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MELGAÇO, DO MONTE À RIBEIRA

História e narrativas duma terra raiana

MELGAÇO, DO MONTE À RIBEIRA

História e narrativas duma terra raiana

O MESTRE DA PEDRA

melgaçodomonteàribeira, 07.05.16

32 c2 - cruzeiro regueiro.jpg

cruzeiro do regueiro

 

MESTRE REGUEIRO 

 

Em terras de Melgaço, é de crer que nenhum outro artista tenha deixado de si tantas e tão belas memórias escritas no duro granito da região como as que deixou Manuel José Gomes vulgo Mestre Regueiro, canteiro distinto que de toscas e rudes pedras obrou maravilhas. Os seus trabalhos quer pela solidez e perfeição de acabamento, quer pela pureza e harmonia de linhas denotam ter sido ele não só um artista consumado, como também um homem consciencioso e de vistas largas. Não era ceguinho… e no Alto Minho, apenas o deve ter igualado, igualado, mas não excedido, Mestre Francisco Luís Barreiros, de Ponte do Mouro, autor do célebre «Pedro Macau» deste lugar, do sumptuoso e formosíssimo escadório da Santuário da Peneda e de suas respectivas estátuas e de muitos outros não menos apreciados lavores.

Associado com seu irmão António bom artista também, mas muito longe de chegar às solas daquele Mestre Regueiro, deixou no concelho uma obra vastíssima, entre ela os prédios do sr. dr. Pedro Augusto dos Santos Gomes, na Praça da República, do sr. dr. António Cândido Esteves, na Rua Nova de Melo (1873); o que foi do médico Francisco Luís Rodrigues Passos, na Vinha das Serenadas (1885), e o que foi de Joaquim Luís Esteves, na Rua da Calçada; o edifício do Hospital (iniciado em 1875); o «Asilo Pereira de Sousa», em Eiró; o frontal, ou melhor a escadaria, da igreja de Prado (1884) e pouco depois a de Remoães; o artístico e aprimorado cruzeiro do Regueiro (1859) e a capelinha da Senhora dos Aflitos no mesmo lugar (1866); o cruzeiro de Fiães (1875), a pia baptismal e uma imagem em pedra da igreja de S. Paio, cuja perfectibilidade e acabamento dão a impressão de terem sido feitas em mármore, etc., etc.

Porém, o seu maior título de glória, é o falado cruzeiro do Regueiro, onde o artista atingiu, por assim dizer, o sublime. O seu maior título de glória é este, é; mas… ainda assim… tenho para mim que há outra obra à sua autoria atribuída que, se não iguala aquela, pouco lhe ficará a dever. E esta é, nem mais nem menos, do que o arrebatador e elegantíssimo fontenário da Casa do Reguengo (1875) uma jóia… uma maravilhazinha em pedra lavrada, desconhecida ou quase da maioria dos Melgacenses…….

 

P. Júlio Vaz Apresenta Mário

P. Júlio Vaz

Edição do autor

1996

pp. 91, 92

 

TI ÓSCAR, O MESTRE ESQUECIDO

melgaçodomonteàribeira, 01.08.15

Exposição de Óscar Marinho

 

CARPINTEIROS


Tal como os alfaiates, barbeiros, sapateiros, ferreiros, serralheiros, etc., os mestres carpinteiros fizeram, outrora, parte de uma elite de profissionais – As Artes e Ofícios. A partir do momento que surgiram as carpintarias e as fábricas de móveis tudo se alterou. Agora, no séc. XXI, praticamente não existem! Havia dois tipos de carpinteiros: aqueles que tinham oficinas, nas quais faziam móveis, que se chamavam marceneiros; e os outros, os que andavam nas construções, fazendo os madeiramentos, as portas de casa, janelas, etc. – esses eram os carpinteiros d’obras. Existe também o carpinteiro de cena, que trabalha nos teatros, mas em Melgaço, s.e., nunca houve nenhum. Eis algumas das ferramentas utilizadas: cantil, cepilho, enxó, fio de prumo, formão, machada, maço, martelo, plaina, serra, serrote, etc. Não dispensava o banco, onde trabalhava a madeira. O marceneiro mais famoso, um artista, foi Abel Augusto Rodrigues (1903-1988). Os seus trabalhos em talha e de restauro podem admirar-se nas capelas e igrejas de Melgaço e de Riba de Mouro. Ensinou o filho do primo, Eurico José (ex-provedor da SCMM), que por essa Europa deixou trabalhos de restauro que – segundo consta – foram muito elogiados. Outro carpinteiro conhecido, não tanto pela profissão, mas como figura popular foi Flórido Esteves (1911-2001). Teve oficina na Assadura. Outro foi o “Lucas”, o regedor da Vila, com oficina na Loja Nova, de sociedade com Manuel do Caneiro. Um dos mais habilidosos foi Fernando de Castro Pinto Barbosa (1930). Teve oficina na Rua do Rio do Porto. Como carpinteiro d’obras tivemos, além de outros, Inocêncio Augusto Pereira (Melgaço, 1909-Cerveira, 1993). Era, nalguns casos uma profissão de risco. E a prová-lo está a morte de Carlos Fernando Vilaça, casado, de Braga, que trabalhando numa casa, na vila de Castro Laboreiro, foi atingido pela manobra de uma camioneta de carga, a 18/11/1968, esmagando-lhe a cabeça! (Sobre este assunto ver VM 1013, de 1/9/1994, p. 11)

 

Dicionário Enciclopédico de Melgaço II

Joaquim A. Rocha

Edição do autor

2010

p. 108