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MELGAÇO, DO MONTE À RIBEIRA

História e narrativas duma terra raiana

MELGAÇO, DO MONTE À RIBEIRA

História e narrativas duma terra raiana

MELGACENSES NA I GRANDE GUERRA (E EM OUTRAS GUERRAS DO SÉCULO XX)

melgaçodomonteàribeira, 15.12.18

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Foi há pouco mais de cem anos que os primeiros soldados do contingente que Portugal enviou para combater em França na I Guerra Mundial chegaram à Flandres. Em África, já combatiam os alemães desde 1914. Com base nos dados de que dispomos, de Melgaço partiram para a Flandres mais de setenta homens, oriundos das diversas freguesias. Estes homens foram autenticamente “roubados” às suas vidas e obrigados a ir para uma guerra para a qual não estavam preparados. Paderne, com catorze homens, Penso com doze homens e Vila, com catorze homens, são as freguesias melgacenses que mais contribuíram em termos de número de efetivos. Estes homens da nossa terra, feitos soldados, tinham todos – à data do embarque – idades entre vinte e dois e vinte e sete anos completos (nascidos entre 1891 e 1895), à exceção dos oficiais e sargentos que eram um pouco mais velhos.

 

MELGACENSES NA I GRANDE GUERRA

(E EM OUTRAS GUERRAS DO SÉCULO XX)

Valter Alves

Joaquim A. Rocha

Edição de Autores

Melgaço 2018

 

VALTER ALVES. Filho de Anselmo Alves (1937-1990), funcionário da Repartição de Finanças de Melgaço, e de Elisa Maria Afonso (1938-1993), doméstica. Neto paterno de Francisco Alves e de Maria Teresa Alves; neto materno de Manuel Gaspar Afonso e de Albertina dos Anjos Sérvio. Nasceu em São Paio de Melgaço a 25/4/76. Estudou na escola primária de São Paio e na então escola C+S de Melgaço até aos dezassete anos de idade; depois, devido à morte dos pais, seguiu para Cinfães do Douro, para casa do seu irmão, onde permaneceu até 2002. Licenciou-se em Geografia (Ramo Educacional), na Faculdade de Letras da Universidade do Porto. É Pós Graduado em Gestão dos Riscos Naturais. Em 2018 morava em Vila Nova de Gaia e era professor de Geografia na Escola Básica e Secundária de Lousada Norte. Casou em 2003 com Carla Alves.Paralelamente à atividade docente, desenvolve investigação histórica, cujo produto tem sido publicado no blogue – Melgaço, entre o Minho e a Serra -, onde divulga notícias históricas, e outras estórias sobre o concelho de Melgaço. Pai de Luís Pedro Alves.

                                

JOAQUIM AGOSTINHO DA ROCHA nasceu em Cevide, Cristóval, Melgaço, onde residiu até aos seis anos de idade. Depois foi para a Vila de Melgaço, terra de sua mãe, Maria Leonor da Rocha. Permaneceu ali até aos vinte anos, altura em que ingressou no serviço militar. Cumpriu cerca de um ano na “Metrópole” e quase dois anos na Guiné-Bissau. Em finais de 1967 regressa e fixa a sua residência em Lisboa. Em finais de 2000 transfere-se para Braga, onde ainda vive. Quanto a estudos: saiu de Melgaço com a 4ª classe mais dois anos do Curso Elementar de Estudos Agrícolas, portanto com a equivalência à sexta classe, ou 2º ano dos liceus. Na capital do país fez o Curso Comercial e o Curso Complementar de Contabilidade e Gestão de Empresas (Técnico de Contas). Fez depois algumas disciplinas no Liceu e Ano Propedêutico, permitindo-lhe ingressar na Faculdade de Letras, onde completou o 2º ano do Curso de Línguas e Literaturas Modernas (Estudos Portugueses). Devido a incompatibilidades de horários, completpu o Curso na Universidade Autónoma de Lisboa (Luís de Camões) com a média de 16 valores. Quanto a empregos: foi empregado de escritório, contabilista, bancário, bibliotecário, professor… Dedica-se atualmente ao estudo da História e Cultura de Melgaço, e também ao estudo da Genealogia, ou seja, à biografia dos melgacenses em geral.

 

NÃO ESQUECEREMOS - CASTRO LABOREIRO E O DRAMA DOS REFUGIADOS

melgaçodomonteàribeira, 08.03.13

 

 

GALIZA E PORTUGAL: IDENTIDADES E FRONTEIRAS

 

O DRAMA DOS REFUGIADOS

 

   “Um dos maiores crimes de Salazar foi a entrega de refugiados às autoridades nacionalistas espanholas” (Prof. Emídio Guerreiro)

   Pelos relatos dos interrogatórios da PVDE a oficiais republicanos espanhóis refugiados em Portugal e comunicações da Guarda Fiscal, documentos constantes do Arquivo da PIDE/DGS e outros organismos, ficamos a saber como eram tratados e que resposta davam os refugiados republicanos em Portugal. Transcrevemos extractos de um desses relatórios da PVDE, datado de 27 de Setembro de 1937, pelo conteúdo em si e pela referência a refugiados galegos. Pelos relatórios da PVDE, vê-se que a ordem era de caça aos fugitivos que tentavam, em situação de desespero, internar-se em Portugal. Os relatos demonstram a crueza do tratamento dado aos exilados:

   “Nas regiões montanhosas de Castro Laboreiro encontram-se escondidos nas furnas, em plena montanha, desde princípio da guerra em Espanha, bastantes espanhóis. Esta polícia tem feito algumas surtidas que, dada a configuração do terreno e uma frente de 50 quilómetros, têm sido pouco profícuas. No entanto, graças à coragem de alguns agentes, vários destes indivíduos têm sido capturados e, na realidade, em circunstâncias um pouco bélicas, por vezes. Geralmente, na montanha, estes indivíduos respondem com a fuga, ou com tiros, à intimação de “Alto”. (…) Da refrega com sete meliantes resultou a captura de dois espanhóis, que foram imediatamente entregues às autoridades fronteiriças espanholas. Tem estado em estudo uma batida em forma a fazer naquela região, mas na opinião da GNR e GF tal batida só será profícua se empregarmos pelo menos duas Companhias de Cavalaria, o que seria dispendiosíssimo… (…) O perigo que oferecem estes indivíduos não obriga a tal despesa.

 

 Retirado de:

 

 Galiza e Portugal: identidades e fronteiras


 José Marques Fernandes

 

 Actas do IV Simpósio Internacional Luso-Galaico de Filosofia, Santiago, 2003; pp. 121-130

 

 http://books.google.pt

 

HOMENAGEM À LAURINDA DO MANCO

melgaçodomonteàribeira, 08.03.13

 

 

A 24 DE ABRIL DE 74 ÉRAMOS ASSIM

 

 

   Um dia, princípios de Março ou ainda fins de Fevereiro, o Zé, anafado e risonho, confidenciou à malta que algo se preparava. Que em Lamego “estava tudo sobre rodas” (sic). A Isabel guinchava, a Fernanda saltava e eu nem se fala. Aquelas reuniões fim de tarde prolongavam-se noite fora em casa da Fernanda e do Zé (Ferraz) com a Joana. Ou em minha casa com a João e a Teresa Feijó. Ou no Marco com a Isabel e o Jorge Baldaia. Ou em casa do Manuel Strecht Monteiro e da Lionida. Enfim, andávamos a meio metro do chão, levitantes, sorridentes, a rebentar de esperança, de vida, de juventude. “Agora é que é”, dizíamos. E as actividades conspiratórias paralelas redobravam. Era a edição e venda clandestina de livros proibidos. Eram as “passagens de fronteira” com desertores e emigrados políticos, onde se distinguia, corajosa e lindíssima, a Laurinda Alves, na altura namorada do Manuel Simas que, enquanto estivera de delegado do procurador da república em Melgaço organizara uma verdadeira porta de saída com a ajuda do Zé Ataíde e do Zé Teixeira Gomes, cuja mulher, uma brasileira, doida varrida, animava as hostes estudantis nas lutas académicas portuenses. Estávamos vivos, carago!

   O dezasseis de Março falhou, como se sabe, mas nós nem por isso desanimámos.  …………………..

 

Vosso, sempre

 

d’Oliveira

 

Retirado de:

 

Diário político 19 – Incursões

 

http://incursoes.blogs.sapo.pt/1002392.html?thread=3104152

 

ESPAÇO MEMORIA E FRONTEIRA

melgaçodomonteàribeira, 08.03.13

 

 

UN VIAJE A LA MEMORIA DEL CONTRABANDO

 

Melgaço cuenta con uno de los pocos museos que hay en la península dedicado a esta actividad

 

Marisol Oliva – 24/08/2009

 

El Museo de la Memoria y la Frontera, en la localidad portuguesa de Melgaço, permite al visitante viajar al tiempo em el que la raia era cruzada por miles de personas dedicadas al tráfico ilegal de mercancías. El espacio recoge también la emigración en el régimen salazarista.

‘El contrabando unió durante siglos los pueblos de la frontera y se convertió en una forma de economía que les ayudaba a sobrevivir en zonas aisladas y sin apenas recursos, salvo la emigración’, explica Angelina Esteves, responsable de los servicios culturales de la Cámara de Melgaço, donde desde hace dos años funciona el primer museo de Portugal.

En sus salas se puede hacer un recorrido por la historia de esta actividad en la que café, cobre y tabaco se fueron alternando para ‘ayudar en las economías familiares’. Entre los objetos que se pueden ver se encuentra un uniforme de la Guardia Fiscal portuguesa, la misma que peinaba las sierras del Alto Minho buscando a los que desafiaban los caminos.

El visitante puede escuchar en la sala voces que narran sus proprias historias. El objetivo, según explica Angelina Esteves ‘es hacer un documental en el que los protagonistas cuenten sus recuerdos, tanto de contrabando como emigración’............

 

Retirado do jornal La Region

 

http://www.laregion.es/noticia/100586

 

O EXILIO GALEGO

melgaçodomonteàribeira, 08.03.13

 

 

 ACTAS DO CONGRESO INTERNACIONAL "O EXILIO GALEGO"

 

 

    No decurso dos dez últimos días de xullo de 1936, Galicia caeu baixo a bota do terror, converténdose nun dos territorios da República onde a represión franquista amosaría a súa face máis cruel e asañada dende o comezo  mesmo do conflicto……………………….

   Galicia non era zona leal para os franquistas, e en ningún caso se trataba dunha retagarda segura; os sublevados tiñan razóns para considerar que Galicia era, en boa medida, un territorio hostil.

   A fuxida cara a Portugal por via terrestre. Aí os exilalados tiñan pola súa vez que burlar a vixilancia tanto da polícia política (PVDE) como da Garda de Fronteiras do réxime salazarista. Estes corpos tiñan orde de deter a todos os españois “revolucionários” indocumentados e entregarlos á PVDE para proceder á súa expulsión. En troco, os carabineiros e Garda Civil adoitaban facer entrega de esquerdistas lusos radicados en Galicia e expulsos por indesexábeis.

   Os refuxiados galegos en Portugal puideron apoiarse ademais nas redes preexistentes de contactos transfronteirizos por elos de parentela, sociabilidade e reproducción social, cimentados ademais na emigración estacional – coma os existentes, por exemplo, no Couto Misto, entre a aldea de Castro Leboreiro e a zona de Bande, ou entre Monção e Salvaterra de Miño - , na alta cantidade de galegos residentes en Portugal, nos contactos propriamente políticos dos exiliados com opositores antisalazaristas (dende republicanos da Aliança Democrática Portuguesa ata os comunistas, os mellor organizados), na presencia de mestas redes de contrabandistas e colaboradores a ambos os dous lados da raia – do mesmo xeito que se formaron grupos de guerrilleiros arraianos -, ou na existencia na banda portuguesa da fronteira de persoas dedicadas a fornecer papeis e agachadoiro ós refuxiados en troco de diñeiro.

  Todas estas redes adoitaban cruzarse e seren usadas alternativa ou complementariamente por cada refuxiado na medida das súas posiblidades. Amósao así, sen máis, a andaina de Antón Alonso Ríos, entrado pola zona da serra da Peneda como fuxido en Portugal en xullo de 1938, agachado sucesivamente por pastores que mediaban cun comerciante de Melgaço que tiraba proveito da evasión de refuxiados, por coñecidos del en Arcos de Valdevez, por un comerciante de café republicano antisalazarista no Porto, e por un vello amigo seu de Tomiño emigrado en Lisboa. Finalmente, e depois de desbaratarse o plano de embarcar cara a Francia como polisón nun barco mercante, puido arranxar a obtención de papeis nos consulados arxentino e francês e embarcar a Casablanca, e de ali a Bos Aires, gracias a ter recibido dun amigo silledao da Arxentina documentos que lle permitiron suplantar a personalidade dun seu curmán morto no país austral. Alonso Ríos non debeu ser o único que recorreu a esta estrataxema. O diretor da PVDE informaba en Outubro de 1937 ó xefe de gabinete do Ministro luso do Interior “que bastantes foragidos espanhóis que se encontram clandestinamente em Portugal, principalmente nas montanhas de Castro Leboreiro, tem obtido da Argentina certidões de nascimento de outros indivíduos, com que, possivelmente, procurarão documentar-se em Portugal”.

 

RETIRADO DE:

 

htpp://consellodacultura.org/mediateca/extras

 

SOLDADO 404 - 40

melgaçodomonteàribeira, 07.03.13

 

 

Exército Português

Regimento de Infantaria Nº 8

Braga

Soldado 404/40

Caderneta Militar

 

1ª Página

Alberto Caetano de Sousa

Classe 1940 – C.H – 158

 

2ª Página

Estado Civil

Nasceu a 4 de Abril de 1919

Freguesia de Melgaço

Concelho de Melgaço

Filho de Ilídio de Sousa

e de Amândia Augusta Igrejas

Estado  solteiro

Ocupação  Funileiro

Ultimo domicilio, freguesia d Melgaço

Concelho d Melgaço

 

3ª Página

Estado Militar

Alistado em 10 de Julho de 1939 como recrutado

……………………………………………………

para servir por 25 anos.

Incorporado em 4 de Abril de 1940

Pronto da escola de recrutas em 15 de Julho de 1940

para Serv. Metr m/938

Licenciado em 4 de Fevereiro de 1941

Passou à reserva activa em 31de Dezembro de 1946 e à re-

serva  territorial em 1 de Janeiro de 1960

Baixa de serviço em 1 de Janeiro de 1965 por ter

completado toda a obrigação de serviço

Altura

1,605

Sinais particulares

Vacina anti T.H.B.

1ª dose 8-5-940

2ª dose 27-5-940

3ª dose 21-6-940

Habilitações literárias e profissionais

Antes de alistado

Ler escrever e contar

Correctamente (4º grupo)

 

Página 4 e 5

Colocações durante o serviço

Unidades  R. Infª 8  Número 404  Dia  4  Mês  Abril  Ano  1940

C. M. I. 8              404        31        Dezembro     1946

D. R.M. 8             404          1         Janeiro        1960

 

Página 6

Data dos diversos postos

Postos  soldado  Dia 4  Mês  Abril  Ano  1940

 

Página 7

Alterações em tempo de serviço

 

Liquidação anual do tempo de serviço

No ano de 1940  Anos  N  Dias  253

1941            N             34

“               “            261

1942            1              -

1943            -             364

Diminuição

1941 – Discip.  Ano N  Dias  5

 

Página 8

Ocorrências extraordinárias

 

Tirou no sorteio o nº 272. Continua no serviço efectivo nos termos D” C. Confidencial da 3ª  Rep. da 1º D. G. do M. da Guerra nº 11201/122, de 8-6-940, desde 15 de Julho de 1940. Passou à disponibilidade em 4 de Fevereiro de 1941. Destacou para os Açores fazendo parte do1ª Batalhão Expedicionário do R. I. 8 nos termos da circular da 3ª Rep.Da 3ª D.G.M.G. nº 324/MT de 26/3/941 em 24 de Abril. Desembarcou na cidade da Horta em 28. Embarcou no Faial de regresso ao Continente em 18 (a). Desembarcou em Lisboa em 27. Considerado alistado no 1ª Escalão da Legião Portuguesa desde 15 de Abril de 1959. (O.S. do R.I.8,nº 185 de 1945).

(a) de Dezembro de 1943.)

 

Página 11

Domicílios durante o licenciamento e reserva

Lugar Melgaço Freguesia  Melgaço Concelho  Melgaço Dia  4  Mês  Fevereiro Ano  1941

Rua Direita          S. Paio e Vila Melgaço       “                  21           Dezembro 1943

 

Página 12

Apresentações durante o licenciamento e reserva

Motivo

Convª Extraoª

Desde

Dia  10   Mês  Abril  Ano  1941

Até

Dia  30  Mês  Dezembro  Ano  1943

 

Página 13

Condecorações e louvores

 

Louvado pelo Comandante do 1º Bat. Exp. Do R.I.8  por voluntária e desinteressadamente se ter oferecido a dar sangue, para salvar da morte, um doente, não pertencente à família militar, demonstrando com este acto possuir um alto grau de altruísmo e de boas qualidades (G.R. de 19/12/41). Louvado em 4 de Outubro de 1943 pelo Ex.mo Comandante do Bat. pela maneira valente como trabalhou para extinguir um incêndio que se declarou na noite de 24 de Setembro último no abrigo Central de Metralhadoras conseguindo com o auxílio de outros seus camaradas salvarem o material de guerra ali existente. (G.R. 18/11/943).

 

Página 14

Tempo de licença registada

1940 – vinte dias

Licença por motivos de moléstia, tratamento nas enfermarias e convalescença

1940 – Na enfª 10 dias. C.te 4 dias.

 

Página 15

Classificação

Ano  1940 Com espingarda mauser   No tiro  2ª classe

 

Página 16

Registo disciplinar

Crime ou infracção

 

Colocado na 2ª  classe de comportamento nos termos do artº 188 do R.D.M. 4  Abril  1940

Por hontem por volta das 22.30 ter alterado o silêncio e responder com modos pouco respeitosos a um 1º cabo que o mandava deitar, infringindo assim os nº 2 e 4 do artº 4º do R. D. M.

Pena imposta

Dez dias de detenção

Tribunal ou autoridade

Com.te do 1º B. Expº do R.I.8

Dia  28  Mês  Agosto  Ano  1941

Crime ou infracção

 

Baixa à 3ª classe de comportamento nos termos do artº 192º do D. R. M.

Por não estar com a devida compostura à formatura do recolher do dia 2 do corrente e não acatar uma ordem dada pelo sargento que presidia à mesma quando este lhe determinou que avançasse para a frente da companhia, o que deu origem a provocar riso a todos os praças presentes infringindo assim os Reg. 1º e 12º do artº 4º do D.R.M.

 

Pena imposta

Cinco dias de prisão disciplinar (a)

Tribunal ou autoridade

Com.te do 1º B. Exp. Do R. I. 8  Dia  3  Mês  Dezembro  Ano  1941

 

(a) Amnistiadas nos termos do decreto nº 45467 de 27-12-963 –

 

Página 24 e 25

Conta de fardamento (a)

(a)  só referidos os anexos devido à individualização das peças de fardamento.

Conta Corrente

 

Foi-lhe feito espólio de todos os artigos de fardamento que lhe estavam distribuídos com excepção dos abaixo designados”

Quartel em Braga, 3 de Fevereiro de 1941

O comandante da Companhia

 

Por ter sido mobilizado foi-lhe feito o espólio de todos os artigos de fardamento que possuía.

R.I. em Braga 18-4-941

Pel’ O Comt-de da Compª.

 

Página 26 e 27

Conta de Fardamento (a)

(a) devido à sua extensão não foi transcrita a lista

 

Página 39

Apresentação nas revistas de inspecção

R.A.L. nº 5

28 de Maio de 1944

R. I. 8 Braga

16/6/1945

(…..) de recrutamento e mobilização nº 8  Arquivo

 

Foram cortadas 12 folhas das requisições de transportes em c/ferro

Quartel em Braga 16/5/73

O chefe do arquivo,

 

AS PÁGINAS NÃO MENCIONADAS ENCONTRAM-SE EM BRANCO

- IMPRESSO COLADO NA CAPA DA CADERNETA MILITAR DO SOLDADO 404/40 –

 

Unidade  C.M.I. nº 8

Nº 404   Classe de 1940

Nome Alberto Caetano de Sousa

Pôsto Soldado

 

LEGIÃO PORTUGUESA

Comando Distrital de Viana do Castelo

 

Legionário do 1º Escalão

Nº 3070/32214

 

Concelho de Melgaço

S. Paio da Vila

 

Roga-se a devolução

 

Camborio Refugiado

 

SOLDADO 404-40

melgaçodomonteàribeira, 07.03.13

 

 

    A lareira na cozinha quase não se fazia sentir tal era o frio que entrava pelas frinchas de portas e janelas, mal calafetadas com folhas de jornal. Na sala, duas braseiras aqueciam um pouco os pés enregelados; na parede principal, duas litografias, a Rainha D. Amélia numa, seu filho Rei D. Manuel II noutra.

    — Os meus primos, diria Amália, - filha de Félix Igrejas, neta bastarda de condessa – a visitante mais curioso.

    A mesa, nessa noite de Consoada, estava posta para os oito da família. Amália e Ilídio presidiam, em volta os cinco filhos; Ernestina e Guisele, Ná, Tó e Mi. Faltava um, Bé o mais novo, que a guerra levou p’ra longe, levou-o p’rás ilhas dos Açores – como ele diz -, dizia mãe Amália na conversa de vizinhas.

    Não bastava a guerra que tinha acabado na Galiza e no resto da Espanha, que arrasou a terra de sua mãe Conceição, Santa Cristina de Baleixo na Galiza, e que tão mal os tinha feito passar – o irmão Emiliano, Meliano p’rá família e amigos chegados, não diria o mesmo, mas isso era o trabalho dele, na frota -, agora levaram o Bé p’ra outra guerra, para um sítio que ela não conseguia imaginar e isso enchia-a de raiva.

    Guerra sim, mas guerra onde ela controlasse o filho, do frio ao calor, do caldo d’unto ao naco de broa. Foi ela que o pariu!... e agora?

    — Uns montes metidos no meio da auga – berrava p’rás vizinhas.

     Na mesa, o lugar do Bé era ocupado por uma grande fotografia emoldurada do filho soldado, sorriso irreverente, a ler uma carta – quem sabe da namorada?, que a mãe não sabia escrever – devidamente fardado, sob o sol do Faial.

    Debaixo do sorriso benevolente do Ilídio, Amália serviu os pratos dos filhos, Bé incluído.

    Foi-lhes servido o polvo com couves, as tostas e o geremú no fim. Não lhes faltou o tinto do novo, vertido no copo, que naquela noite não se usava tigela.

    A fotografia teve o mesmo tratamento da família, o Bé estava presente.

    Amália, dormiu descansada, sabia que o seu Carricinho estava bem e com eles comungava de um Santo Natal, as raparigas deitadas e o seu Ilídio estava em segurança em casa do Meliano a dar umas voltas de dança e a beber uma tigela, com a musica do rádio que no Inverno era um gaguejo, em vez da concertina de que ela tanto gostava.

    O irmão também gostava, mas desde que se meteu com o maluco do Pires, deu-lhe para a modernice, e agora era o rádio. E até cinema!... Claro que a casa era grande, com garagem e quintal onde não faltava o tanque das lampreias e as uvas colhão de galo. Tinha até aquecimento sem precisar de braseiras, onde é que já se viu!

    No carro, um Ford que o Meliano alugava a quem de médico precisava, ou a senhor p’rás suas voltas, isso sim, gostava ela de andar.

    Chegou a ir a Viana, ver as moças com aquelas voltas, ouro tão rico, nem as mais ricas que apareciam na senhora da Peneda tinham coisa assim; ver o mar – água tanta que o rio parece uma levada – e uma ponte de ferro que parecia um bordado.

    E ao Bom Jesus de Braga, onde faltava a festa, só missa e o farnel, mas tão bonito com aquelas capelinhas todas.

    E São Bento da Porta Aberta… e São Bento do Cando que ficou ali tão perto; até junto de Fiães no S. Bento ficamos, que os ovos cozidos e a lampreia seca ainda estavam quentes e o vinho fresco. Até às carvalheiras de Lordelo em Tangil, na festa do Senhor do Bomfim onde prendiam com alfinetes as notas no manto do santo e davam conta do barril até chegar a hora da Procissão.

    A frota dava-lhe dinheiro mas também muito trabalho, agora estava aqui, logo acolá, o Tó e o Ná ainda davam uma mão nas cobranças do imposto indirecto sobre a mercadoria entrada no concelho – que ele arrematou à Câmara -, mas transportar os galegos fugidos da guerra, com a PIDE e a Guarda sempre atrás, era um risco. Ao pé da casa sabia ele o que fazer, mas quando passava o Douro…

    E a Aninhas cada vez mais tísica deitada naquela cama, só a beber a água da Fonte da Vila, que a outra a matava.

    Mas naquela noite do Menino Jesus, a Amália, nem homem nem frota lhe tiravam o sorriso.

    O seu menino estivera com eles.

    Ninguém cantava o Malhão como ela, e depois de uma malga, atirava o cabelo p’ra trás e saía aquela modinha que não deixava ninguém parado. E foi o que fez.

    Amália, encheu a tigela, olhou para os primos reis pregados na parede, atirou o cabelo para trás, fechou os olhos até ver o filho na guerra e cantou:

 

    Oh Malhão, Malhão,

    Que vida é a tua

    Comer e beber

    Oh de repimpim

    Passear na rua

 

    O Ilídio parecia gozar a essa hora das delícias que o dinheiro da frota proporcionava ao Meliano. Delícias amargas, que o cunhado de bom olho percebeu. O Bé, não estava, o Bé andava p’ra lá.

    As malgas encheram-se e a um chiuuu do Meliano, a rádio calou. Um abraço ao cunhado, um abanão e – não te esqueças que também é meu.

    — Viva o Carriço!

    — Viva!

    — Viva o Carriço!

    — Viva!

    As malgas voltaram a encher-se, outro viva saiu.

    A concertina atirada para um canto por mor da música da rádio, fez a sua entrada a sinal do dono da casa. Logo saltou daquelas gargantas o Ó Oliveira da Serra para em seguida se fazer silêncio e deixar o Ilídio gargantear:

 

    Ó vai ó linda

    Só a mim ninguém me leva

    Ó vai ó linda

    P’r’ onde vai o meu amor

 

    Longe, nuns montes no meio da água, o soldado 404/40 era o rei da Consoada na Vila.

 

(continua)

 

KAPITAL E Cª IGUAL AO VOMITO

melgaçodomonteàribeira, 07.03.13

 

 

ESTOU FARTO DO PODER DA KAPITAL E SEU IMPÉRIO, DOS CRÁPULAS DESONESTOS AO SERVIÇO DE QUEM LHES PAGA PARA ATINGIR OS FINS. ADVOGADOS, MAGISTRADOS E QUEJANDOS. SÃO PIORES QUE PORCOS, PORQUE ESTES AO MENOS SERVEM PARA ALGUMA COISA. O QUE FAZ FRENTE À KAPITAL É AMESQUINHADO, ROUBADO E ATIRADO PARA A LIXEIRA. TUDO EM NOME DA KAPITAL DO IMPÉRIO. ESCREVO PELO QUE SE PASSA NO FUTEBOL, FOTOCOPIA DO QUE SE PASSA NA NOSSA TERRA COM O PARQUE NACIONAL PENEDA GERES. UM QUALQUER GAJO DE M*RDA RESOLVE NA SECRETÁRIA QUE DEVE SER ASSIM E OS OUTROS QUE AMOCHEM; O PNPG EXISTE HÁ 40 ANOS MAS QUEM LÁ VIVE NÃO SÃO SENHORES DE DINHEIRO COM CASA DE FÉRIAS NA ZONA; O PNPG É HABITADO HÁ MILHARES DE ANOS E SÓ A SUA CULTURA, O SEU TRABALHO E SUA FORMA DE ESTAR COM A TERRA QUE OS VIU NASCER É QUE LEVOU OS DA KAPITAL A OLHAREM PARA ELES. VIVA O PARQUE DAS GENTES E LIXEM-SE AS GENTES DAS SECRETARIAS IMPERIAIS. ESCREVO PORQUE ASSISTO AO ASSALTO FINAL DOS DA KAPITAL CONTRA O FUTEBOL CLUBE DO PORTO. CLARO QUE SOU PORTISTA, NORTISTA, MINHOTO E GALEGO. CLARO QUE SEI O QUE É SOFRER NA PELE SER DRAGÃO NA KAPITAL. CLARO QUE SEI O QUE É A CORRUPÇÃO ENCAPOTADA E BRANQUEADA DE POLICIAS, JUIZES, POLITICOS E AFINS.CLARO QUE SEI O QUE É UM GRUPO DE CIDADÃOS PORTUGUESES SEREM BARRADOS À ENTRADA DA KAPITAL PELA P?S?P? A MANDO DUM TAL VIEIRA. CLARO QUE SEI O QUE FOI MATAR UM HOMEM DURANTE UM JOGO NO ESTADIO DITO NACIONAL POR UM HERÓI VERMELHO. CLARO QUE SEI O QUE FOI UM HOQUISTA FICAR EM ESTADO DE COMA DEPOIS DE LEVAR COM UM TACO DE MADEIRA NA CABEÇA. CLARO QUE SEI QUE O TAL VIEIRA APADRINHA AQUELES QUE NÃO SE LEGALIZAM PARA NÃO SEREM RESPONSABILIZADOS PELOS SEUS ACTOS. CLARO QUE SEI QUE TOCHAS AZUIS SÃO PENALIZADAS E AS VERMELHAS IGNORADAS. CLARO QUE SEI QUE OS DINHEIROS QUE A CAMARA DE LISBOA NÃO TEM PARA PODER PAGAR AO CLUBE DA KAPITAL. CLARO QUE EU SEI QUE UM SENHOR CASADO COM UMA TUNG QUALQUER QUE VAI INFORMAR UM POLITICO QUE ESTÁ CONTROLADO PELA PJ. CLARO QUE EU SEI QUE O QUE SE PASSA ABAIXO DO DOURO É LIMPO E A NORTE É PORCO. CLARO QUE EU SEI QUE A M*RDA É TANTA QUE EU JÁ NÃO SEI. CLARO QUE EU NÃO SEI PORQUE É QUE NÓS CONSTRUIMOS ESTE PAIS. AFONSO ESTÁS PERDOADO, PORQUE EU NÃO SEI.

 

ILÍDIO DE SOUSA

 

MEMÓRIA DA GUERRA CIVIL DE ESPANHA V

melgaçodomonteàribeira, 05.03.13

 

 

O que o chamou às Astúrias da segunda vez?

“Tinha lá um irmão na construção de estradas.”

E nas minas, em que trabalhava?

“Não trabalhava nas minas, mas para as minas, era serrador.”

Mas aquela história das imagens a arder…

“Olhe, a madeira dos santos estava pintada e ardia bem, mas chiava. E um companheiro lá da cozinha comentava: filho da p*ta, ainda bufas!”

O construtor da estrada?

“Era um tal Martins, português, aqui de Crecente. Éramos 80 homens a trabalhar.”

Mas o sr. Manuel Alves recorda-se de fuzilamentos?

“Aqueles que os nossos apanhavam. Pediam sempre voluntários para fuzilar, mas nunca quis, nem para ver. Também não faltava quem quisesse.”

Com o cair da tarde, a conversa tomou rumos práticos e Manuel Alves diz que não tem documentos de ter pertencido ao exército da República.

“Mesmo assim, digo-lhe, há registos em Salamanca, em Madrid, nos arquivos espanhóis, é uma questão de os mandar procurar.”

Afinal, trata-se da primeira vez que lhe aparece a probabilidade:

“Sempre era mais uma reformazinha…”

 

Entrevista de Viale Moutinho, Diário de Noticias 11/08/98, com Manuel Alves “o manco do talho”.

 

MEMÓRIA DA GUERRA CIVIL DE ESPANHA IV

melgaçodomonteàribeira, 05.03.13

 

 

O CONTRABANDO


“Um carabineiro disparou contra mim e acertou-me na perna. Foi no contrabando, estive internado no Hospital de Ourense…”

Manuel Alves, regressado das Astúrias, integrava-se perfeitamente nas andanças do contrabando, levando para lá o que fazia falta na Espanha e trazendo o que fazia falta em Portugal. Poderíamos dizer que eram graças de São Gregório.

“Ao passar o rio, aparecem os carabineiros aos altos. Íamos uns 15 e eu o da frente. Escondi a carga num sítio e fugi para o outro. Estava a ver os meus companheiros e fiz-lhes sinal. Havia um penedo por onde podiam voltar para Portugal. Não contávamos ali com aquela tropa. E eles lá conseguiram passar. Com a minha carga escondida na Espanha, só a queria recuperar e sair dali…”

Que contrabandeava nessa altura?

“Ovos e galinhas. Os meus companheiros conseguiram fugir, mas eu, como tinha ali a minha carga, arrisquei, mas dei de caras com um carabineiro que queria saber onde ela estava. Disse-lhe que não tinha carga nenhuma. Obrigou-me a acompanhá-los. Eu falava bem espanhol e queria ir a Portugal, a ver se os levava. Então, um deles puxa de uma pistola e pumba. A bala entrou-me por aqui, atravessou esta perna, rebentando ossos, artérias, veias, não houve remédio, e ainda me feriu a perna esquerda. Esta, em oito dias ficou boa, mas a direita perdi-a e foram três meses no Hospital de Ourense. Depois fui à Alemanha comprar esta prótese.”

Isso foi quando?

“Aí à volta de 1940. Depois casei e recomecei a vida, a trabalhar. Não larguei o contrabando, claro. Mas era como organizador, mandava outros. As coisas escondiam-se perto de minha casa. Pusemos um comércio na vila. Era uma casa de comidas e dormidas, mercearia e talho. Desenvolveu-se, criámos três filhos.”

O que se contrabandeava nessa altura?

“De lá para cá, ferragens, bicicletas, e de cá para lá, ovos, galinhas, alimentos. Sabão, café, o que fosse.”

 

(continua)