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MELGAÇO, DO MONTE À RIBEIRA

História e narrativas duma terra raiana

MELGAÇO, DO MONTE À RIBEIRA

História e narrativas duma terra raiana

D. JOÃO II E MELGAÇO

melgaçodomonteàribeira, 18.12.21

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 brasão de d. joão ii - encontra-se na  câmara municipal de melgaço

 

AS ARMAS E A EMPRESA DO REI D. JOÃO II

Miguel Metelo de Seixas

Por via das empresas, começou a ser possível distinguir a pessoa individual do rei do cargo que ele desempenhava. Ao assumir o seu pilriteiro, D. João I passou a dispor de dois sinais de natureza distinta: por um lado, as armas reais, representativas da dinastia e da instituição régia; por outro, a sua empresa, símbolo pessoal, denotativo de uma tenção de vida, de um projecto de índole moral e política. As primeiras estavam destinadas a ser transmitidas a toda a dinastia, cabendo as armas plenas, símbolo da chefia da Casa, aos sucessivos detentores do título régio. Salvo necessidade excepcional, as armas não eram sujeitas a alterações substanciais: apenas se toleravam variações de estilo ou complementos que não viessem alterar o ordenamento heráldico do escudo. As armas representavam, pois, a continuidade dinástica e a permanência da instituição régia. Nesse sentido, poder-se-á aventar a hipótese de as armas reais terem começado a funcionar, a partir de então, não só como insígnias puramente dinásticas, mas também como símbolo do conjunto das instituições dirigidas pela Coroa. Com as devidas precauções, pode-se afirmar que as armas reais principiavam a representar a monarquia.

Reza a doutrina tradicional que as empresas, por sua vez, como símbolos meramente pessoais, não eram transmitidas aos descendentes. Entendia-se que, por via da empresa que escolhia (ao contrário das armas, que lhe advinham por herança), o soberano lograva exprimir a sua individualidade. Parecia, pois, natural que não só o rei como todos os membros da Casa Real assumissem empresas, as quais lhes permitiam distinguir as suas pessoas individuais dos títulos ou cargos que desempenhavam. Desta forma, as empresas não funcionavam como substitutas das armas, mas antes como seu complemento. Assim foi com o pilriteiro de D. João I, a hera de D. Duarte, o rodízio de D. Afonso V.

Qual foi, então, o emblema que D. João II adotou como empresa? Diversos autores, tanto antigos como modernos, escreveram sobre o assunto. Rui de Pina consagra-lhe um curto trecho da sua crónica:

“ElRey em sendo Princepe tomou por devisa, polla Princesa sua molher hum Pelicano, Ave rompente sangue no peito, pera sostentamento, e criação de seus filhos, que no ninho tem consigo. E tanto foy de seu contentamento, que a non mudou despois que foy Rey; e com ella trouxe por letra correspondente a piedosa morte do Pelicano que dizia: Por tua ley, e por tua grey”.

 

AS ARMAS E A EMPRESA DO REI D. JOÃO II.

SUBSÍDIOS METODOLÓGICOS PARA O ESTUDO DA HERÁLDICA E DA EMBLEMÁTICA NAS ARTES DECORATIVAS PORTUGUESAS

Centro Lusíada de Estudos Genealógicos e Heráldicos da Universidade Lusíada

Escola Superior de Artes Decorativas da Fundação Ricardo do Espírito Santo Silva

Bolseiro de Doutoramento da Fundação para a Ciência e a Tecnologia

EL REY DOM MANOEL E OS CRIMINOSOS GALEGOS

melgaçodomonteàribeira, 16.09.17

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COLLECÇÃO CHRONOLOGICA DA LEGISLAÇÃO PORTUGUEZA

 

 

DOM MANOEL, por graça de Deus, Rei de Portugal e dos Algarves etc. A quantos esta nossa Carta virem, fazemos saber, que o Juiz e Officiaes da Villa de Melgaço nos enviaram dizer, que, por se evitarem algumas mortes, roubos e males, que muitas vezes na dita Villa se faziam, por alguns galegos do Reino de Galiza se á dita Villa se vierem acolher e estar, tendo no dito Reino commettidos e feitos graves maleficios; e por ser de vosso escusarem isso mesmo, e outros inconvenientes de nosso serviço, elles fizeram accordo em Camara, que os taes galegos de capa em colo, que os ditos maleficios graves no dito Reino de Galiza commettessem, nom fossem consentidos nem acolhidos em a dita Villa; pedindo-nos que, por quanto em alguma maneira o Alcaide-mór Pero de Crasto lhes ia contra seu accordo, em acolher comsigo os taes: mandassemos que seu accordo que sobre isto tinham feito, lhes seja em tudo guardado e cumprido, e lho confirmássemos. E visto por nós, e por nos parecer seu requerimento justo e honesto, temos por bem e confirmamos-lho, e queremos e mandamos que os taes galegos de capa em colo, e que assim os ditos maleficios graves commetterem e fizerem no dito Reino de Galiza, nom sejam acolhidos nem consentidos na dita Villa, e se cumpra e guarde o accordo dos Officiaes, sobre isto feito, como nelle é contheudo, porque assim é nossa mercê. E mandamos a todos nossos Corregedores, Juízes e Justiças, que assim o façam cumprir e guardar. Dada em a nossa Villa de Almeirim, a 13 dias de Junho. Alvaro Fernandes a fez. Anno do Nascimento de Nosso Senhor Jesus Christo de 1500.

Pedindo-me por mercê o dito Concelho e homens bons da dita Villa de Melgaço, que lhe confirmasse a dita Carta, e visto por mim seu requerimento, querendo-lhes fazer graça e mercê, tenho por bem e lha confirmo, e mando que se cumpra e guarde, como se nella contem.

Bastião Lamego a fez, em Lisboa, a 23 de Outubro do anno de 1529 = EL-REI.

 

 

Retirado de: Collecção Chronologica da Legislação Portugueza

                     Compilada e Anotada por:

                     José Justino de Andrade e Silva

                        bacharel formado em direito

                     Lisboa Imprensa Nacional 1859

 

http://books.google.pt

 

MORREU A KAYA

2005 - 2017 

 

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kaya, na rua de baixo, desafia o dono para um passeio e, quem sabe, contar-lhe a história da família

 

 

MELGAÇO, 3 - 3 - 1388

melgaçodomonteàribeira, 28.10.15

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CERCO DE MELGAÇO, 1388

 

Nos inícios de 1388, ainda em janeiro, D. João I partiu para Melgaço, com “huas mil e quinhemtas lamças e muita gemte de pee”, assentando arraial longe da vila. A vila era “cerquada se arrabalde, de bom muro e forte castello” e defendida por uma guarnição de “atee trezemtos homes darmas e outros muitos pioens escudados”, comandada por Álvaro Perez de Sottomayor e Diego Preto Eximeno.

Assim que a hoste real chegou à vila, os seus defensores começaram logo a “tirar aos trõos e a escaramuçar com os de fora; e nam se feez dapno de hua parte a outra, nem cos trõos que lançarom. Durante os dias seguintes continuaram a disparar os seus trons e a escaramuçar com os portugueses, resultando alguns feridos e mortos. Ao fim de nove dias de cerco, já teriam “lamcadas sesemta pedras de tõos, que nam ffizeram porem dapno”.

Dom João I mandou então “aramar hum emgenho acima da ponte da vila”, disparado nos dias seguintes de forma sucessiva contra a vila cercada. Tratava-se de um engenho pirobalístico – um trom - , que provocava danos consideráveis na vila.

Paralelamente ao trom, na hoste do monarca “não quedavam de dirribar madeira e acarretalla, que el Rei mamdava trazer pera fazer duas escalas e hua bastida para mover jumtamente e pousar sobre o muro (…) e mandou mais fazer duas escalas”. Estes engenhos já foram referidos no capítulo relativo aos engenhos de assalto, não havendo necessidade de repetir a informação repetida por Fernão Lopes. Acrescenta-se apenas que a construção dos engenhos e a preparação do terreno para o seu avanço demorou quinze dias, durante os quais as duas partes não cessaram os seus ataques.

 Fernão Lopes indica que os atacantes utilizavam ainda “pedras demgenho” contra os defensores. O mesmo cronista relatou que “cada dia tiravam os trõs e o emgenho hus aos outros, e o emgenho fazia muito mal na vila, e os trõs nam empeciam nada”. Tendo em conta a capacidade destrutiva do “emgenho” considera-se que se tratava de um engenho neurobalístico, nomeadamente um trabuco ou um trabuquete.

O aparato militar era tal que o monarca mandou chamar a sua esposa, Filipa de Lencastre, para que esta assistisse àquele que esperava ser o combate final do cerco.

Então, no dia 3 de março, mandou “el Rei que aballase a bastida com os seus coregimetos comtra a villa, como tinham ordenado, e moveo com fforça de gemte, pero ffoi bem dezoito braças; deshi moveo hua ala, depois a outra, e estiveram anbas defromte do muro arredada hua da outra. E tiraram lhe sete trõos que lhe nã ffizeram dapño. E depois movarã outra vez e ffoi bem rijamente; e chegou se tamto a villa que punham hu pee no muro dentro e outro na escala, Sobio muitas companha e o Prioll primeiro que todos, e mandou el Rei que tirassem a fora. Emtam se feez prestes pera mamdar combater e mamdou dez homes darmas que sobisem no mais alto sobraado, homde hiam as pedras da mao. E moveo todo jumtamente, as escallas pera pousar e a bastida em que hiam os homes darmas e besteros. E da bastida saiam homes com grossos paos que acostavã ao muro, e poseram muitos deles e fycavam de fumdo emparados”.

Os defensores tentavam a todo custo impedir o avanço das forças de D. João I, lançando-lhes pedras e fogo, mas não conseguiam provocar-lhes danos suficientes para refrear os seus ataques. Acabaram por pedir preitesia ao monarca, que se mostrou reticente em aceitar mas, por conselho de alguns dos seus homens, acabou por fazê-lo.

Estabeleceu-se que “desem a villa a el Rei, e que saisem em gibões, sem atemdo lamçadas da villa de demtro ao arraial cemto e vimte pedras de trõos, que nenhuu nojo fizeram e do arraial a villa trezemtos e trimta e seis, que danaram gram parte della”.

Assim terminou o cerco a Melgaço, a 3 de março de 1388, no qual se recorreu a trabucos, escadas e torres de assalto, para além de trons, da parte dos atacantes. Os defensores, por sua vez, apenas recorreram a engenhos pirobalísticos, não havendo referência à utilização de engenhos neurobalísticos.

 

Retirado de:

 

Bárbara Patrícia Leite Costa

2º Ciclo de Estudos de Arqueologia

Engenhos, armas e técnicas na Idade Média

portuguesa (séculos XII – XIV)

2014

Faculdade de Letras

Universidade do Porto