Alminhas em Cevide
Memória paroquial
Desde o Sítio de Cevide , em S. Gregório (Melgaço), onde se encontra o nicho das alminhas mesmo onde o afluente Trancoso desagua no rio Minho, até ao planalto de Castro Laboreiro, com o seu conjunto dolménico expressivo, e atravessando litoral minhoto, encontramos o dólmen e a mamoa da Eireira, bem como a pedra do repouso em Cardielos, constituindo testemunhos significativos aos mortos.
……………………………………………………………………………..
Consultando os registos paroquiais da freguesia raiana de Chaviães (Melgaço), localizamos o livro misto de 1597, presentemente retirado à consulta devido ao mau estado de conservação.
É de mencionar que, em 1662, o Abade Francisco de Lyra Castro narrou o seguinte registo de óbito: ‘’aos vinte e oito dias do mês de Outubro do ano de mil seiscentos e sessenta e dois faleceu, com todos os Sacramentos, Domingos Rodrigues, de Portela do Couto, meu freguês, de uma bala com que foi passado, saindo da Praça de Melgaço a pelejar com o inimigo, o galego, que ao tal tempo veio aos arrebaldes de dita Praça. Seu corpo foi sepultado nesta Igreja. Fez testamento em que dispôs por sua alma dezoito missas repartidas em três ofícios. E para que conste de tudo fiz e assinei. Francisco de Lyra Castro, Abb’’. À margem: ‘’Registado – 1º Estado 6; 2º Estado 6; 3º outros 6 – Domingos Rodrigues’’.
O mesmo abade ‘’lavrou’’, ainda, em 1666 o seguinte assento: ‘’ aos dezoito dias do mês de Junho do ano de mil seiscentos e sessenta e seis faleceu, com todos os Sacramentos, Isabel Rodrigues, viúva da Tapada desta freguesia. Fez testamento em que dispôs por sua alma doze missas, em três ofícios; em cada um missa cantada e os últimos ofertados a cem réis cada um; mais duas missas votivas: uma a Nossa Senhora da Peneda e outra à Senhora da Orada. Esmolas: à Confraria do Santíssimo um cabaço de vinho; à das almas outro cabaço de vinho; à Confraria do Nome de Deus, de Nossa Senhora e de S. Sebastião, a cada uma meio cabaço de vinho. E para que conste foi, digo, seu corpo foi sepultado dentro da Igreja. E para que conste fiz e assinei, Era ut supra. Francisco de Lyra Castro’’.
Podemos constatar que naquela paróquia rural e raiana, bem como noutras, os registos de óbitos estão repletos de informações acerca de vontades testamentárias relativas aos, denominados ‘’bens de alma’’ e esmolas oferecidas para sufrágios.
Afogados do rio Minho
Do espólio das Confrarias das Almas, da paróquia de Chaviães (Melgaço), para além dos livros das actas, com referencias que vão desde ‘’o beberete da irmandade’’, o milho recebido, os juros do dinheiro emprestado, até aos estandartes, encontramos a singular ‘’tumba’’ que serviu para transportar muitos afogados no rio Minho, aquando a Guerra Civil de Espanha e a emigração clandestina, também denominada a ‘’salto’’.
A comunidade dos crentes de Chaviães, nestes casos, cumpria com os próprios rituais devido aos irmãos da confraria, praticando a obra ou misericórdia que ‘’ensina a enterrar os mortos’’. Assim testemunhava a caridade cristã, num sentimento de solidariedade profunda, e manifestando respeito por ‘’afogados desconhecidos’’.
As famílias doridas, por vezes, só tinham notícia da triste ocorrência passado algum tempo. E de registar, como pormenor, que muitas das vítimas afogadas aquando a Guerra Civil Espanhola eram deitadas ao rio Minho na ponte de Castrelos, junto a Ribadávia. Dos que tentaram emigração clandestina, atravessando o rio, e aí morreram afogados, um era natural dos Açores.
………………………………………………………………………………
Fonte: texto de J. Rodrigues publicado no jornal ‘’A Aurora do Lima’’ de 12/11/08
Texto integral em www.marforum.org
Camborio Refugiado