O ADMINISTRADOR DO CONCELHO DE CASTRO LABOREIRO
ENTRE O CRIME E A CADEIA: VIOLÊNCIA E MARGINALIDADE NO ALTO MINHO (1732-1870)
Alexandra Esteves
A actuação das autoridades nem sempre era condizente com o cargo que ocupavam, sendo diversas vezes acusadas de desleixo e arbitrariedade, o que, no caso dos administradores dos concelhos, acarretava sérias repercussões no domínio da conflituosidade quotidiana, porque uma das suas atribuições era precisamente zelar pela ordem e tranquilidade pública. Eram muitas as vozes que, na sociedade civil, nos jornais e até nas estruturas do poder, se faziam ouvir para denunciar e condenar os comportamentos impróprios de alguns desses agentes da autoridade. São vários os episódios que atestam esta realidade e que contríbuiam para a emergência de uma conflituosidade espontânea, mas também para alimentar uma revolta latente contra as instituições do poder, cujos representantes, pela sua conduta, não ajudavam a dignificar.*
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Vejam-se as acusações que, em 1836, o governador civil comunicou à câmara municipal sobre a actuação do administrador do concelho de Castro Laboreiro, que já tinham motivado várias queixas por parte dos habitantes daquela localidade: “(…) alguns dos mesmos feitos como he passar passaportes aos estrangeiros que se querem refugiar neste reino, e outros que entrão com contrabando, e mesmo aos indivíduos deste concelho que continuam a ir aos ganhos, para as províncias de Trás-os-Montes, passando-lhe umas guias em lugar de passaportes, em papel branco, levando-lhe por cada huma cento e vinte, vindo a receber a F. N. grande prejuízo, na falta de sello, escrivando tanto os passaportes como as guias como secretário, asignando como administrador, como tãobem, em hum dos dias do mês de Abril próximo passado, nomeou hum secretário da sua fação, e chamou os livros de todas as confrarias desta freguesia e concelho, e tomou os contos das mesmas confrarias, levando por cada uma coatrocentos e oitenta reis, nomeando por si próprio e sem combinação desta municipalidade, comissários e cabos de polícia, botando fintas aos habitantes deste concelho, para pagar aquém lhe vá levar e buscar os officios ao correio, isto alem de outros factos que delles podem resultar funestas consequências, factos estes que as leis da nação determinão (…)”.