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MELGAÇO, DO MONTE À RIBEIRA

História e narrativas duma terra raiana

MELGAÇO, DO MONTE À RIBEIRA

História e narrativas duma terra raiana

A MULHER FATAL DE CAMILO

melgaçodomonteàribeira, 23.02.19

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festa da cultura 2013

 

A MULHER FATAL

E passou assim este grão caso, cuja narrativa hei-de levar seguida com a possível seriedade. Chamava-se Virgínia. Bom agouro de nome! Virgínia de Menezes Picaluga de Ias Cuencas. Os apelidos estão explicados no brasão do portal. Cuencas vem de fidalgos gallêgos que se entroncaram com os Picaluga de Melgaço em 1524.

Virgínia, dama de vinte e seis annos e bellesa solida, vive na sua quinta das Açudes. É só, solteira e rica. Veio para alli; mas não se sabe d’onde. Eu sei. Depois direi d’onde e como foi. O que lá consta é que seu pae, Christovao de Picaluga, a mandara pequenina para longes terras, e na velhice a chamara, e reconhecera para os effeitos de succeder na casa paterna.

 

Camillo Castello Branco

A Mulher Fatal

Romance

4ª Edição

Lisboa

Parceria António Maria Pereira – Editores Livreiros

 

Retirado de:

www.archive.org/stream/amulherfatalrom00brangoog/amulherfatalrom00brangoog_djvu.txt

 

OS SICÁRIOS DE MELGAÇO EM CAMILO

melgaçodomonteàribeira, 27.02.16

 

12 c2 - castrejas.JPG

 

 

ESTRELLAS FUNESTAS

 

CAMILO CASTELLO BRANCO

 

 

Uma noite, caindo a ponto falar-se na pertinacia boçal do conde de Monção, disse o alcaide o seguinte:

- Traz-me á memória um successo, que se deu, depois da vossa ida para Portugal. Fui eu avisado de que dois homens suspeitos tinham chegado a Segóvia, e saíam de madrugada a fazer excursões pelos arrabaldes. Mandei-os espionar, e soube que elles estanceavam por estes sitios, indagando dos aldeãos qual terra vós teríeis ido habitar. Com esta informação fiz prender os homens. Pedi-lhes o passaporte, e vi que os viandantes eram portuguezes, naturaes de Melgaço, e contractadores de carneiros. Não sei por que instincto, retive-os até me darem abono. Não conheciam ninguém em Segóvia; mas deram-se pressa em escrever para Portugal. No entanto, perguntei-lhes o que tinham elles vindo fazer nos arredores d’esta quinta. Responderam que andavam em cata de gado para comprarem. Redobraram as minhas suspeitas. Inquiri o que tinham elles com uma familia, que se alojava n’esta quinta. Tartamudearam e confirmaram a certeza de seus máos intentos. Quinze dias depois, recebi ordem do governo madrilense para dar soltura aos presos. Não tinha outro remédio: soltei-os. Escrevi para Madrid, pedindo que se averiguasse na repartição competente quem afiançára aquelles dois presos. Tive em resposta que o ministro recebera directamente uma carta de seu parente, o conde de Monção. De proposito vos occultei este episodio em minhas cartas, cuidando em não vos aggravar as desgraçadas apprehensões. Agora vos digo que isto me fez apprehender muito a mim. Segundo o que Filippe me contou, o aviltado conde, a meu parecer, aprazou a vingança de cobarde. Aquelles homens eram sicarios enviados por elle. Já passou um anno, e naturalmente o conde está esquecido da affronta e da vingança; mas, ainda assim, recommendo-vos toda a cautela, que os mais temidos dos inimigos é aquelle que nos foge. Não me oppuz; porém não approvo a vossa vinda para logar tão ermo. Antes queria ver-vos na cidade, onde as emboscadas traiçoeiras são menos possiveis, e a minha vigilancia mais apontada.

 

Estrellas Funestas

Camilo Castello Branco

Parceria António Maria Pereira

1906

 

Ler EBook: http://www.gutenberg.org/files/31694/31694-h/31694-h.htm