MEMÓRIA DA GUERRA CICIL DE ESPANHA III
Integrou o Batalhão Máximo Gorki, onde havia “numerosos portugueses”.
O leitor recordará já aqui ter trazido o depoimento de outro soldado, de Fafe, a viver em Barroso, que esteve nesta mesma unidade, sedeada em Gijón.
“Comecei por ser maqueiro, andávamos pelo monte, a recolher os feridos. Assim corri praticamente todas as frentes. Depois fui ajudante de cozinheiro, embora nunca tivesse cozinhado. Passei então a estar sempre longe da linha de combate. Creio que nunca dei um tiro. Meteram-me então a ajudante de cozinha e estávamos sempre longe da linha de fogo. Era numas mulas que lhes mandávamos as refeições, duas vezes ao dia: muita carne, batatas, arroz, lentilhas. Éramos seis a cozinhar, estávamos ora numas casas alugadas para aquilo ora em igrejas, conforme.”
Na verdade, nunca deu um tiro?
“Nunca, nem sei como se mexe numa arma! Mesmo assim, tive os meus momentos de perigo. Um dia de manhã, levantei-me para fazer o pequeno-almoço para os outros cozinheiros que ainda estavam na cama. Aquilo foi numa altura de muito bombardeamento aéreo. Eu, então, saí do quarto e ficou a dormir o meu parceiro, e não é que uma bomba o matou? Isto foi perto de Oviedo, quando os do Franco já estavam a tomar a cidade.”
Entretanto, marginalmente, sorrindo e falando a meia-voz foi-me dizendo que, em matéria de combustível… os santos das igrejas eram de uma madeira que ardia muito bem!
Depois?
“Quando nos prenderam, levaram-nos para Luarca, onde havia um campo de concentração. Éramos muitos. Lá passámos uma vida terrível: dormíamos na palha do chão, vivíamos a toque de corneta. Até quando havia geada nos obrigavam a tomar banho de mar! E, entretanto, andavam a pedir informes meus…”
(continua)