MELGAÇO, O SANTO PRETO
A CAPELA DE S. BENEDITO
ORIGENS
No bairro da Calçada, subúrbios da vila, em frente da encruzilhada formada pelos caminhos para Fiães e para Eiró, de Rouças, e ainda pela velha estrada romana para Puente Barjas, precisamente no sítio onde esta, mudando de direcção, parece dizer adeus às vetustas muralhas da vila, levantou-se em recuados tempos uma boa moradia de casas, quase circundada por campos de rega e lima. Nela morou Leão José Gomes de Abreu, recebedor das sisas e director do correio em Melgaço, mulher e seus dois filhos, o frei Bernardo de Nossa Senhora da Orada e Tomás José Gomes de Abreu, por constitucional preso nas cadeias de Lamego, e nas mesmas falecido em pleno governo de D. Miguel, corria Dezembro de 1832.
Casando este com D. Constança Teresa de Araújo Lima houve muita prole e nesta se contou a senhora D. Maria Benedita Júlia Gomes de Abreu, nascida em 3 de Março de 1800, falecida em 12 de Setembro de 1876, jazendo os seus restos mortais no Convento da Pedreira, a princípio simples hospício dos frades capuchos da província da Conceição. Pois foi esta senhora a grande devota do Santo Preto, seu padroeiro na corte celestial.
Por muito tempo, em tosco oratório de madeira seguro por ganchos de ferro entre as varandas da casa, abertas na fachada do norte, D. Maria Benedita o teve exposto à veneração dos fiéis por ali deambuladores.
Às noites a luzinha de azeite ardia sempre na sua frente até ser apagada pelo vento ou o óleo se extinguir na lâmpada, pois no seu coração nunca esta excelente senhora deixou arrefecer a crença no bom e grande patrocínio deste santo brasileiro. Depois, quando morreu ela, São Benedito passou a ter outro estremado devoto na terra.
FUNDAÇÃO
Das mãos de D. Maria Benedita passou a imagem de S. Benedito para as de seu herdeiro e sobrinho José Cândido Gomes de Abreu, cujo nome esmalta a Câmara e o Tribunal, o comércio e a lavoura, e brilha como astro de primeira grandeza na história de Bem Fazer. Foi ele o fundador do Hospital da Santa Casa da Misericórdia e quem mais trabalhou por fazer brilhar a igreja desta Confraria.
Pois José Cândido Gomes de Abreu, entre os bens deixados por sua tia recebeu aquele pequeno oratório de São Benedito e fiel à memória da morta, interpretando-lhe o seu maior desejo, quando chegou a oportunidade, mesmo ao lado da casa, no recanto norte, a nascente de um dos seus campos, a rasar com a nova estrada real, fez erguer para S. Benedito uma pequenina mas elegante capela, de pedra lavrada, com altar em forma de nicho gracioso.
A porta de ferro, gradeada, sustenta uma caixa forrada para a recolha das esmolas dos caminheiros. Talvez para outros lhe seguirem as pisadas, no frontispício da capela fez gravar em placa marmórea: Mandado construir por José Cândido Gomes de Abreu – 1882.
O tempo consumiu as primitivas cores da pintura da imagem e José Cândido mandou-a retocar e reincarnar de novo em 1894.
Por morte do fundador da capela ficou ela pertencendo ao Dr. Alfredo Cândido Pinto Alves, bacharel formado em Direito pela Universidade de Coimbra e hoje residente em Vila do Conde. Alienou-a, porém, pouco depois.
23 – 5 – 1951
(Publicado em Notícias de Melgaço de 28/11/1956)
Obras Completas: Augusto César Esteves
Nas páginas do Notícias de Melgaço
Edição Câmara Municipal de Melgaço
Volume I Tomo 2
2002
pp. 538, 539