MELGAÇO EM 50
Toda a gente pode ver,
Só os cegos é que não:
A nossa vila sem querer
Tem todo o mês de sofrer
Nas ruas reparação.
Janeiro rebenta o cano
Mesmo ao cimo da Calçada
E o Carriço todo ufano,
Como fez já no outro ano,
Deixa a rua levantada.
Vem a seguir o Fevereiro,
Cujo frio nos põe torto
E o Carriço, prazenteiro,
Ele só, sem companheiro,
Levanta o Rio do Porto.
Mês de Março mais que certo
Rebenta o cano outra vez
E o Carriço que é esperto,
Deixa outro buraco aberto
Como fez já no outro mês
Como o cano tem feitiço
Faz buracos mais de mil;
Fez buracos o Carriço
Levantando, mas que enguiço!
Três ruas no mês de Abril
Maio e Junho, já mais quente,
Lá está o Carriço à prova
A fazer todo contente
Mais um buraco indecente
No largo da Feira Nova.
Mês de Julho o tal canito
Dilata com o calor
E o Carriço, que é bonito,
Lá faz mais um buraquito
À porta do Regedor.
A rua Velha, em Agosto,
Levantada de surpresa
Ficou com rugas no rosto,
Que nem o maior desgosto
Lhe poriam com certeza.
Setembro de São Miguel:
Buracos na rua Nova,
Pois os canos de papel
Este mês rebenta o fel,
Mas vão de novo p'ra cova.
Meses de Outubro e Novembro
Como a coisa já é sabida
O Carriço, que é bom membro,
Fez buracos na Avenida.
Dezembro, mês de Natal,
Dos filhós, das rabanadas,
Das neves e das geadas
E da paz universal,
Tu és o mês mais feliz
Porque as ruas de Melgaço
Toda a gente assim o diz,
A ti não te deu cansaço.
E sabe o leitor porquê?
Julga afinal que tal cano
Não tornou a rebentar?
Tornou, sim; mas neste mês
A Vila de lés a lés
Não tem mais que levantar.
FAIJ