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MELGAÇO, DO MONTE À RIBEIRA

História e narrativas duma terra raiana

MELGAÇO, DO MONTE À RIBEIRA

História e narrativas duma terra raiana

O REENCONTRO

melgaçodomonteàribeira, 09.11.24

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virgínia ferreira

MELGAÇO: ‘JOVEM’ DE 90 ANOS SOMA ADMIRADORES

COM POESIA E MEMÓRIA IMPRESSIONANTE

Rádio Vale do Minho

05/06/2018

“Mantenho sempre a cabeça a trabalhar. Sempre ocupada”. Com um sorriso enorme, Virgínia Ferreira mostrava-nos com orgulho os seus escritos ao longo das últimas décadas. Ora se sentava, ora se levantava do sofá com uma agilidade incrível. E nós, a puxar pela ferrugem, a tentar acompanhar esta jovem melgacense ainda com 90 anos de idade. “Quando tinha 18 anos, eu tinha um primo em Lisboa que era diretor do jornal O Mundo Desportivo. Era uma pessoa muito inteligente. Escrevia muito! Nesse tempo estava o Fernando Pessa na BBC de Londres”, contava a Dnª Virgínia com uma memória fotográfica que, ao longo desta história, nos deixaria ainda mais boquiabertos. “O meu primo gostava muito de escrever sobre as Termas do Peso, mas conhecia muito pouco de Melgaço. Pediu-me então para o ajudar”. A jovem Virgínia assim fez. Começou a ser elogiada e percebeu que tinha talento para a escrita.

Dois anos depois, chegou o casamento. “A vida modificou-se completamente. Tive filhos. Trabalhava como comerciante de manhã à noite sem horários”, recordava. E o tempo para escrever começava a ser menos. A esferográfica acabou mesmo por ficar arrumada de vez num canto. “Fiquei viúva e entregue a um desgosto profundo. Não havia nada que me animasse! Não dormia… e durante o dia estava sempre triste”. Chegou então aquela noite em que, já de madrugada, Virgínia sentou-se na cama. Começou a escrever. Brotou poesia. E nunca mais parou. Virou-se para a prosa… e para um romance que chamou de O Reencontro.

A GUERRA E A FOME EM MELGAÇO

Virgínia consegue recordar cada dia da sua vida como se fosse ontem. Literalmente. Desafiámos a nonagenária a recuar aos tempos da II Guerra Mundial. “Melgaço estava muito mal. Passou-se muita fome. Tinha havido a Guerra Civil em Espanha, que ficou completamente destruída. Foi uma guerra que começou em 1936 e acabou em 1939, diz-nos em tom professoral. Com uma lucidez e um conhecimento de História de fazer inveja. “A II Guerra rebentou nesse ano e foi até 1946. Foi muito mau! Não havia nada nas mercearias. De vez em quando lá vinha alguma coisa, mas os comerciantes não nos podiam vender sem que tivéssemos uma senha que tínhamos de ir buscar ao presidente da Junta”. Os olhos de Virgínia Ferreira brilhavam. Como que mergulhados nesses tempos mais negros de um país e de um mundo encobertos pela escuridão. “Passou-se muita fome! Um dia cheguei a ver aqui em Melgaço uma mãe com uma cesta de milho para semear no campo. Ao lado caminhava uma criança a chorar e a suplicar: Mãe, não ponhas o milho na terra. Faz pão para comermos!”.

O LUXO DAS TERMAS E O FLAGELO DA EMIGRAÇÃO CLANDESTINA

Nas décadas 40 e 50 do século passado, conta-nos Virgínia Ferreira, as Termas do Peso viveram páginas de ouro. Eram frequentadas por gente das mais altas sociedades de todo o mundo. Dos mais afortunados até aos incrivelmente milionários e com os caprichos mais estranhos. “Naquele tempo as praias não estavam na moda. Eram mais as Termas! Vinham aí duas senhoras… as senhoras Moutinhas, de Lisboa, que traziam um cão muito grande, num grande carrão com motorista fardado”, descreveu. “O cão dormia no quarto delas no Hotel Ranhada. Os empregados até iam ao quarto servir a refeição ao animal, que não podia sentar-se à mesa. E o motorista é que dava banho todas as manhãs ao cão”. A memória de Virgínia Ferreira não falhava.

Mas os menos afortunados, leia-se a maior parte da população, tinham também acesso às Termas. “Havia lá umas funcionárias com uns copinhos próprios para dar-nos de beber. Mas não mais que isso. Se quiséssemos uma garrafa, tínhamos de a comprar”, apontou a nonagenária.

Seguiram-se depois tempos muito duros para Melgaço com a emigração clandestina. “Foi terrível!”, avaliou a poetiza que nos leu alguns versos que a própria escreveu sobre este tema:

A década de sessenta corria

No nosso país havia gente com muita necessidade

A vida era-lhes muito dura

O nosso regime era a ditadura, e não havia liberdade…

As pessoas que queriam emigrar para da miséria se livrar

Não o podiam fazer

Não conseguiam autorização para sair da nossa nação

E na miséria tinham que viver.

DOS DIAS FELIZES

Chegou, por fim, o dia da liberdade. “Levantei-me de manhã e fui para a loja. Ia sempre às 7 da manhã para distribuir o pão para as mães darem o pequeno almoço às crianças antes de irem para a escola”, prosseguiu com uma memória precisa. Ao detalhe cirúrgico. “Chegou então um senhor já idoso que me disse que se estava a passar um caso muito grave em Lisboa. Diziam no rádio para as pessoas não saírem à rua porque podiam correr perigo”. Mas tudo acabou como a História nos conta vezes sem conta.

Aos 90 anos de idade, Virgínia Ferreira é um hoje uma mãe, sogra e avó feliz. Terminou recentemente de escrever O Reencontro. E a família inteira fez-lhe uma grande surpresa. Publicou o livro e foi realizada uma autêntica cerimónia de lançamento nas Termas do Peso com direito a sessão de autógrafos. Emocionada, Virgínia Ferreira garantiu-nos que pretende continuar a escrever e a bordar até onde a saúde permitir. “Vou juntando tudo em cadernos. Depois os meus filhos, que são muito meus amigos, que façam o que quiserem. Tem aí muita bagagem para isso”, concluiu com uma gargalhada.

radiovaledominho.com

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pessoal do antigo hotel ranhada em 1956

 

RUA DR. ANTÓNIO DURÃES - MELGAÇO

melgaçodomonteàribeira, 26.10.24

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QUEM FOI QUEM NA TOPONÍMIA DO MUNICÍPIO DE MELGAÇO

ANTÓNIO AUGUSTO DURÃES. Advogado e político nasceu no Lugar de Campo da Feira, Freguesia de Paderne (Melgaço), a 24-7-1891, e faleceu em Melgaço, a 24-10-1976. Cidadão republicano dotado de grande dinamismo e reconhecido pela sua generosidade, teve destacada participação cívica, quer na I República, quer na resistência contra a ditadura. Era advogado, desempenhou vários cargos em Portugal e foi Presidente da Câmara Municipal de Benguela. Em 1945 foi candidato na lista da Oposição em Angola.

Em 1908 concluiu os Estudos Preparatórios num Liceu do Porto. Formou-se em Ciências Jurídicas na Universidade de Coimbra, em 1912 e, a seguir, abriu escritório em Melgaço, em cujo foro se estreou, na defesa do Padre José Joaquim Pinheiro, ex-pároco da Vila, conseguindo a sua absolvição (o padre fora acusado de ter recusado a comunhão a um paroquiano, na quaresma de 1912). Ainda nesse ano de 1912 foi nomeado Subdelegado do Procurador da República em Melgaço mas foi exonerado no ano seguinte.

Era um político activo; aderiu, depois de outubro de 1910, ao Partido Republicano Português, foi Chefe, em Melgaço, do Partido Democrático, cujo líder nacional era Afonso Costa. Foi Administrador do Concelho, interessando-se pelo prolongamento do caminho-de-ferro até Melgaço, mas os seus esforços foram em vão, devido em parte à falta de recursos financeiros por parte do Estado. Também lutou pela estrada para Castro Laboreiro, mas o dinheiro era escasso nessa altura. Quis para Melgaço a luz eléctrica, água canalizada, etc., mas nada disso se tornou realidade durante a permanência na Administração do Concelho. Foi ainda Director do “Correio de Melgaço”. Em 1913 foi candidato a deputado pelo círculo de Melgaço, e em 1914 pediu a exoneração de Administrador do Concelho, pedido que foi aceite pelo Governador Civil do distrito.

Nos anos seguintes teve diversos acidentes, fruto do acaso, que o deixaram gravemente ferido. Em 1915 foi nomeado Notário Interino da Comarca de Monção, em 1916 foi-lhe oferecido de novo o cargo de Administrador de Melgaço, mas recusou-o. Nesse ano de 1916 foi exonerado de Notário Interino em Monção e, por causa de um artigo publicado no “Jornal de Melgaço” envolveu-se em pancada com um conterrâneo no “Café Melgacense”, incidente que terminou com a intervenção de alguns amigos. Foi advogado de defesa de uma jovem, acusada de ofender a moral pública, a qual ficou absolvida. Casou em 1916 com Maria Esménia, de 18 anos de idade, de Santa Maria dos Anjos, Valença.

Em 1917 concorreu às eleições para a Câmara Municipal, numa lista presidida pelo Padre Francisco Leandro Álvares de Magalhães. Em janeiro de 1919 tomou posse do lugar de Notário da Vila de Caminha e, algum tempo depois, partiu para África, São Tomé, onde iria desempenhar o cargo de Administrador de Concelho. Dali embarca para Angola, onde esteve ao serviço do General Norton de Matos. Em 1929 foi nomeado Governador de Benguela. De vez em quando vinha de férias à sua terra natal. Passava, no Cine Pelicano de Melgaço, alguns filmes que trazia de África, películas que mostravam a vida quotidiana dos naturais de Angola. Em julho de 1934 – vindo de Benguela, onde agora era advogado – esteve de passagem em Melgaço, com intenção de fixar residência em Viana do Castelo, ainda exerceu advocacia nessa cidade, mas regressou a África.

Em 1945, fez parte da comissão executiva do MUD em Angola, constituída naquela colónia numa reunião realizada em 15 de outubro de 1945. Nessa reunião, foram escolhidos os três nomes que deviam fazer parte da lista oposicionista de Angola: o dr. António Gonçalves Videira, o eng. Cunha Leal e ele próprio, como representante dos interesses do centro-sul de Angola. No discurso que proferiu numa sessão oposicionista realizada no Cine-Teatro de Benguela, em 1945, afirmou que só aceitara o cargo de presidente do município por se tratar de uma situação meramente administrativa e de defesa dos interesses locais mas que já o pusera à disposição do Governador-Geral, Vasco Lopes Alves.

Em 1967, proferiu, no Rotary Club do Porto, uma palestra sobre o General Norton de Matos – de cuja comissão de candidatura à Presidência da República fizera parte, em Angola – mais tarde publicada sob o título “Angola e o General Norton de Matos – subsídios para a História e para uma Biografia” (Melgaço, 1976).

Antes da independência de Angola o casal regressou a Melgaço. Depois de Abril de 1974 foi Presidente da Comissão Administrativa da Câmara Municipal de Melgaço, até às eleições de 1975. Quis criar, na sua Quinta da Pigarra, uma Escola Agrícola, mas o Ministério da Educação não se interessou pelo projecto e ele ofereceu-a aos Bombeiros Voluntários de Melgaço e à SCMM.

O seu nome faz parte da toponímia de Melgaço: Rua Dr. António Durães

Fonte: antifascistasdaresistencia.blogspot.pt

Antifascistas da Resistência, por Helena Pato

RUAS COM HISTÓRIA

ruascomhistoria.wordpress.com

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rua dr. antónio durães

 

FRASES E PALAVRAS DE MELGAÇO

melgaçodomonteàribeira, 21.04.20

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PALAVRAS E FRASES DE MELGAÇO

 

Na Biblioteca de Évora, mss. III-IV, maço 37, pasta nº 12, que tem por título Papeis de D. João d’Annunciada (+ 1847), há um folheto de três páginas, escritas à pena, cada uma em duas colunas, com o título de Palavras e Frases de Melgaço, que copiei há anos, e que vou aqui publicar. A lêtra deste folheto não é da mão de Anunciada, como se mostra de comparação dela com a de outros papeis escritos por êle.

1903

Abaladura – aborto.

Acabanar-se a mulher – fazer-se cabaneira (só ouvi a expressão cabaneira, no sentido de descansada; sem pressa.

Acadar hua pessoa – espera-la, saindo aonde ela vem.

Achar-se ao engano – enganar-se (diz-se achar-se enganado).

Adonde elle – ir aonde um sujeito está.

A feito – a fio, a eito.

Affuzal de linho – hu molho como pedra de linho.

Agarimado – abrigado.

Alboyo – alpendre.

Amistade – amizade.

Anaco – pedaço.

Ante conto – de pressa.

Arjoadas – as videiras atadas a paos.

Arjoens – paos em que atão as videiras.

Arrendo – arrendamento.

Arribada – parte do vallado cahida.

Atuir – entulhar.

Barbadas – videiras de raiz para pôr.

Barbeito – terra que só se lavra de 2 em 2 anos.

Beira; estar à beira – estar ao pé, ou à borda.

Bêo – veyo.

Bessada – campo mayor e desigual; e o acto de o lavrar.

Bica do borralho – pão aso cozido na lareira; bôlo feito no borralho.

Binherom – vierão.

Bola – que é o mesmo; com pouca diferença.

Borregar ou berregar – gritar; clamar.

Botado (vinho) – he o mesmo que corrupto; turvo.

Boubelar – com frio; tremer com frio.

Bouça – mato de giesta.

Bourar em hu sujeito – dar-lhe pancadas.

Brandouro – pesqueira no mais interior do rio.

Broyar – dar com força e estrondo.

Burgar – cavar mato e sacudi-lo.

Burro – todo o género de besta.

Cabaneira – mulher solteira; que vive só (e que não tem modo de vida).

Cabirto – cabrito.

Calor, a calor – o calor.

Campo – terra pequena que dá pão; leira; valado.

Cangos – barrotes ou tirantes.

Cangosta, congosta, quingosta – azinhaga.

Cápeas – pedras mayores por cima da parede.

Carrejão – homem que accareta às costas.

Carrejar – acarretar por qualquer modo.

Cebado – porco.

Cerdeira – cereigeira.

Chimpar – derrubar.

Cocar – (o linho) massalo 2ª vez; depois da agoa.

Cocos – abóbras.

Confradaria – confraria.

Cordada do linho – hu grande feixe delle por massar.

Corga – vale fendido com agoa.

Côrte – curral; córte de gado.

Costaã – da casa, parede por onde cáhe a agoa.

Coutada – mato tapado para tojo e pastos.

Crabunhas – caroços da fruta.

Crega – a filha do clérigo.

Cresposso – pescoço.

Dar de perda – deitar a perder.

Debousar o linho – é purificá-lo nas maons e pedra.

Deveza – mato com árvores tapado.

Deya – “quer que lhe deya” quer que se lhe dê.

Dia passado, o dia passado – os dias passados.

Discante – viola pequena.

Duzia de linho – certa conta de estrigas.

Eido – morada com seus logradouros.

Embarrada – pejada, prenhe.

Empessar – começar.

Emporisso – ainda assim, todavia.

Emprègado – entrevado.

Em tanta forma – de tal sorte.

Enta – camada de algua cousa.

Envidadouro das pesqueiras – baraço grande que segura as redes.

Escalão – pedras na parede, para se passar.

Escaleira – escada.

Esgassado – arranhado.

Esguitar uhm campo – parti-lo em leiras entre muitos.

Esmonar-se – quebrar-se hua parte de qualquer couza.

Estar com – conversar com um sujeito.

Esteso – estendido.

Estinhar-se (a água) – deixar de correr.

Faldro ou faldra – fralda.

Fame – fome.

Fartes ou que fartes – é o mesmo que muito.

Fato – pequeno rebanho de gado.

Fez – fiz.

Fezo – fiz.

Folheteiro – pesqueira na parte lateral do rio.

Formalidades – quinhões de terra.

Fum – fui.

Gando – gado.

Goarida – rego contínuo de vinha.

Grabato – paozinho.

Graxa – gordura.

Guiar – concertar.

Herdeiros – consortes ou sócios.

Hir ante conto – hir de pressa a hum negócio.

Hir em hum sítio – hir a hu sítio.

Hir onde elle – hir aonde elle está.

Invaza – do vinho, é tiralo do lagar onde está alguns dias, e lansalo nas pipas.

Iuvenca – vaca; bezerra.

Jaza – trave.

Lardo – toucinho.

Lareira – lar onde se faz lume.

Lata – latada; parreiral.

Legão – enxada.

Leiva – aduela de pipa.

Limar o campo – trazer-lhe água de inverno.

Lomêdro – parte da perna superior ao joelho.

Mal de fóra – feitiços.

Mandil – avental.

Manozear – trazer entre maons.

Mayozia – mayoria; vantagem.

Mercedes! – viva muitos annos.

Moço – filho pequeno; menino.

Molete – pão mole.

Mora – amora; pizadura negra.

Nenho – mentecapto; pateta; inerte.

Ningum – nenhum.

Nobios – noivos.

O ametade – a ametade.

O dia passado – ontem.

Pata – pé.

Peja – peya do animal.

Pejado – animal peado.

Pelo – campo de erva.

Pervage – mergulhão de hua vide.

Perzigo – conduto de carne ou peixe.

Peúgas – polainas ou meias das crastejas.

Pial – parede alta da pesqueira.

Poços – cepas de mergulhia (chamam poças a covas para meter as vides que se mergulham).

Pôda – podão ou podoa.

Ponto – pontada; dor de pleuriz.

Portêlo – passage com pedras na parede, para se pôr o pé.

Pouco de si – falto de juízo.

Pruga – purga.

Purgar – o vinho; alimpar da flor.

Quedar – ficar.

Que fartes – muito.

Quelha – rua estreita.

Quingosta – azinhaga.

Quinteiro – quintal; pateo; pequeno cerco ao pé das cazas.

Quitar – tirar.

Rabiar – enraivecer-se.

Rapaza – rapariga.

Rapazo ou raparigo – rapaz.

Rebotado – corrupto; avelhentado.

Recio – logradouro à roda das casas; orvalho da noite.

Reconto – pergunta que se faz da gente por hu rol.

Reloucar – enlouquecer; sahir de si.

Repêlo – escalabradura em mão ou pé.

Ressa de sol – restea; rayo de sol.

Rezuras – dores depois de parir.

Rifar – ralhar; peleijar.

Rodo e rodilha – joelho.

Sabajo – coisa endemoninhada.

Sandar – sarar.

Sanja – barroca; rêgo de desagoar a terra.

Sayo – véstia.

Simentos – alicerces.

Sopeado – menino baptizado em casa.

Sumidouros – barrocas subterrâneas (para desagoar a terra).

Surreira – por onde entram os enxurros nos campos.

Tânjara ou tanja – carga de pancadas.

Tardo – pesadelo.

Tascar o linho – espadelar.

Tizouras – tesouras.

Tóla da agoa – parte do rego onde há muitas roturas para sahir a agoa (cada uma das roturas é que é a tóla).

Tolheito – tolhido.

Trepa de pao – carga de pancadas.

Trespôr – lançar longe qualquer couza.

Tritar – tremer com o frio.

Trousar o vinho – trasfegalo; mudalo para outra vazilha.

Valos – valados de terra.

Víeche – vieste.

Vinhoens – cabrestilhos.

Xaroubia – raiz branca.

Zeba dos porcos – cêva.

Zoar – ralhar; peleijar.

 

 

 

VAMOS TODOS FICAR EM CASA

 

 

VASCO DE ALMEIDA, O SENHOR CULTURA DE MELGAÇO

melgaçodomonteàribeira, 28.12.19

 

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UM LUGAR ONDE NADA ACONTECIA…

 

A novena e a penicilina surtiram efeito, o Zéca do Aurélio estava fora de perigo. O júbilo foi grande entre a população! O doutor Suíça acrescera mais um ponto no seu já famoso curriculum de médico. Mais algumas semanas e o rapaz voltou às suas actividades: participar no comércio do pai e administrar o Rápido Futebol Clube de que era o presidente da directoria.

A mãe do médico, a dona Teresa Pedreira faleceu. O funeral foi muito concorrido mercê do prestígio do filho. Causou assertivas críticas a atitude do Amílcar da Lucrécia. Na hora em que o préstito passou na rua do café do Hilário ele estava jogando bilhar. Como podia fazer uma coisa daquelas? Comentava o povo. Não acompanhar o funeral da mãe de quem lhe salvara a vida? Inquirido, vendo a burrice que fez, a Amílcar desculpou-se dizendo não ter calçado apropriado, só tinha aqueles ténis brancos e achou que não ficasse bem.

O Vasco tinha escrito uma nova peça e arregimentava os elementos para a encenar. Escalava os rapazes e raparigas com reconhecido pendor artístico por já terem participado em espectáculos anteriores. Era mais uma revista satirizando os acontecimentos da vida local com diálogos e canções.

Personagem principal era o Vasco Almeida, reconhecido como intelectual autodidacta. Com apenas a instrução primária, adquirira, entretanto, grande bagagem cultural, através de leituras e do convívio da penitenciária com expoentes literários e científicos de oposição ao governo. Desde cedo, o Vasco mostrara-se um garoto à frente dos seus colegas. Quando moço aprendeu a dirigir automóveis e foi motorista particular de um médico na vizinha vila de Monção. De ideias políticas avançadas envolveu-se em organizações clandestinas de tendência comunista. O regime político do país titulava-se Estado Novo Corporativo, administrava não permitindo oposição, cerceando a liberdade de expressão e opinião de intelectuais que pregavam o regime democrático. A ideologia comunista que fomentara a guerra civil em Espanha, tinha seus adeptos que sorrateiramente envolviam os descontentes com a situação política de Portugal.

Com as economias que tinha mais a ajuda dos correligionários, comprou, o Vasco, um automóvel Morris, novo, e foi ser motorista de praça, autónomo. Na clandestinidade, os oposicionistas do regime tramavam uma revolução que seria comandada por Paiva Couceiro, oficial do exército, monarquista, ex-governador de Angola, exilado em Espanha. Foi o Vasco escalado para em seu carro transportar o chefe revolucionário desde a fronteira da Galiza até determinado ponto em Portugal. Na noite aprazada, certificados que a estrada estaria desguarnecida, foi empreendida a marcha “libertadora”. No concelho de Valença, decorridos alguns quilómetros em Portugal, a estrada foi bloqueada por membros da Polícia de Vigilância e Defesa do Estado, fortemente armados que abortaram a marcha dos revoltosos. O Vasco, como os demais, foi recolhido à Penitenciária do Porto. Um flagrante daqueles resumiu-se a processo sumário com vários anos de detenção.

No cárcere, foi vítima de torturas para lhe arrancarem a identidade de outros elementos e planos da organização, coisas que ele desconhecia. Os maus-tratos danificaram-lhe os dentes, afectaram-lhe a vista, passando a andar de óculos, também os pulmões foram atingidos donde resultou uma asma crónica. Emagreceu, envelhecendo prematuramente. Em contra partida, ganhou vastos conhecimentos em todas as áreas da ciência, no convívio com os outros detidos.

Aconteceu um facto inusitado que desanuviou, em parte, aquela vida de reclusão.

Uma das moças do apostolado que ministravam o conforto na prisão apareceu grávida. Era solteira e não tinha namorado. Confessou que fora o Vasco, na prisão, o co-autor daquela infelicidade. A administração do presídio submeteu o condenado a interrogatório sobre o caso. O Vasco justificou-se explicando o óbvio: ele não saíra da prisão, fora a rapariga que o visitara e ele não a forçou a nada. Acontecera naturalmente entre duas pessoas carentes, ela no vigor da sensualidade, e ele sem contacto feminino há muito tempo. Os juízes compreenderam as circunstâncias e o caso ficou por isso mesmo. A rapariga desenvolveu a gestação no seio familiar que lhe deu todo o apoio e até lhe arrumaram um namorado com quem casou mais tarde e assumindo o Vasquinho, nome dado à criança.

Expiado o tempo da condenação voltou o Vasco à liberdade, comprometendo-se a não se insurgir contra o status-quo, porém mais doutrinado em socialismo e comunismo.

A Zinda, esposa do Vasco, após o regresso deste, ao que contavam as más-línguas, provocou um aborto, com consequências funestas e faleceu.

Aquela rapariga que a ele se entregara na prisão, soube do falecimento da esposa e escreveu-lhe: propunha-se a abandonar o marido e o segundo filho, que dizia “vítima de uma contracção sexual”, e juntar-se ao Vasco. Ele não respondeu!

Os filhos mais velhos do Vasco, António e Francisco, já tinham ido procurar a própria vida; as duas raparigas, Maria Teresa e Elza, conseguiram, com o auxílio das senhoras Teixeiras, internar-se no Instituto Postigo do Sol, no Porto, onde se educaram até à maioridade e posteriormente emigraram para o Brasil.

 

                                                                           Manuel Igrejas

 

PARA TODOS OS AMIGOS QUE NOS VISITAM, UM BOM 2020

 

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foto câmara munipal de melgaço

 

27/12/19

EMIGRANTE RECONSTRÓI  ALDEIA NATAL NO GERÊS

NOTÍCIA NA SIC E EXPRESSO

EX-EMIGRANTE RECONTRÓI A ALDEIA NATAL EM CASTRO LABOREIRO

Ficamos a saber que Castro Laboreiro fica no Gerês, Lamas de Mouro deve ficar ao lado de Penela e Melgaço é uma freguesia de Mértola. Tanta ignorância de quem tem por missão informar. Tenham vergonha, sejam profissionais, senhores "jornalistas".

Ilídio Sousa, editor do blog Melgaço, do monte à ribeira

 

 

 

 

 

 

 

 

 

NÚCLEO MUSEOLÓGICO DE MELGAÇO

melgaçodomonteàribeira, 21.12.19

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ACHADOS ARQUEOLÓGICOS DE MELGAÇO CONVERTIDOS EM MUSEU

 

16.02.2001 – Por Lusa

 

Os achados arqueológicos resultantes das escavações que decorreram na Praça da República, em Melgaço, vão ser convertidos em peças de museu, numa empreitada que deverá estar concluída no início do Verão.

Segundo o chefe das escavações, Brochado de Almeida, o principal achado é um fosso medieval desconhecido em todos os registos documentais e gráficos, mas também a antiga muralha da vila, agora descoberta.

O espaço museológico a criar, cujo estudo prévio já foi aprovado pelo Instituto Português do Património Arquitectónico, resultará do restauro do fosso medieval e da muralha.

Algumas das peças arqueológicas encontradas serão também objecto de restauro e reprodução de forma a poderem ser expostas, estando ainda previsto a criação de painéis informativos e explicativos para auxiliar os visitantes a interpretar aquilo que vão observando ao passarem no espaço entre o fosso medieval e a muralha.

Durante as escavações na Praça da República de Melgaço foi encontrado um vasto espólio de cerâmica, pertencente aos séculos XVII, XVIII e XIX, estando muitos dos fragmentos em condições de restauro, além de cerca de três dezenas de moedas, de que há a destacar uma moeda de 400 réis de D. João I.

Estas escavações arqueológicas, que decorreram de Dezembro de 1999 a Maio de 2000, precederam as obras de remodelação da Praça da República, já que a câmara não quis correr o risco de ver as máquinas destruírem alguns pedaços da história do concelho. É que a Praça da República situa-se no enfiamento da couraça nova desenhada por Duarte d’Armas, que protegia o acesso ao posto de abastecimento da vila e que, posteriormente, viria a ser remodelada, por altura das obras de adaptação da fortaleza moderna.

Segundo Rui Solheiro, presidente da autarquia local, a remodelação da Praça da República, actualmente em fase de conclusão, visa aproveitar ao máximo as potencialidades do espaço como zona de estadia e encontro, acabando com o “uso desregrado” que ali se registava, “fruto da falta de elementos organizadores e caracterizadores”.

A empreitada está orçada em cerca de 100 mil contos (498 mil euros), metade dos quais será garantida pela parte pública do Projecto Especial de Urbanismo Comercial, desenvolvido no âmbito do Programa de Apoio à Modernização do Comércio (Procom).

 

Publicado no jornal Público

 

http://desporto.publico.pt/Londres2012/noticias

 

HOMENAGEM A PEPE VELO e JOÃO VILAS, UM POETA MELGACENSE

melgaçodomonteàribeira, 14.12.19

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foto de galicia confidencial

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SORRISOS DA JANELA

 

Do mais alto ponto, da janela,

Eu vi-te a passar à minha porta;

Chamei de lá por ti e tu sorriste…

Mas teus cabelos pretos, tão risonhos,

Do dia em que te vi e tu me viste,

Puseram-se sisudos e tristonhos…

 

É meu ser fiel lembrança triste

Agora que te vejo ao longe em sonhos.

 

Continuo, por isso, à janela

E ainda que em ti eu esteja ausente

Qualquer hora é para renascer;

Manhãs de nevoeiro, denso, quente,

Nesta agonia de nunca mais te ver…

 

 

DO SUBLIME AO GROTESCO

              POESIAS

João Vilas

Edição ANCORENSIS

2000

p.35

 

NÃO SEI

melgaçodomonteàribeira, 27.07.19

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ATRACÇÃO IRRESISTÍVEL

 

Não sei se és tu, Melgaço, que me atrais,

Ou o meu passado que em ti encerras;

Se são os teus vales, as tuas serras…

Os teus campos verdes, os teus pinhais.

 

Não sei! E não sei o que eu desejo mais:

Se fugir-te, como fujo às guerras,

Se repartir meu amor por outras terras,

Se voltar para os teus braços maternais.

 

Não sei! E nesta eterna indecisão

Agita-se o meu corpo como o vento…

Sofre o meu tormentoso coração.

 

Como pode ser alegria e tormento,

Ser pura realidade e ilusão…

Querer-te e descrer-te cada momento?!

 

OS MEUS SONETOS (E OS DO FRADE)

Joaquim A. Rocha

Edição do Autor

2013

p. 49

BOLETIM CULTURAL

melgaçodomonteàribeira, 12.01.19

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    Na sequência da atenção que a Câmara Municipal de Melgaço tem vindo a prestar à Cultura, nas suas múltiplas expressões, registadas nos sucessivos números da Agenda Cultural e no conjunto de publicações já patrocinadas, considerou-se oportuno criar o Boletim Cultural, como espaço privilegiado para a recolha e divulgação de estudos sobre o nosso património histórico, cultural, natural e humano.

    O denso e agradável conteúdo deste primeiro número, que ficamos a dever à colaboração de um grupo de investigadores, interessados em aprofundar o conhecimento do nosso passado, além de constituir uma valiosa amostra do muito que ainda é possível desvendar sobre a nossa terra, suas gentes e culturas, é também garantia da qualidade de futuros volumes e da adesão de novos e qualificados colaboradores.

    Embora o Boletim Cultural esteja primordialmente orientado para temáticas relacionadas com Melgaço, a critério de responsáveis pela sua coordenação, não deixará de se abrir a outros horizontes de interesse para os melgacenses, que muito contribuirão para a intensificação do intercâmbio cultural, cada vez mais necessário e desejado.

    A organização deste primeiro número, que agora fica ao alcance do público interessado, foi possível mercê da colaboração dos Drs. Eduardo Jorge Lopes da Silva, Antero Leite, José Domingues, Prof. Doutor Albertino Gonçalves, Arq.to Luís de Magalhães e dos coordenadores Doutor Armando Malheiro da Silva, Profs. Doutores Carlos A. Brochado de Almeida e José Marques, que, em conjunto, partilharam o ónus e o mérito deste trabalho multidisciplinar, aos quais me apraz dirigir um agradecimento muito especial do Município de Melgaço.

 

O Presidente

 

OS NOVOS LUSÍADAS

melgaçodomonteàribeira, 21.04.18

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Certo dia, como se fora um qualquer lunático, passou-me pela cabeça continuar «Os Lusíadas», obra escrita por Luís Vaz de Camões no século XVI. Se ele, em circunstâncias assaz difíceis, sem a preciosa ajuda dos computadores e seus programas, sem livros de história ali à mão, sem dicionários, sem enciclopédias, sem nenhuma biblioteca de apoio. Conseguiu levar a cabo aquela imensa epopeia, aquele monumento literário, aquele alforge de saber e imaginação, também eu, ser humano como ele, poderia construir algo parecido. Acontece que génios como Camões só surgem no planeta de cem em cem mil anos; logo, teremos muito que esperar e desesperar. Os seus vastos conhecimentos, a sua capacidade de apreender tudo aquilo que o rodeava, as suas leituras da juventude, a sua vivência, a sua escrita empolgante, são irrepetíveis. Apesar de saber tudo isso, vou dar início a este louco empreendimento, sabendo de antemão que vai ser obra pequena, defeituosa, inacabada. A vida é assim, não se pode parar. Eça de Queirós e Camilo Castelo Branco na prosa, Amália Rodrigues no fado, José Afonso na canção, Travassos, Eusébio, Figo e Cristiano Ronaldo no futebol, Livramento nos patins, Joaquim Agostinho no ciclismo, Carlos Lopes, Fernando Mamede, e Rosa Mota no atletismo, etc., foram figuras cimeiras na sua arte, na sua profissão. No entanto, outros artistas foram bons, ou aceitáveis, sem contudo atingir a perfeição dessas estrelas. «Parar é morrer», já diziam os nossos antepassados. Por isso, mãos à obra. A história de Portugal é riquíssima, há muita matéria-prima a explorar. Quem sabe se esta ousada iniciativa não irá estimular alguém com mais talento e saberes do que eu? Aguardemos.

 

Em mil e quinhentos sai do Restelo

A frota comandada por Cabral;

Os navios levam pão, chirelo,

Muita carne, conservada em sal…

Iam em busca de terras, dum selo,

Para a nobre causa de Portugal.

Descobriram, “por acaso”, o Brasil,

Rico de matas, ouro, rios mil.

 

………………..

 

Vou abraçar os meus velhos amigos,

Se é que ainda algum por lá mora;

Comerei com eles belos formigos,

O estonteante doce de amora;

Fumeiro, vinho, são ora inimigos,

Mas por eles nosso paladar chora.

Os anos destruíram nossa mente,

Oxalá dê fruto nossa semente.

 

 

OS NOVOS LUSÍADAS

(tentativa de continuação de «Os Lusíadas» de Camões)

Joaquim A. Rocha

Edição do Autor

Janeiro 2018

pp.5, 29, 180

 

Joaquim A. Rocha edita o blogue Melgaço, Minha Terra

 

 

 

MANJARES DA NOSSA TERRA

melgaçodomonteàribeira, 25.11.17

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INTRODUÇÃO À ARTE CULINÁRIA DO CONCELHO DE MELGAÇO

 

 

Ao procurar confiar ao papel algumas despretensiosas palavras acerca das mais importantes iguarias, tradicionalmente usadas pelas nobres gentes que, desde recuados tempos, constituem a população do mui notável e ilustre berço de Inês Negra, a Heroína, sem ascendência conhecida que, no Sagrado Altar da Pátria, ofertou a sua própria vida, não posso deixar de me embalar pelas canções ternas que as águas puras e cristalinas vão cantarolando através das encostas, dos vales e vergeis.

É uma região de extrema beleza, desde a variedade das suas paisagens, únicas no mundo até à multiplicidade da tonalidade das suas cores. É um canteiro de flores regado pelas águas frias da serra, onde vicejam o rosmaninho, o jasmim, o alecrim, a urze, a giesta, o piorro e o lírio silvestre do campo. Enfeitiçado pelo encanto das suas lindas serras, pela amenidade do clima, o Melgacense aqui se fixou e nunca mais abandonou o rincão que lhe serviu de berço. Como todos os povos, cuja origem se esconde com o segredo do tempo, a sua primitiva e frugal alimentação iniciou-se com a caça e a pesca, bem como a existência de várias plantas, arbustos e árvores que os abasteciam e lhes garantiam a sua rudimentar subsistência.

Devido à falta de conhecimentos pormenorizados de condimentos e maneiras de preparar as suas frugais refeições, tanto as carnes como os peixes eram assados nos braseiros e a seguir utilizados e acompanhados com castanha e bolotas do reble, a servirem-lhes de pão.

Com a evolução lenta dos tempos, estes caçadores e pescadores domesticaram todos os animais de grande porte, que povoavam a selva e transformaram-nos em auxiliares maravilhosos, quer na alimentação e vestuário, quer no trabalho do amanho, custoso, da terra-mãe.

Das rês miúda fizeram as vezeiras que se apascentavam nas excelentes ervas, misturadas de carquejas, quirejas, tojo, urzes, rosmaninho e variedade indefinida de plantas, dando à carne de cabrito um sabor extraordinário, devido à alimentação primorosa, que utilizam.

Assim uma das mais célebres iguarias do nosso concelho é, sem a menor dúvida, o cabrito assado ou guisado. Para conservar as suas deliciosas qualidades, deve ser assado no forno de cozer o pão e não nas cozinhas de ferro, gás botano ou electricidade. Pela alta qualidade de suas carnes é um prato indispensável em todos os almoços desta localidade.

Outra iguaria de igual valor nutritivo e de sabor delicioso é o presunto de Castro Laboreiro e de Fiães, utilizado frio, partido em finas lascas, fritado ou cozido, acompanhado sempre da deliciosa batata de Castro Laboreiro e do seu pão centeio, cozido nos célebres fornos comunitários desta linda e histórica freguesia.

Qual o motivo deste presunto ser o mais saboroso e melhor deste País? Em primeiro lugar tem um papel importante o clima, no qual o porco é criado e a sua alimentação, constituída pela farinha centeia e deliciosa batata desta região castreja. Concorrem também para esta excelente qualidade o frio intenso, que se faz sentir nestas elevadas paisagens e o fumo da giesta, do piorno e da urze, com o qual é curado e fumado.

Não esgotei o que pretendia dizer. Oxalá que as preciosas receitas da Culinária Melgacense, agora pela primeira vez reunidas num Caderno do Pelouro da Cultura da Câmara Municipal de Melgaço, possa concorrer para o melhor conhecimento desta linda terra e torná-la mais visitada, são os meus ardentes votos.

 

Castro Laboreiro, 17 de Junho de 1986

(Padre Aníbal Rodrigues)

 

 

MANJARES DA NOSSA TERRA

 

Autor: vários

 

Edição: Cadernos da Câmara Municipal de Melgaço nº 4

             Serviços Culturais

             CÂMARA MUNICIPAL DE MELGAÇO

 

1987