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MELGAÇO, DO MONTE À RIBEIRA

História e narrativas duma terra raiana

MELGAÇO, DO MONTE À RIBEIRA

História e narrativas duma terra raiana

MELGAÇO MEMÓRIA DOS TEMPOS PASSADO E PRESENTE

melgaçodomonteàribeira, 20.10.18

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A partir de Dezembro de 1982 e até princípios do século XXI, o ímpeto empreendedor que impulsionou o crescimento de Melgaço, foi verdadeiramente notável, pioneiro e arrojado a vários níveis.

Num enorme salto qualitativo para a modernidade, Melgaço posicionou-se à frente do seu tempo e, em muitos aspectos, à frente dos demais concelhos portugueses, em geral, e dos do Alto Minho em particular.

Ontem como hoje, o Município tem sabido acompanhar a contemporaneidade de discursos, abrindo portas à divulgação e projecção dos mais diversos eventos e criando equipamentos de grande qualidade para a fruição sócio cultural.

Muito do seu património edificado, acumulando vivências diversas e remotas na origem, readaptou-se e readapta-se às funcionalidades do tempo presente.

Como destino turístico, estadia de lazer ou local de negócios ou desporto, o diário de visita a Melgaço escreve-se com entusiasmo em qualquer época do ano.

As suas acessibilidades, as potencialidades de desenvolvimento e investimento; a exuberância das suas festas, sejam do Alvarinho e do Fumeiro ou da Cultura, respectivamente em Abril e Agosto de cada ano; o comércio, as unidades hoteleiras e de restauração; os eventos desportivos – com destaque para as diversificadas e polivalentes valências do seu Complexo Desportivo e de Lazer/Centro de Estágios de Melgaço e para o desporto aventura – organização da prestigiada Associação do Melgaço Radical – são motores propulsores do crescer social, económico e cultural do Município.

Talvez por isso, Melgaço foi considerado, entre 2004 e 2006, pelo Instituto de Ciências Sociais, da Universidade de Lisboa, “um dos Municípios portugueses com maior qualidade de vida”. O inquérito, levado a cabo por uma equipa sob a responsabilidade do Geógrafo Doutor João Ferrão, analisou o desenvolvimento de Portugal através de 75 indicadores:

Ambientais,

Demográficos,

Sociais,

Culturais,

E económicos.

Melgaço entrou no século XXI para todo este compromisso de enlaces e pontos de interesse que fazem o engrandecimento e projecção, cada vez mais merecido, da região.

 

MELGAÇO memória dos tempos passado e presente 

J Marques Rocha

Edição do Autor

Patrocínio Câmara Municipal de Melgaço 

2007

 

MELGAÇO DA PRÉ-HISTÓRIA AO SÉCULO XXI

melgaçodomonteàribeira, 21.05.16

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 J.Marques Rocha nasceu em Monção (Alto Minho) em 1941. Ali aprendeu as primeiras letras. Até 1962, trabalhou no escritório dum reputado advogado monçanense tomou o gosto pelos meandros do Direito. O serviço militar deu-lhe a conhecer terras (Porto, Espinho, Torres Novas, Estremoz, Aveiro e Lisboa), até que, em 1962, foi mobilizado para Angola. Lá ficou, ingressando, em 1966, no semanário «Jornal do Congo», em Carmona. O espírito de aventura levou-o para o «Rádio Clube de Benguela», mas por pouco tempo. Em 1967, entrou nos quadros de Benguela, do diário «A Província de Angola», mas logo abalou para Luanda.

Em 1975, farto de conflitos armados, bem mais graves do que os enfrentados em 1962, aceitou o convite do «Portugueses Rádio Clube», de Toronto (Canadá). Contudo, uma passagem, para rever amigos, pela cidade do Porto fê-lo desistir de refazer a vida longe de Portugal, e levou-o a integrar a equipa de jornalistas do diário «Comércio do Porto». Em 1977, ingressou na RTP, como subchefe da Redacção. Presentemente, continua a integrar a estrutura redactorial da RTP/Porto.

Entre 1988 e 1995, publicou quatro trabalhos monográficos da região do Minho – Monção, 1988; Valença, 1991; Melgaço, 1993 e Vila Nova de Cerveira em 1995.

 

 

MELGAÇO da pré-história ao século XXI

J. Marques Rocha 

2001

 

CASTRO LABOREIRO, POVOAMENTO E ORGANIZAÇÃO DE UM TERRITÓRIO SERRANO

melgaçodomonteàribeira, 08.03.13

 

 

Alexandra Cerveira Pinto Sousa Lima, nasceu no Porto em Fevereiro de 1963. Inicia a sua actividade arqueológica em Mértola e no PARM (Moncorvo), tendo terminado o curso de História, Variante de Arqueologia, em 1985, na Faculdade de Letras da Universidade do Porto. Em 1994 finaliza o Mestrado em Arqueologia na mesma Faculdade, com a defesa de uma Dissertação versando o tema da organização do povoamento em Castro Laboreiro. Foi bolseira da Fundação Calouste Gulbenkian. É desde 1992 colaboradora do Parque Nacional da Peneda-Gerês. O trabalho de investigação que desenvolve centra-se na análise do povoamento, ocupação do espaço e aproveitamento de recursos ao longo dor períodos Medieval e Moderno na área montanhosa do Noroeste português.

 

CASTRO LABOREIRO: POVOAMENTO E ORGANIZAÇÃO DE UM TERRITÓRIO SERRANO

 

Autor: Alexandra Cerveira Pinto Sousa Lima

 

Edição: Instituto da Conservação da Natureza

 

             Parque Nacional da Peneda-Gerês

 

             Câmara Municipal de Melgaço

 

Cadernos Juríz Xurés

 

1996

 

UMA HISTÓRIA MELGACENSE

melgaçodomonteàribeira, 08.03.13

 

 

“LEITURA”

 

 

    Não, não pensem que vou falar de livros! O título sugere-o, eu sei. Trata-se, tão somente, de uma escultura do nosso conterrâneo Acácio Caetano Dias que acaba de ganhar o 1º prémio da Quinzena Cultural Bancária (10ª edição), iniciativa do Sindicato dos Bancários do Sul e Ilhas. O Júri «constituído pelo pintor António Carmo, pelo arquitecto João Santa Rita e pelo pintor A.M. Pinto Carvalho, tendo em conta os regulamentos publicados e os trabalhos apresentados aos respectivos concursos, decidiu:

    b) – No concurso de Escultura, atribuir apenas o primeiro prémio à peça de escultura “Leitura” de Acácio Caetano Dias»…

    Não tive ainda a oportunidade de ver a escultura, nem de falar com o seu criador, mas espero consegui-lo em breve. Disso falarei oportunamente. A peça está exposta no Palácio Foz, em Lisboa, juntamente com outros trabalhos premiados.

    Um conterrâneo com o talento do Acácio é um orgulho para todos os  melgacenses. Ele é um artista nato, um homem que não tendo frequentado Escolas Superiores de Arte é émulo daqueles que tiveram essa possibilidade; é um autodidacta, pois as suas habilitações literárias (1º ciclo) nunca o impediram, nem impedem, de brilhar em várias exposições: Escola de Belas Artes, Hotel Altis, Palácio Foz, Festa da Cultura (Melgaço).

    Acácio nasceu em Prado em 1935. Seu pai, o popular Amadeu «Rato», tinha a profissão de latoeiro. A sua oficina situava-se perto da barbearia e taberna-restaurante do Carlota (quem não conheceu?). Juntamente com a sua oficina coexistia uma outra, de sapateiro, cujo mestre era o Henrique «Abelhão» (isto em 1958, mais ou menos). Nessa altura já o Acácio se encontrava possivelmente em Lisboa, pois em 1959 entra para o Banco Nacional Ultramarino como apontador.

    Os dois, Amadeu e Henrique, formavam um duo impagável no que diz respeito a «malandrices». Não havia cliente que não saísse sorridente com a graça de ambos, mesmo os mais sisudos.

    No Carnaval, o pai do Acácio fazia normalmente parelha com o Sr. António «Trauliteiro» (apesar da alcunha o Sr. António era um homem pacífico, brincalhão, o alvo cavaleiro – S. Jorge – que na vizinha vila de Monção, aquando da procissão do Corpus-Christi matava a Coca, ou Santa Coca, o terrível dragão que afugentava o povo amedrontado).

    Ainda me lembro de ver o «Trauliteiro» dentro de um carrinho de bebé, vestido a rigor e com chupeta na boca, chorando lágrimas comoventes, a ser empurrado pela velha ama (Amadeu «Rato»), pesarosa e convincente. Davam a volta à Avenida, percorriam as ruas da Vila, iam até à Calçada e Loja Nova e depois recolhiam, pois o líquido precioso esperava-os ansiosamente!

    Acerca do pai do Acácio conta-se uma história divertidíssima: o seu irmão, Edmundo «Rato», também latoeiro, um dia recebe na sua oficina um camponês que lhe pede para pôr um fundo a uma lata que consigo trazia, daquelas que se usavam para o sulfato ou a cal. O cliente perguntou quando é que poderia ir buscar a obra e a resposta, carregada de sofisma, não se fez esperar:

    — «Sr. Fulano, não precisa vir buscá-la. Na próxima semana tenho de ir visitar uma pessoa sua vizinha e assim aproveito para lha levar».

    O homem ficou radiante, pois deste modo evitaria perder tempo, tempo esse que necessitava para o amanho das suas terras.

    — «Obrigado Sr. Edmundo. Vai provar uma pinga que lá tenho que é só para os verdadeiros amigos».

    O convite do agricultor veio aguçar ainda mais o apetite devorador do latoeiro. Depois do cliente ir embora apressou-se a falar com o Sr. António «Cerinha», seu vizinho de oficina, e seu irmão Amadeu, acerca de tal convite. Todos eles passaram a língua pelos lábios ressequidos, fecharam os olhos e tiveram a visão do deserto, isto é, começaram a ver o líquido (em lugar da água o vinho do lavrador) a cair de baixas nuvens espessas. As malgas, todas elas do tamanho de alguidares, começaram a encher-se do divino néctar e seus olhos brilharam de sofreguidão e ânsia. O Sr. Amadeu sentenciou:

    — «O vinho só não chega. Terá de ser acompanhado de presunto e broa!»

    A lata parecia nova. Marcaram o dia e a hora e puseram-se a caminho. Dois quilómetros a pé não é brincadeira nenhuma, mesmo naquele tempo. Chegaram extenuados. O aldeão andava a sachar as suas leiras, perto de casa, e quando os viu gritou-lhes com ar bonacheirão:

    — «Ainda bem que vêm a esta hora porque também estou com sede».

    Todos aplaudiram o gracejo e como quem não quer a coisa lá se foram aproximando da adega. Malgas na mão, olhar fixo no presunto que baloiçava ali bem perto, começaram, um por um, a receber da pipa a tão esperada pinga. Depois de já terem despejado três ou quatro malgas, um deles disse ao anfitrião:

    — «Sr. Fulano, um naco de pão não lhe ia mal agora!»

    Isto apanhou o homem de surpresa. Aguardava que eles se despedissem a fim de recomeçar os seus trabalhos. O tempo passava, a torneira sem descanso e agora o pão! Chamou a patroa e pediu-lhe que trouxesse broa para a gente da Vila.

    — «Rico pão, sim senhor!», comentou um dos glutões.

    Outro, aproveitando a deixa, arrisca:

    — «Pão pede algo, talvez presunto!»

    O pobre lavrador estava entre a espada e a  parede, acossado com raposa e lobo. Se recusasse passava por somítico; se aderisse à sugestão ficava sem presunto. Pegou na faca, olhou pela última vez para o presunto que tanto trabalho e cuidados lhe dera e diz-lhe, como falando para um filho que parte para longe:

    — «O teu dia chegou – é o destino!»

    Do desgraçado, duas horas mais tarde, restava apenas um grande osso feio e bruto. Da broa nem um côdea restou! A pipa ficou exausta! Saíram da adega, cambaleando, rindo descaradamente! O cavador, entre pragas, foi-lhes dizendo:

    — Três para uma lata! É obra!

    Que me perdoem aqueles que conhecem a história ao vê-la tão mal narrada. Contei-a como ma contaram, apenas lhe acrescentei um pequenino ponto!

    Saudações amigas a todos os melgacenses.

 

Joaquim A. Rocha

 

Publicado em: A VOZ  DE MELGAÇO