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MELGAÇO, DO MONTE À RIBEIRA

História e narrativas duma terra raiana

MELGAÇO, DO MONTE À RIBEIRA

História e narrativas duma terra raiana

MELGAÇO, CONTRABANDO E CONTRABANDISTAS

melgaçodomonteàribeira, 17.02.24

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castro laboreiro  mareco

 

MEMÓRIA DO CONTRABANDO E EMIGRAÇÃO CLANDESTINA EM MELGAÇO: PATRIMONIALIZAÇÃO E MUSEALIZAÇÃO

EXPLORAÇÃO DE VOLFRÂMIO

Lídia Aguiar

CIIIC-ISCET

Em Melgaço, como em tantos outros concelhos do norte e centro do país, a exploração de volfrâmio veio proporcionar um novo alento para as economias locais. Para as populações, a exploração deste minério constituiu uma segunda fonte de rendimento (a primeira era o contrabando), abrindo, mesmo que momentaneamente, expectativas de melhores condições de vida.

Em Castro Laboreiro a exploração do volfrâmio teve uma maior dimensão, do que em outros lugares. Terá começado já durante o período da I Guerra Mundial, tendo tido um grande pico durante a II Guerra. Neste caso foi levada a cabo predominantemente por populares, que acorriam ao Planalto de Castro Laboreiro, no lugar de Ceara, onde foram abrindo várias galerias.

Os populares vendiam-no no contrabando, maioritariamente já em Espanha. Verificou-se, no entanto, que durante o período da II Guerra, foram os Alemães os grandes compradores. Eles aguardavam os homens no sopé do planalto com os seus camiões prontos para carregar o minério. Cada homem alcançava um rendimento médio de 8 contos por dia. Este montante subiria bastante mais se ele tivesse a sorte de encontrar um bom filão.

Segundo o informante Filipe Esteves, morador em Castro Laboreiro, as mulheres tiveram nesta época um papel primordial. Dirigiam-se em grupos para as zonas mineiras, onde apanhavam as pedras que caiam das grandes cargas, ou algumas que elas próprias conseguiam apanhar, por se encontrarem mais à superfície. Dirigiam-se, então, para uma levada, onde lavavam e peneiravam o volfrâmio. Este mineral, preparado pelas mulheres, era vendido exclusivamente a um dos mais conhecidos contrabandistas da zona: o Mareco, ligado a um dos grandes consórcios.

No ano de 1955, estas minas acabam por ser registadas pela Companhia Mineira de Castro Laboreiro, com sede no Porto. O manifesto mineiro foi de João Cândido Calheiros, morador na freguesia de Prado, encontrando-se, este registo, no Arquivo Municipal de Melgaço, no Livro de Registos (Volfrâmio).

“Lembro-me bem do tempo do minério. Vieram para cá muitos homens, de muitos lados, apanhar aquelas pedras. Eram assim umas pedras muito negras, tão lindas que elas eram. Eles ficavam cá a dormir. Ganharam muito dinheiro naquele tempo.

E as mulheres daqui também para lá iam, coitadinhas. Era contudo, um trabalho muito pesado, pois apanhavam as mais pequenitas e iam lavá-las ao regato. Deram-lhes um dinheirinho, ai isso eu sei bem que deu”. Rosalina Fernandes – Castro Laboreiro – 29-10-2013.

Com a Companhia Mineira de Castro Laboreiro a dominar a larga maioria das minas, a população, em geral, perdeu os lucros avultados que até então conseguira.

Este fenómeno pode-se constatar em muitas outras zonas mineiras, ligadas ao volfrâmio, do norte e centro do país. Findo o negócio do volfrâmio, a população habituada a ter uma vida melhor, não mais a encontra no contrabando. Continuava a ser uma atividade plena de riscos e da qual não era possível obter um rendimento certo. Ao trabalho duro, o melgacense não tinha medo. Com a fronteira mesmo ao lado, com horizontes mais alargados, o convite à emigração era forte. Encontrou-se, deste modo, a grande alavanca para a mobilidade social (Castro&Marques, 2003).

 

REVISTA CIENTÍFICA DO ISCET

PERCURSOS&IDEIAS – Nº 7 – 2ª SÉRIE

2016

 

OFFICE OF STRATEGIC SERVICES

WASHINGTON D. C.

6 july 1945

DOCUMENTOS DESCLASSIFICADOS EM 1987

 

Manoel José Domingues – Mareco

Manoel José Domingues de Castro Laboreiro enviou ilegalmente volfrâmio, ouro e moeda por Espanha para os Alemães e ainda transacciona actualmente barras de ouro. Os seus sócios eram o Barros da Costa, o tenente Walter Thcebe, Artur Teixeira, Manoel Lourenço de Melgaço, António Esteves, Francisco Esteves, Manoel Pereira Lima e Adolfo Vieira de Monção. Antes da guerra as suas propriedades em Castro Laboreiro ascendiam a 200,000 escudos. Neste momento é detentor de propriedades avaliadas em aproximadamente 4,000,000 escudos no concelho de Melgaço e tem contas bancárias em Melgaço e Valença. No início deste ano o Domingues foi apreendido na posse de 17 barras de ouro no valor de 550,000 escudos. Não lhe aconteceu nada por causa da sua prisão. Os membros do Governo Português actual protegeram-no bem, e ele tem muita influência.

 

AeC

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castro laboreiro  seara