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MELGAÇO, DO MONTE À RIBEIRA

História e narrativas duma terra raiana

MELGAÇO, DO MONTE À RIBEIRA

História e narrativas duma terra raiana

MELGAÇO MILITAR EM FINAIS DO SÉCULO XVIII

melgaçodomonteàribeira, 30.01.16

15 a2 - torre e muralha.jpg

 

 

 

O SISTEMA DEFENSIVO DO ALTO MINHO

EM FINAIS DO SÉCULO XVIII

Contributo do Engenheiro Militar

Custódio José Gomes de Vilas Boas

 

 

Por: Luís Miguel Moreira

 

O território fronteiriço entre os vales dos rios Lima e Minho, era ocupado pela vasta serra da Peneda, considerada intransponível por um exército moderno, não obstante os caminhos existentes no planalto de Castro Laboreiro, por onde comunicavam as populações locais, de ambos os lado. Em todo caso, estas estradas estavam, como se pode ler no mapa de 1798, em muito mau estado de conservação, dificultando a progressão de um exército que pretendesse viajar com todo o seu trem de artilharia e provisões. Na eventualidade de esta situação ocorrer, era aconselhado um ataque imediato nesta área, de forma a limitar as possibilidades do inimigo.

De qualquer forma, para a vigilância e protecção desta área, existia o castelo de Castro Laboreiro, de planta medieval reformulada ao longo dos anos de acordo com as exigências militares, equipado com algumas peças de artilharia.

Desde Castro Laboreiro, à entrada do rio Minho, a fronteira era estabelecida pelo vale do rio Trancoso – também designado por “rio das Várzeas – cujo vale de margens abruptas era considerado impenetrável. Os únicos pontos de passagem seriam as duas pontes assinaladas no mapa: a ponte de Pouzafolles, ainda em área de montanha, e a Ponte das Várzeas, construída em madeira no lugar de S. Gregório. Por ocasião da Guerra Fantástica, em 1762, foi construído um pequeno reduto para vigiar a estrada do vale do rio Minho, embora tivesse sido considerado arruinado em 1800.

A partir da foz do Trancoso, a fronteira entre Portugal e a Galiza passava a ser estabelecida pelo curso do rio Minho, considerado por Vilas Boas “(um) formidável fosso aquatico das praças fronteiras, com 80 a 100 braças de largura media, e barreira de força activa que em tempo de guerra equivale a muita tropa e reduplica a defensa daquellas praças.

A primeira das defesas da fronteira Norte do Alto Minho, seguindo o curso do rio de montante para jusante, era a vila de Melgaço, equipada com 15 canhões e uma “obra coroa” (fortificação exterior à muralha) sobre a estrada para a Galiza. O castelo, de muralha circular e antiga, não era considerado apto para a defesa, pelo que, Vilas Boas, o indicava para servir de quartel e armazém de víveres das tropas estacionadas naquela parte do território.

Deste modo, a defesa da entrada do rio Minho, deveria ser feita no rio Trancoso, onde seria necessário construir alguns entrincheiramentos, equipados com os canhões de Melgaço, ao mesmo tempo que se demoliria a ponte das Várzeas a fim de dificultar o movimento inimigo.

Em caso de invasão, as tropas portuguesas retirar-se-iam para as montanhas oferecendo a maior resistência possível. Combinando as características do terreno com os meios militares, era possível opor uma eficaz resistência ao invasor, apenas com um pequeno número de homens: 32 artilheiros, um batalhão de infantaria, e alguma milícia e ordenanças, se o inimigo fosse em número muito superior, poder-se-ia recorrer aos reforços de Monção.

Em 1800, Vilas Boas indicava já que a ponte das Várzeas estava “arruinada” e o Castelo de Melgaço havia sido desguarnecido da sua artilharia havia pouco tempo. O autor nada diz sobre uma possível existência dos entrincheiramentos, mas esta informação poderá constituir um indício das preparações para a defesa da Província, seguindo as directrizes apontadas por aquele engenheiro militar.

 

Ler o artigo completo em:

 

http://gib.cm-viana-castelo.pt/documentos/20081031112357.pdf

 

CAVALEIRO BOM E FIEL, PORTUGUEZ E FIDALGO

melgaçodomonteàribeira, 25.08.15

26 c2 - vila sec XIX -.jpg

   

OS ANTIGOS FORAIS DE MELGAÇO, TERRA DE FRONTEIRA

 

Melgaço recebeu de Affonso I, em 1181, o foral de Ribadavia, terra da Galliza; e, segundo diz o documento, foram os proprios moradores de Melgaço que o pediram por entenderem que era bom. D. Sancho II, 1223 – 1245, converteu em mil soldos leonezes por anno as rendas que tinha na villa, e deixou a cargo do concelho apresentar ao rei um cavalleiro que lhe fizesse menagem do castello. O diploma foi confirmado por D. Affonso III em 1256.

Dois annos depois, em 1258, o soberano dá a Melgaço o foral de Monsão (typo de Salamanca), cuja data conhecida é todavia, como já observamos, de 1261; e estabelece, em especial, que haja na villa trezentos e cincoenta povoadores que pagarão annualmente á coroa, elles e todos que lhes succederem, trezentos e cincoenta morabitinos velhos, em tres prazos, por todos os direitos, foros e coimas que menciona a carta: o rico-homem, que governar o districto, pode entrar na villa, mas pagará á sua custa a despesa que fizer, e não aggravará por fórma alguma os habitantes: o alcaide do castello é posto pelo rei, e a elle prestará menagem, mas não se intrometterá na governança do concelho, salvo se os proprios moradores o convocarem.

A conversão, que se lê no documento de 1258, é em tudo igual á que registraram as actas das inquirições geraes d’esse anno, a respeito de Melgaço. Ocorre, portanto, aqui um reparo. D. Afonso III mandou fazer as inquirições entre Cavado e Minho a 26 de abril de 1258; e o foral dado a Melgaço n’esse anno, está datado de Braga a 29 de abril. Ou havemos de entender que o depoimento dos jurados (e no inquerito de Melgaço intervieram muitos) se refere a um facto antigo, e n’este caso a conversão já existia quando se passou ao concelho a carta de 1258; ou, dando desconto ao tempo que os commissarios haviam de gastar nos inqueritos, desde que tinham sido incumbidos d’estas pesquizas em 26 de abril, devemos crer que a reducção foi feita pelo foral, mas já era conhecida em Melgaço quando ahi estiveram os inquiridores. Sendo assim, este exemplo servirá de aviso para não considerarmos sempre como existentes de longa data os factos, que as actas das inquirições afirmam terem sido expostos pelos jurados, quando não constar que estes deram alguma indicação a respeito do tempo em que aconteceram.

Mas fosse ou não mais antiga a substituição dos encargos exarada no foral de 1258, o que sabemos é que elle era revogado antes de terem decorrido tres annos, em 9 de fevereiro de 1261, por se julgarem aggravados com a innovação os moradores do concelho, sendo então restituidos ao seu estado anterior. Cada vizinho, diz o diploma, recupere e tenha todo o seu herdamento que tinha antes; o que nos mostra que a reforma, augmentando o numero de foreiros, dava aos que accresciam alguma parte dos predios dos antigos povoadores. A carta de 1181 é de novo confirmada, mantendo-se porém igualmente o pacto que fizera com o gremio el-rei D. Sancho II, e que já vimos ter sido ratificado por D. Affonso III em 1256.

No documento, que vamos seguindo, as condições, ou attribuidas a esse pacto ou estabelecidas agora pelo soberano, são, além da conversão de todos os rendimentos fiscaes em mil soldos leonezes: que o concelho terá e guardará o castello á sua custa, devendo apresentar um cavalleiro bom e fiel, portuguez e fidalgo, que faça menagem do castello ao rei: o morador do couto de Melgaço, que exportar vinho embarcando-o, pagará direitos á coroa: o rico-homem não entrará na villa e seu termo, nem no castello, contra vontade do concelho, salvo se for por mandado do rei para defender a terra.

 

Revista da Faculdade de Letras

António Matos Reis

 

http://ler.letras.up.pt

 

O CASTELO DE MELGAÇO NO TEMPO – SÉC XX

melgaçodomonteàribeira, 01.03.14

 

Ruínas Arqueológicas da Praça da República

 

DO SÉCULO XX AOS NOSSOS DIAS

 

 

   O castelo encontra-se classificado como Monumento Nacional pelo Decreto de 16 de Junho de 1910, publicado no Diário do Governo nº 136 de 23 de Junho de 1910. A muralha, pelo Decreto nº 11.454, publicado no Diário do Governo, Série I, nº 35 de 19 de Fevereiro de 1926. A ZEP (castelo e cerca) foi definida por Portaria publicada no Diário do Governo, II Série nº 105, de 9 de Maio de 1949.

   Em 1910, quando da classificação do castelo, este encontrava-se em avançado estado de ruína e, da cerca, já pouco restava.

   Entre 10 de Outubro de 1914 e 3 de Abril de 1916, efectuou-se escritura de compra do que restava da fortificação da vila para demolir, incluindo a Porta de Baixo com a inscrição medieval, a título de alargamento e aformoseamento da vila. Desse modo, a 14 de Outubro de 1914, procedeu-se à demolição da cerca desde a Porta de Cima, a que ligava com a couraça nova, para a Porta de Baixo, vendendo-se a pedra. Em 1916 a Câmara cedeu oito carros de pedra da muralha por troca de um pedaço de terreno pertencente a D. Maria da Nazareth Esteves dos Santos Lima, para o município abrir uma servidão junto à estrada de Prado a Paderne, no sítio de Cortinhas.

   Em 1917 pretendeu-se acabar com este resto e se não fora o alarme lançado por António Maria Vasco de Melo Silva César de Meneses, 9º conde de Sabugosa, a que se seguiu um movimento encabeçado pelo jornalista Humberto Beça, hoje nada restaria da fortificação. Desse modo, a 5 de Dezembro de 1917 um ofício do presidente do Conselho de Arte e Arqueologia indagava à Câmara por que motivo se demoliram as muralhas da vila, sem ser ouvida a Comissão dos Monumentos. A Câmara entendeu que a suspensão dos trabalhos era contrária aos interesses do município, decidindo informar a Inspecção-Geral das Fortificações e Obras Militares para garantir os seus direitos. Como resultado, em 23 de Janeiro de 1918, um despacho do Ministério da Guerra anulou a venda de talhões. A Câmara decidiu vender o material proveniente da demolição de uma casa situada no largo do Chafariz e a pedra da muralha da couraça nova (26 de Junho de 1919); o entulho deveria ser deitado no espaço onde estavam os canastros, sobranceiro ao antigo lavadouro público (o actual jardim que ladeia o castelo); o Inspector do Conselho de Arte e Arqueologia pediu que a Câmara o informasse sobre o plano de melhoramentos do castelo.

   Em 5 de Maio de 1920 a Repartição de Turismo solicitou a constituição de uma Comissão que tivesse como objectivo a “guarda e defesa do castelo”. Nesse mesmo ano, a 24 de Novembro, tendo recebido um reforço orçamental, a Repartição de Turismo solicitou à Câmara o envio de lista das obras a empreender e o respectivo custo.

   Sem preocupação de preservação, a 25 de Fevereiro de 1925 a Câmara deliberou vender a pedra dos alicerces das muralhas da vila, desde a extremidade do quintal das senhoras Almeidas até à extremidade do quintal de Emiliano Igrejas por oito escudos cada carro. A 1 de Abril seguinte, licitou dois lotes de pedra, um de 400$00 e o outro por 600$00. A 15 de Julho subsequente, colocou novamente em praça um terceiro lote de pedra das muralhas. À época, ainda, o presidente da Junta de Freguesia da vila solicitou à Câmara o refugo de pedras das muralhas para consertar o caminho público da Pigarra. No ano seguinte (1926), José Augusto da Cunha requereu à Câmara que lhe facultasse mais 80 carros de pedra, para além dos 120 que já havia levado, a qual se encontrava à entrada da vila, no lado sul, entulhada e em monte (27 de Outubro).

   A intervenção do poder público para a preservação do que sobrou iniciou-se em 1936. Nesse ano foi formulado um pedido à Guarda Fiscal para desocupar o piso térreo da torre de menagem, onde guardava barris e havia aberto uma porta na fachada lateral direita. A Direcção Geral dos Edifícios e Monumentos Nacionais (DGEMN) iniciou no mesmo ano as obras de reparação da torre de menagem, que prosseguiram no ano seguinte (1937), substituindo-se a sua anterior feição, procedendo-se a reparação do telhado e o entaipamento da porta no piso térreo, assim como a reposição do relógio da torre. Em 1939 tiveram lugar obras de recuperação do castelo, com a lavagem das paredes, calafetagem das juntas, aparelhamento de silhares, colocação de travejamento novo em madeira e de uma porta exterior; refez-se a barbacã da porta, com reconstrução das troneiras.

   Nesse contexto, em 1942 a Direcção de Finanças cedeu à Câmara o castelo, com a condição de zelar pela sua limpeza e conservação e propôs a sua utilização como mercado de gado. Acto contínuo, um ofício do director da DGEMN protestou contra este tipo de utilização, visto o Estado proceder ao restauro dos monumentos nacionais com o intuito patriótico de os salvar da ruína. No ano seguinte (1943), um ofício da Câmara à DGEMN informou que uma das torres estava em risco de desmoronar sobre o Quartel da Guarda Fiscal (23 de Janeiro), tendo esta procedido a obras de recuperação, a cargo do empreiteiro António Domingues Esteves.

   A DGEMN nomeou Oceano Cândido de Sousa como guarda dos Monumentos de Melgaço (25 de Agosto de 1949).

   Em 1951 tiveram lugar intervenções de limpeza da vegetação das muralhas e do terreno, reparação da cobertura da torre e colocação de porta de duas folhas, pelo empreiteiro Francisco Pinto Loureiro.

   Em 1960 foi feita nova reparação do telhado da torre de menagem, tendo tido lugar, no ano seguinte (1961) trabalhos de restauro e conservação.

   No ano de 1968 a comissão de festas do concelho procedeu à reparação dos danos na cobertura e pavimento da torre e escada de acesso.

   A década de 1970 assistiu à renovação do relógio da torre. Em 1971 foi feita a limpeza do castelo pelo empreiteiro José Pires Barreiros. No ano seguinte (1972), um incêndio destruiu o telhado, o soalho e as escadas de acesso à cobertura na torre de menagem. Um violento temporal destruiu quase por completo o telhado e fez ruir algumas ameias. Ainda nesse ano procedeu-se à reparação da torre pelo empreiteiro Viriato Alves Neiva, obras orçadas em 70.000$00. Procedeu-se ainda à reparação das portas da torre e da muralha. Em 1973 foram reparados os prejuízos causados pelo temporal, no montante de 44.500$00 (reposição de algumas ameias, reajustamento das cantarias deslocadas pela queda de um raio, reconstrução da cobertura, assentamento de degraus de madeira no interior da torre e construção da porta de acesso).

   Em 1981 tiveram lugar novas reparações do telhado e diversos trabalhos de conservação. No ano seguinte (1982) executou-se a limpeza de vários troços da muralha, a abertura das juntas na muralha dos lados sul e leste e o refechamento das mesmas, pela firma Marques & Marques, Lda., no montante de 400.000$00.

   Em 1991 tiveram lugar reparações na zona da torre de menagem.

   Em 1998 foi aprovada a criação de um Núcleo Museológico no espaço da torre de menagem, procedendo-se no ano seguinte (1999) à sua adaptação a essa finalidade, com a limpeza do piso térreo, deixando o afloramento rochoso à vista. Desse modo, ainda no mesmo ano, foi feita a inauguração oficial do espaço museológico (23 de Abril).

   A Câmara Municipal procedeu, no ano 2000, a campanha de prospecção arqueológica na Praça da República com o objectivo de descobrir o que restava da couraça nova, dos muros das falsas bragas e os alicerces que haviam estado dentro da tenalha, posteriormente Campo da Feira e Praça do Comércio. Abriram-se cinco valas de sondagem que deixaram a descoberto vestígios da couraça nova e de uma calçada, levando à ampliação da intervenção. Descobriu-se um largo e fundo fosso cavado no exterior da muralha do castelo e da cerca, a couraça nova e quatro níveis de calçadas e o alicerce de um dos muros da falsa braga que, no século XVII inutilizou a circulação no interior do fosso. As escavações no interior da Casa de Gaveto entre a Praça da República e a Rua Afonso Costa, permitiram ainda constatar os alicerces da tenalha.

   Até 2002 a Câmara procedeu ainda a obras de conservação e restauro e musealização do espaço, no valor de cerca de 40 mil contos, inaugurado a 21 de Agosto de 2001 pelo Ministro-adjunto António José Seguro, integrando o fosso medieval e uma pequena parte da couraça nova.

   Em Agosto de 2003 procedeu-se à renovação do Núcleo Museológico da Torre de Menagem e respectivos conteúdos.

   No ano de 2004 registou-se a aprovação da candidatura do “Plano Director das Fortalezas Transfronteiriças do Vale do Minho”, no âmbito do programa “INTERREG III”. Este visava fazer a inventariação do património edificado, avaliar o seu estado de conservação, determinar as suas patologias e posteriormente determinar estratégias específicas de actuação, tendentes à valorização, divulgação e fruição dos espaços fortificados, bem como a criação de percursos culturais e turísticos entre as povoações das duas margens do rio Minho.

 

Retirado de:

www.fortalezas.org

 

O CASTELO DE MELGAÇO NO TEMPO – SÉC XIX

melgaçodomonteàribeira, 22.02.14

 

Castelo de Melgaço

 

 

O SÉCULO XIX

 

 

   No contexto da Guerra Peninsular (1808-1814) quando da primeira invasão do país pelas tropas napoleónicas (1807-1808), as muralhas de Melgaço encontravam-se arruinadas. Por volta de 1808, em uma nova avaliação do estado das fronteiras do rio Minho o engenheiro militar responsável considerou que seria mais vantajoso gastar o dinheiro na construção de pequenas baterias, que se poderiam estabelecer em tempo de guerra em locais oportunos, do que na reparação e conservação daquelas praças.

   GUERRA, Luís Figueiredo da, Castelos do Distrito de Viana (1926), informa que cabe a Melgaço a honra de ser a terra de Portugal que primeiro se levantou contra o domínio francês, erguendo a bandeira nacional a 9 de Junho de 1808. Conservava, naquele momento, 7 peças de artilharia. (Op. cit., p. 675)

   No mesmo momento, o Sargento-mor Engenheiro Custódio José Gomes Vilas Boas descreveu Melgaço como um pequeno recinto que encerrava parte da vila com muralhas altas, mas que tinha um terrapleno com parapeito tão escasso que mal se podia manobrar a artilharia; a única serventia era como ponto de reunião e de permanência temporária, de onde se podia partir para defender a Ponte das Várzeas (15 de Junho de 1808).

   Em 1810 para a defesa da praça de Melgaço, construíram-se baterias em pontos vitais para a entrada de um exército invasor pela Galiza: uma em S. Gregório, outras na estrada entre a vila e a Ponte das Várzeas, outras ainda foram projectadas mas não construídas. Essas baterias de campanha eram feitas com parapeitos de terra, próprias para receber soldados com armas ligeiras, mas também onde se poderiam colocar peças de artilharia.

   Em um documento de 23 de Maio de 1840 a antiga torre de menagem encontra-se referida como “torre do relógio”, informando-se que o castelo era circundado exteriormente por um “caminho de piquetes”, tendo a leste um hornaveque, e a norte algumas obras baixas; a fortificação encerrava um quartel para uma campanha e um armazém convertido em quartel; o recinto magistral estava em bom estado, o castelo tinha uma parte da muralha arruinada, as portas e os quartéis precisavam de concerto; o hornaveque estava arruinado e cheio de casas particulares por dentro e por fora; ao longo do “ramal” sul tinha casas adossadas, algumas mais altas que a muralha; as obras baixas estavam em bom estado.

   Neste momento, em meados do século XIX, registou-se a desactivação da tenalha que, por Aviso do Ministério da Guerra de 13 de Agosto de 1856 viria a ser demolida. Uma planta da época mostra a couraça com adarve, ao qual se acedia por escadas interiores. Outra planta, com data de 1857 mostra boa parte da área militar e sua envolvente aproveitada agricolamente. Ainda à época, uma planta com data de 1859 mostra que ainda subsistia a “couraça nova” desenhada por Duarte de Armas no século XVI, embora agora tivesse adossada pelo lado de fora uma casa e, pelo lado de dentro, três prédios.

   Entretanto a vila ia crescendo fora de muros e, ao atingir-se o último quartel do século, Melgaço, como outras vilas e cidades muralhadas no país, acabou por ser alvo das ideias desenvolvimentistas que viam nas antigas fortificações um estorvo ao crescimento urbano.

   De acordo com um relatório datado de 15 de Dezembro de 1861, a povoação não devia ser sacrificada ao imobilismo da História, pelo que o “recinto magistral” deveria ser demolido e o seu material vendido, tal como o quartel dos veteranos, a casa da guarda das portas de cima, e os terrenos militares no perímetro da praça; deveria conservar-se apenas como “livro histórico” a “cidadela”, que se devia reparar e desembaraçar a entrada dos edifícios civis; à época ainda ali estava estacionado um pequeno destacamento, mas com finalidade mais policial que militar.

   Passadas duas décadas foi entregue à Câmara Municipal a parte das antigas fortificações da vila compreendida entre as portas do lado sul e do leste, assim como o reduto que defendia esta última (25 de Abril de 1883); deu-se início, a partir de então, à demolição da cerca da vila. Nesse mesmo ano, a 3 de Novembro, o médico municipal Francisco Luís Rodrigues Passos, requereu à Câmara a venda da pedra da muralha, o que lhe foi deferido no ano seguinte (1884). Pela solicitação o médico comprometia-se a parte da muralha que lhe fosse concedida, e a extrair o entulho da sua demolição no prazo de três anos, contados desde a posse dada pela Câmara. A pedra destinava-se à construção de uma casa a oeste do Rio do Porto, e a sul da Avenida da Feira do gado. Em 1885 aproveitou-se cantaria da fortificação para a construção da sacristia da Igreja Matriz. Num documento de 24 de Junho do mesmo ano, a Câmara reconhecia a justiça das reclamações de vários proprietários da vila devido ao amontoado de entulho que impedia a passagem de água de rega, porque o médico ainda não havia removido o que devia. Em função disso, a Câmara mandou que todo o entulho fosse removido para a zona da feira do gado, para aplanar o lugar e cobrir as raízes das árvores. Entre 1886 e 1892, a Câmara vendeu 3.477 carros de pedra das fortificações, produzindo uma receita de 425.395 e uma despesa de 271.450. Mais tarde, em Dezembro de 1888, a Câmara pagou ao mestre José Rodrigues Grejas da Costa, de São Paio, por desmontar as portas das muralhas leste da vila. À época, apeou-se ainda a porta de Cima. A 31 de Agosto de 1892, o vereador Baltasar Luís de Araújo Azevedo, em substituição do Presidente da Câmara, apresentou o projecto e o orçamento para a rua lateral à Praça do Comércio, que seria feita com o produto da venda da pedra da muralha. A 14 de Maio de 1895 informou-se, em sessão da Câmara, que a venda da pedra da fortificação rendera 2$550, mais as obrigações do arrematante, Germano Augusto do Amaral Albuquerque.

   Ao chegar o ano de 1900 ainda subsistia parte do muro da vila, mas o Ministério da Guerra alienou-o, vendendo as parcelas de terreno que ainda possuía da fortificação. Nesse ano, a 4 de Abril, um requerimento enviado à Câmara Municipal referiu a necessidade de demolir o que restava da muralha que circundava a vila porque, segundo os médicos municipais, era um obstáculo à higiene da povoação, podendo considerar-se como uma das principais causas da insalubridade dos bairros por ela circundados.

 

Retirado de:

www.fortalezas.org

 

O CASTELO DE MELGAÇO NO TEMPO – SÉC XVIII

melgaçodomonteàribeira, 15.02.14

 

Vista parcial e interior das muralhas do Castelo de Melgaço

 

 

A FORTIFICAÇÃO NO SÉCULO XVIII

 

 

   Sob o reinado de D. João V de Portugal (1706-1750) uma planta de Manuel Pinto de Vilalobos, datada de 6 de Novembro de 1713, mostra a vila medieval envolvida por uma fortificação abaluartada. A nova fortificação tinha os baluartes orientados para os principais pontos de defesa: dois para o curso de rio Minho e o terceiro, cobria o flanco meridional, voltado ao rio do Porto e à única ponte que atravessava. Dos três baluartes o mais importante era o virado a sul, constituído por dois meios baluartes geminados, no local onde hoje existe a praça fronteira à Câmara Municipal. A tenalha, imponente, tinha acesso ao interior por duas portas quase simétricas, uma no enfiamento do caminho que vinha da ponte sobre o rio do Porto (actual Rua Afonso Costa) e a outra na abertura da porta voltada à Rua do Castelo e à Igreja Matriz, defendida por uma barbacã poligonal, destruindo uma das torres da muralha do castelo, e, consequentemente, desmontando o antigo paiol, reconstruído noutro local. A tenalha e a muralha descobertas na Praça da República a fechar uma das passagens do fosso denotam ser uma construção apressada, que utilizou pedra de qualidade técnica aligeirada, de fraco aparelhamento e assentamento irregular.

   Posteriormente, uma planta elaborada pelo sargento Gonçallo Luís da Sylva Brandão, com data de 1758, retrata ainda os três principais pontos de abastecimento de água à época: a cisterna, um poço no interior da povoação e a fonte da vila. No ano seguinte, a 8 de Outubro de 1759, a praça foi inspeccionada pelo Comissário da Vedoria Geral da Província, Estêvão Barbosa de Araújo, acompanhado dos engenheiros Francisco de Barros e José Maria da Cruz.

   Em 17 de Dezembro de 1761 o relatório de inspecção, enviado a D. Luís da Cunha pelo Sargento-mor de Batalha, António Carlos de Castro, referiu a necessidade de duas tarimbas no quartel de soldados, de se fazer as duas faces do cunhal sul, de se colocar uma porta nova na barbacã da porta, e de se refazerem as portas de baixo, e serventia da Praça da parte da Galiza. Adicionalmente precisavam-se fazer portas novas para as entradas norte e sul da tenalha, repor cantaria no parapeito da praça na distância de 200 palmos e na altura de 5, mandar fazer as plataformas de madeira para a artilharia, consertar e retalhar os armazéns e o quartel de infantaria, visto estarem em “mizeravel estado”, e recomendava-se ainda olear as portas novas e as janelas dos armazéns das armas e da praça, e fazer a porta interior do paiol, que tinha 6 palmos de altura e 4 de largura.

   Em 1786, aquando do falecimento do alcaide-mor Sebastião de Castro Lemos, o castelo estava arruinado ou quase todo caído. Nesse ano procedeu-se à reparação do mesmo, em carácter de urgência, mandada executar pelo juiz de fora Dr. António José Pinto da Rocha, com a renda da alcaidaria, tendo-se, no entanto, reparado essencialmente a torre de menagem.

   Entre 1789 e 1800 uma nova inspecção à praça de Melgaço descreve-a como obra antiga com uma torre e uma muralha simples, possuindo da parte de fora alguns baluartes “muito pequenos, de pouca consideração incapazes de poder jogar a artilharia”; os armazéns e os quartéis estavam em grande ruína; declarava-se que a fortaleza não tinha préstimo militar. Nesse período, em 1792 o soberano proibiu a existência de edifício ou cultura dentro dos fossos ou sobre qualquer obra de praças e fortalezas da Província do Minho.

   Em Fevereiro de 1797 teve lugar a inspecção pelo Sargento-mor de Engenharia, Maximiano José da Serra, que determinou a reparação de soalhos e telhados, e a construção de portas e janelas com ferragens adequadas. Nesse mesmo ano foi feita a reparação do telhado do paiol e do edifício do corpo da Guarda, onde haviam abatido várias “porções” de paredes, construída lareira na Casa da Guarda nos quartéis e conclusão das tarimbas.

   Custódio José Gomes de Villasboas, em 1800 descreveu o castelo de Melgaço como “hum castello de construcção antiga, e muralhas altas, em que laboravão algumas peças de que ha pouco se desguarneceo; tem corpo da guarda, e pequenos quartéis, com huma espécie de obra coroa, dominando a estrada que por alli vai a Cristoval para a Galiza”.

 

 

Retirado de:

www.fortalezas.org

 

O CASTELO DE MELGAÇO NO TEMPO – SÉC XVII

melgaçodomonteàribeira, 08.02.14

 

Vista parcial e exterior das muralhas do Castelo de Melgaço

 

 

A FORTIFICAÇÃO NO SÉCULO XVII

 

 

   No século XVII, no contexto da Guerra da Restauração da independência portuguesa (1640-1668), as defesas da vila sofreram obras de adaptação aos avanços da artilharia, recebendo linhas abaluartadas que envolveram o recinto medieval, destacando-se a inutilização da porta meridional do túnel do fosso com a construção de uma nova linha de muralhas, a abertura de uma nova porta no recinto do castelo provido por uma barbacã de porta, o acréscimo de novos elementos como falsas bragas ao redor de todo o perímetro da cerca, seguindo o antigo traçado do fosso, três baluartes orientados para os principais pontos de defesa, e uma tenalha, exteriormente defendida com um través e com uma das portas defendida por uma barbacã poligonal.

   Durante as escaramuças fronteiriças com os castelhanos em 1641 (quando daqui partiu a invasão da Galiza por forças sob o comando de D. Gastão de Sousa Coutinho), 1657 e 1666, a fortaleza de Melgaço cumpriu o seu papel de dissuasor de qualquer investida inimiga.

   A praça ainda se revestia de interesse estratégico ao final do século, quando sofreu uma nova campanha de obras. Neste momento foram alteradas as paredes laterais da antiga couraça para uma planta sensivelmente triangular, mantendo a cabeceira semicircular, com porta orientada para a Porta do Campo da Feira, foi atulhado o fosso medieval, aberta uma nova porta na couraça, entre duas casas, na parede voltada a norte para dar acesso a um espaço adjacente à falsa braga.

 

Retirado de:

www.fortalezas.org