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MELGAÇO, DO MONTE À RIBEIRA

História e narrativas duma terra raiana

MELGAÇO, DO MONTE À RIBEIRA

História e narrativas duma terra raiana

NEGÓCIO SUJO

melgaçodomonteàribeira, 29.05.21

108 - igreja paroquial roussas.JPG

igreja paroquial de roussas

 

UM LUGAR ONDE NADA ACONTECIA

XV

Na Galiza, província espanhola que confrontava com Melgaço e outras localidades portuguesas na margem do rio Minho, a carência de produtos importados era total. A guerra mundial tinha terminado mas a Espanha continuava sob bloqueio comercial por parte das potências aliadas que haviam vencido o conflito. O pouco que os galegos conseguiam era através do contrabando. Se os produtos tradicionais eram difíceis calcule-se as novidades científicas. Casos de tuberculose e meningite que eram frequentes naquela época, poderiam ser melhor combatidos caso a penicilina e outros derivados fossem acessíveis. Os contrabandistas forneciam aqueles produtos a troco de fortunas. Como podia ser se eram controlados? Causava espécie tais produtos miraculosos em Portugal não surtirem o mesmo efeito na Espanha.

A quantidade de penicilina e estreptomicina que agora ia para Espanha era um assombro. Trataria-se de milagre ou mágica? Os sinais de riqueza de alguns cidadãos tornaram-se acintosos.

O Zézé Peres fora atacado de infecção pulmonar que estava sendo atacada com estreptomicina com resultados satisfatórios que o levaram à cura. Um dia, conhecido comerciante e contrabandista, chegou-se ao Zézé e em modos de confidência propôs-lhe pagar três escudos por cada frasquinho vazio da estreptomicina. Não aceitou mas outros pacientes devem ter aceitado.

O arcipreste, pároco de Roussas, faleceu vitimado pela idade. Freguesia considerada rica pelos óbolos, côngrua e espórtulas auferidas pelos serviços religiosos e consolo espiritual, era cobiçada pelos padres de paróquias carentes. As solicitações ao Arcebispo de Braga eram numerosas. Cada pretendente apresentava suas razões à petição. O pároco de Fiães era sério concorrente e seus méritos apregoados, principalmente pelo sobrinho, na altura da vila de Melgaço. Tudo levava a crer que ele seria o indicado. Para espanto geral e irritação daquele sobrinho foi nomeado para Roussas com o cargo de arcipreste, um padre filho do Concelho que exercia seu apostolado em Vila do Conde. A revolta do padre da vila foi grande; aliado ao estado nervoso que nos últimos tempos o assolava e motivava atitudes desairosas; a carta irreverente escrita a tinta vermelha que enviou ao arcebispo precipitou a sua transferência.

Por algum tempo o jovem e nervoso padre tentou desprestigiar o novo arcipreste e sua família que contava com mais dois padres. Um destes padres tinha sido apelidado quando estudante no seminário, de Campaínhas.

Valeu-se dum filho do sacristão, garoto habilidoso para o desenho, pedindo-lhe que fizesse a caricatura daquele outro padre enfiado numa batina recoberta de campainhas.

 

                                                                                     Manuel F. Igrejas

 

Publicado em: A Voz de Melgaço