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MELGAÇO, DO MONTE À RIBEIRA

História e narrativas duma terra raiana

MELGAÇO, DO MONTE À RIBEIRA

História e narrativas duma terra raiana

O TRAJO DE CASTRO LABOREIRO

melgaçodomonteàribeira, 16.11.24

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O TRAJO DE CASTRO LABOREIRO

Maria Antónia M. Cardoso Leite

Antero Leite

Em carta datada de 26 de setembro de 1791, Dom Frei Caetano Brandão descrevia assim o traje das mulheres de Castro Laboreiro: Não há coisa mais fêa que o (uniforme) do sexo feminino; huma manta de Çaragoça dobrada na cabeça descendo da parte de diante até ao peito muito cozida com o rosto; de trás quasi até ao chão; hum avental da mesma, ou mantéo, sem género de refego, nem prega, polainas de panno branco, e huns tamancos muito altos, atados com diferentes corrêas; he o vestido geral de todas.

A esta fealdade no trajar, Dom Frei Caetano Brandão acrescentou liminarmente a sua apreciação sobre os rostos das castrejas: as caras são de tapuyas tostadas e disformes.

No ‘Minho Pitoresco’, cerca de um século depois, José Augusto Vieira exprimia uma opinião diferente ao afirmar a castreja com quem conversamos, assim como todas as que se relacionaram comnosco, de tracto afável e simples, modesta e com uma physionomia expressiva. Em todas encontramos uma regularidade de traços, formando um conjunto agradável e sympathico.

As peças mais originais do costume, ou trajo, que vestiam eram: a mantela, espécie de lenço para a cabeça, o collete, o manteo largo deitado desde os hombros até aos joelhos, as piugas e os tamancos que dão à castreja a pequenez do pé, como acontece na China com os borzeguins das altas damas. Chamam-lhes na linguagem local «alabardeiros».

Alguns anos depois, em 1904, Leite de Vasconcellos e o Abade de Melgaço, José Domingues, empreendem uma excursão a Castro Laboreiro montados em mulas e acompanhados de duas mocetonas, calçadas de grossos çoques (i.é, çocos ou socos), e com polainas de branqueta.

Quando chegaram a Castro Laboreiro era dia de feira e o etnógrafo observou “muitos homens juntos: apresentavam-se geralmente de cara rapada, vestidos de çaragoça (jaqueta, calças e collete), traziam chapéus de panno ou carapuça e varapau. Mulheres, por ser de gado a feira, não andavam lá muitas. O trajo ordinário d’ellas é: camisa, faxa vermelha; collete; jaqueta; saia branca; saiote; saia de cor, quási sempre preta, feita de foloado «panno de lã ou linho» que se fabrica em Castro; mandil, singuidalho, do mesmo ou de outro panno; na cabeça capella, que pode ser substituída por lenço; nas pernas calções e piúcas, meias sem pés, que se prendem com uma liga ou baraça; e nos pés chancas. (…) No Inverno, tanto homens como mulheres, se abrigam das neves, chuvas e friagens com o corucho, espécie de capuz de borel que se traz na cabeça, e tem uma espécie de aba que se prolonga pelas costas abaixo.

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