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MELGAÇO, DO MONTE À RIBEIRA

História e narrativas duma terra raiana

MELGAÇO, DO MONTE À RIBEIRA

História e narrativas duma terra raiana

MELGAÇO SÉCULO XII

melgaçodomonteàribeira, 08.03.13

 

 

FRONTEIRAS PORTUGUESAS E LEONESAS NOS FINS DO SEC XII

 

 

Linha da foz do Minho a Melgaço

No Arch. Nac., M. 12 de For. Ant., nº 3, f. 22 v. acha-se o foral de Melgaço datado de 1181, e na carta de repovoação de Lapella de 1208 renovam-se a este logar os foros com que tinha sido povoado “in diebus regis D. Alfonsi”(Liv. 2 de Alemdouro, f. 269). Os povoadores de Melgaço pediram para si os foros de Ribadavia, concelho limitrophe na Galliza. Lê-se no preambulo deste diploma que a nova povoação era fundada na terra ou districto de Valadares, districto que, como hoje vemos da situação desta ultima villa, se dilatava ao longo do Minho para o lado de Monção. Affonso I incluiu nos termos do novo município metade de Chaviães, logar exactamente situado no angulo que a linha de Melgaço a Lindoso fórma com o rio Minho, caíndo quasi perpendicularmente sobre elle.

 

Linha de Melgaço e Lindoso

De dous documentos do cartulario de Feães (Sandoval, Ygles. de Tuy, f. 132 e 137), provavelmente destruido no incendio que devorou aquelle mosteiro no seculo passado, se conhece que pelos annos de 1166 a 1174 este mosteiro era em territorio português; porque, posto aquelles documentos sejam de particulares, nelles se diz que reinava em “Portugal Afonso I”, não mencionando o rei de Leão. Que as cercanias do logar onde depois se fundou Lindoso pertenciam a Portugal pelos annos de 1160 resulta evidentemente do relatorio da transladação das reliquias de Sancta Eufémia, as quaes por essa epocha foram levadas a Orense.

 

 

RETIRADO DE: http://purl.pt/12112/2/hg-26085-p

 

NOSSA SENHORA DA ORADA

melgaçodomonteàribeira, 08.03.13

 

Capela da Senhora da Orada - Melgaço

 

 

NOSSA SENHORA DA ORADA

 

 

É Nossa Senhora da Orada, imagem de muita devoção dos povos d’estas redondezas, e desde o dia da Ascensão do Senhor, até á festa do Espirito Santo, aqui vinham em romaria a maior parte das freguezias dos concelhos de Melgaço, Valladares e Monção, offerecem á Senhora o residuo do cirio paschal, levando os seus respectivos parochos e ao menos uma pessoa de cada casa:isto em cumprimento de um antigo voto, feito por occasião de uma grande peste, de cujo flagello foram estas terras preservadas, tendo sofrido muito as outras.

(…)

É tradição antiga que, pela protecção d’esta Senhora, se livraram muitos captivos que estavam em terras de mouros e que, recorrendo á Santissima Virgem, appareceram ás portas d’este templo, com os grilhões e cadeias com que estavam presos.

 

PINHO LEAL, Augusto Soares d’Azevedo Barbosa de,

PORTUGAL ANTIGO E MODERNO, Lisboa, Livraria Editora Tavares

Cardoso & Irmão, 2006 (1873), p.Tomo V, pp.170-171

 

RETIRADO DE: CEAO

Centro de Estudos Ataíde Oliveira

 

www.lendarium.org/narrative/melgaço

 

PROCESSO 1093 DO SANTO OFICIO

melgaçodomonteàribeira, 08.03.13

 

 

CASTRO LABOREIRO – ROTA COMERCIAL

                                          

                               

PROCESSO 1093 DA INQUISIÇÃO

 

 

   Luís Henriques Julião – processo 1093 – 42 anos, mercador, filho de Julião Henriques e Branca Rodrigues, morador em Orense, Galiza, casado com Filipa Dias. Foi preso em 14/5/1656, em Castro Laboreiro, quando se preparava para passar a fronteira de regresso a Orense, conduzindo um “rocim negro que vale 8 mil reis” o qual lhe foi sequestrado juntamente com 17 arrobas e 3 arratéis de cera que tinha, comprados em Castro Laboreiro e ia levar para Orense. Saiu no auto de fé de 23/5/1660, condenado em 2 anos de degredo para Castro Marim. De seu “curriculum vitae” consta que estivera 5 ou 6 meses em Lisboa onde levara carneiradas para vender; que estivera outro tanto tempo em Lagos, como guarda dos almandravas (armazéns da pesca do atum); que estivera 3 meses em Coimbra, por “demandas do fisco” e em Braga e Porto por razões de comércio. No seguimento da prisão de Lopo Machado fugiu com a mulher para a Galiza e foi para Pontevedra a tomar conta das salinas. Depois fixou-se em Orense viajando por Madrid, Valladolid e outras terras de Castela, em negócios. Na altura que fugiu sequestraram-lhe os bens e entre eles contava-se uma vinha no sítio da Fonte do Olmo “que valia 10 mil reis e levava 16 geiras de cava”.

 

   Retalhos da História de Vila Flor VI

 

   Do site OS JUDEUS EM TRÁS-OS-MONTES

 

………………………………………………………………………………

  

   …Finalmente a 23 de Maio de 1660 foi realizado Auto de Fé.

Luís Julião abjurou então a “Fé Mosaica”, mas foi-lhe imposta várias determinações, que para bem da sua integridade física, deviam ser a partir daí escrupulosamente cumpridas:

- Usar hábito penitencial.

- Ir à missa aos domingos e nos dias santos.

- Confessar-se nas quatro festas do ano: - Natal, Páscoa, Espírito Santo e Assunção de Nossa Senhora, e comungar se o confessor assim o entendesse;

- Jejuar todos os sábados e rezar o rozário de Nossa Senhora;

- Apartar-se da “gente da nação” e cumprir tudo o que prometeu na abjuração.

 Recebeu “Termo de Soltura e Segredo”, e após a sua saída do cárcere, desconhece-se o seu destino.

 

  Foi detido a 14 de Maio de 1656, pelo tribunal do Santo Ofício de Coimbra acusado de judaísmo.

  Cumpriu quatro longos anos de prisão.

 

   Publicado por Carlos Baptista

 

   No site Por Terras de Sefarad, Janeiro de 2011.  

  

INÁCIO SOARES, UM ILUSTRE FILHO DE PRADO

melgaçodomonteàribeira, 08.03.13

 

Prado - Melgaço

 

 

A inovação da introdução das matemáticas nos estudos filosóficos foi louvada por Inácio Soares (Prado, Melgaço, 1712 – Ruffinella, 12.10.1783). Este jesuíta entrou para a Companhia de Jesus em Coimbra a 20.3.1729, onde fez o noviciado e os estudos de Retórica (1731-1732), Filosofia (1732-1736), Matemática (1739-1741) e Teologia (1741-1745). Após ensinar Latim nos Colégios de Braga (1736-1738) e Portimão (1745-1746), foi prefeito dos estudos e lente de Teologia Moral no Colégio de Santarém. De 1751 a 1754 deu, em Braga, um curso de filosofia que ficou célebre quer pela orientação ecléctica quer pelo esplendor dos seus actos académicos e pela actualidade dos assuntos tratados. A GAZETA DE LISBOA (ano de 1754. pp. 191-192) referia-se nestes termos ao curso dado por Inácio Soares: As conclusões foram dedicadas a suas Magestades Fidelíssimas e a suas Altezas, e incluíam toda a Filosofia eclética, racional, natural e moral, ou da eleição das doutrinas de todos os autores antigos e modernos, assim filósofos como matemáticos, com maior vastidão que até agora se tem visto. Posteriormente, encontrando-se no Colégio de Jesus, onde ensinava Teologia Moral, Inácio Soares começou a dar mostras de desarranjo mental, facto que levou ao seu afastamento do ensino. Sebastião José de Carvalho, julgando-o ofendido e queixoso dos superiores, mandou chamá-lo a Lisboa. A atitude de Inácio Soares, ao afirmar perante o cardeal reformador Saldanha e Sebastião José de Carvalho, que iriam parar ao inferno se não desistissem da perseguição aos jesuítas, levou-o a oito anos e meio de prisão, na Junqueira e S. Julião da Barra. Foi preso em 11.1.1759, tendo sido depois exilado, foi para Itália a 6.9.1767. Das suas lições ficaram uma postila de Lógica, e a PHILOSOPHIAM UNIVERSAM ECLECTICAM, EX CUNCTIS PHILOSOPHORUM SECTIS METHODICE SELECTAM AC CONCINNATAM, defendida por António Neto da Fonseca (Coimbra 1754).

 

Retirado de:

 

htpp://nautilus.fis.uc.pt

 

O EXILIO GALEGO

melgaçodomonteàribeira, 08.03.13

 

 

 ACTAS DO CONGRESO INTERNACIONAL "O EXILIO GALEGO"

 

 

    No decurso dos dez últimos días de xullo de 1936, Galicia caeu baixo a bota do terror, converténdose nun dos territorios da República onde a represión franquista amosaría a súa face máis cruel e asañada dende o comezo  mesmo do conflicto……………………….

   Galicia non era zona leal para os franquistas, e en ningún caso se trataba dunha retagarda segura; os sublevados tiñan razóns para considerar que Galicia era, en boa medida, un territorio hostil.

   A fuxida cara a Portugal por via terrestre. Aí os exilalados tiñan pola súa vez que burlar a vixilancia tanto da polícia política (PVDE) como da Garda de Fronteiras do réxime salazarista. Estes corpos tiñan orde de deter a todos os españois “revolucionários” indocumentados e entregarlos á PVDE para proceder á súa expulsión. En troco, os carabineiros e Garda Civil adoitaban facer entrega de esquerdistas lusos radicados en Galicia e expulsos por indesexábeis.

   Os refuxiados galegos en Portugal puideron apoiarse ademais nas redes preexistentes de contactos transfronteirizos por elos de parentela, sociabilidade e reproducción social, cimentados ademais na emigración estacional – coma os existentes, por exemplo, no Couto Misto, entre a aldea de Castro Leboreiro e a zona de Bande, ou entre Monção e Salvaterra de Miño - , na alta cantidade de galegos residentes en Portugal, nos contactos propriamente políticos dos exiliados com opositores antisalazaristas (dende republicanos da Aliança Democrática Portuguesa ata os comunistas, os mellor organizados), na presencia de mestas redes de contrabandistas e colaboradores a ambos os dous lados da raia – do mesmo xeito que se formaron grupos de guerrilleiros arraianos -, ou na existencia na banda portuguesa da fronteira de persoas dedicadas a fornecer papeis e agachadoiro ós refuxiados en troco de diñeiro.

  Todas estas redes adoitaban cruzarse e seren usadas alternativa ou complementariamente por cada refuxiado na medida das súas posiblidades. Amósao así, sen máis, a andaina de Antón Alonso Ríos, entrado pola zona da serra da Peneda como fuxido en Portugal en xullo de 1938, agachado sucesivamente por pastores que mediaban cun comerciante de Melgaço que tiraba proveito da evasión de refuxiados, por coñecidos del en Arcos de Valdevez, por un comerciante de café republicano antisalazarista no Porto, e por un vello amigo seu de Tomiño emigrado en Lisboa. Finalmente, e depois de desbaratarse o plano de embarcar cara a Francia como polisón nun barco mercante, puido arranxar a obtención de papeis nos consulados arxentino e francês e embarcar a Casablanca, e de ali a Bos Aires, gracias a ter recibido dun amigo silledao da Arxentina documentos que lle permitiron suplantar a personalidade dun seu curmán morto no país austral. Alonso Ríos non debeu ser o único que recorreu a esta estrataxema. O diretor da PVDE informaba en Outubro de 1937 ó xefe de gabinete do Ministro luso do Interior “que bastantes foragidos espanhóis que se encontram clandestinamente em Portugal, principalmente nas montanhas de Castro Leboreiro, tem obtido da Argentina certidões de nascimento de outros indivíduos, com que, possivelmente, procurarão documentar-se em Portugal”.

 

RETIRADO DE:

 

htpp://consellodacultura.org/mediateca/extras

 

ENTRE A PENEDA E O BARROSO

melgaçodomonteàribeira, 08.03.13

 

 

 

ENTRE A PENEDA E O BARROSO: UMA FRONTEIRA

 

GALAICO-MINHOTA EM MEADOS DE DUZENTOS.

 

Por Iria Gonçalves

 

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   Mas, para que seja eficaz (fronteira) neste sentido, ela tem que ser bem definida, pelo menos nos pontos estratégicos, que, neste caso, coincidem com os lugares de passagem, os portos, fluviais ou terrestres, com as suas estruturas destinadas à cobrança de tributos.

   Assim também entre a Galiza e Portugal. A Norte ninguém tinha duvidas sobre por onde se corria a divisória. Era o rio Minho que a marcava, um traço suficiente forte e estável da paisagem, para se impor, desde logo, sem reservas. Aliás, do lado português, uma linha de povoações fortificadas, quase sobre a margem do rio, a balizar as vias de comunicação, os locais de passagem para a outra banda, eram, desde Afonso III e seu filho Dinis, a clara afirmação de uma soberania que até aí se dilatava e não merecia contestação. Pelo menos sem a resposta adequada.

   Mas a fronteira óbvia terminava na foz do Trancoso. A partir daí, se esse pequeno rio, com, mais a sul, o Laboreiro, ofereciam ainda alguma possibilidade de um claro registo de demarcação, no terreno, fizeram-no sem a força e a imponência do Minho, e, para lá deles, toda a separação se fez por serras, galgando encostas, caminhando por cumieiras, descendo a precipícios – como na Portela do Homem, o exemplo mais marcante – numa indefinição de linhas que a natureza do terreno, a fraca densidade populacional, o modo de vida dos seus habitantes, largamente dedicado à montaria de ursos, javalis ou cervos, ajudaria a manter. Aliás, os homens de Cabreiro, de Soajo ou de Castro Laboreiro, não perguntariam se era por terras da Galiza ou do Minho que perseguiam a sua presa. Possivelmente ser-lhes-ia quase toda indiferente como a ela, daber de lado da fronteira se encontravam. Esta era uma larga franja de terreno, tão larga quanto o seu distanciamento das estruturas fortificadas que a apoiavam, com os respectivos territórios de controle a envolverem-nas.

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   É que, se em tempos de paz a fronteira era aberta, amável, convivial, em tempos de guerra fechava-se, eriçava-se de hostilidades, eivava-se de desconfianças.

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   No extremo Norte, a praça forte de Melgaço erguia-se, por assim dizer, numa primeira demarcação do território português. Mas Melgaço estava mais virada sobre o Minho.

   Era uma fortaleza do rio.

   Na serra, o castelo do Castro Laboreiro era o que mais a Norte proclamava  a soberania de Portugal e o primeiro a sofrer os embates, numa eventual entrada de Leão por esta fronteira. Isolado e servido por um pequeno grupo de homens, como já disse, precisava do auxílio das populações vizinhas, em caso de perigo.

   Por isso, os homens de S. Pedro de Mou “se ouvirem voz d apelido do Castello de Leboreiro deven li a correr”, mas, em contrapartida, o seu alcaide, “se os vir in coita deve os acoler no Castello e inparal os”. Para isso lá estava a grande cerca, que fora construída, como outras , no século XII.

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Para aceder ao texto completo:

 

 http://ler.letras.up.pt/uploads/ficheiros/3995.pdf

 

NAS FRONTEIRAS DE PORTUGAL

melgaçodomonteàribeira, 08.03.13

 

 

O OCCIDENTE

 

REVISTA ILLUSTRADA DE PORTUGAL E DO EXTRANGEIRO

 

20 DE OUTUBRO DE 1911

 

Nas Fronteiras de Portugal

 

Alto Minho, Melgaço e Monsão

 

   É entre estas vilas portuguesas, da província do Minho, que se defrontam com Galisa, que se vê a velha ponte romana, compondo o cenário extremamente pitoresco de toda a região do nosso lindo Portugal.

   São estas duas vilas, Melgaço e Monsão, das mais históricas do Minho, por feitos heróicos dos seus filhos nas guerras em defesa da integridade da pátria contra os assaltos de seus visinhos de Espanha.

   Então como agora são as terras de fronteira que despertam as atenções do publico por serem o campo de acção dos que conspiram contra o novo regimen.

   Refugiados na Galisa, mercê do governo de Espanha que lhes dá quartel,  os conspiradores portuguêses tentaram passar as fronteiras pelo Minho, antes de o fazerem agora por Traz-os-Montes, realisando de facto a incursão das suas forças por Vinhaes, entre Chaves e Bragança.

   O insucesso dessa incursão foi noticiado pelos telegramas, mais ou menos contraditorios sobre os resultados da aventura, sendo, todavia, certo que houve recontro com as tropas do governo, em que de parte a parte se deram ferimentos e até mortes.

   Entretanto os conspiradores não lograram seu intento, e debandaram novamente para a fronteira da Galisa, onde parece que se conservam uns, emquanto outros desanimados dispersaram-se abandonando seus camaradas, à frente dos quaes se encontra Paiva Couceiro.

   Agora voltam novamente suas vistas para o Alto Minho, tentando entrar em Portugal por algum destes postos de fronteira.

   Não é fácil prever quanto durará tal situação desde que estas incursões tomaram o caracter de guerrilhas, como em tempos, que já lá vão, aconteceu com os celebres Remichido e Galamba, nas lutas liberaes, que por muito tempo inquietaram e não pouco prejudicaram as provincias do Alentejo e do Algarve, especialmente.

   A Historia vae, infelizmente repetindo-se. É o mesmo povo, é o mesmo país, são as mesmas paixões, e quasi um seculo decorrido, parece tudo encontrar-se na mesma ignorancia e por isso no mesmo fanatismo!

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Texto Retirado de: http://hemerotecadigital.cm-lisboa.pt/OBRAS/Ocidente

 

SOMOS EMIGRANTES, SIM SENHOR

melgaçodomonteàribeira, 07.03.13

 

Homenagem ao emigrante - Fiães

 

 

  ESTE TEXTO TEM POR BASE DADOS DOS INSTITUTOS DO GOVERNO PORTUGÊS. MELGAÇO É O CONCELHO COM MENOR NÚMERO DE INSCRITOS EM CENTRO DE EMPREGO. É VERDADE, SIM SENHOR; E DESDE CAMÕES FOI POETICAMENTE ESCRITA A NOSSA BOA SORTE.

 

 

"A QUE NOVOS DESASTRES DETERMINAS

DE LEVAR ESTES REINOS E ESTA GENTE

QUE PERIGOS, QUE MORTE LHES DESTINAS

DEBAIXO DALGUM NOME PREMINENTE!

QUE PROMESSAS DE REINOS E DE MINAS

D’OURO, QUE LHE FARÁS TAM FACILMENTE ?

QUE FAMAS LHE PROMETERÁS? QUE HISTÓRIAS ?

QUE TRIUNFOS? QUE PALMAS? QUE VITÓRIAS ?"

 

CAMÕES

 

                                 

"NÃO ME TEMO DE CASTELA

DONDE INDA GUERRA NÃO SOA;

MAS TEMO-ME DE LISBOA,

QUE, AO CHEIRO DESTA CANELA,

O REINO NOS DESPOVOA"

 

SÁ DE MIRANDA

 

 

"VEMOS NO REINO METER

TANTOS ESCRAVOS CRESCER

E IREM-SE OS NATURAIS

QUE, SE ASSIM FOR SERÃO MAIS

ELES QUE NÓS A MEU VER"

 

GARCIA DE RESENDE

 

 

OLHAI, OLHAI, VÃO EM MANADAS

OS EMIGRANTES …

UIVOS DE DÓ PELAS ESTRADAS.

JUNTO DO CAIS, NAS AMURADAS

DAS NAUS DISTANTES …

VELHINHAS, NOIVAS E CRIANÇAS,

SENHOR! SENHOR!

AO VOAR DAS ULTIMAS ESP’RANÇAS

CRISPAM AS MIOS, MORDENDO AS TRANÇAS,

LOUCAS DE DOR!

LÁ VÃO LEVADOS, VÃO LEVADOS

PELO ALTO MAR

…………………………………………….

VOLTARÃO, QUANDO, MAR PROFUNDO ?

JAMAIS! JAMAIS!

 

GUERRA JUNQUEIRO

 

 

"HOMENS QUE TRABALHAIS NA MINHA ALDEIA,

COMO AS ÁRVORES, VÓS SOIS A NATUREZA.

E SE VOS FALTA, UM DIA, O CALDO PARA A CEIA

E TENDES DE EMIGRAR,

TRONCOS DESARREIGADOS PELO VENTO,

LEVAIS TERRA PEGADA AO CORAÇÃO.

E PARTIS A CHORAR.

QUE SOFRIMENTO,

Ó PÁTRIA, VER CRESCER A TUA SOLIDÃO!"

 

T. PASCOAIS

 

 

"…VI MINHA PÁTRIA DERRAMADA

NA GARE DE AUSTERLITZ. ERAM CESTOS

E CESTOS PELO CHÃO.

PEDAÇOS DO MEU PAÍS.

RESTOS.

BRAÇOS.

MINHA PÁTRIA SEM NADA

SEM NADA

DESPEJADA NAS RUAS DE PARIS.

E O TRIGO ?

E O MAR ?"

 

M. ALEGRE

 

 

AI, HÁ QUANTOS ANOS PARTI CHORANDO

DESTE MEU SAUDOSO, CARINHOSO LAR!...

FOI HÁ VINTE ? … HÁ TRINTA ?... NEM EU SEI QUANDO!...

MINHA VELHA AMA, QUE ME ESTÁS FITANDO,

CANTA-ME CANTIGAS PARA EU ME LEMBRAR!...

 

DEI A VOLTA AO MUNDO, DEI A VOLTA À VIDA…

SÓ ACHEI ENGANOS, DECEPÇÕES, PESAR…

OH! A INGÉNUA ALMA TÃO DESILUDIDA!...

MINHA VELHA AMA, COM A VOZ DORIDA,

CANTA-ME CANTIGAS DE ME ADORMENTAR!...

 

GUERRA JUNQUEIRO

 

 

   ESTE TEXTO FOI RETIRADO DE BIBLIOTECA DIGITAL CAMÕES, INSTITUTO DE CULTURA E LINGUA PORTUGUESA. É DA AUTORIA DE JORGE CARVALHO ARROTEIA. DENOMINADO: A EMIGRAÇÃO PORTUGUESA – SUAS ORIGENS E DISTRIBUIÇÃO.

   UMA HOMENAGEM A TODOS NÓS QUE DEIXAMOS A NOSSA TERRA.

    A TODOS OS MELGACENSES EM FRANÇA, SUIÇA, ANDORRA, GALIZA, ESPANHA, CANADÁ, EUA, BRASIL…

 

3° ANIVERSÁRIO DESTA AVENTURA

melgaçodomonteàribeira, 07.03.13

 

Desenho de Manuel Igrejas

 

 

Foi em 9/11/2007 que a aventura na teia principiou. Festejamos, pois, o 3° aniversário.

 

RETALHOS DE MELGAÇO NOS ANOS XXX

 

    O frenesi na Vila de Melgaço devia-se à visita do Presidente da República, prestes a acontecer. Como por certo acontecera em outras localidades, o povo mantinha-se em nervosa ansiedade. As crianças da escola davam os últimos retoques nos exercícios de postura e nas roupas. Todos vestiam o melhor que tinham. No quintal da Escola Conde de Ferreira faziam os exercícios finais. Era verão, o calor insuportável, àquela hora, uma da tarde, o sol abrasador em cima da cabeça das crianças! O cabo da Guarda-Fiscal que estava instruindo a criançada, como ainda havia tempo, mandou que fossem a casa buscar algum tipo de chapéu para cobrir a cabeça. Todos moravam perto. O Manuelzinho que estava naquele meio por andar na escola oficial, também foi. O seu irmão Gú improvisou-lhe um gorro com a pala de um sobretudo que estava sendo feito. Na cabeça do garoto parecia um bivaque cinza como o dos militares. Todos acharam interessante aquele chapéu improvisado.

   O cabo instrutor recomendou que quando fossem para o terreiro todos tinham de se desfazer dos chapéus. Tinham desde chapéus de palha a chapéus de papel de jornal. O Manel podia conservar o dele na cabeça por ser inusitado.

   As autoridades da terra, vestidas a rigor ou, de gala quem era militar, estavam em Penso, freguesia limite entre os concelhos de Monção e Melgaço, aguardando a caravana. O Dr. Durães e o Dr. Sá, com suas fardas verdes de oficiais da Legião, o tenente Lopes, e o tenente do Posto da Guarda Fiscal, cheio de cordões brancos, talabarte e dragonas nos ombros. O sargento da Marinha, elegantíssimo, na farda branca. Todos de luvas. Os automóveis da terra também estavam lá. O carro do Pires e do Emiliano estavam com Cruzes de Aviz, emblema da Legião Portuguesa, recortadas, coladas no pára-brisas e nas portas. Os outros carros também enfeitados com bandeiras nacionais.

   Cerca das três horas da tarde chegou a Penso o cortejo. Foi saudado com foguetes, palmas e vivas e seguiu adiante engrossando com os carros da terra. Desde a Loja Nova até ao Terreiro, pela Calçada, o povo ovacionou e acompanhou os automóveis. Na Praça da República estavam formados os Legionários com as espingardas, mas à paisana, os marinheiros do Posto, o efectivo da Guarda-Fiscal, os Bombeiros com os seus fulgurantes capacetes, e as crianças da escola, todas formadas impecavelmente. As autoridades da terra, após apresentarem seus cumprimentos a Sua Excelência, ao descer do automóvel, também foram formar no centro do Terreiro para a revista da praxe. A maioria dos habitantes do concelho estava à volta da praça. Ao descer do carro, o Presidente foi ovacionado delirantemente. Das varandas e janelas caíram cascatas de pétalas de flores. Tudo pronto para a revista de honra. O João Cataluna pôs toda a sua alma de português no potente sopro de seus pulmões, que no clarim tirou os mais vibrantes sons no toque de sentido. Todos se postaram firmes inclusive o povo em volta. O silêncio caiu absoluto sobre tudo e sobre todos no mais profundo respeito e emoção. Só se escutava o cair da água no tanque por detrás do chafariz no cimo do terreiro. Sua Excelência movimentou-se e o João Cataluna soprou o toque de continência. Os oficiais militares levaram a mão à testa. Os militares e legionários, armados, apresentaram as suas armas, os Bombeiros apresentaram os seus machados e machadinhas, os oficiais legionários e as crianças estenderam o braço direito na saudação romana da legião Portuguesa e Mocidade. Vagarosamente, acompanhado do seu Estado-Maior, o Presidente da República começou a passar em revista as ‘’tropas’’ formadas em sua honra.

   Vestidos à paisana, com um fato cinzento que lhe caía impecavelmente, a estatura mediana e porte elegante, rosto oval e com o cabelo bem penteado e já quase todo branco e o inconfundível e imponente bigode, irradiando simpatia e ternura, Sua Excelência, o Presidente da República Portuguesa, General António Óscar de Fragoso Carmona, com expressão séria, com muita atenção ia olhando todos. O povo de Melgaço tinha respeito e admiração por aquele homem, como de resto toda a população simples do País. O povo continuava no mais profundo silêncio. Chegando às crianças da escola, Sua Excelência reparou no Manuelzinho com seu inusitado barrete e, sorrindo, tocou duas vezes com a mão no rosto do garoto, dizendo: - Muito bem, muito bem!

   O rapazinho estava firme como uma rocha, braço estendido, encarnando naquele momento todos os heróis da Pátria de que já ouvira falar. Quando sentiu as mãos e as palavras do Presidente continuou na mesma firmeza mas as lágrimas da emoção escorreram rosto abaixo e um tremendo soluço sufocou-o.

   Após a revista no Terreiro, o Presidente e a comitiva foram ao edifício dos Paços do Concelho. Pouco demoraram e dali foram a São Gregório, à ponte internacional que liga Portugal à Espanha. Uma hora mais tarde passavam novamente pela Vila directos a outras paragens. No dia seguinte o António da Loja Nova foi chamado ao Porto para dar explicações à Policia Internacional e Defesa do Estado. Na ânsia de participar nas homenagens, ele, que era vice-cônsul honorário da Espanha. Hasteara em sua casa comercial a bandeira daquele País. Reconhecida a sua ignorância em protocolo, foi mandado de volta apenas com advertência.

Melgaço, durante bastante tempo, viveu da emoção daquele acontecimento, retalho feliz na existência daquela gente.

 

 

MANUEL FELIX IGREJAS

 

 

 

 

Sofrimentos insensatos

 

I

 

A Palmira empurrou o portão de ferro e puxou-se para o lado. O Fedelho, que a seguia, indiferente, entrou no vasto quinteiro e dirigiu-se para a porta das cortes com passo lento, próprio dum cão de idade avançada – apesar de, aparentemente, ainda conservar um focinho de cachorro – que sabia o que fazia. Era totalmente branco, albino, diziam. Sentou-se, língua de fora, e esperou que a dona, depois de fechar o portão vagarosamente, viesse atirar para o chão o feixe de erva que trazia às costas. Estava longe o tempo em que ia com ela à erva, buscar faúlha ou tojo ao monte, e explorava incessantemente as proximidades do caminho de focinho no chão, à procura de um rasto odorífero de coelho ! Era rafeiro mas fora treinado para a caça, pois tinha um faro anormal. Hoje, custava-lhe fazer o trajecto de ida e volta da casa à leira, distante de algumas centenas de metros.

A Palmira vivera sempre em Orjás. O lugar situava-se na chapada duma pequena encosta. As poucas casas, dispostas de cada um dos lados do caminho, que por uma grande abertura no arvoredo saía da floresta, a um quilómetro dali, vindo de Cubalhão, e que continuava depois até Cavaleiro Alvo e Lubiô, eram majoritariamente antigas e de construção rudimentar. No meio, a velha igreja, toucada com um campanário bicudo em forma de gorro de lã ; por detrás, o cemitério com os muros meios derrubados, algumas cruzes degradadas e tombas enverdecidas. Em frente, ficava a minúscula escola. Mais adiante, uns bons metros, um largo com um vulgar cruzeiro de granito de onde o caminho bifurcava, indo um para Lubiô, passando por Cavaleiro Alvo, e o outro para o moinho do “tio” Júlio. A Palmira vivia numa ampla casa, a cem metros do cruzeiro, no caminho de Lubiô.

Deixou escorrer lentamente o verde feixe de erva para o chão, diante duma grande porta, e sacudiu as costas com uma mão para tirar as ervas que se agarravam à roupa.

Desde que casara e que o homem, o Belardo, fora para a França andava vestida de preto da cabeça aos pés. Só durante as poucas semanas de descanso que, de tempos a outros, ele vinha gozar à terra, é que ela se vestia de cor. Era a tradição. Na região, quando os homens se ausentavam para trabalhar no estrangeiro, as mulheres vestiam-se de preto. Era uma forma de manifestar a mágoa, a tristeza.

Um suspiro silencioso, inconsciente, escapou-lhe impulsivamente. Era uma reacção habitual, rotineira. Embora ainda não fosse velha, tinha feito sessenta anos em maio, a ausência do homem e a vida ríspida do monte começavam a pesar-lhe cada vez mais. Dirigiu-se para as traseiras da casa. Ali, na metade dum grande campo cercada de rede, tinha os galinheiros e, no resto, uns belos tacos com os principais legumes de que gostava. O cão não mexeu, sabia o que ela ia fazer e já não lhe apetecia acompanhá-la. Quando voltou, trazia nos braços umas folhas de boa couve verde. Sentia-se cansada. Seguida pelo Fedelho, subiu as escadas de pedra grosseira, desgastadas pelo atrito, e abriu a porta da casa que rangeu.

— Ês tu, Palmira ? – ouviu, enquanto sacudia a terra dos socos na soleira.

Era a voz, já trémula, da mãe que dormia no quarto ao lado da cozinha. Acordava sempre depois dela. A filha deixava-lhe a porta do quarto entreaberta continuamente. 

O Fedelho deitou-se no chão, no pequeno patamar, como era hábito seu. A Palmira entrou, pousou as couves por cima da mesa da cozinha e respondeu desleixadamente:

— Sou eu, mai, sou.

A cozinha ficava na maior peça da casa que desempenhava duas funções : cozinha e sala de jantar. A parte desta era do lado direito da porta de entrada. A mobília compunha-se de uma grande e maciça mesa central que podia acolher confortavelmente uma dúzia de pessoas, ainda que só tivesse seis cadeiras. Contra a parede interior, quase a meio, estava encostado um enorme armário de ébano, como a mesa e as cadeiras, cuja metade superior vidrada se encontrava entulhada de louça, testemunha de uma época remota. À primeira vista, via-se que havia muito que não era tirada do imponente armário. De um dos lados deste, um quadro do Sagrado Coração de Jesus, do outro, um de Santa Rita. Os dois muros exteriores eram cortados cada um por uma enorme janela. O amarelo das paredes, que o tempo tinha envelhecido, descorado como os mármores expostos ao ar, dava à sala um aspecto demasiado estático, desleixado. Apenas se serviam da sala de jantar quando o padre, na Páscoa, trazia a Cruz para beijarem ou quando o Belardo estava presente.

Do lado esquerdo, encontrava-se a cozinha. De elevadas dimensões, era a vida da casa. A grande laje da lareira ficava encostada ao muro lateral. Junto do lume, a cadeira de balanço da Delfina, há muitos anos no mesmo lugar, imutável, como se estivesse cravada no solo. Contra a parede de divisão, havia um lava-louça, a cozinha de ferro e um móvel comprido, no qual se guardava de tudo e que ocupava quase a metade da parede. Por cima deste, havia uma mixórdia medonha de produtos cerealíferos, de condimentos, de adubos, de oleaginosos, etc. Encostada ao muro exterior restante, que tinha igualmente uma janela como as da sala, havia uma pequena mesa com quatro cadeiras onde comiam o filho, ela e a mãe, ou, quando a Áurea, a filha, estava, os quatro. Era na cozinha que o quotidiano se passava.

Entre a cozinha e a sala de jantar, encontrava-se a porta que dava acesso aos quartos e à retrete, uma simples dependência com um buraco no chão que  despejava directamente os dejectos na corte das vacas.

O sol já não aquecia o suficiente todos os dias. Enquanto não acendia a lareira, a Palmira não tirava a mãe da cama. Como acordava bastante mais tarde do que ela, aproveitava para fazer alguns dos labores habituais da casa. Pôs a cevada com leite a aquecer no pequeno fogareiro a petróleo. Esfarrapou em seguida pão até encher uma grande malga branca com flores avermelhadas pintadas à volta. Era uma malga que a mãe conservara desde o seu casamento e pela qual tinha um apego exagerado. Deitou-lhe depois a cevada que não deixara ferver e acrescentou-lhe duas grandes colheres de açúcar moreno, antes de mexer bem as sopas. Gostava delas bem docinhas. Pôs-lhe um prato por debaixo e foi ao quarto ao lado, onde ela dormia, levar-lhas. Era um antigo quarto de arrumos que, por estar ao lado da cozinha e da lareira, fora arranjado para ela lá poder dormir. A lareira era o único aquecimento que a casa possuia. Pousou as sopas na mesinha de cabeceira e ajudou a mãe a sentar-se na cama. Deitou-lhe um velho xaile de lã pelas costas e pôs-lhe as sopas no regaço.

— Ô mulhêr, isto ê muito p’ra mim !

Não a ouviu. Havia muito que deixara de ouvi-la. Dizia sempre a mesma coisa e sempre a mesma coisa fazia: a malga ficava limpa. Sentou-se aos pés da cama de ferro, que chiou com o seu peso, e, como que hipnotizada, ficou a olhar para a mãe. Não a via. O seu olhar traspassava-a. Esta, sem lhe prestar qualquer atenção, como se estivesse sózinha, comia a um ritmo cadenciado mas contínuo. A pele curtida pelas intempéries, que contrastava com o branco da camisa de dormir, dava-lhe um ar de sagacidade e de consideração.

A Delfina tinha oitenta e cinco anos e, graças a Deus, não se podia queixar. Comia bem, a horas certas, e a saúdinha ia-se entendendo com ela. A única contrariedade eram as pernas que, às vezes, emperravam um pouco e não lhe permitiam  ir dar as voltas que ela desejaria à igreja ou ao cruzeiro. Tinha-se afastado de um mundo escabroso que todavia continuava a ver, embora cada vez menos. Deixava raramente o aconchego caseiro, as pantufas cinzentas de seda e o roupão preto que lhe tinha trazido o Belardo da França.  Contudo, aos domingos, ia  com a filha, com o neto e, quando presente, com a neta assistir ao ofício religioso. Fora naquela capela que a tinham baptizado e que, havia sessenta e seis anos, se tinha casado. Ao fim da missa, gostava de sentar-se num dos bancos de pedra que havia no adro e trocar umas palavras com as pessoas presentes que não deixavam de ir saudá-la e de lhe apertar a mão afectuosamente. Era o único contacto que tinha com o exterior e o seu momento privilegiado.

 

(continua)

 

A.E.C.

 

 

FRONTEIRAS PORTUGUESAS E LEONESAS

 

NOS FINS DO SEC. XII

 

   O que dizemos no texto, relativamente aos limites de Portugal, estriba-se nos fundamentos que vamos apontar.

   Linha da foz do Minho a Melgaço. No Arch. Nacion., M. 12 de For. Ant., nº 3, f. 22 v. acha-se o foral de Melgaço dado em 1181, e na carta de repovoação de Lapella de 1208 renovam-se a este logar os fóros com que tinha sido povoado in diebus regis D. Alfonsi (Liv.2 de Alem-douro, f. 269). Os povoadores de Melgaço pediram para si os foros de Ribadavia, concelho limitrophe na Galliza. Lê-se no preambulo deste diploma que a nova povoação era fundada na terra ou districto de Valadares, districto que, como hoje vemos da situação desta ultima villa, se dilatava ao longo do Minho para o lado de Monção. Affonso I incluiu nos termos do novo municipio metade de Chaviães, logar exactamente situado no ângulo que a linha de Melgaço a Lindoso fórma com o rio Minho, caíndo quasi perpendicularmente sobre elle. Na restauração de Contrasta (Valença) por Affonso II (Liv. de Affonso III, f. 64 v.) affirma el-rei que seu pae já tinha dado um foral áquelle logar, o qual, portanto, remonta á epocha de Sancho I e, talvez, á de Affonso I, porque nem sempre a carta municipal coincide com a origem das povoações, podendo ellas existir anteriormente e, até, terem tido outro foral, hoje perdido. Isto se vê do fraguemento da demanda de Affonso II e suas irmans (lançado no Liv. 3º de Aff. III, f.26), donde consta existir já o castello de Contrasta por morte de Sancho I, porque logo começaram as discordias de Affonso II com as infantas, durante as quaes foi Contrasta tomada pelos leoneses. Que por este lado o districto  mais meridional da Galliza (Toronho) vinha intestar com o Minho é o que se deduz da restituição feita por Fernando II em 1170 á igreja de Tuy de algumas propriedades sitas no seu reino, de que estava desapossada desde o reino antecedente. Entre ellas figura o lugar de Tominho, a menos de uma legua da margem direita do Minho e a pouca maior distancia das bordas do mar (Docum. Da Esp. Sagr., T. 22, Append. XV). Finalmente, o testemunho de R. de Hoveden nos mostra ser então geralmente sabido, que, ao longo da costa, a foz do Minho formava a divisão entre os dous reinos de Leão e Portugal (Hoved. Ann. apud Savile, p. 672).

 

Linha de Melgaço e Lindoso. De dous documentos do cartulario de Feães (Sandoval, Ygles. de Tuy, f. 132 e 137), provavelmente destruído no incendio que devorou aquelle mosteiro no seculo passado, se conhece que pelos annos de 1166 a 1174 este mosteiro era um territorio português; porque, posto aquelles documentos sejam de particulares, nelles se diz que reinava em Portugal Affonso I, não mencionando o rei de Leão. Que as cercanias do logar onde depois se fundou Lindoso pertenciam a Portugal pelos annos de 1160 resulta evidentemente do relatorio da transladação das reliquias de Sancta Eufemia, as quaes por essa epocha foram levadas a Orense. A ermida de Sancta Marinha, onde ellas se achavam estava já então sobre a fronteira e perto de Manin, ultima povoação sobre o rio Lima do lado de Galliza, como Lindoso é do lado de Portugal.

 

RETIRADO DA NET; INFELIZMENTE NÃO SEI INDICAR O NOME DO AUTOR DO TEXTO NEM A ENTIDADE QUE O PUBLICOU. AS MINHAS DESCULPAS. 

 

ILIDIO SOUSA