FÁBRICA DE CHOCOLATE EM CASTRO LABOREIRO
CARABEL
Falar dos “Carabel”, alcunha da família castreja Alves, é falar de chocolate. A 26/4/1908 Domingos António Alves “Carabel” (1866-1919), funda (com seu irmão Germano) a Fábrica de Chocolates Carabéis, (nesse edifício está instalado o Núcleo Museológico de C. L.), cuja firma era “Domingos António Alves & Cª”. Antes daquela data correra meio mundo no trabalho de pedreiro. Como era assaz curioso, aprendeu a fazer chocolate numa das terras por onde andou. Domingos António morre em 1919 e a fábrica é encerrada temporariamente, porque dos três filhos que tinha só um estava com ele, o Abílio (1896-1956), mas este teve que ir para Valença cumprir o serviço militar. Nessa Vila minhota andou a mirar o que ali se fazia quanto ao fabrico desse excelente produto e segundo parece conseguiu obter algumas receitas preciosas, que aperfeiçoaria depois. No regresso reabriu a fábrica e chamou o irmão Germano (1898-?), que estava no Brasil, para seu sócio. Penso que também o outro irmão, José António, fazia parte da sociedade (Este José António foi para o Brasil em 1928 e nunca mais voltou a Melgaço). A firma passou a ser “Chocolates Carabéis & Sucessores” e a marca “À Espanhola” rapidamente ganhou fama. Como não havia electricidade na freguesia, e o carvão onerava os custos, solicitam aos Serviços Hidráulicos autorização para construir um barracão junto do regato para assim poderem aproveitar a força motriz da água. Apesar de ser no fim do mundo, sem nenhuma estrada, apenas caminhos ruins, foi um êxito! O sucesso foi tanto que em 1927 abriram uma filial em S. Julião, Vila de Melgaço (na casa que pertencia à esposa do Germano), onde o Abílio, solteiro, se meteu, aí por volta de 1947, com a empregada, “Palina”, cuja história se contará noutro lado. Os irmãos, além do fabrico do chocolate, tinham o negócio de caixões e de tamancos, miudezas e fazendas. Eram comerciantes natos. A publicidade faziam-na através do jornal “A Neve”, por eles criado em 1920, o qual duraria pouco tempo. O director era o jovem professor, Abílio Domingues (1900-1978). O Germano viera solteiro do Brasil, com 21 anos de idade, e foi graças ao chocolate que conquistou a mulher com quem casou em Dezembro 1920. Ela, pouco mais velha do que ele, já viúva, e com uma filha pequenita, fora nesse ano à festa da Peneda e na volta lembrou-se de comprar algumas tabletes de chocolate para oferecer aos familiares. Dirigiu-se à banca dos manos “Carabel”, a fim de as adquirir, mas só lhes restavam duas. O Germano prontificou-se de imediato a ir a casa da bela Aurora levá-las na semana seguinte. Apaixonaram-se e deram o nó. Ficou viúvo em 1936. Não assistiu à morte da esposa, pois encontrava-se na Pára a tratar de negócios. Tiveram dois filhos: Maria Teresa, nascida em 1921, e Germano Henrique. Eles levavam o negócio muito a sério. No NM 460, de 3/9/1939, lê-se: «até ao próxima dia 10/9/1939 será posto à venda o afamado chocolate de Castro no seu depositário em Melgaço, Sr. Artur Teixeira». No NM 782, de 7/7/1946, lê-se: «Vês agora aquele velho moinho com um barracão à beira? É a fábrica de chocolates dos “Carabéis”, que tanta fama ganharam, tanta que até a estrada quis passar ali à beirinha para lhe facilitar as comunicações. Segundo me informaram, esteve primitivamente instalada lá para baixo da Ponte Velha, de sociedade com o falecido “Gertrudes”». E no NM 785, de 4/8/1946, continua: «O Abílio Carabel aparece-me lá (na romaria de S. Bento do Cando) com uma graciosa oferta: uma pasta de chocolate, como lembrança pelas referências feitas à sua fábrica de chocolates. Explicou-me como foram os princípios do fabrico, de que não pude tomar a devida anotação, porque uma imprevista zaragata veio separar-nos». (B. Ribeiro de Castro). No NM 905, de 17/7/1949, publicou-se um anúncio interessante: «PRODUTOS – A UNIÃO – Fábrica de Chocolates e Moagem Carabéis, Sucessores – S. Julião – Melgaço – Além dos já conhecidos e afamados “chocolates Carabéis” brevemente apresentará aos seus clientes e amigos mais três produtos da sua especialidade. 1 – Café Belém – gostoso até mesmo sem açúcar. 2 – Cevada S. Julião – em pacotes e avulso. 3 – Cascarilha moída – “El Gaitero”». Esta família, em 1955, tinha as suas propriedades de Castro à venda.
DICIONÁRIO ENCICLOPÉDICO DE MELGAÇO II
Joaquim A. Rocha
Edição do autor
2010
pp. 105-106