BRANDAS E INVERNEIRAS DE CASTRO LABOREIRO
branda de portos
UMA PRÁTICA SEM PARALELO EM PORTUGAL
“O carácter deste deslocamento estacional da população é diferente dos movimentos de transumância que em algumas regiões portuguesas deslocam rebanhos e pastores da planície ou da Ribeira para as pastagens elevadas de Verão. Aqui é uma migração de que todos participam, determinada essencialmente pela exploração agrícola, embora o gado grosso e miúdo dela aproveite.” (Ribeiro, 1991, vol. IV: 255).
Refere-nos Orlando Ribeiro que o tipo de transumância praticado em Castro Laboreiro não tem paralelo com mais nenhum lugar de Portugal, dizendo-nos que nas outras serras portuguesas não conhece nada de semelhante. Por exemplo, nas serras do Gerês, do Barroso, do Montemuro e da Estrela apenas se verifica a exploração transumante com o gado e não com populações inteiras. Acrescentando que mesmo na Península Ibérica só conhece casos de transumância semelhantes ao de Castro Laboreiro no noroeste, mais precisamente nas Astúrias, (Ribeiro, 1991, vol. IV: 255).
No norte de Portugal, as montanhas acima dos 700 metros de altitude contemplam uma natureza que propícia um modo de vida e de economia diferente das zonas mais baixas, como as terras chãs onde é corrente a prática agrícola. Na montanha tudo favorece a atividade pastoril. Nas épocas quentes, os pastores, pagos ou alternadamente escolhidos pela comunidade, vão buscar às cortes o gado para o levar a pastar ao alto das montanhas, precisamente nos terrenos incultos, impróprios para a prática agrícola. O gado, que costuma pastar nas montanhas portuguesas é essencialmente ovino, bovino e caprino.
A transumância é a designação que se dá à emigração periódica do gado com o fim de aproveitar os pastos invernais ou estivais. As terras baixas, pouco elevadas acima do nível das águas do mar, só tem pastos de inverno enquanto que as montanhas, por contemplarem maior pluviosidade, são dotadas de bons pastos no verão.
Em Portugal, o termo transumância associa-se normalmente às deslocações do gado ovino, no entanto, por associação, referi-lo-emos também para designar as deslocações dos pastores ou populações inteiras que acompanham a migração dos animais, como verificamos em Castro Laboreiro.
A transumância praticada nas montanhas portuguesas pode ser estival ou invernal – a primeira consiste na deslocação de gados da planície para a montanha e ocorre durante a época quente; a segunda consiste na descida dos gados da montanha para a planície e ocorre na época fria, (Grande Enciclopédia Portuguesa e Brasileira, 1998, vol. XXXII: 553).
A transumância é também prática frequente nas serras de Montemuro e da Estrela. Nestas, o gado ovino é deslocado para as partes baixas na estação fria onde permanece nas cortes até à chegada do calor, altura em que é deslocado para as montanhas.
No noroeste português – em especial nas serras do Gerês e do Barroso – verifica-se existir a deslocação do gado bovino para as montanhas na época quente, no entanto essa deslocação estival ocorre com fraca amplitude, sem uma periodicidade regular, (Ribeiro, 1991, vol. IV: 162).
Para apoiar a prática transumante, os homens ergueram nas montanhas construções que são comummente designadas por brandas. No nosso caso do Parque Nacional Peneda-Gerês existem vários tipos de brandas, as quais em termos genéricos se agrupam em brandas de cultivo e brandas de pastoreio.
As brandas de cultivo encontram-se construídas nos solos aptos para a agricultura e servem de apoio a esta prática apenas no verão, servindo também nesta altura de apoio à atividade pastoril, sendo nessas brandas que os pastores se recolhem com os seus animais.
As brandas de pastoreio situam-se nas terras altas e correspondem aos locais para onde os pastores deslocam o gado também no verão. No entanto, a população destes lugares é correntemente sedentária e o pastor é o único homem a deslocar-se até ao alto da montanha e a servir-se das brandas – estando este, sujeito a um sistema de vezeiras, onde os pastores alternam entre si a subida à montanha, (Dias, 2002: 191). As brandas de pastoreio, como as das serras da Peneda, do Soajo, do Gerês e Amarela, são construções apropriadas às necessidades do pastor. Consistem em abrigos de apoio ao pastor e gado, apenas utilizados quando o pastor, por algum motivo, não consegue regressar ao seu aglomerado populacional. A grande distância entre os lugares de pastoreio e o aglomerado principal – situado nos vales – é apontado como um dos principais fatores, para a construção deste tipo de abrigos.
Só em Castro Laboreiro encontramos brandas que servem para usufruto de populações inteiras durante a época quente. Na época fria estas populações, em conjunto com todo o seu gado, deslocam-se em massa para as inverneiras situadas em lugares mais baixos. Assim, pratica-se um tipo de transumância único em Portugal.
A cada branda corresponde um tipo de arquitetura específica com necessidades próprias. As brandas de cultivo de Castro Laboreiro consistem em construções apropriadas para apoio às suas diversas necessidades, como abrigo dos castrejos, armazenamento das alfaias agrícolas e dos próprios animais. Estas funções encontram-se também presentes nas inverneiras.
ARQUITETURA DE TRANSUMÂNCIA: ENTRE AS BRANDAS E INVERNEIRAS DE CASTRO LABOREIRO
Vânia Patrícia Sousa Reis
Dissertação para obtenção do Grau de Mestre
Universidade Lusíada do Porto
Porto, 2014