SOBRE O SANTUÁRIO DA PENEDA
De boina galega e barba branca, o irmão Afonso, missionário em África, vê jogar à petanca na Peneda
O SANTUÁRIO NO FIM DO SÉCULO XVIII
DESCRIÇÃO QUE SE ENCONTRA NO TOMBO DA FREGUESIA DO SOAJO E SUA ANEXA, A DA GAVIEIRA, ELABORADO EM 1795, TOMBO QUE SE ENCONTRA ARQUIVADO NA BIBLIOTACA PÚBLICA DE BRAGA.
Declarou mais que dentro do limite da freguesia da Gavieira se acha o magnífico santuário da Virgem Santíssima com a evocação das Neves da Peneda, em cujo santuário tem o cura da dita freguesia da Gavieira a posse da chave do sacrário e o direito de sessenta réis de cada missa cantada, de assento cento e vinte réis de cada uma a que assistir, e na mesma igreja da Peneda há uma irmandade que administram vários e diversos oficiais recebendo as avultadas esmolas dos fiéis conforme seus estatutos e sentenças ou provisões reais, no qual santuário há muitos e bons quartéis edificados para agasalho dos romeiros que concorrem por todo o tempo do ano especialmente nos meses de Agosto e Setembro, e com clamores de várias igrejas que constam dos estatutos imemoriais da mesma confraria.
Aos dezoito dias do mês de Setembro de mil setecentos e noventa e cinco anos, em o sítio do santuário da Senhora da Peneda adonde foi vindo o doutor Jacinto Lemos de Barbosa Lobo de Castro, juiz daquele tombo comigo escrivão dele e o reverendo José António Lobo de Barbosa abade da freguesia de Soajo, e os louvados informadores João Gonçalves Taças e João Domingues de Carvalho para efeito de se proceder na medição deste santuário e declarações deles pertencentes, ao que ele Doutor Juiz mandou proceder na forma seguinte:
Declarou ele reverendo abade que desde o tempo antiquíssimo da fundação do dito santuário estava ele e seu cura da Gavieira na posse da chave do sacrário e direitos paroquiais de cada missa que nela se cantava sessenta réis, e assistindo a ela cento e vinte réis. Declarou mais que havia no mesmo santuário uma irmandade da Virgem Nossa Senhora das Neves da Peneda com estatutos que se achavam no desembargo requerendo confirmação e outras providências para a administração do mesmo santuário. Item a igreja do mesmo santuário da Peneda pela parte de dentro desde a porta principal até ao altar maior de comprido vinte varas de cinco palmos cada uma e de largo sete varas e dois palmos e pela parte de fora tem de comprido vinte e duas varas e três palmos e pela testa por detrás da capela maior da parte do nascente oito varas e meia, e na frontaria da parte poente onze varas e três palmos onde se incluiu uma torre, que está unida à mesma frontaria, com seu sino. Tem três altares de talha dourada; no maior se acha colocada a imagem da mesma Virgem Senhora das Neves da Peneda, e no altar da parte direita tem a imagem do Senhor Crucificado, e no altar da parte esquerda as imagens de Nossa Senhora do Rosário e São Joaquim e Santa Ana. Tem a dita igreja seu coro de madeira pintado como também seu púlpito e uma admirável porta férrea que divide a capela maior, a qual e todo o corpo da igreja é de abóbadas de cantaria pintada, que, tudo com boa proporção, fazem um magnífico templo ornado com cortinas de seda, muitos e vários ornamentos preciosos com que se celebra o culto divino majestosamente.
Tem muitos e bons quartéis feitos para a acomodação do imenso povo que concorre com votos, orações e promessas quotidianamente e muito mais nos meses de todo Agosto e Setembro.
Para este santuário se entra por uma soberba portaria de cantaria lavrada com excelente risco e secção, seguindo logo um padrão que também há-de servir de chafariz, em cujo este se contém a seguinte inscrição: Governando a Igreja Católica o Santíssimo Papa Pio sexto no ano treze do seu felicíssimo pontificado, reinando em Portugal Maria primeira, pia, augusta, fidelíssima, no ano décimo de seu Império, regendo a Igreja Bracarense o arcebispo Dom Gaspar, príncipe, singular, magnífico, no ano vinte e oito do seu governo, os administradores deste santuário, depois de restaurarem suas ruínas, impetrarem a graça do jubileu sagrado, colocarem o Santíssimo Sacramento no tabernáculo santo, ampliarem o antigo terreiro, fundaram estes santos e magníficos edifícios, puseram esta pedra para monumento eterno de seu zelo, triunfo da religião e glória imortal da Santíssima Virgem na era de Cristo de mil setecentos e oitenta e sete.
Continuam a subir para o terreiro de uma e outra parte importantes passos de cantaria e abóbada lavradas, as quais se acham incompletas, ignorando-se o seu destino.
Obra Histórica
Padre Manuel António Bernardo Pintor
Edição Rotary Club de Monção
2005
pp. 205-206