NOVAS DA GALIZA ENTREVISTA AMÉRICO RODRIGUES
ALÉM MINHO
AMÉRICO RODRIGUES, ACTIVISTA CULTURAL DE CASTRO LABOREIRO,
A ALDEIA MAIS GALEGA DE PORTUGAL
E. MARAGOTO
Castro Laboreiro é a freguesia mais galega de Portugal. E nom só: esta extensa paróquia do Laboreiro, raiana com as terras de Cela Nova, deixou viver até a actualidade elementos culturais que a maioria de nós achávamos desaparecidos há muitas décadas. Entre eles, umha economia rural (nom só pecuária) baseada na migraçom sazonal de aldeias inteiras: quase duas dezenas de brandas ficam vazias nos meses do Inverno porque os seus moradores descem para as inverneiras. Mas a aragem dos novos tempos está a chegar a Crasto (assim lhe chamam), que no entanto tem a sorte de contar entre a vizinhança com incansáveis activistas que tenhem feito de todo por manter ou divulgar a idiossincrasia desta interessante regiom raiana: o legado megalítico, umha raça de cam, tradiçons fronteiriças e comunitárias, e um longo etcetera. Américo Rodrigues é um deles.
O cam é a marca mais internacional de Castro, nom é?
O cam é um ícone destas terras de montanha, porque é umha raça autóctone de Castro Laboreiro reconhecida internacionalmente desde 1935. Em 1914 fijo-se o primeiro Concurso Internacional do Cão, evento que é organizado todos os anos no dia 15 de Agosto. Nesta data (1914) a maior parte das raças que mais se vendem hoje em dia no mundo, ainda nom existiam ou estavam a criar-se. Os castrejos venderam ou ofereceram milhares de cans, no século XIX e XX, para todo o Portugal, Galiza e outros países. Infelizmente, a raça encontra-se à beira da extinçom. Mendez Ferrín, tal como figera Camilo Castelo Branco no século XIX, eternizou o cam de Castro Laboreiro no livro Arraianos.
No entanto, as brandas e as inverneiras som a marca mais específica desta freguesia, absolutamente excepcional.
Castro Laboreiro tem um basto património cultural onde podemos salientar: a paisagem, as carvalheiras seculares, os pequenos rios de montanha, a fauna, o cam, os trajes, o Castelo roqueiro, que os galegos chamam de S. Rosendo, que já existia em 1141, ou seja, é anterior à nacionalidade portuguesa, umha das maiores necrópoles megalíticas da Europa ocidental, com mais de umha centena de dólmenes, as pontes, o património religioso, etc., mas quando falamos do modus Vivendi da populaçom nom haja dúvida que as brandas e inverneiras som uhma marca específica. Os castrejos tenhem duas casas: uhma para o Inverno outra para o Verão. Nom estou a falar de transumância. Estou a falar de 1500 pessoas a deslocarem-se com todos os seus haveres duas vezes ao ano entre as duas casas: era um movimento de contornos extraordinários. Para compararmos com outro povo na Península teríamos de falar dos vaqueiros da Alçada nas Astúrias, no século XIX e princípios do XX. Hoje em dia ainda há quem faga essa muda sazonal, claro que sem os contornos do antigamente.
Este vosso português com musicalidade e formas tam galegas, porquê?
Nestas terras o galego-português antigo sempre permaneceu muito vivo. O ADN do povo é o mesmo. O poder de Castela e Lisboa é que foram fazendo a diferença, mas o isolamento de Castro e a falta de alfabetizaçom fijo com que, até hoje, os velhos e a minha geraçom ainda usem o falar antigo. Nom nos esqueçamos que a fronteira começa aqui: temos do marco 1 até o 53 da fronteira luso-espanhola. Salvo em períodos conturbados da história, como o pós-1640, as relaçons sempre foram de entreajuda, própria de irmaos. Castro Laboreiro foi uhma das terras mais solidárias com os refugiados galegos na guerra civil. Estivérom aqui dezenas.
O vosso activismo pretende também a valorizaçom da história local e do megalitismo.
Em 2000 eu e o meu amigo José Domingues, depois de alguns anos de pouco contacto, num reencontro por ocasiom do lançamento do seu livro sobre a vizinha freguesia de Lamas de Mouro, achamos que sobre as nossas terras muito havia por descobrir e preservar, atendendo ao círculo cultural que acabava abruptamente, a desertificaçom reinante, e a posiçom ignorante e contemplativa das instituiçons com responsabilidades. Por isso avançamos com a criaçom do Núcleo de Estudos e Pesquisa do Montes Laboreiro (NEPML), instituiçom amadora que preenche muito do nosso tempo livre, realizando todo o tipo de actividades para incentivar a valorizaçom e preservaçom do património cultural.
Colaboras na revista Arraianos e a Galiza está sempre presente nas vossas actividades…
Seria de todo impossível nom contarmos com galegos nas nossas actividades: as gentes som as mesmas, a história cruza-se e o espaço cultural é o mesmo.
NOVAS DA GALIZA
15 de setembro a 12 de outubro
2010