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MELGAÇO, DO MONTE À RIBEIRA

História e narrativas duma terra raiana

MELGAÇO, DO MONTE À RIBEIRA

História e narrativas duma terra raiana

CASTELO DE CASTRO LABOREIRO - 1141

melgaçodomonteàribeira, 28.10.23

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O castelo de Castro Laboreiro (União das freg. Castro Laboreiro e Lamas de Mouro, conc. Melgaço), que jogava um papel importante na defesa do extremo Nordeste da fronteira do rio Minho, tem uma origem obscura. Com efeito, não se conhece qualquer referência documental segura anterior a 1141. Nesse ano D. Afonso Henriques deu carta de couto ao Mosteiro de S. Salvador de Paderne em reconhecimento pelo auxílio que a comunidade monástica e sua abadessa, D. Elvira Sarracins, lhe tinham prestado quando o monarca conquistara o castelo de Castro Laboreiro: «… et servitium fuit datum quando tomavit dominus rex castellum de Laborario». Estes acontecimentos ocorreram, portanto, antes de 1141, certamente em momento próximo da outorga do pergaminho régio. Podemos, assim, concluir que em 1141 o castelo de Castro Laboreiro já existia. E deduzir que ele tinha sido tomado por forças galegas, o que obrigou à realização dessa campanha militar por parte de D. Afonso Henriques. No reinado de D. Sancho I a povoação de Castro Laboreiro recebeu carta de foral das mãos desse monarca, um documento perdido mas cuja existência está atestada nas Inquirições de 1258. O diploma de D. Sancho I foi confirmado, mais tarde, por D. Afonso III. Sabemos, ainda, que em 1212 o castelo foi de novo conquistado pelas forças leonesas, agora no contexto do conflito que opôs Afonso II a Afonso IX de Leão.

Para o estudo de Castro Laboreiro contamos com alguns documentos icnográficos de grande importância: as duas visitas de cavalete e a planta que Duarte de Armas desenhou no exemplar de Lisboa do Livro das Fortalezas, as duas vistas que se registam no exemplar de Madrid do mesmo Livro das Fortalezas e um levantamento cartográfico anónimo datado de 1650, que se conserva no acervo da Biblioteca Nacional de Portugal, em Lisboa.

O castelo de Castro Laboreiro coroa um destacadíssimo morro rochoso e apresenta um grande recinto muralhado subdividido, internamente, por uma muralha rectilínia. Os dois espaços correspondem à zona militar (o recinto a Norte) e à primitiva povoação de Castro Laboreiro (o recinto a Sul). Com efeito, era aqui que se erguia a primitiva povoação, que mais tarde se foi transferindo, paulatinamente, para a actual implantação, de cota baixa, bem mais cómoda para a vida quotidiana. Na planta de 1650 é bem perceptível o abandono que já atingia o recinto Sul, onde apenas se cartografaram três construções (contra quinze na área militar). Esta divisão e especialização dos dois recintos – um com vocação militar, outro destinado à primitiva povoação – pode ser, de resto, corroborada em Duarte de Armas. Com efeito, o pintor régio de D. Manuel I desenhou os dois recintos de Castro Laboreiro nas suas visitas de cavalete, mas no apartado final, com as plantas das estruturas militares, procedeu apenas ao levantamento do recinto Norte, que era aquele que, militarmente, fazia sentido. A zona da “vyla”, apesar de amuralhada, não mereceu levantamento de planta. Os desenhos de Duarte de Armas, que podem ser atribuídos a 1510 (uma vez que correspondem à fase final do seu périplo fronteiriço, que se desenrolou entre 1509 e 1510), mostram o castelo com a sua Torre de Menagem, hoje desaparecida. Esta Torre de Menagem, que se erguia isolada, no centro do recinto militar, apoiando-se nos mais destacados afloramentos rochosos, era dotada de machicoulis, tal como a sua vizinha e congénere Torre de Menagem do Castelo de Melgaço. As afinidades sugerem que tenham sido realizadas pelo mesmo arquitecto. Mas a Torre de Menagem de Castro Laboreiro não existia no tempo de D. Afonso Henriques, sendo antes o resultado dos melhoramentos introduzidos no Séc. XIII, talvez no reinado de D. Dinis. Assim, o castelo de Castro Laboreiro que D. Afonso Henriques conquistou em 1141 apresentava um recinto muralhado amplo, com cerca de 2/3 da sua área ocupada pela vila e 1/3 dedicado à alcáçova militar. O recinto civil tinha uma única porta de entrada, voltada a Leste, dissimulada junto do afloramento, parcialmente talhado e aproveitado para umbreira da porta. A muralha exterior, de contorno irregular, era segmentada internamente por uma muralha recta, onde se rasga uma porta de acesso ao recinto militar. E, neste, havia a Porta da Traição, voltada a Norte, comunicando com o exterior em zona particularmente escarpada. Os dois espaços – o civil e o militar – tinham as suas próprias estruturas para aprovisionamento de água, elemento vital em caso de cerco. Mas, o que gostaríamos de aqui sublinhar, é a total ausência de torreões. Com efeito, no tempo de D. Afonso Henriques, os sistemas defensivos de Castro Laboreiro não só não contavam com Torre de Menagem, acrescentada muito mais tarde, como ignoravam qualquer torreão. Este aspecto é comum a outras estruturas.

 

NO TEMPO DE D. AFONSO HENRIQUES

REFLEXÕES SOBRE O PRIMEIRO SÉCULO PORTUGUÊS

COORD. Mário Jorge Barroca

A ARQUITECTURA MILITAR PORTUGUESA NO TEMPO DE D. AFONSO HENRIQUES

Mário Jorge Barroca

Porto 2017

pp.144-146

CASTILLOS DE MELGAÇO E CASTRO LABOREIRO

melgaçodomonteàribeira, 19.08.23

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desenho a. sousa

EN BUSCA DE UNA FRONTERA ENTRE GALICIA Y PORTUGAL:

LAS TIERRAS MIÑOTAS EN LOS SIGLOS XI-XII

 

El origen de los castillos está en el poder real y en sus consecuencias el domínio señorial, aunque  en la realidade hay muchas variantes. Son los anclajes del poder político feudal, un poder que los reyes leoneses a duras penas logran controlar, y acaban cedendo a los nobles. La mayor parte de los castillos fronterizos de esta época tienen su base en castillos realizados durante la “Reconquista”, especialmente los de la región del Limia. Eran fortalezas de pequeñas dimensiones con una pequeña guarnición de soldados y cuya missión será la seguridad y defensa de la región. Actúan como elementos del ordenamento del territorio, que tuvo como principio de localización un conjunto de factores de carácter geográfico. No solo actuarían como agentes ordenadores del territorio también de la población, pues con el aumento demográfico que se produce, las villas creadas en torno a los castillos se irán amurallando, como es el caso de Melgaço o Salvaterra do Miño. El punto más importante de comunicación entre ambos lados era Portela do Homem, que conecta la zona de Barroso (Portugal) con la región de O Xurés (Galiza). El castillo de Lanhoso junto con los de Melgaço, y Castro Laboreiro, eran los castillos más importantes de la frontera.

 

Javier Flórez Díaz

Universidad de Cantabria

2016-2017

                                                                     POSTS 1001

 

O CASTELO DE CASTRO LABOREIRO

melgaçodomonteàribeira, 20.05.23

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 castro laboreiro  séc. xvi

CASTRO LABOREIRO E O SEU CASTELO

CONTRIBUTO PARA O SEU ESTUDO

O CASTELO

Para uma melhor compreensão do tema, e também mais generalista, antes de prosseguir para o estudo de caso, dá-se a palavra a Mário Barroca: “A origem do castelo, na acepção restrita do termo, enquanto estrutura muralhada definindo o pequeno espaço onde se concentra um guarnição de soldados, deve procurar-se nos primórdios da reconquista cristã, encetada por D. Afonso I das Astúrias a partir dos meados do século VIII. No entanto, no estado actual dos nossos conhecimentos, é ainda difícil localizar com precisão no tempo o aparecimento destas novas estruturas. Sabemos que o Entre-Douro-e-Minho possuía, nos finais do século X e no século XI, uma rede bastante densa de castelos, na sua maioria fruto da iniciativa das populações locais” (Barroca, 1990, p. 91). Foi nesta rede de estruturas defensivas, designados nas fontes por monte, alpe ou castro, que as populações procuraram abrigo das sucessivas investidas de outros povos, até se formarem os reinos das monarquias do Norte. “A partir del siglo XI se percibe una mayor jerarquización de los centros de poder feudal, una mayor capacidade de control y ordenación de los territórios (commissa, mandationes, terras, alfoces…), parejo a una mayor implantación del domínio sobre los hombres y sobre la producción agraria. La acción señorial no se produce en el noroeste con formas de incastellamento similares a las de otros ámbitos mediterráneos, sino mediante la erección de pequeños castillos y recintos amurallados y dotados de torres, encaramados en altos cerros dominantes sobre el entorno o território (político, fiscal, administrativo)” (Gonzales, 2001, p. 26). Em suma, o formato de fortaleza medieval que hoje nos é comum, resulta de uma progressiva centralização de poderes e concentração de territórios sob a égide de um dirigente cuja administração e defesa só poderia ser feita com devida organização, em torno de um único símbolo de poder, como se verifica com o primitivo castelo roqueiro de Castro Laboreiro, e seu posterior refinamento. O castelo é um elemento fundamental para a compreensão da dinâmica política, económica, social e militar de um território. A contextualização histórica e arquitectónica de um castelo tem vários níveis de estudo e interpretação. As informações estão dispersas, a cronologia da sua actividade é extensa, carecendo de um trabalho aprofundado de investigação. Por isso, os parágrafos seguintes, sugerem um enquadramento do Castelo de Castro Laboreiro concebido a partir de algumas fontes bibliográficas, focando as linhas dominantes da história nacional, como os reinados e principais eventos militares, e menos a evolução administrativa e económica do território e das sociedades. É imperativo relacionar os grandes feitos militares dos reis portugueses com as consequências na arquitectura militar, em geral e em particular com o estudo de caso, uma vez que Castro Laboreiro, durante vários séculos foi na sua essência uma povoação fronteiriça, guerreira, destinada à protecção dos seus limites e da nacionalidade.

 

CASTRO LABOREIRO E O SEU CASTELO

CONTRIBUTO PARA O SEU ESTUDO

Diana Carvalho

Mestranda em História e Património

dianacarvalho.pt@gmail.com

ABELTERIUM

Volume III

Maio 2017

 

SOBRE O CASTELO DE CASTRO LABOREIRO

melgaçodomonteàribeira, 22.10.22

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AS ORIGENS

Relativamente às origens administrativas do castelo de Castro Laboreiro, um pouco anteriores ao reinado de D. Afonso Henriques, as referências são escassas, no entanto um documento de 1007 do Mosteiro de Celanova, refere Vitiza (séc. VIII-IX) enquanto conde deste território. Vitiza rebelou-se contra o rei D. Afonso III das Astúrias (866-910), mas foi derrotado pelo Conde D. Hermenegildo (842-912), parte das forças Galegas, que por este acto foi colocado na regência do território de Castro Laboreiro. No entanto, apenas na regência do seu neto São Rosendo (907-977), é que o local de implantação do actual castelo sofrerá alterações. Mais precisamente no ano de 955, D. Ordonho III, rei de Leão, nomeia-o bispo de Mondonhedo e administrador de Santiago de Compostela, governador do Val del Limia, o qual procura dotar a região norte de Portugal e a Galiza de fortificações que impedissem as investidas dos Árabes e Normandos, e Castro Laboreiro terá sido uma destas fortificações.

Em 1141, D. Afonso Henriques (1139-1185) havia invadido a Terra de Toronho (território fronteiriço à linha do Minho e que tinha Tuy à cabeça), acção bélica que conduziu à invasão do Minho por parte das forças leonesas e à subsequente tomada do castelo de Castro Laboreiro que, à data, era uma estrutura roqueira assente sobre os vestígios de uma velha povoação da Idade do Ferro. D. Afonso Henriques conquista o castelo de Castro Laboreiro tendo recebido da abadessa do convento de Paderne (Melgaço), mulas e mantimentos para esta empresa. Deverá ter concedido foral à povoação, nesta altura, no entanto este tema tem sido alvo de discussão e debate, dado que o foral está desaparecido (bem como outros documentos do cartulário de Fiães, da mesma época), mas é repetidamente invocado, e sendo o seu conteúdo comparado ao de Sahagún (o mesmo problema ecoa relativamente ao foral de Melgaço, concedido por D. Afonso Henriques).

A fortificação é alvo de intervenções na sua arquitectura nesta época porque passa a integrar as linhas de defesa fronteiriça de Entre Douro e Minho, enquanto sentinela dos acessos fronteiriços terrestres entre o reino português e a Galiza. Contudo, não se sabe exactamente quais nem em que datas se foram introduzindo os elementos que conhecemos a partir dos alçados e plantas de Duarte de Armas (séc. XVI), sendo estes do período que em História de Arte se denomina de gótico.

 

CASTRO LABOREIRO E SEU CASTELO

CONTRIBUTO PARA O SEU ESTUDO

DIANA CARVALHO

(mestranda em História e Património, dianacarvalho.pt@gmail.com)

 

Retirado de:

Abelterium

Revista Online de Arqueologia e História do

Município de Alter do Chão

Volume III

Maio de 2017

O CASTELO DE LABOREIRO NO TEMPO

melgaçodomonteàribeira, 02.04.22

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ENTRE OS SÉCS. XII-XV

 

  1. Sancho I (1185-1211) perde o domínio sobre os castelos fronteiriços de Melgaço e Valença, mas durante este período sabe-se que o castelo de Castro Laboreiro se manteve do lado português, sobrevivendo às hostilidades entre D. Sancho I e D. Fernando II de Leão, nas fronteiras do norte (Minho e Trás-os-Montes). D, Sancho I, concede novo foral a Castro Laboreiro (também desaparecido).

É digno de nota que D. Afonso III lançou os alicerces de um projecto que articulava a defesa do Minho com a edificação de uma armadura militar composta por várias silhuetas de castelos, que o seu filho D. Dinis iria concretizar.

É neste século que Castro Laboreiro, terra fronteiriça, recebe o estatuto de sede de concelho, podendo ser um indicador de que também a administração da fortaleza tenha beneficiado das preocupações régias.

É D. Afonso III (1248-1279), pai de D. Dinis, o responsável pela introdução de algumas novidades arquitectónicas nas fortalezas do reino, pois durante a sua estadia em França teve a possibilidade de analisar e compreender as influências vindas do norte da Europa, a corrente gótica militar, que torna a fortaleza mais activa, proporcionando à guarnição do interior do castelo atacar e defender. A localização das torres de menagem é repensada e estudada para se adossar ao pano da muralha. As suas plantas são reestruturadas para outros formatos poligonais,, além do quadrangular ou rectangular, favorecendo a sua operacionalidade para atacar e defender. Multiplicam-se as torres adossadas ao pano de muralha e os seus ângulos, aperfeiçoando a vigilância. Introduzem-se sistemas de tiro vertical garantidos através da instalação de balcões com matacães, nas torres ou poe cima das portas. Aparecem as barbacãs, que permitem oferecer um primeiro obstáculo aos atacantes, anterior ao pano da muralha. As portas passam a ter uma maior importância e são ladeadas ou encimadas por torreões. Alargam-se os adarves e as ameias, facilitando a movimentação e protecção das guarnições.

Muitos destes elementos estão presentes no recinto norte do castelo de Castro Laboreiro, sendo alguns deles visíveis na planta desenhada por Duarte de Armas (séc. XVI), e outros ainda hoje estão visíveis nas ruínas do monumento. Isto significa que o castelo de Castro Laboreiro fez a transição de uma estratégia passiva de defesa, própria do castelo românico, para uma estratégia activa, própria do castelo gótico. Se este castelo, fronteiriço, teve necessidade contínua de se adptar às circunstâncias de defesa do território, significa que a sua relevância para a defesa do território nacional não pode ser ignorada.

  1. Dinis (1279-1325) dá sequência à demarcação do território, à territorialização do poder político e à fortificação dos castelos, conforme acontece com a muralha dionisina de Castro Laboreiro. Esta muralha previa o abrigo da população civil quando necessário e também do gado, revelando a grande importância da actividade pastoril nesta área para a sobrevivência da população. Esta situação atesta a tese de José Mattoso e Carlos A. Ferreira de Almeida, de que o século XIII terá sido um século de transição para a forma de defesa das comunidades, deixando de viver fortificadas em castros ou em redor de pequenos castelos roqueiros, para centros urbanos, vigiados por castelos que lhes são altaneiros.

O reinado de D. Dinis, consolida e assegura o poder nas fronteiras. Os reinados de D. Afonso IV (1325-1357) e D. Pedro I (1357-1367), são marcados por prosperidade e pelo alargamento das fronteiras atlânticas uma vez que D. Afonso III e D. Dinis, tinham assegurado a soberania e independência nacional nas fronteiras terrestres, permitindo que a administração régia folgasse por outros horizontes. Quer-se com esta citação demonstrar que os reinados anteriores de D. Afonso III e D. Dinis, promoveram a segurança das fronteiras, deixando outros caminhos da administração em aberto para desenvolvimento e evolução.

  1. Fernando I (1367-1383) dá continuidade ao desenvolvimento económico marítimo, mas termina o seu reinado colocando a independência do reino de Portugal em causa, voltando a instalar-se a insegurança nas fronteiras. Particularmente, a muralha do castelo de Castro Laboreiro beneficia de um reforço no reinado de D. Fernando.

Sucude-lhe D. João I (1385-1433), e no período da sua regência, destaca-se uma informação relativa ao posicionamento político de Castro Laboreiro pelas forças do rei português. É no reinado de D. João I, e pelo engenho do condestável Nun’Álvares Pereira, que o reino de Portugal se reafirma novamente nas fronteiras terrestres. A partir do século XV encontra-se documentação no arquivo da Casa de Bragança, em Vila Viçosa, que atestam sucessivas doações régias, de alguns domínios deste território  e respectivo castelo, aos duques de Bragança. Esta prática perdurará até ao século XVIII.

É também a partir deste período que se inicia a arte da guerra com armas pirobalísticas embora ainda muito rudimentares e pouco eficazes, como os “trons” ou as “bombardas”. A introdução das armas de fogo subjugou a arquitectura das fortalezas adaptadas para a defesa tradicional. As transformações mais significativas para defesa dessas armas foram o alargamento dos panos das muralhas e a remoção das ameias, de forma a diminuir a silhueta do alvo e a resistir aos impactos da pirobalística, a construção de barreiras avançadas, barbacãs e antemuros, que ofereciam um primeiro obstáculo à artilharia inimiga, a adopção de formas circulares para os torreões reforçando a capacidade de resistência a projécteis, a modificação dos ângulos dos muros proporcionando o ressalto dos projécteis, e também o recurso a fossos ou cavas mais profundos. No estudo de caso verificou-se apenas a remoção das ameias, mais como medida de prevenção do que preparação para o ataque, para evitar os estilhaços provocados pelo impacto dos projécteis na eventualidade de uma guerra no local.

Para o acolhimento das armas dentro do recinto do castelo medieval, as transformações foram outras, nomeadamente a abertura de troneiras, “buracos redondos, destinados à adaptação de bocas de fogo de diâmetro adequado” nos muros das estruturas, a construção de casamatas, “estruturas abobadadas rasgadas nos próprios muros e destinadas a alojar novas peças de artilharia”.

Nos reinados seguintes ao de D. João I, o investimento régio é feito em acordos de paz e nos descobrimentos além-mar, pondo à margem das atenções a armadura castelar das fronteiras terrestres.

Período de decadência.

 

CASTRO LABOREIRO E O SEU CASTELO

CONTRIBUTO PARA O SEU ESTUDO

 

DIANA CARVALHO

Mestranda em História e Património, dianacarvalho.pt@gmail.com

 

Publicado em:

Abelterium

Revista Online de Arqueologia e História

do Município de Alter do Chão

Volume III

Maio de 2017

 

EXPLOSÃO NO CASTELO DE CASTRO LABOREIRO

melgaçodomonteàribeira, 28.11.20

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 castelo de castro laboreiro

 

Em termos administrativos, muito representados pelo que foi deixado na historiografia do seu castelo e igreja paroquial, Castro Laboreiro mantém-se português até ao domínio dos Filipes, passando para domínio espanhol com a perda da independência no século XVI. Durante este período principia-se a sua decadência. O novo alcaide espanhol do castelo de Castro Laboreiro descreve a fortaleza como estando povoada de “gralhas”. Embora a data da restauração da independência de Portugal seja dezembro de 1640, Castro Laboreiro só se reintegra no território português em 1666, durante a Guerra da Restauração. Em 1659, a destruição de parte do castelo de Castro Laboreiro debilitou as defesas do lugar. Este facto está descrito num documento da Torre do Tombo, livro nº 51, folha 5:

 

Aos dezoito dias de novembro de 1659, que foi uma terça-feira, às nove horas da manhã, caiu um raio na Torre do Castelo que servia de armazém de pólvora e fez a maior ruína que se sabe, pois da Torre e mais partes acessórias não ficou pedra sobre pedra e deste grande prodígio se vê claramente ser grande castigo do céu que Deus mandou para castigar pecadores que dentro deste Castelo estavam nesta grande desventura se viram grandes milagres. O primeiro a escapar foi o Governador Gaspar de Faria com a sua mulher e mais família, estando na parte mais arriscada, pois aí removeu a muralha da Torre; as suas casas as fez em pedaços e aí estavam e aí escapou com mais segurança e castigou o que na Ermida não podia ficar pedra sobre pedra, pois caiu toda a Torre sobre ela e ficou Nossa Senhora dos Remédios aí me recolhi, sem cobertura, sem água, ficando debaixo toda a máquina. Terceiro Milagre; - Foi que escapou um Escrivão do Governador debaixo desta ruína, sem avaria e são. Nesta desventura morreram – Gaspar Lima de Castro, Escrivão das Décimas e Sisas e Treslados; e um mulato seu criado, por esse nome Marcos, natural de Tangil e um miúdo, criado do Governador, por nome de Gaspar de Medela e dois soldados”.

 

Diana Alexandra Simões Carvalho

Castro Laboreiro – Do Pão da Terra Aos Fornos Comunitários

Uma proposta de mediação patrimonial

Faculdade de Letras da Universidade do Porto

Maio de 2017

 

 

 

 

CASTELO DE CASTRO LABOREIRO

melgaçodomonteàribeira, 12.07.14

 

Porta do Sapo – Desenho do livro Melgaço Estância Termal

 

CASTELO DE CASTRO LABOREIRO

 

HISTÓRIA

 

Antecedentes

A região foi ocupada desde a pré-história, conforme o demonstram os monumentos megalíticos abundantes no planalto a nordeste de Castro Laboreiro.

Embora não haja informações históricas abundantes, a ocupação deste sítio parece ligar-se ao traçado das diversas estradas romanas que aqui possuíam pontes para a travessia dos rios da região (ribeiro do Barreiro, o rio Laboreiro, o rio Cainheiras, o rio do Porto Seco e outros). Pinho Leal, afirma ser mais certo que o castelo seja atribuível aos romanos. (“Portugal Antigo e Moderno”, 1873)

O castelo medieval

À época da Reconquista cristã da Península Ibérica, Afonso III de Leão (848-910) doou o domínio de Laboreiro, na primeira metade do século X, ao conde D. Hermenegildo, avô de São Rosendo, por este ter vencido Witiza, um chefe local que se havia revoltado. Durante o domínio do conde, o castro existente (e que lhe deu o nome) terá sido adaptado a castelo, voltando, posteriormente, ao domínio muçulmano.

Em 1140, D. Afonso Henriques, futuro Afonso I de Portugal (1143-1185) conquistou a povoação de Laboreiro aos Leoneses, fazendo reparar a sua defesa (1145), (Guerra, 1926:672) que passava a integrar a linha fronteiriça dos domínios de Portugal. Embora se desconheçam os detalhes dessa defesa, ela estaria concluída, conforme inscrição epigráfica, sob o reinado de Sancho I de Portugal (1185-1211). No início do reinado de Afonso II de Portugal (1211-1223) foi arrasado quando da invasão por tropas do reino de Leão (1212).

A povoação foi elevada a vila por carta de foral outorgada por Afonso III de Portugal (1248-1279) passada em Lisboa a 15 de Janeiro de 1271. Um dos seus privilégios, concedido por vários reis e séculos mais tarde confirmado por João V de Portugal (1706-1750), era o de não se recrutarem aqui soldados. Vila e sede de Concelho entre 1271 e 1855, Laboreiro foi pertença do condado de Barcelos até 1834, bem como comenda da Ordem de Cristo desde 1319. Sob o reinado de Dinis I de Portugal (1279-1325), por volta de 1290 o castelo foi reconstruído, quando adquiriu a actual feição. Por esta época, a alcaidaria de Laboreiro e a de Melgaço encontravam-se unidas, a cargo da família Gomes de Abreu, de Merufe. Posteriormente, Fernando I de Portugal (1367-1383) doou esta alcaidaria a Estêvão Anes Marinho (1375), que pouco tempo a conservou. (Guerra, 1926:672)

No século XIV, após a conquista de Melgaço, João I de Portugal (1385-1433) pôs-lhe presídio, e utilizou Laboreiro como base para deter as incursões das forças castelhanas oriundas da Galiza. (Op. cit., p. 672)

Em 1441 o alcaide-mor de Melgaço e Laboreiro, Martim de Castro sob queixa de agravar os moradores daqueles lugares foi chamado à Corte, e não mais voltou a exercer esses cargos. (Op. cit., p. 672)

No reinado de Manuel I de Portugal (1495-1521), o castelo encontra-se figurado por Duarte de Armas, no seu “Livro das Fortalezas” (c. 1509), podendo-se observar as muralhas reforçadas por cinco torres de planta quadrangular. Ao centro, a torre de menagem, também de planta quadrangular, precedida por outra construção, com a cisterna a norte. Isolada, em plano inferior, a vila. Este soberano outorgou-lhe o Foral Novo, passado em Lisboa a 20 de Novembro de 1513, passando a denominar-se Castro Laboreiro.

Da Guerra da Restauração aos nossos dias

Durante a Guerra da Restauração da independência portuguesa (1640-1668), o castelo recebeu guarnição escolhida (1643), dele partindo as forças portuguesas que dois anos depois (1645) saíram a talar os campos espanhóis, saqueando as povoações vizinhas. Em Maio de 1666 tropas espanholas sob o comando do Mestre de Campo General D. Baltasar de Rojas y Pantoja, conquistaram o castelo de surpresa, após quatro horas de batalha. Tendo deixado como Governador da praça D. Pedro Esteves Ricarte, este rendeu-se sem resistência a D. Francisco de Sousa, 5º conde do Prado, sendo acusado de se ter vendido aos interesses portugueses. (Op. cit., p. 673)

Findo o conflito, ao contrário do parecer do engenheiro militar Michel de L’Ècole, em 1671 Afonso VI de Portugal (1656-1683) decidiu conservar os castelos de Lapela e de Castro Laboreiro.

Com o fim da Guerra de Sucessão espanhola (1702-1713), com a paz de 1715 o castelo foi desguarnecido. (Op. cit., p. 673)

Nas “Memórias Paroquiais” (1758) encontra-se brevemente descrito: (Castro Laboreiro) Somente tem um castelo antiquíssimo e se acham as casas que dentro em si tem, adonde habitavam os soldados e o governador do mesmo, todas arruinadas e sem portas e também se acha arruinada parte da muralha do dito castelo”.

Ainda nesse século, entre 1766 e 1778, foi utilizado por José António Freire de Andrade, 2º conde de Bobadela, Governador das Armas da Província do Minho, para recolher homens e mulheres que se recusavam a apresentar os seus filhos recenseados para o serviço militar. Passaram por essa detenção cerca de 400 pessoas no período. Freire de Andrade encarregou do governo castrense a Manuel de Araújo Machado, o segundo do nome. (Guerra:1926:673)

Os últimos governadores do castelo pertenciam à casa da Amiosa, em Valadares, no concelho de Monção.

- Manuel de Araújo Machado, o Velho, enviuvou e professou no Convento Beneditino de Cela Nova, na Galiza, ainda no reinado de D. João V;

- Manuel de Araújo Machado, o Novo, sobrinho e genro do anterior, obteve despacho para governar Castro Laboreiro em 1746, com a patente de Sargento-mor de Infantaria, abandonando o cargo de Mestre Sala na Corte, gozando do novo cargo até falecer em 1779, aos 79 anos de idade. (Op. cit., p. 673)

No contexto da Guerra Peninsular, foi guarnecido e artilhado com quatro peças (1801). (Op. cit., p. 673) Com a paz, voltou a ser desguarnecido, iniciando-se o seu processo de abandono e ruína.

Encontra-se classificado como Monumento Nacional pelo Decreto nº 33.587, publicado no Diário do Governo, I Série, nº 63, de 27 de Março de 1944.

Na década de 1970 foram promovidos trabalhos de prospecção arqueológica, que revelaram testemunhos de ocupação do período da Alta Idade Média.

Entre 1979 e 1981 tiveram lugar trabalhos de limpeza e consolidação do monumento.

Em 2005 a Câmara Municipal de Melgaço procedeu a obras de valorização do acesso ao castelo.

Actualmente subsistem alguns panos de muralha aparelhados e um portal de arco de volta perfeita, a chamada Porta do Sapo.

 

 

Ler mais:

              http://fortalezas.org