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MELGAÇO, DO MONTE À RIBEIRA

História e narrativas duma terra raiana

MELGAÇO, DO MONTE À RIBEIRA

História e narrativas duma terra raiana

SOBRE O MOSTEIRO DE PADERNE

melgaçodomonteàribeira, 06.12.14

Paderne - Vista sobre o mosteiro 

 

MOSTEIRO DE SÃO SALVADOR DE PADERNE

 

Dizem os escritores de antiguidades que este mosteiro foi fundado por uma D. Paterna, viúva de certo conde de Tui chamado Hermenegildo, pais da abadessa D. Elvira que recebeu do nosso primeiro Rei a doação do couto de Paderne em recompensa de ter enviado socorro ao Monarca quando cercava o castelo de Laboreiro, minha terra natal. Diz-se que esta D. Paterna, depois da morte do marido, veio fixar residência nesta terra que era herdade sua e resolveu seguir a vida monástica juntamente com algumas filhas e companheiras. Com esse fim mandou edificar uma igreja que estava concluída cerca de 1130 e foi sagrada nesse ano pelo bispo de Tui, D. Paio, que presidiu também à profissão das freiras em 6 de Agosto, dia litúrgico do Divino Salvador a Quem a igreja foi dedicada. Esta D. Paterna morreu em 1140, sucedendo-lhe a referida D. Elvira, sua filha; e a localidade ficou a chamar-se Paderne, que quer dizer terra de Paterna, em memória da ilustre possuidora e fundadora do mosteiro.

Proponho-me demonstrar que anda errado o que se escreve constantemente a respeito das antiguidades de Paderne, porquanto o seu nome é mais antigo do que se diz e designava uma região mais extensa, vem de homem e não de uma mulher, e a abadessa D. Elvira a quem D. Afonso Henriques deu o couto não era filha de qualquer Hermenegildo.

 

Na segunda metade do século XI, já nos aparece um documento a designar Paderne como terra de nome feito. Em 1071, D. Urraca, filha de D. Fernando Magno, rei de Leão, e irmã de D. Afonso VI, sogro do nosso conde D. Henrique, fez larga doação à Sé de Tui para favorecer a sua restauração após as ruínas causadas pelas incursões dos inimigos da Fé. Nessa doação, inclui-se: «De Monasterio Sancti Pelagii de Paderni medietatem, quomodo est per gyrum cum Villa quae vocatur Prado, quomodo dividitur per médium alveum Minei, cum suis piscariis, & cum suis hominibus, & cum omnibus suis».

Vemos, pois, que já existia a terra de Paderne em 1071 com um mosteiro dedicado a Paio.

Pode haver quem julgue ser o Mosteiro de S. Salvador de Paderne o mesmo que o antigo S. Paio de Paderne, tendo havido transferência do mosteiro ou mudança do titular, mas tal não sucedeu. Eram dois mosteiros completamente distintos na mesma terra de Paderne, que coexistiram e a cujos territórios correspondem duas freguesias completamente independentes uma da outra através de todos os tempos.

Do mosteiro de S. Paio, que deve ser mais antigo, poucas notícias nos restam. Vimos que a infanta D. Urraca deu metade à Sé de Tui em 1071. Em 1118 D. Onega Fernandes fez à Sé de Tui «kartam donationis de quarta parte ecclesie Sancti Pelagii de Paterne», em reparação pelo sacrilégio do seu filho Paio Dias que não respeitou o lugar sagrado matando um homem na igreja de S. Tiago de Penso. Em 1125 D. Teresa, mãe de D. Afonso Henriques, confirmou à Sé de Tui a antiga doação ou testamentum Regis Teodomiri em que se inclui «Ecclesiam Sancti Pelagii de Paterni», cedendo-lhe, naturalmente, a quarta parte restante.

Nestas duas escrituras chama-se a S. Paio Igreja em vez de Mosteiro, mas os entendidos sabem que estas denominações se equivalem muitas vezes.

Temos ainda notícias do mosteiro de S. Paio no ano de 1156. A diocese de Tui abrangia em Portugal o entre Minho e Lima. No sobredito ano o bispo D. Isidoro e os cónegos da sua Sé fizeram entre si partilha dos rendimentos eclesiásticos, e na meação dos cónegos ficou «Ultra Mineum in Valadares Monasterium S. Pelagii de Paterni cum omnibus Ecclesiis & pertinentiis suis».

Até quando S. Paio de Paderne foi mosteiro, não sei. É preciso conhecer-se bem a engrenagem antiga dos mosteiros para se saber quanto a sua vida dependia dos caprichos de seus herdeiros e de quantos deles se amparavam.

Perdura ainda a freguesia de S. Paio que oficialmente não tem outro nome. Muitos lhe chamam de Melgaço, em contraposição a Santa Maria da Porta da Vila de Melgaço, sendo assim nomeada também em documentos, mas o povo das redondezas ainda lhe chama S. Paio de Paderne. A sua igreja, distante da igreja da vila quase três quilómetros, dista menos de um da do Salvador de Paderne.

Convém lembrar que, embora as divisões civis e eclesiásticas se tenham acompanhado, nem sempre se têm correspondido.

Paderne estava na Terra de Valadares, concelho extinto há uns cem anos, que no eclesiástico fora um arcediago com assento na Sé de Tui. Dentro do julgado de Valadares, obedecendo a razões históricas que seria longo expor, formou-se o concelho de Melgaço com fortaleza construída, se não restaurada, por D. Afonso Henriques e foral outorgado pelo mesmo Rei. O perímetro atribuído a Melgaço, que não está demarcado no documento, mas deve ter seus fundamentos na étnica e tradição, abrangeu o território de S. Paio de Paderne e ainda do território de S. Salvador de Paderne o que estava fora dos limites consignados na carta de couto outorgada à abadessa D. Elvira em 1141. De S. Paio de Paderne desmembraram-se duas pequenas freguesias: uma é do Prado cujo germe nos aparece já na doação de D. Urraca em 1071, e a outra é Remoães. A igreja de S. Paio, que só vi uma vez em estudante e cuja traça ao tempo não fixei, era sui generis. Tinha duas naves, uma das quais mais alta e mais larga, separadas por arcarias longitudinais cada uma com seu altar-mor e sua parte principal de estilo românico com arquivoltas. Dizia-se no povo que a nave menor era a antiga paroquial de Prado.

Por acanhada e insuficiente para a vida da paróquia, foi reconstruída pelo falecido P.e Raimundo Prieto, seu último Abade colado já adentro da República, que inconscientemente praticou um crime de lesa-arte, mas teve o bom gosto de conservar um dos pórticos da frente e o melhor de seus altares de estilo renascença.

Que o nome de Paderne vem de um homem e não de uma mulher prova-se nas referências documentais já citadas. Grande parte dos toponímicos vem do nome em genitivo do antigo possuidor. Se o nome de Paderne viesse de uma D. Paterna, os documentos deveriam apresentar esse nome em feminino, que seria Paternae em escrita correcta ou Paterne em grafia menos erudita. Que observamos porém? Todas as citações de Paderne em documentos conhecidos dos séculos XI a XIII apresentam-nos a palavra terminada em i, portanto genitivo do masculino Paternus, o que nos indica ter sido esta região propriedade de qualquer D. Paterno cuja identificação não poderemos conseguir.

Analisemos ainda a tradição que nos diz ser a abadessa D. Elvira filha de D. Paterna viúva do conde de Tui D. Hermenegildo que alguns dizem ser também conde do Porto.

Quanto ao Porto, nos princípios do século XII, era conde de Portucale o nosso D. Henrique, marido de D. Teresa, e, quanto a Tui, também não encontro na História qualquer conde ou fidalgo preponderante com o nome de Hermenegildo. Se recuarmos, porém, dois séculos na História, vamos encontrar diversos condes com esse nome. Um é de facto conde de Tui e de Portucale, achegado à corte real, avô de S. Rosendo de Celanova.

Assistiu em 900 a um concílio em Oviedo juntamente com seu filho Árias, conde de Emínio, e ainda vivia em 914. Outro, neto deste, é D. Hermenegildo Gonçalves, casado com a célebre Mumadona de Guimarães, que faleceu cerca de 950. Um terceiro, contemporâneo deste último, é D. Hermenegildo Aloítis casado com D. Paterna, pais de D. Sisnando, bispo de Iria e S. Tiago de Compostela em cuja diocese fundaram ou pelo menos restauraram o mosteiro de Sobrado que dotaram em 952. Este mosteiro, primitivamente dedicado ao Divino Salvador, era dúplice, com alojamentos para monges de um e de outro sexo. Era estilo da época. Neste mosteiro serviram a Deus os dois fidalgos e seus filhos, o bispo D. Sisnando e o duque (?) D. Rodrigo Mendes casado com D. Elvira Aloítis que foi abadessa do mosteiro.

De também o mosteiro de Paderne ser dúplice nos seus princípios, ser dedicado ao divino Salvador e ter à sua frente em 1141 a abadessa D. Elvira, deveu surgir, em época posterior, a confusão de fazer esta dita abadessa filha de D. Hermenegildo e D. Paterna.

Que D. Elvira, abadessa de Paderne em 1141, não era filha de qualquer Hermenegildo, bem o demonstra o seu apelido patronímico expresso no documento régio que lhe chama Dona Ilvira Sarrazeni. Este apelido Sarrazeni indica-nos que o pai da abadessa Elvira se chamava Sarraceno ou Sarrazim, nome frequente naquele tempo.

 

Obra Histórica I

Padre Manuel António Bernardo Pintor

Edição do Rotary Club de Monção

2005

pp. 27-31

 

O FOTÓGRAFO SAN PAYO

melgaçodomonteàribeira, 25.01.14

 

O fotógrafo San Payo com o seu pai, Manuel Alves – dois artistas.

 

 

MANUEL ALVES DE SAN-PAYO

 

 

   Artista-fotógrafo, cineasta, conferencista e publicista, nasceu em São Paio, a 16/4/1890. Desde muito novo revelou grande inclinação para as artes plásticas. Em 1902 ingressou no Seminário de S. António e S. Luís de Gonzaga, de Braga, tendo completado os preparatórios em 1909. Abandonando o seminário, emigrou para o Brasil, onde se empregou no comércio. Durante algum tempo, frequentou o liceu de Artes e Ofícios, onde aprendeu desenho. Empregou-se, depois, numa oficina fotográfica, como retocador, até que, por conta própria, começou a dedicar-se à fotografia. Fez exame de admissão à Escola Nacional de Belas Artes, do Rio de Janeiro, exame de cultura geral, tendo frequentado as aulas de desenho e pintura durante um ano. Depois começou a escassear-lhe o tempo e desistiu. Realizou diversas exposições: na Casa Castanheiro Freire, em 1924; na Casa Aguiar, em 1925; no Rio de Janeiro em 1926; em Petrópolis, em 1925; no seu estúdio, em Lisboa, em 1930; na Sociedade Nacional de Belas Artes, em 1937; no S. N. I., em 1950.

   Tratou de assuntos de arte em geral e especialmente de fotografia em « A Voz », « Novidades », « Diário de Lisboa », « Objectiva », etc.

   Realizou conferências na Sociedade Nacional de Belas Artes de Lisboa, intituladas: A fotografia e o Futurismo; Como se deve Encarar a Crítica da Arte. E na Sociedade de Propaganda de Portugal: Luz e Sombra e o Processo do Bramélio.

   Para o cinema realizou, no Brasil, em 1916, os filmes: A Quadrilha do Esqueleto, policial de grande metragem; A Cabana do Pai Tomás, tragédia; O Senhor de Posição, e vários documentários. Em Portugal, foi o realizador do filme: O 1º Cruzeiro de Férias às Colónias (1935) e diversos documentários.

   É agraciado com o grau de Cavaleiro da Ordem de Santiago.

 

 

P.e Júlio Vaz apresenta: Mário

P.e Júlio Vaz

Edição do autor

1996

pp. 270-272