreira eclesiástica e em 1739 foi nomeado cónego da sé patriachal. Seguiu depois a carreira diplomática, e estava ministro em Londres, quando rebentou a guerra entre a nação dos piratas, a Hespanha e a França.

O patriótico ministro prestou então valorosos serviços ao paiz, já enviando armas e munições de guerra, já envidando todos os meios para dar lustre ao nome portuguez. Coube-lhe a elle assignar a paz em Paris, o que realisou, salvaguardando a honra e os interesses nacionais como um verdadeiro portuguez.

José I nomeou-o ministro e secretário de estado dos negócios da marinha, em 1777.

Martinho de Mello tomou o mais vivo interesse no desenvolvimento da marinha de guerra portugueza, e esteve sempre ao lado do grande marquez de Pombal, em todos os commettimentos de utilidade pátria. Comquanto não fosse affeiçoado ao severo ministro, que tanta influência teve no reinado de D. José, coadjuvou-o sempre que se tratava do engrandecimento e prosperidade nacional. Depois da queda de Sebastião José de Carvalho e Mello, continuou a dirigir a pasta da marinha com a mais evidente intelligência e sollicitude.

A este hábil ministro se deveu a magnífica esquadra que então houvemos. Ainda quando D. João VI fugiu covarde e criminozamente para o Brazil, deixando a pátria nas garras do inimigo bonapartista e do pirateiro aliado, se compunha a esquadra de guerra portugueza de doze fragatas, e doze naus de linha, afora muitas outras embarcações de menor importância.

Isto em 29 de novembro de 1807…

Hoje temos o Pimpão e meia dúzia de chavecos, incapazes de aguentarem os embates do oceano em revoltas de borrasca.

Ah! Mas é que já não existem homens como o marquez de Pombal e Martinho de Mello, à frente da administração pública!

O digno estadista conservou a pasta da marinha até à data do seu falecimento, em 24 de março de 1795. Possuía inalteravelmente a mais clara inteligência, e foi activo no desempenho da sua nobre missão até que a morte o prostou, velho nos annos, sempre novo na pujança do espírito, e no discernimento da acção.

Em Loanda conhecemos ainda um transporte de guerra com o nome do illustre ministro. Há annos desarmou esse vaso da nossa marinha, e ainda não houve quem se lembrasse de dar o nome de Martinho de Mello a outra qualquer embarcação de guerra.

Em troca há-os que teem nomes que nada significam, a não ser a máxima insignificância.

Tem Melgaço um templo digno de menção, edificado sobre uma elevação sobranceira ao rio Minho, o qual, como se sabe, separa esta villa do reino vizinho. O átrio d’este santuário é atravessado por uma estrada, que vindo da povoação parte para a Galliza.

Perde-se nos dédalos do tempo a história d’este templo, sabendo-se, porém, que já estava construído na época dos godos.

Em 1170 estava quasi totalmente arruinado, e D. Affonso Henriques mandou-o reconstruir, conforme consta de uma escriptura de doação feita por D. Sancho I, em Santarém, em setembro de 1207, e assignado pelo rei, todos os seus filhos e prelados do reino. Até 1834 conservou-se esta escriptura no Livro das Datas, depois foi inglesada com tudo mais quanto serviu de repasto à voracidade anonyma.

O templo, da invocação da Nossa Senhora da Orada, é construído de boa cantaria e foi até 1834 da jurisdicção dos monges do convento de Santa Maria de Fiães, por doação de D. Sancho, que o havia herdado de seu pae.

Desde a egreja à povoação é a estrada ladeada de formosas hortas, pomares, fontes abundantes de magníficas águas, vistosos campos e casas, o que dá o mais alegre e grato aspecto ao sítio.

Do dia da Ascenção até ao domingo do Espírito Santo era outr’ora muito concorrida a estrada pelos romeiros do concelho de Melgaço, Valladares e Monção, os quaes iam offerecer à Virgem da Orada o resíduo paschal, levando cada freguezia os seus parochos, e ao menos uma pessoa de cada família.

Tinham estas romagens por motivo um voto que os povos das mencionadas freguesias fizeram durante uma terrível epidemia de peste, que, tendo assolado e deixando desertas innumeras povoações, àquellas não havia causado o mínimo damno.

Hoje, comquanto ainda tenha devotos, não é a egreja procurada como d’antes. A civilização fazendo pouco a pouco luz no espírito humano tem-lhe ensinado que o verdadeiro templo é a consciência própria, que todos devem honrar e respeitar como um santuário que Deus nos collocou dentro do peito.

Finalmente: não é a villa de Melgaço rica de pergaminhos artísticos, de que tantas outras povoações se envaidecem, porém, a sua carreira histórica dá-lhe foros de illustre.

E o castelhano que com ella defrontar hade comprehender que ali naquelle pedaço de terreno frigidíssimo, rude, mal agradecido aos labores do proletário; que ali, sob aquelle céu ora de um azul espelhado e frio como uma lâmina de aço polido, ora nevoento e opaco como uma desgraça latente, há corações que abrigam o fogo sagrado dos mais nobilitantes sentimentos.

E poderá pensar que nas veias dos filhos de Melgaço corre um sangue tão puramente portuguez como aquelle que gravou na lusitana história, n’aquelle dia solemne de Aljubarrota, o verbo sagrado – Independência!

Quando uma povoação tem tão heroicos antecedentes, pode com altivez medir-se em glórias com a mais opulentada cidade.

 

FREGUEZIAS D’ESTE CONCELHO DIGNAS DE MENÇÃO

 

CASTRO LABOREIRO – Esta povoação foi conquistada aos mouros, em 1136, por D. Affonso Henriques, que mandou circumdar de muralhas o castello que já ali existia desde remotos tempos. D. Affonso III concedeu-lhe foral em Lisboa, a 15 de janeiro de 1372, e a elevou à cathegoria de villa com o nome de Laboreiro. Foi reedificada por D. Dinis, pelos annos de 1290, assim como o castello, que havia sido completamente arrazado no princípio do século XIV, em consequência de um raio lhe ter incendiado o paiol da pólvora.

Este venerando baluarte, hoje completamente arruinado, fica ao sul da villa, sobre um elevadíssimo pico que terá de altura uns 400 e tantos metros, e ergue-se sobre uma base de modesta circumferência, o que o torna espantosamente aprumado. Teve quartéis em recuadas eras e um poço de água nativa, o que se torna admirável n’aquella espantosa altura.

Gosou esta povoação o privilégio, concedido por vários monarcas e confirmado por D. João V, de não dar mancebos para o exército.

D. Manuel concedeu-lhe foral em Lisboa, a 20 de novembro de 1513, e n’elle é citada villa pelo nome de Castro Laboreiro.

Há anos, e não sabemos se ainda hoje, emigravam de Castro Laboreiro para o Douro, Tráz-os-Montes, Beira Alta e outras terras, desde que entrava o mez de setembro, bastantes indivíduos do sexo masculino de oito annos para cima até à idade mais provecta, não recolhendo senão na Paschoa.

Dava isto em resultado ficar a villa tão despovoada de homens que os defuntos eram conduzidos para a egreja por mulheres, havendo antes d’esse acto, em casa dos doridos um banquete para todas as pessoas que quizessem assistir a elle, o que grande número d’ellas aproveitava.

Adiante do féretro ia uma comitiva de mulheres, conduzindo à cabeça broas de milho, açafates com bacalhau e outros comestíveis, que na egreja entregavam ao paracho.

Ao enterramento assistiam com uma vela na mão, arrancando gemidos, e soluços e manifestando hypocritamente com os trejeitos ridículos que faziam, dor e mágoa profundas!

 

LAMAS DE MOURO – No anno 812, no sítio chamado Valle do Mouro, d’esta freguezia, teve logar uma grande batalha, dada pelo bravo Bernardo del Carpio, parente e vassalo de D. Affonso, o Casto, de Leão, contra Ali-Aton, rei de Córdova, que ficou derrotado e perdeu grande número de soldados. Ali-Aton havia tomado muitas terras aos luzitanos, que, em consequência d’este desastre, tornou a perder.

Dizem alguns chronistas que por esta povoação entrou, em 1129, D. Affonso VII de Castella, que foi derrotado na Veiga da Matança, junto aos Arcos de Val-de-Vez, por seu filho D. Affonso Henriques, primeiro rei de Portugal. Também por ali entrou para ir atacar Valença, em 1657, o general castelhano D. Vicente Gonzaga.

 

PADERNE – Na doação que D. Affonso Henriques, em 1141, fez do couto de Paderne a D. Elvira, prioreza do convento das cónegas de Santo Agostinho, fundado n’esta povoação em 1130, pela condessa D. Paterna, viúva de D. Hermenegildo, conde de Tuy, diz o monarca que lh’a fizera pelos bons serviços que as freiras lhe haviam prestado quando elle estava sitiando Castro Laboreiro, mandando-lhe mantimentos e alguns cavallos, sendo um d’elles magnífico e ricamente ajaezado, para el-rei montar.

Durante a guerra da restauração, o Prior de Paderne, D. Simão da Paixão, commetteu actos de bravura como guerreiro e como capitão-mor do seu couto.

 

ARCHIVO HISTORICO DE PORTUGAL

Narrativa da Fundação das Cidades e Villas do Reino, seus Brazões D’Armas, etc.

2ª Série

Numº 43

Anno de 1890