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MELGAÇO, DO MONTE À RIBEIRA

História e narrativas duma terra raiana

MELGAÇO, DO MONTE À RIBEIRA

História e narrativas duma terra raiana

FÁBRICA DE PIROLITOS

melgaçodomonteàribeira, 12.02.22

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UM LUGAR ONDE NADA ACONTECIA…

 

VIII

 

O julgamento do Lili ainda estava por marcar. Talvez o Delegado do Procurador da República e o próprio Juiz, achassem de somenos importância aquele caso e o protelassem sine-die.

Enquanto isso outro momentoso caso ia a julgamento. Um conhecido industrial, rapaz lisboeta casado com uma moça da terra, convenceu o sogro, industrial de panificação, a montar uma fábrica de gasosas, refrigerante a que davam o nome de pirolito devido ao formato da garrafa e processo de tampa, esfera de vidro que, com a pressão do gás da bebida, era impelida contra uma arruela de borracha no gargalo, interiormente. O cidadão, embora casado, era namorador e foi acusado de desflorar uma rapariga menor de idade. Depois dos trâmites legais, foi indiciado e levado a julgamento. Na noite em que o caso ia ser debatido em plenário o auditório do tribunal esteve repleto. Um caso daqueles era assunto que daria debates entre os advogados e, logicamente, detalhes escabrosos viriam à baila. A rapaziada estava interessada nos detalhes que lhes dariam certa excitação. Verificando que a assistência era formada, na maior parte, por jovens, quase crianças, o juiz mandou que os oficiais de diligências fizessem uma vistoria e retirassem os menores de 21 anos. Formou-se tremendo burburinho, raparigas escondendo-se entre os bancos para passarem despercebidas. O João Antí, um dos oficiais fazia vista grossa e deixou a Rosinda amochada. Foi uma sessão ao gosto de povo que para tal fora ali. O advogado de acusação explorou ao máximo os lances de sexualidade que o acusado teria feito contra vontade da estrupada. Por sua vez, o advogado de defesa atenuava as circunstâncias e incriminava a desflorada como provocadora da situação. Por ser hora tardia, o julgamento foi adiado.

 

                                                                     Manuel Igrejas

Publicado em A Voz de Melgaço