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MELGAÇO, DO MONTE À RIBEIRA

História e narrativas duma terra raiana

MELGAÇO, DO MONTE À RIBEIRA

História e narrativas duma terra raiana

FORNOS COMUNITÁRIOS EM CASTRO LABOREIRO

melgaçodomonteàribeira, 23.01.21

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foto de a voz de melgaço

OS FORNOS DE CASTRO LABOREIRO

Em todo este rol de documentação histórica, encontramos apenas três referências a fornos antes do século XX. Duas das referências de fornos de pão estão no fundo documental do Cartório Notarial de Castro Laboreiro (1777-1855). Uma no livro de 1823-1837, com a seguinte referência: “(…) aí tem (…) lamasqueira (…) que dá com o forno de pão” (…). A outra referência, no livro de 1843-1846, “(…) o forno velho, tojal (…) eira e palheiro, anta (…)”, cujas confrontações são a nascente com José Alves e a ponte com um caminho público. Se a palavra “lamasqueira”, da primeira referência, for de carácter toponímico, poderá querer aludir ao atual lugar da Ramisqueira. Se assim for, podemos confirmar que existe forno de pão nesse lugar. Este forno, segundo o sr. Eduardo Afonso, herdeiro e seu proprietário atual, sempre foi privado. Acrescentou que dele se serviam todos os vizinhos que no Inverno se mudavam para aquela inverneira, uma vez que um outro forno da Ramisqueira, dito de tradição comunitária, segundo o mesmo testemunho, tinha ruído ou fora demolido. Quando consultámos as matrizes prediais e urbanas na repartição de finanças de Melgaço, o forno da Ramisqueira que atualmente se pode ver, não está registado sob nenhuma tutela. Contudo o forna está implantado num terreno particular, que pertence ao sr. Eduardo Afonso e família.

O atual forno das Eiras pode ser aquele que é mencionado na segunda referência, pois é considerado antigo, não havendo, no enquanto, memória da sua construção. Está implantado entre vários terrenos particulares, e a sua entrada confronta a poente com um caminho público e a nascente confronta-se com a casa de um particular, correspondendo à descrição do “forno velho”. Porém, a população desta branda diz que o forno não tem proprietários, sendo, por isso, comunitário. Tudo parece indicar que assim é, sobretudo pelas suas dimensões, mas ficam por apurar alguns detalhes relativos aos antigos proprietários, que pudessem confirmar a antiga tutela do forno. Este também não se encontra inscrito nas matrizes prediais e urbanas consultadas. A terceira referência encontrada no século XIX, está num livro de atas de vereação da década de 40. No livro de atas de vereação da extinta Câmara Municipal de Castro Laboreiro de 1842 a 1849, está então uma referência ao forno do Lugar das Cainheiras, em 31 de Maio de 1844, a propósito da nomeação de um “goarda rural daquele lugar fazendo cumprir por todos os moradores daquele lugar”, a “vigilância e bom funcionamento”, “de todas as fontes, fornos, caminhos e mais obras públicas daquele lugar.” – este excerto demonstra que todos os elementos nomeados são de uso comum, aliás, “público”. Apesar do excerto da fonte nos indicar uma pluralidade de fornos, atualmente o lugar das Cainheiras dispõe apenas de um forno que se diz ser comunitário. Além da bibliografia e fontes mencionadas não foram encontradas mais referências a fornos anteriores aos finais do século XX que nos levassem a tirar conclusões determinantes relativamente à natureza administrativa dos fornos de pão de Castro Laboreiro que não fosse de ordem principalmente comunitária. Todavia existe uma panóplia de documentação medieval e moderna, que se encontra dispersa e por estudar, não havendo possibilidade nem habilidade até ao momento de a reunir e descodificar, mas onde se poderão encontrar informações específicas quanto ao passado tutelar destes bens de produção.

 

CASTRO LABOREIRO – DO PÃO DA TERRA AOS FORNOS COMUNITÁRIOS

Uma proposta de mediação patrimonial

Diana Alexandra Simões Carvalho

Dissertação do Mestrado em História e Património

Ramo de Mediação Patrimonial

Faculdade de Letras da Universidade do Porto

2017

pp. 60-61

 

video de diana carvalho