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MELGAÇO, DO MONTE À RIBEIRA

História e narrativas duma terra raiana

MELGAÇO, DO MONTE À RIBEIRA

História e narrativas duma terra raiana

COUTO MIXTO EM MELGAÇO

melgaçodomonteàribeira, 13.04.24

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couto mixto  foto: vortegmax.net

EMBAIXADA DO COUTO MIXTO EN MELGAÇO

Xosé Glez.

Redondela

13/08/2019

(…)

Tivo que transcorrer case un século para que os versos publicados en “Ares da Raya” en 1902 deixaran de ser un laio e unha utopia. Hoxe, cando as fronteiras que nos separaban foron suprimidas, no Museo Espaço e Memória da Fronteira de Melgaço están rexistradas as historias das miserias dos pobos dun e doutro lado do rio por falta de medios para subsistirem.

O concello de Melgaço é o máis galego de todos os que son raianos. Porque linda con varios concellos das provincias de Pontevedra e Ourense. Por isso compartimos unha mesma antropoloxia como estudou a socióloga francesa Fabienne Wateau no seu ensaio sobre a organización social no Val de Melgaço “Conflitos e Água de Rega”. Un dereito consuetudinario de oríxe xermánica que serviu para regulamentar usos e costumes común que ten as súas oríxes na Gallaecia, antes de que existisse o actual Portugal.

Acordei disto cando mirei a festa conmemorativa do costume da xente do rural que repartían os meses do ano vivindo nas brandas e nas inverneiras. Subían ás brandas (serras) en abril e voltaban en setembro ás inverneiras (aldeas do val). A festa, como non podía ser doutro xeito, foi amenizado polas gaitas que é o instrumento musical que comparten connosco. O vindeiro día 16 volveremos cruzar o río pola ponte de Arbo, camiño da antiga vila balnearia do Peço, na que estivo acubillado durante algún tempo Pepe Velo, o noso egrexio revolucionario máis universal, que foi capaz de soñar unha acción e realizala, secuestrando o “Santa Maria”, un buque de pasaxeiros de bandeira portuguesa, para chamar a atención do mundo das ditaduras salazarista e franquista. Algún día – tamén somos de soñar – pedirémoslle á Cámara Municipal a colocación dun monólito que lembre a importancia estratéxica que tivo aquela freguesía para acoller aos fuxidos da sublevación militar española, como xa fixemos en Turei, a freguesía lindante co Couto Mixto, onde o mestre Manuel Barros déulles apoio a Luís Soto e outros compañeiros fuxidos da represión.

A Asociación de Amigos do Couto Mixto en colaboración coa Cámara Municipal celebrará na Praza da República de Melgaço, ás 12:00 horas, a presentación da historia do Couto Misto cunha representación do grupo teatral Xeitura seguida dunha mesa redonda e a proxección dun documental no Museo Espaço, Memória e Fronteira na que participarán, amais do presidente da Cámara, Manoel Batista, Luís Garcia Mañá, Padre Fontes e Xosé Rodríguez Cruz. Será unha xornada lúdica que coincidará no tempo coa celebración da Festa do Emigrante e a feira semanal, que encherán as prazas e rúas de miñotos en ledo convívio amenizado polo grupo de música tradicional Airiños de Caldelas.

GALICIA CONFIDENCIAL  

http://galiciaconfidencial.com

 

MELGAÇO, PESQUEIRAS NO RIO MINHO

melgaçodomonteàribeira, 09.03.24

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pesqueira no peso

PORTUGAL AVANÇA COM CLASSIFICAÇÃO DE PESQUEIRAS DO RIO MINHO

A PATRIMÓNIO IMATERIAL

A candidatura das pesqueiras do rio Minho ao registo nacional de património imaterial foi apresentada em Melgaço, Viana do Castelo. A classificação também ocorrerá na Galiza.

A candidatura das pesqueiras do rio Minho ao registo nacional de património imaterial foi hoje publicamente apresentada em Melgaço, no distrito de Viana do Castelo, classificação que também ocorrerá na Galiza para preservar um saber comum aos dois territórios. Promovida pelo Agrupamento Europeu de Cooperação Territorial (AECT) Rio Minho, a candidatura portuguesa foi submetida em fevereiro. Do lado espanhol, existe a intenção, mas o processo ainda não avançou.

Em declarações à agência Lusa, à margem da apresentação pública da candidatura nacional, hoje, na Câmara Municipal de Melgaço, a Secretária de Estado Adjunta e do Património Cultural, Ângela Ferreira, explicou que são processos autónomos, apesar de se tratar de um património transfronteiriço. “Cada um dos países avança com a candidatura ao registo nacional. Do lado português a candidatura é coordenada pela Direção-Geral do Património Cultural e, do lado espanhol, pela sua congénere. São processos autónomos que visam preservar um saber partilhado pelos dois povos vizinhos”, explicou Ângela Ferreira.

Fronteira natural entre os dois países, o rio internacional concentra, nas duas margens, só no troço de 37 quilómetros, entre Monção e Melgaço, cerca de 900 pesqueiras, “engenhosas armadilhas” da lampreia, do sável, da truta, do salmão ou da savelha.

Desde a foz em Caminha até Melgaço, o peixe vence mais de 60 quilómetros, numa viagem de luta contra a corrente que termina, para alguns exemplares, em “autênticas fortalezas” construídas a partir das margens, “armadas” com o botirão e a cabaceira, as “artes” permitidas para a captura das diferentes espécies.

As estruturas antigas de pedra, são descritas como “habilidosos sistemas de muros construídos a partir das margens, que se assumem como barreiras à passagem do peixe, que se via assim obrigado a fugir pelas pequenas aberturas através das quais, coagido pela força da corrente das águas, acabando por ser apanhado em engenhosas armadilhas”.

As construções, “umas milenares outras centenárias, pressupõe um saber e compreensão da bacia do rio, das suas características biológicas, eco ambientais, físicas, orográficas, e as artes de pesca, testemunhas do conhecimento e vida das comunidades ribeirinhas e do seu sentimento de pertença a uma unidade cultural e identitária”.

Segundo Ângela Ferreira, a candidatura esta quarta-feira apresentada “vai ser analisada por técnicos da Direção-Geral do Património Natural”, podendo estar ainda sujeita, “a pedidos de esclarecimentos adicionais à equipa científica que a produziu”.

“Depois, obviamente, o processo culminará com a consulta pública, antes de ter o despacho final de inscrição no registo nacional de património natural e imaterial”, especificou, escusando-se a estimar um prazo para a conclusão do processo, por “variar muito, mediante os pedidos de esclarecimento ou a necessidade de investigações adicionais”.

Ângela Ferreira sublinhou a importância da “preservação do saber e do conhecimento” que as pesqueiras encerram, para garantir a “passagem às gerações futuras” de “um conhecimento imemorial”, uma “parte incontornável da história do rio Minho”.

“Esse vai ser um pilar fundamental da divulgação tanto nacional como internacional, desta prática e do território que acompanha o rio Minho, tanto do lado português como espanhol”, sustentou.

Já o presidente da Câmara de Melgaço, município que “deu o pontapé de saída” da candidatura, sublinhou que o objetivo do reconhecimento agora em curso, “mais do que guardar a história que as pesqueiras encerram é dar-lhe dinâmica, do ponto de vista económico, tornando-as numa referência para o setor de turismo”.

Intitulado “A pesca nas pesqueiras do rio Minho”, o estudo que sustenta a candidatura foi desenvolvido, nos últimos dois anos, por um grupo constituído por entidades portuguesas e galegas e liderado pelo antropólogo Álvaro Campelo. Esta quarta-feira, na apresentação do documento, Álvaro Campelo referiu a existência de pesqueiras noutros rios portugueses e espanhóis, mas “não com a dimensão, qualidade e relevância” das registadas no rio Minho.

“É um património vivo, mas que está em risco, claramente. Esta candidatura é uma oportunidade de dar valor a esta prática viva e um momento único para os jovens voltarem ao rio, onde tem estado praticamente ausentes, alertou.

Segundo o investigador, das 900 pesqueiras existentes no rio Minho, em Portugal estão ativas 160 e, do lado espanhol, cerca de 90.

Em Portugal, a Comunidade Intermunicipal do Alto Minho, que agrega os dez concelhos do distrito de Viana do Castelo, suportará cerca de 50 mil euros, e a província de Pontevedra, em Espanha, 45 mil euros.

AGÊNCIA LUSA

26/ago/2020

Estela Silva/LUSA

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pesqueira em arbo  galiza

915 d 11-Rio Minho em Remoães, 1910 -105.jpg

 

MUSEU DO CONTRABANDO EM MELGAÇO

melgaçodomonteàribeira, 27.01.24

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foto cmm

A MEMÓRIA COMO PATRIMÓNIO: DA NARRATIVA À IMAGEM

Luís Cunha

O núcleo museológico «Espaço Memória e Fronteira» legitima-se a partir de uma reivindicação de especificidade geográfica, a que se associam práticas sociais que o museu procura retratar:

O concelho de Melgaço é caracterizado por uma fronteira extensa e diversificada, que vai desde o rio Minho, passando pelos rios de montanha como o Trancoso e o Laboreiro e uma raia seca que se estende ao longo do planalto de Castro Laboreiro. Esta situação geográfica criou condições para que, ao longo do conturbado século XX, se enraizassem em Melgaço duas realidades, que se cruzam para além do traço comum da fronteira: a emigração e o contrabando. É da memória dessas duas realidades, que surge o «espaço memória e fronteira» (Folheto de apresentação do «Espaço memória e Fronteira»).

Ao mesmo tempo que apontam a “criação de um produto turístico e cultural” (Esteves & Sousa, 2007: 42), os responsáveis pelo museu vincam um conjunto de escolhas estéticas que visam provocar um efeito visível pelo visitante:

A proximidade do ribeiro e o dramatismo induzido pelas margens escarpadas do mesmo, emergiram desde o início do projecto como uma interessante alegoria à temática, pela analogia que permitiria estabelecer com a noção de fronteira, designadamente no que se refere ao troço em que este coincide com o rio Minho (Esteves & Sousa, 2007:43).

A construção de uma ponte pedonal junto ao museu, ao mesmo tempo que permite a ligação do núcleo antigo da vila às novas áreas de expansão, visa uma leitura simbólica, no caso a da passagem do rio/fronteira, inevitavelmente associada à emigração e ao contrabando.

Paralelamente à recolha de objectos associados ao contrabando e à emigração, o projecto compreende também a recolha de testemunhos e de histórias de vida. Assumindo-se como produto turístico proposto aos visitantes da vila, a verdade é que o «Espaço Memória e Fronteira» elabora também um discurso referencial para dentro da comunidade. As ideias de coragem e sacrifício ocupam um lugar central na narrativa que o museu propõe. No que diz respeito especificamente ao contrabando, a sua evocação assenta num conjunto bem definido de sinais atribuídos a essa actividade, dos quais se destaca a imagem do contrabandista como um empreendedor, alguém dinâmico e sagaz, capaz de enfrentar com bravura os obstáculos naturais e com inteligência a oposição dos guardas-fiscais. No que diz respeito à história do contrabando, esta é feita mais a partir dos produtos contrabandeados do que da modificação organizacional das práticas. Assim, entre os objectos expostos, encontramos amostras de vários produtos transportados pelos contrabandistas, mas também a farda de um guarda-fiscal, um barco usado no contrabando fluvial, autos de apreensão de mercadorias, etc. Já a imagem do contrabandista é relativamente plana, como se existisse uma espécie de suspensão do tempo.

O município de Melgaço, em alternativa à criação de um único espaço museológico, tem optado pela criação de uma rede de pequenos museus. O núcleo museológico da Torre de Menagem e as Ruínas Arqueológicas da Praça da República têm, também eles, uma evidente conotação histórica, mas o «Espaço Memória e Fronteira» é o único que procura fazer uma ponte com o presente, isto é, que procura dar sentido e conteúdo à memória colectiva através da construção de uma narrativa em que a comunidade pode e deve rever-se. A junção do contrabando e da emigração no mesmo espaço físico e em semelhantes balizas expressivas faz por isso todo o sentido. Não só pela permeabilidade entre as duas actividades – em lugares de fronteira a emigração incrementa-se não tanto pela diminuição do contrabando mas pelas transformações internas da actividade – mas também porque congregam tópicos discursivos convergentes. As ideias de travessia, de clandestinidade, de enfrentamento dos perigos e da luta pela sobrevivência e melhoria das condições de vida para a família, contam-se entre esses tópicos.

 

UNIVERSIDADE DO MINHO

CRIA

 

DOAÇÃO AO MOSTEIRO DE FIÃES EM 1157

melgaçodomonteàribeira, 11.12.21

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1157 Agosto. 19

 

Afonso Pais e seis irmãos e irmãs, juntamente com outros fidalgos e seus familiares, doam ao mosteiro de Fiães o espaço territorial do couto, especificando a linha limítrofe que o cerceia.

 

Manuel António Bernardo Pintor, “Doação de Afonso Pais e outros ao mosteiro de Fiães em 1157 (pergaminho inédito)”, Arquivo do Alto Minho, vol. 2, 1947, pp. 79-83 (reeditado em Padre Manuel António Bernardo Pintor, Obra Histórica I, edição do Rotary Club de Monção, Monção, 2005, pp. 19-23).

 

(No início tem o monograma usual xpistus = Cristo).  Em nome de Nosso Senhor Jesus Cristo e em honra da beata Maria sempre Virgem e de todos os santos. Eu Afonso Pais juntamente com meus irmãos e minhas irmãs Pedro Pais, Egas Pais, Fernando Pais, Garcia Pais, Gudina Pais, Hónega Pais, Mór Pais, Maria Pais, Hónega Mendes, Mór Mendes. Eu Oroana com meus filhos Pedro Nunes, João Gomes, Álvaro Sarracines juntamente com meus irmãos e minhas irmãs. Eu Pedro Bauzoi juntamente com meus irmãos. Eu Nuno Dias juntamente com meus irmãos e irmãs. Eu Rodrigo Goterres com meus irmãos. Eu Ferrão Ventre com meus irmãos. Gonçalo Peres com seus irmãos. Fernando Nunes com meus irmãos. Pedro Soares com seus irmãos. Fernando Nunes com seus irmãos. Pedro Nunes com seus irmãos. Fazemos documento de segurança daquele monte que se chama Fenais, que nós resolvemos por vontade própria doar aos servos de Deus, Abade João e sua congregação, tanto aos presentes como aos que depois deles vierem e aí perseverarem na santa vida beneditina: possuam-no para sempre por direito de herança por nossa doação, pelas nossas almas e pelas almas de nossos pais, porque é breve a nossa vida. Estabelecemos-lhe limites a principiar em Penha de Ervilha, depois por Costa Má, até Curro de Loba, partindo pelo rio Doma, pelo vale Gaão, depois pelo outeiro da Aveleira, a seguir pelo Coto da Aguieira e depois desde o Vidual até Penha de Ervilha e fechou. Nós acima nomeados damos esta herança para exercer o culto de Deus enquanto houver um homem que o faça. Se for retirada do culto de Deus cada um receba o seu quinhão. Se vier alguém ou viermos nós, tanto da nossa família como estranhos, que queira violar esta nossa doação, seja excomungado e condenado perpetuamente como Judas traidor do Senhor.

Por estes limites que mencionamos concedemos (o monte) àquele mosteiro que está situado no referido monte de Santa Maria. Nenhuma autoridade nem homem algum se atreva a arrotear e lavrar (neste monte) sem ordem dos mesmos frades. Eis a pena que nós estabelecemos e outorgamos: restitua a mesma herança em dobro ou com suas melhorias e dois mil soldos para a Congregação. Reinando em Portugal o Rei Afonso com sua mulher a Rainha Mafalda. Vigário particular do Rei Gonçalo de Sousa. Na Sé de Tui o Bispo Isidoro. Senhor de Valadares Soeiro Aires. Era de 1195 no dia que é 14º das calendas de Setembro (19 de Agosto de 1157). Nós como acima dissemos a vós Abade João como a vossos frades nesta escritura de segurança por nossas mãos roboramos.

Como testemunhas: Soeiro, João, Pedro, Fernando, Munho. Pelo notário Pedro.

 

OS LIMITES DA FREGUESIA DE LAMAS DE MOURO E OS CAMINHOS DA IN(JUSTIÇA)

José Domingues

1ª Edição

Novembro de 2014

pp. 171-172

 

ALCUNHAS EM CASTRO LABOREIRO

melgaçodomonteàribeira, 04.12.21

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Não é pelo termo alcunha, mas por “alcunho” que o habitante e natural de Castro Laboreiro designa os apodos com que, entre si, indivíduos e famílias se conhecem e se distinguem por entre a rede de parentes e vizinhos com nomes e sobrenomes iguais ou não. Pedindo-se explicações do que possa ser o “alcunho” dirão, certamente, que o “alcunho é uma nomeada”, isto é, um modo peculiar de se tratarem ou melhor, de se referenciarem meios de epítetos com valor crismático importante.

Os “alcunhos” têm uma origem espontânea e directa. O povo é muito observador e apega-se imenso a pormenores que escapam ao forasteiro da cidade. Tais pormenores inscrevem-se num vasto quadro de referências que definem, de um lado, as circunstâncias da vida do indivíduo, do outro lado, as suas características e predicados pessoais.

 

                                             Luis Polanah

 

DO USO E SIGNIFICADO DAS ALCUNHAS NA FREGUESIA DE CASTRO LABOREIRO

Luis Polanah

Minia

2ª Série, Ano I, nº 1

1978

 

A CRUZ DE PENAGACHE - VERSÃO 3

melgaçodomonteàribeira, 09.11.19

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(continuação)

 

3

 

As gentes do Louriçal, outro lugar também raiano mas um pouco mais distante, têm a sua própria versão da cruz e também esta é relatada como fruto da mais pura verdade, embora ninguém a possa confirmar. Aconteceu em pleno inverno, já mais noite do que dia, quando um grupo de contrabandistas foi surpreendido por uma trovoada inesperada, mas temível, até porque naquela parte do planalto não há árvores e as pessoas temem atrair os raios. Chovia copiosamente água e neve à mistura e os relâmpagos sucediam-se ininterruptamente, o ribombar dos trovões mesmo por cima deles. Os três companheiros conheciam a lapa nos cotos de Penagache e apressaram-se a acolher-se no local, embora não muito confiantes, podia ser reduto de alguma fera. Também não sabiam exatamente onde ficava a entrada da gruta, mas, nem de propósito, o clarão de um relâmpago guiou-os para lá. Continuou a tempestade e eles deixaram-se ficar, mas o frio tomava-lhes conta do corpo e da alma, ensopados que estavam e sem possibilidade de acender uma simples fogueira para se aquecerem e espantarem o desconforto e a escuridão. Fome não tinham nem teriam, até porque um deles tinha o bornal cheio de pastas de chocolate encomendadas pela tendeira. O cansaço foi mais forte do que o frio e acabaram por adormecer. Devem ter passado algumas horas e quando já estavam todos acordados estranharam a falta de luz, já devia ser dia. Procuraram adaptação ao espaço e ao tempo, mas a desorientação era total, acabando por descobrir que a entrada da gruta estava completamente tapada por neve, por isso lhes não chegava a luz do dia. Estavam enregelados, um tremia como varas verdes, ardia em febre, os outros dois mal conseguiam mexer os dedos das mãos e dos pés. Não servia de nada gritar por socorro, este nunca lhes chegaria, mesmo que dessem o alerta da sua falta e os fossem procurar ao monte, jamais os encontrariam naquele buraco. Perderam a noção do tempo e acabaram por desistir de alcançar a saída, sem forças para lutar pela vida. Acabaram por ser encontrados pelos cães de caça que participaram nas buscas alguns dias mais tarde: uma cadela muito boa que servia de pisteira e conhecia as tocas todas do planalto não saiu da entrada da gruta enquanto os homens não abriram uma entrada. Um dos rapazes estava morto, os outros dois completamente gelados e perto de perder a vida, os dedos das mãos negros e inertes. A um tiveram de lhe cortar três da mão direita e o outro perdeu um bocado do nariz. Salvaram-se por pouco. A cruz será, pois, a homenagem ao que não resistiu.

 

                                                                                           Olinda Carvalho

 

Publicado em A Voz de Melgaço

Março 2015

 

MELGAÇO, ACÇÃO CULTURAL E RECREATIVA

melgaçodomonteàribeira, 02.02.19

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fonte termal

ACÇÃO CULTURAL E RECREATIVA

 

A vila possui uma grande herança natural, histórica e cultural marcada pelo Parque Nacional Peneda-Gêres e pela recente revitalização do Parque Urbano Rio do Porto, pelos mais variados monumentos de arquitectura religiosa, civil e militar como as pontes romanas que se destacam pela simplicidade e plena integração na natureza (Rocha, 1993).

Esta região tem a sua origem no povo castrejo, de raça celta, que habitava as construções chamadas de castros e viviam com base no nomadismo entre terras serranas (brandas) durante os meses de maior calor e nas terras ribeirinhas (inverneiras) nos meses de temperaturas mais frias. Praticavam a caça, a pesca e a agricultura, cultivando na serra apenas a batata, centeio e pastagens, e na terra ribeirinha os cereais variados, fruta e vinhos.

Ao longo dos anos foram passando, pelo lugar de Melgaço, várias civilizações como os Romanos que ao longo do território deixaram marcas da sua cultura, através de construções como as pontes que vão ligando as margens do rio Laboreiro.

Após quatro ou cinco mil anos, este território continua a demonstrar uma forte ocupação humana. Aqui, tiveram grande destaque as culturas dolménica e castreja comprovadas pela presença de várias construções como as antas e os dólmenes e também alguns menires. Como monumento nacional adquiriu evidência o pelourinho, de 1560, e a igreja matriz, como exemplo do estilo românico do século XII, que mais tarde, em 1775, foi completada com um coro, torre e capela-mor.

O desenvolvimento gerado pelo comércio tradicional e serviços, adquiriu maior expressão através das obras de requalificação de alguns espaços públicos da vila, tais como: a Casa da Cultura; os Núcleos Museológicos da Torre de Menagem, da Praça da República, Memória e Fronteira e o Museu do Cinema; as Piscinas Municipais; a revitalização das margens do Rio do Porto; o Centro Cordenador dos Transportes; e a praça urbana no recinto da feira, que vão proporcionando o aumento do turismo através do impulso cultural, social e de lazer.

Deste modo, quando visitamos a vila, o acesso e reconhecimento dos diversos espaços museológicos existentes no concelho é simples e rápido, mostrando a valorização do património enquanto conjunto através da criação de uma rede denominada Melgaço Museus, da qual fazem parte o Núcleo Museológico da Torre de Menagem e as Ruínas Arqueológicas da Praça da República, Núcleo Museológico de Castro Laboreiro, Museu de Cinema e Espaço Memória e Fronteira. O Núcleo está instalado na Torre de Menagem do Castelo, em plena zona histórica, valorizando a Torre e dando a conhecer o património arquitectónico, histórico e cultural de Melgaço. Associadas a este Núcleo existem as Ruínas, situadas na Praça da República, onde é possível observar e interpretar parte da história medieval do concelho. O Espaço Memória e Fronteira é dedicado à preservação da história recente do concelho, relacionada com o contrabando e emigração, conduzindo o visitante pelas histórias da História. O Núcleo Museológico de Castro Laboreiro centra-se na história e tradição da freguesia de Castro Laboreiro, a maior e mais antiga do concelho. Divulga aspectos relacionados com a paisagem e com as vivências locais. Na casa anexa à sede, numa construção tipicamente castreja, é retratado o ambiente de uma casa local, na segunda metade do século XX. O Museu de Cinema de Melgaço – Jean Loup Passek, inaugurado em 2005, encontra-se instalado em plena zona histórica da Vila, no edifício da antiga guarda-fiscal. Tem por base o espólio coleccionado ao longo da vida pelo francês Jean Loup Passek e doado ao Município, conta com duas exposições, uma de carácter permanente e outra temporária, distribuídas pelos dois andares do edifício. A Casa da Cultura de Melgaço é um serviço público, que tem por finalidade promover e valorizar o património cultural de Melgaço, com o objectivo da compreensão, permanência e construção da identidade do concelho e a democratização da cultura. É um espaço de encontro e convívio aberto à intervenção e dinâmica cultural do concelho (Melgaço, 2013).

No parque termal do Peso, os edifícios da fonte termal e do balneário apresentam-se como exemplos únicos da arquitectura do ferro e arquitectura neo-clássica que devem ser incluídos neste grupo de elementos culturais, diversificando a oferta e valorizando este espaço termal. Observando o parque percebemos rapidamente as suas enormes potencialidades, com uma envolvente natural propiciadora de actividades ao ar livre e grande dinamismo social e cultural.

Os locais de lazer, recreio e cultura são sempre necessários à promoção de um equipamento, onde os espaços exteriores complementam os interiores, fomentando o pleno equilíbrio entre vertentes terapêuticas e paisagísticas, conservando e valorizando a permanência num ambiente propício à saúde e bem estar.

 

Medeiros, Daniela Faria Vilela Lourenço

RECUPERAÇÃO E REVITALIZAÇÃO DO PARQUE TERMAL DO PESO

http://hdl.handle.net/11067/1506

Universidade Lusíada do Porto

Dissertação para obtenção do Grau de Mestre

Porto 2013

 

BOLETIM CULTURAL

melgaçodomonteàribeira, 12.01.19

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    Na sequência da atenção que a Câmara Municipal de Melgaço tem vindo a prestar à Cultura, nas suas múltiplas expressões, registadas nos sucessivos números da Agenda Cultural e no conjunto de publicações já patrocinadas, considerou-se oportuno criar o Boletim Cultural, como espaço privilegiado para a recolha e divulgação de estudos sobre o nosso património histórico, cultural, natural e humano.

    O denso e agradável conteúdo deste primeiro número, que ficamos a dever à colaboração de um grupo de investigadores, interessados em aprofundar o conhecimento do nosso passado, além de constituir uma valiosa amostra do muito que ainda é possível desvendar sobre a nossa terra, suas gentes e culturas, é também garantia da qualidade de futuros volumes e da adesão de novos e qualificados colaboradores.

    Embora o Boletim Cultural esteja primordialmente orientado para temáticas relacionadas com Melgaço, a critério de responsáveis pela sua coordenação, não deixará de se abrir a outros horizontes de interesse para os melgacenses, que muito contribuirão para a intensificação do intercâmbio cultural, cada vez mais necessário e desejado.

    A organização deste primeiro número, que agora fica ao alcance do público interessado, foi possível mercê da colaboração dos Drs. Eduardo Jorge Lopes da Silva, Antero Leite, José Domingues, Prof. Doutor Albertino Gonçalves, Arq.to Luís de Magalhães e dos coordenadores Doutor Armando Malheiro da Silva, Profs. Doutores Carlos A. Brochado de Almeida e José Marques, que, em conjunto, partilharam o ónus e o mérito deste trabalho multidisciplinar, aos quais me apraz dirigir um agradecimento muito especial do Município de Melgaço.

 

O Presidente