OS AMORES DO VASCO
UM LUGAR ONDE NADA ACONTECIA
XIII
Nos ensaios do teatro a rapaziada cochichava sobre o namorico do Vasco. Viúvo já há uns anos, com poucas sequelas do tempo da prisão, voltara a ser um homem interessante. Empregado na Central, serviço de camionagem em combinação com o caminho de ferro, que só chegava a Monção, tinha uma situação desafogada, tanto mais que, prevalecendo-se do seu cargo, facilitava os negócios aos contrabandistas.
Riam à socapa achando algo ridículo. A Biti, solteirona, loura, elegante, pela sua figura esbelta, pertencente à burguesia que se arvorava em fidalguia, portanto, tida como socialmente superior, não daria confiança a alguém de passado obscuro. Seria mais uma cena teatral na imaginação do Vasco, diziam.
O espectáculo foi encenado com o sucesso esperado, duas representações apenas. Como das outras vezes, a vaidade pessoal sobrepunha-se ao grupo, por dá cá aquela palha alguns elementos se afastavam desorganizando todo o elenco.
O namoro do teatrólogo foi confirmado. A Beatriz Ribeiro Lima, em horas calmas de expediente visitava a Central e, segundo os bisbilhoteiros, ficavam aos beijinhos. A Ana Toupeira, contemporânea do Vasco, para o arreliar, dizia-lhe: “estás velho não dás mais nada”.
Publicado em A Voz de Melgaço
Manuel Igrejas