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MELGAÇO, DO MONTE À RIBEIRA

História e narrativas duma terra raiana

MELGAÇO, DO MONTE À RIBEIRA

História e narrativas duma terra raiana

O CAN DE CASTRO LABOREIRO

melgaçodomonteàribeira, 09.06.20

(…)

A vista de páxaro do meu lugar de orixe – A Limia, en Ourense – vese o Larouco. Tamén se ven desde esse meu lugar os cúmios de Fonte-Fría e, situándose no medio da Antela, tan ruínmente expropriada, abesúllanse os montes de Castro Laboreiro. O topónimo leboreiro, anterior a laboreiro, repítese nas terras de Ourense passado o Rodicio, quere decir que había lugares inzadas de lebres?

Os que opinan que o can de Castro Laboreiro é un can hiperpuro, sen aportacións espúreas, manteñen que o lugar de Castro Laboreiro estivo illado durante séculos. Mais consta que o Castro Laboreiro estivo moi comunicado noutros tempos, aínda que a permeabilización debeu ser moi lenta. Pomos por caso que os de Celanova ían andando á Virxe de Peneda. Todos estes lugares caen dentro do Parque Nacional Peneda Xurés, primeiro parque nacional Portugués, que inclúe xentes e aldeamentos, cousa que no momento da criación (alá por mil novecentos setenta e un), éralles concepción vanguardista da naturaleza. Foi nesse recanto de protección administrativa máxima onde se formou unha raza única de can da que se conservaban moi poucos exemplares nos anos oitenta. Se pasaban de un cento, éralles milagre. A quen mais lle debemos a práctica salvación foi a Escola de Fusileiros que os utilizou de can policía ou de garda. E ó ineflable Padre Aníbal Rodrigues, oriundo do Mareco, cura da freguesia durante máis de cincuenta anos.

Os fuzileiros proporcionaron a mor parte de exemplares rexistados ós novos criadores que conformaron o núcleo fundador do C. C. C. L., Clube do Can de Castro Laboreiro. Pero agora os novos criadores dan o cú dende Lisboa á xente que mais vive os cans: os labregos de Castro. Algúns labregos aplicando as súas teses tradicionais estragaron a raza na orixe ó deixaren que as cadelas inzaran libremente co macho máis poderoso. Cecais lles era útil antes dos 90, mais desde a consolidación e apertura de novas estradas e o retorno dos emigrantes o can máis poderoso vén sendo calquera bastardo señorito. Onde antes só había unha raza, agromaron agora un feixe de modas.

 

Retirado de: ANAMAN-Cinofilia

Ler mais em:

www.anaman.org/cinofilia.html

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UM CONCURSO DE CÃES DE CASTRO EM 1971 I

melgaçodomonteàribeira, 11.05.19

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concurso de 1971

 

EM CASTRO LABOREIRO

TERRA DE EMIGRANTES E CÃES FAMOSOS

 

Melgaço foi o local de encontro de pessoas de Lisboa, do Porto e de Viana que iria superintender no concurso. Depois de almoçadas, ei-las pela estrada acima, na subida de uma trintena de quilómetros. Quando os juízes e demais comitiva lá chegaram já os concorrentes aguardavam impacientemente a chegada daqueles que iriam ditar a sorte dos seus exemplares. Para os menos avisados no assunto, como o repórter, logo ressaltaram vários pormenores que chamaram a sua atenção.

O certame realizava-se na «artéria» principal da povoação – Largo do Eirado – mesmo defronte da igreja (cuja primeira pedra remonta de há mais de oito séculos) e à porta das principais autoridades da terra: abade, presidente da junta e regedor.

Pois para além da circunstância do concurso se realizar na via pública (a fazer lembrar uma «passarelle» em plena Praça da Liberdade…), pormenor que igualmente nos despertou a curiosidade foi o facto dos exemplares se apresentarem como que «descalços» e as donas de avental à cinta e lenço pela cabeça.

Com efeito, no Estoril, no Porto e em Lisboa, estávamos habituados a ver desfilar no ringue exemplares cuidadosamente tratados e o sexo feminino primar pela elegância, vestindo pelo último figurino, de tal modo que o assistente menos dado à canicultura não sabe que mais admirar, se o garbo de o cão concorrente ou a distinção de quem o conduz pela trela. Pois em Castro Laboreiro os cães eram presos por nagalhos e cordas, raramente por coleira. Puxados e não exibidos por gente «fardada», de tamancos ou de botas, por mulheres «uniformizadas» de preto. De preto porque ali predomina o luto, de tal forma que até se diz que em Castro Laboreiro as mulheres dão viúvas de homens vivos.

 

Terra onde não há pobres

Disse-nos o pároco da freguesia, Rev. Padre Aníbal Rodrigues: «A emigração aqui é habitual. É tão antiga como a própria terra. O homem de Castro Laboreiro nunca se sujeitou a um nível baixo. Foi sempre sua ambição ganhar muito.»

Por isso, aquela freguesia é uma comunidade de mulheres. Mulheres que, durante a ausência do pai, do marido, dos filhos, se vestem, dos pés à cabeça, de negro. É tradição de há longa data. Só quando os «homes» regressam as vestes escuras dão lugar a outras de cor garrida.

Prosseguiu o nosso interlocutor: «Primeiramente os homens de Castro Laboreiro emigraram para todo o país. Depois, a grande atracção foi a Espanha e agora a França. Mas hoje não há terra onde não haja gente nossa: Brasil, Argentina, México, Taiti, Turquia, Gibraltar, Estados Unidos, Holanda, Austrália, Paquistão. Em toda a parte. Os nossos operários são altamente especializados em betão armado. De tal modo conceituados que, quando do rebentamento de diques na Holanda, foram para lá especialmente contratados. Outro exemplo elucidativo da categoria da nossa mão-de-obra: nas bases americanas na Turquia há gente daqui.»

 

«Castro Laboreiro»: Raça que teve os dias contados

O cão da raça «Castro Laboreiro» é um extraordinário cão de pastor «ai de quem toque no gado!» e cão polícia. Mas deixemos o padre Aníbal Rodrigues, personalidade altamente credenciada na matéria, falar sobre aquela raça: «É um cão excepcional, quer em faro, quer em inteligência em valentia e docilidade. Como companhia, também não há melhor. É duma fidelidade a toda a prova. Tem um sentido de justiça que impressiona. Se o dono o castigar sem razão o animal nunca mais lhe liga, pois o cão de Castro Laboreiro tem grande aversão à injustiça».

Pois esta tão «sui generis» raça nacional, que o Exército presentemente utiliza como cães-polícia (ainda há pouco recrutou 50 naquelas paragens) e desperta o interesse dos canicultores de todo o país, esteve em vias de desaparecer, tal como acontece presentemente com o «Serra da Estrela». A raça, através dos tempos, foi-se degenerando pelo cruzamento com outras espécies. Foi então que desde há 17 anos, em Castro Laboreiro – o solar da raça – vêm sendo realizados concursos, promovidos pela Intendência de Pecuária de Viana do Castelo, em estrita colaboração e com o apoio técnico do Clube Português de Canicultura com sede em Lisboa, (entidade que no nosso país superintende na canicultura nacional) exactamente com a finalidade de fomentar e preservar aquela variedade.

Dizia-nos o Dr. Teodósio Marques Antunes, Intendente Pecuário de Viana, que no primeiro concurso estiveram presentes apenas 9 animais e desses só 2 eram exemplares mais ou menos característicos. «Tudo o resto era uma salada russa».

 

«Como a ti»

Coisa esquisita também, que chamou a nossa atenção, é o nome que aquela gente põe aos seus cães.

Quando alguém pergunta o seu nome, a resposta é do género: «Que lhe diga ele», «Não se diz», «Pergunta-lhe», «Como a ti», etc.

 

(continua)