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MELGAÇO, DO MONTE À RIBEIRA

História e narrativas duma terra raiana

MELGAÇO, DO MONTE À RIBEIRA

História e narrativas duma terra raiana

EXÉRCITO ROMANO EM MELGAÇO

melgaçodomonteàribeira, 13.01.24

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MELGAÇO: SOLDADOS ROMANOS ESTIVERAM MESMO NO MUNICÍPIO MAIS A NORTE...

E NÃO FORAM POUCOS

Rádio Vale do Minho

21 outubro 2019

O exército romano passou mesmo por Melgaço. É o que demonstra um estudo recentemente publicado na revista científica Mediterranean Archaeology and Archaeometry, da autoria de investigadores portugueses e galegos que descobriram 25 novos sítios do Norte de Portugal e da Galiza que “comprovam arqueologicamente” a presença militar romana nos dois territórios.

Os autores do estudo identificaram várias tipologias de locais, tais como pequenos recintos, que albergavam entre 100 a 1500 militares, acampamentos de tamanho médio que hospedavam dois a quatro mil soldados, grandes acampamentos, recintos que excedem os 20 hectares e fortificações estacionais de pequeno tamanho.

Em Melgaço, conforme noticia o jornal O Minho, a Lomba do Mouro foi o exemplo encontrado pelos investigadores e classificado com em muito bom estado de conservação. Está localizado dentro da área do Parque Nacional da Peneda Gerês.

A equipa de investigadores acredita mesmo que o achado na Lomba do Mouro poderá ter albergado um autêntico exército entre 10 a 15 mil soldados durante o século II e I a.C.

De acordo com o estudo, foram também encontrados outros vestígios de presença militar romana em Arcos de Valdevez e Vila Nova de Cerveira. Durante a primavera e verão do próximo ano, os investigadores irão passar novamente pelos locais no sentido de validar a cronologia dos achados.

 

radiovaledominho.com

 

ENQUADRAMENTO HISTÓRICO CASTRO LABOREIRO II

melgaçodomonteàribeira, 14.01.23

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CASTRO LABOREIRO – ENQUADRAMENTO HISTÓRICO II

 

O período da reconquista foi marcado por sucessivos avanços e recuos territoriais, mas nos finais do século IX, os reinos do Norte encontravam-se consolidados em três unidades, as Astúrias (ou Leão), Galiza e Castela. A sua malha administrativa estava parcelada em terras e estas eram atribuídas a um conde, para as governar. As sucessivas discórdias resultantes da formação dos reinos e do seu desenvolvimento, tornaram a Galiza independente e desmembrada em duas partes, “dando o sul a Ramiro Ordóñez que foi assim “rei de Portugal” antes de herdar a totalidade dos domínios do seu pai, como Ramiro II (931-951)” (Marques, 1996, p. 26). Mais tarde, o território entre o Lima e o Douro, ficou desagregado da Galiza e entregue a um duque. Esta nova unidade política tinha a sua sede em Portucale, sendo governada por nobres locais destacados pelo reino de Leão e estando vinculada politicamente aos seus interesses.

Aquando da consolidação do condado Portucalense surge D. Afonso Henriques (1139-1185), filho de D. Teresa e do Conde D. Henrique, herdeiro deste território. Em rebelia contra a mãe, inicia um processo de desvinculação do reino de Leão. Com a sua ambição ao título de rex e eficaz expansão territorial, torna-se vassalo da Santa Sé e não do imperador dos reinos cristãos do Norte da Península, D. Afonso VII (1111-1157), tornando-o um soberano superior ao imperador. É neste contexto expansionista que D. Afonso Henriques toma Castro Laboreiro.

Para este período histórico, do século IX ao século XII pode mencionar-se um conjunto de elementos que atestam a presença das monarquias do Norte e da vinculação do território de Castro Laboreiro ao reino de Portugal, nomeadamente fontes históricas e elementos arquitectónicos, principalmente de carácter militar e, em grande quantidade.

Após o primitivo período Afonsino, em termos gerais, a administração do território de Castro Laboreiro entre o século XIII e século XIX, pertenceu à Provedoria de Viana do Castelo, à Comarca de Barcelos (Casa de Bragança), era Comenda da Ordem de Cristo e situava-se na Província do Minho. Castro Laboreiro foi instaurado como sede de Concelho em 1271. Segundo os mapas consultados, a circunscrição do território de Castro Laboreiro, alterou-se pouco durante as reformas do Antigo Regime, mantendo-se muito fiel à sua delimitação original. Com a Revolução Liberal, após 1832, Castro Laboreiro passa a integrar-se na Comarca de Ponte de Lima e mantém-se Concelho. Durante o período de estabilização, a partir de 1842, Castro Laboreiro integra-se no distrito de Viana do Castelo e perde o estatuto de Concelho em 1855. Passa a ser Junta de Paróquia e posteriormente Junta de Freguesia até 1974. Neste ano torna-se numa comissão administrativa, que terá duração de, aproximadamente, 2 anos, acabando depois por retornar o anterior estatuto de Junta de Freguesia. A reforma administrativa de 2013 consuma uma união política com a freguesia vizinha de Lamas de Mouro, formando a União de Freguesias de Castro Laboreiro e Lamas de Mouro.

 

CASTRO LABOREIRO E O SEU CASTELO

CONTRIBUTO PARA O SEU ESTUDO

Diana Carvalho

Mestranda em História e Património

Dianacarvalho.pt@gmail.com

 

ABELTERIUM

Volume III

Maio 2017

 

ENQUADRAMENTO HISTÓRICO CASTRO LABOREIRO I

melgaçodomonteàribeira, 07.01.23

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CASTRO LABOREIRO – ENQUADRAMENTO HISTÓRICO I

O TERRITÓRIO

A síntese histórica que se segue procura agregar em linha cronológica os eventos que tiveram lugar na área territorial de Castro Laboreiro. Como nem sempre as fontes permitem a elaboração de uma cronologia específica e linear, o texto que se segue situará o território no Norte peninsular, no noroeste hispânico, nas montanhas do Alto Minho interior, na Calécia, na Galiza e no território nacional, conforme foi possível enquadrá-lo na historiografia, esperando que daqui resulte uma brevíssima história local, prolongada no tempo, desde a ocupação romana deste território. Enumeram-se também elementos patrimoniais das diversas épocas, que substituem até hoje, por funcionarem como indicadores cronológicos na ausência da informação documental e reforçarem a existente.

Relativamente à ocupação humana do território de Castro Laboreiro, sabe-se que desde a pré-história tem sido palco de sucessivas ocupações. Os vestígios megalíticos de culto funerário situados no planalto a nordeste de Castro Laboreiro, o povoado castrejo a sudeste do castelo (cujas fundações datam da Idade do Ferro), e outros elementos, como o altar de cremação do Alto da Cremadoura, assim o indicam. As escavações arqueológicas locais desvelaram uma linha contínua de ocupação de vários povos, subsequentes a este período e prévios à fundação da nacionalidade, como os romanos, suevos e visigodos. Durante a época romana havia duas grandes áreas, a bracarense, mais urbana e civilizada, e a lucence, mais selvagem, contudo, a vinda dos povos suevos e visigodos alterou este panorama dando origem a uma maior concentração e dispersão dos núcleos habitacionais intercalares dessas duas regiões. Neste contexto histórico, o território de Castro Laboreiro situou-se entre as cidades de Bracara Augusta e Lucus Augusti, fazendo uma transição daquilo que seriam as duas grandes regiões citadas.

Mais tarde, após a vinculação visigoda ao cristianismo e sua definitiva ocupação do noroeste português, quando os reinos godos se confrontam  com as invasões muçulmanas, “a organização territorial e administrativa introduzida e fixada pela implantação do sistema paroquial com S. Martinho de Dume não podia, no entanto, deixar de contribuir para dar grande solidez à distribuição dos principais centros e dos povoados que deles dependiam,” (Mattoso, 1997, p. 396).

Relativamente ao legado romano este encontra-se presente nas variadas pontes e pavimentos estrategicamente distribuídos em todo o território da freguesia, pela Geira, situada na proximidade do território e pelo forte romano, Aquis Querquennis (“a Cidá”), situado em Baños, Concelho de Ourense, que terá sido construído para vigiar uma das vias que ligava a Bracara Augusta e para controlar a região. Dada a sua proximidade a Castro Laboreiro, este terá exercido influência sobre o território. Os vestígios suevos e visigóticos (séc. V-VI) encontram-se na política pública (direito visigótico; vindo do baixo império romano), nas liturgias e na arquitectura religiosa cristã. O povoado a sudeste do castelo é um forte indicador da presença destes povos, pois a quadratura das estruturas a par com outros elementos exumados durante as escavações arqueológicas revelam também presença romana e visigótica, além da ocupação humana durante a idade do ferro (Lima, 1996).

As invasões muçulmanas de 711, diluem a ocupação sueva e visigótica e acentuam o carácter rural do território noroeste hispânico, não por influência directa, pois a economia dos grupos dominantes do norte peninsular baseava-se no intercâmbio dos géneros e bens provenientes do saque e despojo militar resultante das constantes guerras, era incompatível com a economia urbana do Sul: “tudo leva a crer que o váli de África e os chefes árabes e sírios estivassem muito mais interessados nas cidades das antigas províncias da Bética e da Tarraconense do que nas selvagens montanhas do Noroeste, difíceis de controlar militarmente e bem poucas rendosas para uma economia monetária como a do mundo muçulmano” (Mattoso, 1997, p. 397). Contudo, a influência árabe no território de Castro Laboreiro faz-se sentir através da toponímia, do vocabulário, das lendas e em algumas práticas gastronómicas como o bolo da pedra, entre outras influências de carácter mais generalista como a numeração, por exemplo.

Em meados do séc. XVIII, as guarnições muçulmanas do Ocidente Peninsular, incluindo as da Galécia, rebelaram-se contra os seus chefes por motivos relacionados com injustas distribuições de terras, e por motivos religiosos. “As tropas colocadas na Galécia, abandonaram as suas fortalezas e não se saber sequer se voltaram a ser ocupadas. A sua revolta desencadeou uma guerra civil, que durou até 756” (Mattoso, 1997, p. 397). A debilidade da ocupação islâmica foi perturbada sobretudo na parte final pelo rei Afonso I (739-757 d. C.), das Astúrias. As cidades “reconquistadas” enumeradas na Crónica de Afonso III abrangem praticamente todos centros urbanos de alguma importância situados entre as montanhas cantábricas e a margem sul do vale do Douro, onde se situam também os montes do Laboreiro. A Crónica atribui-lhe também a iniciativa de levar consigo para o Norte a população cristã de todas as cidades. O chamado “repovoamento”, nas suas diversas expressões, fez também uso da presúria, contudo, nas zonas montanhosas do Noroeste peninsular “algunas comunidades rurales se verían libres de presión, pudiendo organizar sus espacios de producción de forma más autónoma y con menor – o ninguna – carga fiscal. Se trataria de “comunidades castreñas de montañas”, instaladas em castros de origen prerromano o romano, que se sitúan en el centro de un valle rodeado de altos montes, donde predomina el bosque y los pastos de montaña” (González, 2001, p. 24). Neste caso o autor exemplifica com o caso de Castro Pelaggi (Valdoré), mas também Mattoso (1997) refere as zonas montanhosas do Entre Douro e Minho (Peneda, Laboreiro, Gerês, Gralheira, Cabreira, Marão e Montemuro), como potencialmente excepcionais. Em suma, a Reconquista cristã, é um momento de oportunidade que aproveita a debilidade das forças muçulmanas e que se inicia com as guarnições visigodas refugiadas nas montanhas asturianas nesta altura organizados com os dirigentes do reino das Astúrias sob o comando de Afonso I. Este é o processo que desencadeia a formação das primeiras monarquias do Norte peninsular que por sua vez darão origem ao reino de Portugal.

 

(continua)

 

O CONCELHO DE CASTRO LABOREIRO

melgaçodomonteàribeira, 25.08.20

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DE CONCELHO EXTINTO À ATUALIDADE

 

A 11 de Maio de 1758, Castro Laboreiro, pertencia à comarca de Valença, arcebispado de Valença, sendo terra do rei. Tinha a Irmandade das Almas e duas Confrarias, a do Santíssimo Sacramento e a de Nossa Senhora do Rosário. Era reitoria com apresentação da Casa de Bragança e a renda dos dízamos era de 650$000 réis, recebendo anualmente de côngrua o reitor 40$000 réis, pagos em dois quartéis, 20$000 pelo Natal e o restante pelo São João, e o mais em pé de altar, que rendia cerca de 160$000 réis. Em 1812, a 3 de setembro, foi emitido o alvará nomeando o último comendador conhecido, Marino Miguel Franzine. Em 1816, o Reitor de Castro Laboreiro, tendo apenas de côngrua 10$000 réis e 20 alqueires de centeio, solicita a D. João VI a concessão de um subsídio de 50$000 réis para o Reitor da freguesia, para poder pagar esta quantia, em dinheiro, ao seu Coadjutor, em virtude de muitos e custosos trabalhos para bem paroquiar a freguesia. Com a Revolução Liberal, após 1832, Castro Laboreiro passa a integrar-se na Comarca de Ponte de Lima e mantém-se concelho. Durante o período de estabilização, a partir de 1842, Castro Laboreiro integra-se no Distrito de Viana do Castelo. Entretanto o código administrativo de 17 de julho de 1835, e, posteriormente, o código administrativo de 31 de dezembro de 1836, fixam a divisão administrativa do reino em distritos, subdividindo-se estes em concelhos e freguesias. Fixam igualmente o pessoal administrativo, jinto do qual estabelecem corpos administrativos: a Junta Geral do Distrito, junto do governador civil (ou administrador geral) a Câmara Municipal junto do administrador do concelho e a Junta de Paróquia junto do comissário (ou regedor) de paróquia.

Contudo, Castro Laboreiro, que consegue escapar à “chacina” (extinção de concelhos) de 31 de dezembro de 1853, não teria a mesma sorte a 24 de outubro de 1855, data em que é decretada a extinção do concelho de Castro Laboreiro. Em 1878, passou a fazer parte do julgado de Fiães e, posteriormente, do concelho de Melgaço, passando, então, a ser uma Junta de Paróquia.

Com a implantação da República a 5 de Outubro de 1910, a qual provoca a separação do Estado e da Igreja, entra novamente em vigor o Código Administrativo de 1878, que retira a presidência aos párocos. A Lei nº 88, de 7 de agosto de 1913, promove a organização das paróquias civis, distinguindo-as das paróquias eclesiásticas, embora assumam o mesmo limite territorial. Mais tarde, a Lei nº 621, de 23 de junho de 1916, altera definitivamente a designação da junta de paróquia para junta de freguesia, mantendo-se práticamente sem alterações até hoje as suas componentes políticas e administrativas.

Entre 1910 e abril de 1913 intitula-se Comissão Republicana Paroquial de Santa Maria de Castro Laboreiro. Contudo, entre 1913 e 1916 os escrivãos tanto abrem as sessões referindo Junta de Paróquia da Freguesia de Castro Laboreiro ou Freguesia de Castro Laboreiro. Consolidam o termo administrativo Junta de Freguesia de Castro Laboreiro a partir da ata de 6 de junho de 1920. Estará assim até 18 de abril de 1975, um ano após a queda do Estado Novo. Nesta data instaura-se a Comissão Administrativa da Junta de Freguesia de Castro Laboreiro que vem durar até 23 de janeiro de 1977, data em que se lavra a primeira ata da nova Junta de Freguesia de Castro Laboreiro. Assim se mantém até à reforma administrativa de 2013 que consuma uma união política com a freguesia vizinha de Lamas de Mouro, formando a União de Freguesias de Castro Laboreiro e Lamas de Mouro.

O resultado de todo este enquadramento foi a composição de uma brevíssima história local que não contempla nenhuma documentação ou bibliografia que ateste uma natureza tutelar clara sobre estas estruturas.

 

Diana Alexandra Simões Carvalho

Castro Laboreiro – Do Pão da Terra aos Fornos Comunitários

Uma proposta de mediação patrimonial

Faculdade de Letras da Universidade do Porto

Maio de 2017

 

 

 

 

LEBOREIRO E LABOREIRO

melgaçodomonteàribeira, 23.06.20

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MONTES DE LABOREIRO

 

Não pareça descabida neste estudo a descrição dos Montes de Laboreiro. Por eles presumo terem sido feitas as invasões, havendo indícios de um rota militar através destes montes.

Há várias opiniões sobre a etimologia da palavra Laboreiro. Querem alguns, como Santos Rosa de Viterbo, que Laboreiro signifique penhascoso e derive da palavra laporetum aparentada com lapis, palavra latina que significa pedra. Como razão apresentam a situação do castelo entre penhascos e numa região de muitos penedos. Querem outros que Laboreiro signifique laborioso ou trabalhoso, e seria portanto nos seus princípios Castrum Laborarium por causa do muito trabalho que se despendeu na construção da altaneira fortaleza. Repare-se que em latim a palavra trabalho se traduz por labor. Poderia, ainda, explicar-se a origem da palavra Laboreiro pelo facto de esta terra usar a cultura do centeio, principal cereal da freguesia, em lavores arroteados em sistema de cultura extensiva. Esta foi a minha opinião durante muito tempo.

Há, porém, a opinião de J. Leite de Vasconcelos que deve ser a verdadeira, embora o sábio filólogo não tenha talvez conhecido as fontes que me levam a perfilhá-la. Diz J. Leite de Vasconcelos que Laboreiro significa lebreiro, ou terra de lebres. Funda-se na forma antiga que era Leboreiro e que deve vir de leporarius, adjectivo derivado de lepus-leporis, palavra latina que significa lebre.

Razões documentárias temo-las nesta passagem que transcrevo de España Sagrada: «El insigne Monasterio de Celanova tiene su asiento ácia el Mediodia de Orense à tres , ò quatro leguas en el territorio Bubalo (como el de S. Esteban) debajo del monte Leporario, hoy Leboreiro, entre los rios Arnoya y Limia».

Entre ambas as edições deste estudo pude ter à mão fotocópias de muitos documentos do mosteiro de Celanova em que se descrevem inúmeras propriedades «sob o monte Leboreiro».

Documenta a mesma opinião uma escritura de Fiães do ano 1191 relativa a um quinhão de Parada do Monte, terra identificada «sub monte leporario».

Eis, portanto, documentos a confirmar com a fórmula latina, a opinião do insigne filologista. A versão portuguesa Leboreiro é corrente nos documentos dos primeiros séculos da nossa nacionalidade e vem ainda no foral de D. Manuel I concedido em 1513.

Qual seria, nos tempos antigos, a extensão dos Montes de Laboreiro?

Se aqueles que pretendem derivar Laboreiro de Lapedo alegassem o facto da serra da Peneda derivar também o nome de um sinónimo de lapis e ser a herdeira do espaço, ao menos em grande parte, ocupados pelos antigos Montes de Laboreiro, teriam uma carrada de razão.

Pela transcrição atrás feita vimos que Celanova, na Galiza, ficava «debaixo do Monte de Laboreiro». Parada do Monte, também ficava «sob o Monte Laboreiro», e até me está a parecer que o designativo «do Monte» seria para distinguir Parada do Monte da Laboreiro de outras várias terras que têm o nome de Parada.

Há um documento que anda mal interpretado e testemunha que os Montes Laboreiro ainda iam mais além. É a carta de foro concedida em 1271 por D. Afonso III ao lugar de Padrão que fica na margem esquerda do rio Vez, na freguesia de Sistelo, concelho de Arcos de Valdevez. Franklin no seu Índice de Forais indica-o sob os nomes Monte de Leboreiro e Padrão em Monte de Leboreiro, na relação III. Alexandre Herculano examinou este documento e só fala no aforamento do Monte de Leboreiro. O título do documento é «Karta de foro de Monte de Leboreiro que vocatur padron». No texto o rei faz doação daquele seu «monte ermo que fica no lugar chamado Padrão que é no monte que se diz Laboreiro». A povoação de Padrão, na freguesia de Sistelo, foi por mim identificada à face da carta de aforamento de D. Afonso III. Em sua volta existem ainda todos os nomes de referência na delimitação, um dos quais é o rio Vez. Do exposto ficamos a saber que os Montes de Laboreiro chegavam desde Celanova, que fica na Galiza a alguns quilómetros da fronteira, até Padrão de Sistelo pelo menos.

   Nas Inquirições de 1258 à freguesia de Grade ficou registado que os moradores desta freguesia tinham a obrigação de «correr monte com o rei ou rico-homem em Laboreiro ou na Fornia a sua vez por mês», donde nos é lícito concluir que a denominação de Laboreiro se estendia à maior parte da serra da Peneda.

O castelo de Laboreiro terá sido levantado para dominar estes montes. Os antigos monteiros de Soajo tiveram questões com o seu alcaide por causa, de certos tributos que lhe deviam satisfazer, donde se vê que também os montes do Soajo eram dependências de Laboreiro.

Os moradores de Riba de Mouro, ao tempo simplesmente S. Pedro de Mouro, nas Inquirições de 1258 «disseram que quando houver guerra hão de guardar as travessas do Monte de Laboreiro». Estas travessas, ou melhor, travessias, deveriam ser na região de Val-de-Poldros, limites da mesma freguesia, onde Paio Rodrigues de Araújo, alcaide-mor de Castro Laboreiro e de Lindoso, demarcou um couto, o que fez, naturalmente, por todos aqueles montes estarem na sua dependência.

Nesses recuados tempos os Montes de Laboreiro abrangiam a maior parte da serra da Peneda, e hoje a extensa freguesia de Castro Laboreiro é considerada como faldas da serra da Peneda. Como a denominação passou de Laboreiro para Peneda é que não sei explicar.

 

Obra Histórica

Padre Manuel António Bernardo Pintor

Edição do Rotary Club de Monção

2005

pp. 339-342