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MELGAÇO, DO MONTE À RIBEIRA

História e narrativas duma terra raiana

MELGAÇO, DO MONTE À RIBEIRA

História e narrativas duma terra raiana

AINDA O JULGAMENTO DO LILI

melgaçodomonteàribeira, 02.06.20

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tribunal no r/c esquerdo. no topo o antigo escudo de melgaço

UM LUGAR ONDE NADA ACONTECIA

XIV

A venda da penicilina sem autorização já não era mais crime contra a economia nacional, mas continuava controlada. Outros medicamentos mais evoluídos já tinham aparecido.

A Estreptomicina era agora o antibiótico mais usado para combater a tuberculose pulmonar. Mas o processo criminal contra o Lili perdurava, pois tratou-se de denúncia sobre contrabando. Nova sessão foi marcada para inquirição de testemunhas.

Oito horas da noite ia iniciar-se a sessão. As janelas que davam para a Feira Nova foram abertas de par em par, mesmo assim o calor era sufocante. Havia excesso de gente no plenário, tinham colocado bancos suplementares mas não chegaram, tinha gente em pé. O fim do verão tornava insuportável o ambiente no salão de audiências. O burburinho cessou quando o Juiz tomou o seu lugar. O Lili, metido na sua roupa nova como se fosse para uma festa, estava em pé, com um sorriso apalermado, intimamente vaidoso por ser o alvo das atenções. Era vaidoso a esse ponto.

Foi chamado para depor o José Félix. Nada sabia sobre a penicilina, disse, mas podia dar informações sobre procedimentos do indiciado. Contou que em determinado dia o Lili entrou no café Melgacense, sua propriedade, e dirigindo-se ao balcão vitrina pediu que lhe mostrassem alguns tipos de queijo. Das três qualidades que lhe exibiram fez questão de provar, um deles ainda por encetar. O funcionário, julgando que fosse comprar grande quantidade deu-lhe as provas. Com aquele seu jeito afectado, meticuloso, saboreou com calma as provas e após reflectir decidiu: “deste aqui, pese-me cem gramas”. Houve riso geral no plenário. A rapaziada que estava assistindo ficou perplexa. Entreolhavam-se e faziam gestos de espanto, por não entenderem o que se estava passando ali. O que estava sendo dito nada tinha a ver com o assunto do julgamento, que de resto era de domínio público aquela maneira de ser do Lili, que passara a incorporar-se no folclore da terra.

Outra testemunha informou, no depoimento, que na sua farmácia, o Lili adicionava goma-arábica em algumas fórmulas que manipulava. Novo assomo de perplexidade tomou conta da assistência, era sabido que tal adição de goma fazia parte de determinadas fórmulas.

Começou a tornar-se nítido na cabeça das pessoas que a única finalidade daquele julgamento era desmoralizar o Lili. Procurar saber se alguém vendia penicilina no contrabando, não interessava. Convinha preservar os figurões.

 

Publicado em A Voz de Melgaço

 

                                                               Manuel Igrejas

 

 

 

PONTAPÉ NA BOLA EM MELGAÇO

melgaçodomonteàribeira, 12.05.20

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UM LUGAR ONDE NADA ACONTECIA

XI

O julgamento do cidadão que desflorara a rapariga menor de idade teve um desfecho imprevisto: por falta de provas concretas foi absolvido.

A tomada de depoimentos das testemunhas no caso Lili ia desenrolar-se. Por incrível que pareça, pessoas gradas ofereceram-se para depor. A rigor, o processo, agora, resumia-se à denúncia de que a Farmácia Durães vendia penicilina aos contrabandistas. Na sua inocente ignorância, o Teodorico João Fernandes, apenas reclamara do órgão competente, na condição de dono da farmácia, o não recebimento do medicamento que havia sido liberado do excesso de burocracia, mas ainda controlado.

O Rápido Futebol Club e o Unidos Futebol Club acertaram realizar o campeonato melgacense de futebol a fim de decidir de quem era a hegemonia daquele desporto, na terra. Seria de quatro desafios entre eles, representando primeira e segunda voltas. O mando de campo alternado, sendo que o campo era sempre o mesmo. O Monte de Prado, campo dos jogos, tinha as medidas oficiais, mas de terra batida, cheia de torrões e pedrinhas. Fora aberto naquele pedaço de monte, nos anos vinte, pelos rapazes de então, que iniciaram a prática daquele desporto, influenciados pelos rapazes que estudavam nas cidades e por filhos de “brasileiros” que no verão iam usufruir a terra de seus pais.

O campeonato melgacense de futebol acirrou rivalidades. A população da Vila dividira-se em dois partidos, de acordo com a simpatia, ou grau de parentesco com os jogadores.

O Unidos, por ser composto por integrantes mais jovens, levou a melhor: venceu os quatro jogos e foi proclamado campeão. Ao final de cada jogo, no regresso do campo, bastante distante, na entrada da Vila, vindo das Carvalhiças, estava postada em cima do muro da Avenida do lado da casa da Chaufera, a Dores, mulher do Abílio Costa, jogador do Unidos, que em altos brados e gestos de regateira, insultava os jogadores do Rápido. “Os Unidos têm colhões”, berrava ela. E outros impropérios. Com tais atitudes ganhou a inimizade de outras mulheres, inclusive vizinhas, ligadas ao outro grupo.

   Aconteceu, entretanto, que um filho da Dores andava febril, muito abatido, piorando dia a dia, sem que a mãe tomasse alguma providência. Uma daquelas vizinhas desafectas, reparando no estado da criança, tirou-a do colo da mãe e com o auxílio do cabo de uma colher, observou-lhe a garganta. Numa explosão de raiva, gritou: “Puta sem vergonha, esta criança está com o garrotilho. Vamos ao médico, correndo!” Salvaram a criança.

O Manuel Macarrão voltava às suas plagas, vindo de outros lugares. Empolgado com o movimento futebolístico da terra, resolveu aderir. Tinha sido razoável jogador quando mais jovem. Naquela altura, caminhando para os quarenta anos, foi recusado nos clubes existentes. Arregimentou outros quarentões e jovens que tinham sobrado dos outros grupos e fundou o Futebol Club Comercial. Adoptaram camisolas amarelas, compraram todo o material e montaram sede no térreo da casa da Duartina, a mulher do Mâncio Barbeiro, virado para a Rua Velha. O sucesso foi negativo nos desafios que realizou e finou-se o Comercial com poucos meses de idade.

O Unidos e o Rápido continuaram carreira. Este último para esquecer os desaires dos resultados dos recentes desafios, resolveu mudar de nome, passou a intitular-se Sporting Club de Melgaço, filiou-se no Sporting Club de Portugal, em Lisboa, que estava em destaque naquele momento. Teve um brilharete nesta nova fase, principalmente quando ficou sem concorrente. O Unidos, por falta de novos elementos para substituir os que foram servir no exército, a maioria, acabou.

 

                                                                            Manuel Igrejas

 

Publicado em A Voz de Melgaço

 

 

 

 

MELGAÇO, 1º DE MAIO DE 1974

melgaçodomonteàribeira, 02.05.20

 

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1º de maio de 1974 em melgaço

 

MOMENTO POLÍTICO NA NOSSA TERRA

 

Foi com regozijo que o honrado, trabalhador, ordeiro e patriótico povo de Melgaço viu surgir o 25 de Abril, como dia grande para a história do nosso povo.

No 1º de Maio, e a fim de comemorarem tão preciosa data, o povo desta Vila, em manifestação espontânea, vibrante de entusiasmo, onde o civismo foi bem patente, dirigiu-se para a Câmara Municipal, entoando «A Portuguesa», intercalada com o slogan «O povo unido jamais será vencido».

Ali se realizou uma sessão em que foram oradores: Dr. António Durães, Dr. Oliveiros Rodrigues, Engº Armando Ferreira da Silva, D. Irene Pardal F. da Silva, e outros.

Seguidamente dirigiram-se em cortejo ao Quartel da G. Fiscal, onde pediram ao seu Ex.mo Comandante para transmitir à Junta de Salvação Nacional o agradecimento por ter libertado o País do anterior regime.

Em nome do povo e num brilhante discurso, usou da palavra o Engº Artur Rodrigues. Ali foi pedida pelo sr. Manuel Caldas a demissão do Presidente da Câmara Municipal, bem como do seu secretário, o qual foi calorosamente salvado pelo povo.

Mais tarde dirigiram-se ao cemitério, onde depuseram «rosas vermelhas» nos túmulos do Dr. Augusto César Esteves, Ernesto V. P. F. Silva, Tenente Peres e Agostinho Araújo.

                                                    Miguel Pereira

 

A VOZ DE MELGAÇO

Melgaço, 15 de Maio de 1974

 

 

 

 

VAIS P'RA ONDE? GIRA, CASA, PÕE-TE ANDAR, CASA!

A NOSSA CASA É A NOSSA SEGURANÇA!

 

 

1974, POLÍTICA EM MELGAÇO

melgaçodomonteàribeira, 25.04.20

25 abril 115 - política de 1974 em melgaço (1).j

dr. antónio durães

 

UMA CARTA DO SR. DR. ANTÓNIO DURÃES

 

Ex.mo Snr.

Director do «Notícias de Melgaço»

Dr. Abel Augusto Vaz

 

Ao ler, no número de 10 do corrente, do quinzenário de que V. Ex.ª é ilustre Director, o apelo «CAVE (isto é, CAUTELA em língua portuguesa) Junta de Salvação Nacional» fiquei impressionado, e creio que com justificado motivo.

Porque dele se poderá, ou mesmo deverá depreender que V. Ex.ª admite que da mudança dos «quadros dirigentes» - no nosso caso local, da Câmara Municipal – o «poder» teria a possibilidade de cair «nas mãos de criminosos, ladrões ou corruptos administradores do antigo regime, ou de seus cúmplices ou de quem notoriamente estará interessado em destruir ou sonegar as provas dos condenáveis actos daqueles».

Eu não sei a quem V. Ex.ª se terá querido referir ao aventar esta possibilidade, tanto mais que os «administradores do antigo regime» eram, sem dúvida seus correligionários políticos, visto terem sido nomeados Presidentes da Câmara Municipal, pelos governos, que tiveram como essencial, mesmo como exclusivo apoio e sustentáculo político, a União Nacional depois chamada Acção Nacional Popular, de cuja Comissão Concelhia V. Ex.ª foi PRESIDENTE, até à sua extinção pelo Movimento das Forças Armadas, de 25 de Abril.

Não sei nem isso me interessa.

Interessa-me sim, o ver admitido por V. Ex.ª, e não sei por mais qual leitor do seu Jornal, a possibilidade da Junta de Salvação Nacional, ou o Governo que lhe suceda, encobrirem actos que V. Ex.ª classifica de criminosos, impedindo a sua averiguação e merecida punição, como o fizeram os governantes daquele antigo regime, por V. Ex.ª apoiado e defendido até à sua extinção, encobrimento que V. Ex.ª põe a nu, e bem claro, no artigo do mesmo número do seu jornal, intitulado «O Tema».

E interessa-me porque não admito essa possibilidade e não desejaria que menos atento leitor fosse levado a admiti-la, embalado pelas suas aliciantes palavras.

Estou certo que todos aqueles que forem DEMOCRATAS conscientes, e não se proclamem como tais, apenas por interesses pessoais, não admitem, como eu, tal possibilidade.

E esta certeza é-me dada até pela isenção e imparcialidade demonstrada no telegrama, de que fui primeiro signatário, enviado àquela Junta Nacional, e em que pedimos a substituição da Câmara Municipal de Melgaço «por uma comissão presidida por digno Oficial do Exército ou da Marinha, que faça ou promova rigoroso inquérito às violências e delapidações de que é publicamente acusada».

Não quisemos que algum mal intencionado, ou sem escrúpulos, viesse mais tarde dizer que o inquérito realizado fora parcial, ou «encobridor», orientado por ódios, ou amizades, que não tem cabimento na descoberta da VERDADE.

Não sei se V. Ex.ª compreenderá isto, não sendo DEMOCRATA, e habituado como estará aos métodos do regime, que nos esmagou durante quasi meio século, e V. Ex.ª serviu como destacado elemento do grupo político que apoiou e sustentou esse regime, até à sua extinção. Mas não me caberá a mínima culpa nessa incompreensão, e já que todos os DEMOCRATAS conscientes e sinceros tão facilmente o compreendem.

Não me atrevo a pedir a V. Ex.ª a publicação desta carta no seu Jornal, embora me fosse grata, para, e pelo menos, despertar a atenção de quem tenha lido as palavras de V. Ex.ª menos atenta e cuidadosamente delas tirando conclusões distorcidas.

Mas, não posso deixar de me reservar o direito de dar conhecimento dela a quem entender, ou de a tornar pública pelos meios de que possa dispor.

O que não deverá impedir que me subscreva,

Melgaço, 15 de Maio de 1974

De V. Ex.ª

atenciosamente

António Durães

(Obs.: O seu jornal do dia 10 só ontem recebido por mim)

A Voz de Melgaço, 541, 1 de Junho de 1974

 

 

 

VAMOS TODOS FICAR EM CASA

 

 

 

PORRA

melgaçodomonteàribeira, 31.03.20

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UM LUGAR ONDE NADA ACONTECIA

XVII

Finalmente o caso do Lili do Teodorico ia definir-se. Tinha-se esgotado a inquirição das testemunhas, nenhuma a favor do rapaz. O médico, Dr. Esteves, também fora dado a entender que o Lili seria um inconsequente. O doutor Durães, o farmacêutico, estoriou a conduta quase ingénua do rapaz quando seu funcionário. Ninguém se empenhou em incriminar o Teodorico, mesmo porque não tinha cometido crime algum, apenas ingenuamente denunciara que outros haviam infringido as normas da economia nacional. Baseado nos testemunhos, o Juiz declarou inocente o Lili, com uma restrição: devido ao que foi dito sobre sua capacidade mental, ficava proibido de administrar a sua farmácia.

O Marmita apresentou queixa no tribunal ao Delegado contra o Farpas, que lhe tinha deflorado a filha de 14 anos.

Constou que numa tarde pegou a rapariga sozinha no cortelho onde guardava utensílios da lavoura e fez-lhe mal. Ele já era casado e tinha dois

filhos. Tinha uma vida bastante turbulenta. De família de agricultores vivia mais do contrabando e de furtos.

Metido a valentão era considerado à boca pequena um bandoleiro. Contavam mil diabruras a respeito do Farpas, alcunha porque era conhecido. Um dia, contavam, os carabineiros a quem ele havia vigarizado numa negociata de contrabando, prenderam-no. No meio de dois desses guardas-civis espanhóis, seguro pelos braços ia sendo levado para o posto. Pararam ao chegar à linha férrea para deixar passar o comboio que se aproximava. Num inesperado puxão desenvencilhou-se e pulou para o outro lado da linha a poucos metros do comboio. Quando a composição acabou de passar os carabineiros não mais viram o prisioneiro que jogava no rio e já estava do outro lado, em Portugal. Motivo de comentários também tinha sido o namoro com a mulher com quem casara. A Maricota, rapariga que fora para Lisboa trabalhar como empregada de servir, deu-se bem com os patrões que arranjou. Diplomatas, foram servir num país no centro da Europa e levaram a empregada. Passados anos, um belo dia a Maricota apareceu na terra visitando a família. Causou admiração aquela figura de mulher, bem trajada, com requintes de fidalguia e modos elegantes. Foi como uma alucinação para os rapazes casadouros. Vários se insinuaram mas o que teve receptividade foi o João do Louro. Rapaz de boa família, comportado, também envolvido no contrabando de maneira “honesta”.  Uma reviravolta inesperada aconteceu! O Farpas interpôs-se, a Maricota desmanchou o compromisso e aceitou casar-se com o novo pretendente, de improviso. Coitada! Os maus tratos passaram a ser a rotina daquele casal e quando o caso da filha do Marmita aconteceu, ela, a Maricota, a bem posta e afidalgada, estava transformada num trapo e envelhecida. O João do Louro, para não se dar achado, passou a namorar a Perfeita, a filha do Zé da Carminda e em poucos meses casaram.

O Marmita na inocência da sua ignorância contava o acontecimento a sua filha e como para se justificar, dizia: “se fosse com a minha mulher não me arreliava tanto…”

Foi mais um caso de estupro que durante algum tempo distraiu aquela gente. O Delegado mandou que a rapariguinha fosse submetida a exame médico que comprovou a perda da virgindade.

O Farpas foi absolvido! Mesmo comprovada a perda da virgindade, como não houve testemunhas, a palavra da rapariga não foi suficiente.

 

                                                                        Manuel Félix Igrejas

 

Publicado em: A Voz de Melgaço

FICA EM CASA PORRA, FICA EM CASA

 

 

 

MELGAÇO, 21 DE MARÇO DE 1829

melgaçodomonteàribeira, 01.02.20

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UM CRIME EM MELGAÇO NO SÉCULO XIX

 

Fevereiro de 1828. D. Miguel, irmão de D. Pedro IV, assume a regência do reino e jura a Carta Constitucional. Em Março do mesmo ano dissolve o parlamento; em 3 de Maio convoca as Cortes. Estas, restauram o regime tradicionalista, isto é, proclamam D. Miguel rei absoluto.

Os liberais não gostaram; organizam a oposição. É a guerra civil! Acaba em 1834, depois da derrota dos miguelistas. O rei parte para Viena de Áustria e nunca mais põe os pés em território nacional.

Estávamos em plena guerra fratricida; por todo o país D. Miguel perseguia incansavelmente os liberais; estes defendiam-se como podiam e sabiam. D. Pedro, vendo que as coisas não se resolviam, abdica em 1831, a favor de seu filho, a coroa do Brasil e dirige-se a França e Inglaterra em busca de auxílio, a fim de reconquistar o trono português para sua filha D. Maria da Glória (mais tarde D. Maria II).

Melgaço vivia dias agitados. Tomás das Quingostas aterrorizava toda a gente. Ninguém sentia segura nem a vida, nem a fazenda. Com a sua temível quadrilha matava e roubava com o maior desplante. A lei era ele. Por onde passava, deixava rastos de sangue e amargura. Uma das suas vítimas mortais foi o jovem João Vicente. Rapaz pouco dado a bens materiais e a folguedos, tencionava seguir, logo que as condições o permitissem, a carreira clerical. Só a sua mãe conhecia o segredo. Em 17 de Março de 1829 esta faz-lhe saber que tudo está pronto para ele poder assim concretizar seu sonho.

Enquanto não ingressa no Seminário vai tentando não se envolver em conflitos ideológicos ou bélicos. Ajuda na administração da Casa e de vez em quando visita as pesqueiras que a família possui no rio Minho, fiscalizando também a faina dos pescadores. Nesse ano as lampreias, os sáveis e os salmões saíam em abundância. Era, sem dúvida, um bom ano.

João Vicente tinha a estima de toda a gente de Melgaço. A sua índole calma e generosa granjeava-lhe amizades e respeito. Parecia que a sua vida decorria sempre assim: ajudando quem dele precisasse, materialmente ou com a sua palavra amiga e sábia.

No entanto, o seu destino já estava traçado. A morte estava próxima.

Naquela noite fatídica de 21 de Março de 1829, noite chuvosa, trilha o caminho que o leva ao rio. Parecia até um fantasma com a croça sobre o seu corpo miúdo. Não se vê um palmo à frente do nariz, mas como ele conhecia bem o caminho não havia qualquer problema. A croça não lhe servia de muito com a chuva.

Chega perto das pesqueiras, ouve o barulho amigo das águas e com seus olhos habituados à escuridão, perscruta-as. As redes lá estão. Tudo em ordem.

Na tarde do mesmo dia um grupo de homens, à cabeça Tomás das Quingostas, combinava um assalto a uma aldeia galega. Tinham lá gente da mesma laia que com eles colaboravam e desse modo esperavam roubar o suficiente para uns longos dias. Depois de tudo combinado até ao pormenor, foram lentamente descendo o monte em direcção ao rio. Aguardariam ali o sinal e depois atravessariam na batela que estava escondida sob umas espessas ramagens. Esperaram, esperaram, e nada de sinal. Pensaram então que algo se tinha passado com os seus amigos galegos. Outro dia seria. Tomás disse aos seus homens que se dispersassem. Com ele ficaram Caetano Paulo e o Pitães. Virando-se para eles diz-lhes: - Não regressaremos de mãos vazias! Vamos às pesqueiras ver se tem peixe. Arranjaremos depois alguém que nos faça a ceia.

Conhecedores das margens do Minho, avançam afoitamente, sem cautelas especiais.

João apercebe-se do movimento e das vozes e pergunta: - Quem vem lá?!

O Tomás, astuto como uma raposa, responde-lhe: - Gente de bem e de paz!

O rapaz, confiante e contente por ter companhia, aproxima-se deles sem qualquer receio.

O monstro, logo que vislumbra a silhueta esguia aponta-lhe o “bacamarte” e dispara sem hesitar. Um segundo depois os restantes facínoras descarregam as suas armas num corpo cambaleante. Pum! Pum!

O som dos disparos ecoou ao longo do rio durante momentos; depois, um silêncio pesado ficou a pairar no ar.

A besta aproximou-se do cadáver e com as suas botas de militar virou-o, confirmando assim a sua morte. Cruel, como abutre que era, disse aos outros: - Agora temos o caminho livre, vamos ao trabalho!

A justiça, depois de avisada, foi ao local do crime. Junto ao corpo perfurado pelas balas assassinas encontrava-se a croça toda ensanguentada.

Já neste século, um poeta anónimo, escrevia estes versos acerca do Tomás das Quingostas:

 

                                  Homem de muitas matanças,

                                  na guerra civil andou;

                                  herói das extravagâncias

                                  vidas sem conto ceifou!

 

                                  Mais dum século decorreu

                                  sobre a morte do malvado;

                                  que, por ironia, morreu

                                  sob as balas dum soldado!

 

Fonte: Melgaço e as Lutas Civis, 1º volume, Augusto César Esteves, páginas 87 a 92.

Saudações amigas a todos os melgacenses.

 

                                                           

 

   Joaquim A. Rocha

Publicado em: A VOZ DE MELGAÇO

 

Joaquim A. Rocha edita o blog Melgaço, minha terra

 

A CRUZ DE PENAGACHE - VERSÃO 3

melgaçodomonteàribeira, 09.11.19

181 - mamoa penagache.jpg

 

(continuação)

 

3

 

As gentes do Louriçal, outro lugar também raiano mas um pouco mais distante, têm a sua própria versão da cruz e também esta é relatada como fruto da mais pura verdade, embora ninguém a possa confirmar. Aconteceu em pleno inverno, já mais noite do que dia, quando um grupo de contrabandistas foi surpreendido por uma trovoada inesperada, mas temível, até porque naquela parte do planalto não há árvores e as pessoas temem atrair os raios. Chovia copiosamente água e neve à mistura e os relâmpagos sucediam-se ininterruptamente, o ribombar dos trovões mesmo por cima deles. Os três companheiros conheciam a lapa nos cotos de Penagache e apressaram-se a acolher-se no local, embora não muito confiantes, podia ser reduto de alguma fera. Também não sabiam exatamente onde ficava a entrada da gruta, mas, nem de propósito, o clarão de um relâmpago guiou-os para lá. Continuou a tempestade e eles deixaram-se ficar, mas o frio tomava-lhes conta do corpo e da alma, ensopados que estavam e sem possibilidade de acender uma simples fogueira para se aquecerem e espantarem o desconforto e a escuridão. Fome não tinham nem teriam, até porque um deles tinha o bornal cheio de pastas de chocolate encomendadas pela tendeira. O cansaço foi mais forte do que o frio e acabaram por adormecer. Devem ter passado algumas horas e quando já estavam todos acordados estranharam a falta de luz, já devia ser dia. Procuraram adaptação ao espaço e ao tempo, mas a desorientação era total, acabando por descobrir que a entrada da gruta estava completamente tapada por neve, por isso lhes não chegava a luz do dia. Estavam enregelados, um tremia como varas verdes, ardia em febre, os outros dois mal conseguiam mexer os dedos das mãos e dos pés. Não servia de nada gritar por socorro, este nunca lhes chegaria, mesmo que dessem o alerta da sua falta e os fossem procurar ao monte, jamais os encontrariam naquele buraco. Perderam a noção do tempo e acabaram por desistir de alcançar a saída, sem forças para lutar pela vida. Acabaram por ser encontrados pelos cães de caça que participaram nas buscas alguns dias mais tarde: uma cadela muito boa que servia de pisteira e conhecia as tocas todas do planalto não saiu da entrada da gruta enquanto os homens não abriram uma entrada. Um dos rapazes estava morto, os outros dois completamente gelados e perto de perder a vida, os dedos das mãos negros e inertes. A um tiveram de lhe cortar três da mão direita e o outro perdeu um bocado do nariz. Salvaram-se por pouco. A cruz será, pois, a homenagem ao que não resistiu.

 

                                                                                           Olinda Carvalho

 

Publicado em A Voz de Melgaço

Março 2015

 

A CRUZ DE PENAGACHE - VERSÃO 2

melgaçodomonteàribeira, 02.11.19

179 - monte de penagache por TeresalaLoba.jpg

monte de penagache por teresalaloba

 

(continuação)

 

2

 

Outra versão que corre lá pelo mesmo pueblo raiano e que já devia ter história bem antes da existência da cruz, por isso será do domínio da fantasia, acha o narrador, tem a ver com a existência de uma gruta debaixo dos cotos de Penagache. Todos os avós contavam que ali, como noutros lugares semelhantes, se encontrava escondido um grande tesouro. As moedas de ouro e prata, as pedras preciosas e as joias eram tantas que uma pessoa sozinha não seria capaz de os tirar de lá, por isso a procura do tesouro seria uma tarefa de equipa. Uma noite, saíram três amigos que se davam como irmãos para tentarem a sua sorte na gruta. Não lhes faltava ousadia, mas a noite sempre arrefece o ânimo, tanta coisa pode sair das sombras, tantas almas penadas escolhem os lugares mais recônditos para cobrarem pelos seus pecados, o melhor era manterem-se bem juntos, até porque a lanterna alumiava pouco e a fraca luz faz fraca a forte gente.

Ter-se-ão introduzido na gruta de que conheciam a entrada e os perigos associados ao seu interior, o que terão encontrado ninguém o sabe ao certo, mas o que foi do domínio público foi a desavença ocorrida lá mesmo, nas entranhas da terra, debaixo dos cotos de Penagache. Dois dos pesquisadores do tesouro agarraram-se ao mesmo cordão, cada um puxando para seu lado no fito de levar a melhor sobre o outro. Uma rajada de vento, surgida sem se perceber como, apagou a lanterna e deixou-os na maior escuridão. Enquanto os dois que se gladiavam pela corrente de ouro continuavam a sua peleja, o terceiro, borrado de medo, conseguiu alcançar a entrada da gruta e saiu à procura do céu estrelado e do luar. Respirando a plenos pulmões, aproveitou para exortar os outros a pararem, mas não deu conta de mais nada, não via, não ouvia, ninguém dava qualquer sinal. A solidão era tão pesada como o medo do escuro que o fizera abandonar a cova, pelo que meteu os pés ao caminho e correu para casa, tropeçando aqui, caindo, levantando-se, retomando o regresso ao convívio dos seus. No dia seguinte foi à procura dos amigos, mas não estavam em casa. E no outro também não. Só quando a ausência se tornou intrigante é que teve coragem de contar a façanha em que se tinham metido. Meia dúzia de homens empreenderam a caminhada até aos cotos de Penagache, o rapaz com eles para os orientar na entrada da lapa. Deram com os dois caídos no chão, um com uma navalha espetada na garganta, o outro com a cabeça empapada em sangue, parecia ter batido numa pedra e ali ficara. O primeiro estava morto, o segundo moribundo, quase inaudíveis as palavras que conseguia balbuciar.

Do tesouro não havia sinal e não fora a dor verdadeira que emanava do sobrevivente daquela aventura ninguém acreditaria nele. Ainda houve quem quisesse culpá-lo da morte dos dois amigos, mas o estado de catatonia em que ficou, incapaz de dizer coisa com coisa, autoflagelando-se e sem sentido de orientação livraram-no da justiça. A família dos finados para dignificar o lugar de partida de almas arrancadas ao corpo contrariando a lei natural da vida.

 

(continua)

 

A CRUZ DE PENAGACHE - VERSÃO 1

melgaçodomonteàribeira, 26.10.19

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davidexordos - pt.wikiloc.com

 

A CRUZ DE PENAGACHE

(uma história, três versões)

 

1

 

Os mais antigos falam dela como de algo quase imaterial, inacessível, mas com uma presença na memória que a passagem do tempo não diminui. Poucos a viram, mas o que testemunharam e sobretudo ouviram não dá para esquecer os arrepios que o desconhecido provoca quando algo inexplicável se nos impõe e lembra a fragilidade de que somos feitos, como a vida é um presente que nos dão mas também nos podem tirar, sem respeito nenhum pela condição de filhos de Deus, que a todos cria da mesma maneira, iguais. Os mais novos, desafiando a distância e os maus caminhos, singram, planalto fora, nas motas que o dinheiro e a vaidade de parecer, de ter o que os outros têm, e se possível ainda melhor (a inveja é um mal geral), chegam lá e detêm-se a espiolhar tudo, com um vagar que os anciãos não tinham. Não têm fardos à espera para fazer chegar a um qualquer destino, do lado de lá ou de cá da raia, os negócios que por ali ainda se fazem estão facilitados e têm subtilezas que afastam os que têm alguns escrúpulos. Também não têm afazeres no eido, o ócio é nos dias que correm a ocupação principal de uma juventude mais ou menos letrada que vive a expensas da família até terem cabelos brancos.

Pelo registo na pedra que a encima, 1911 ou 1912, o escriba fala de ouvido, não há ninguém para dar testemunho nem da sua construção nem do porquê da mesma. Os mais antigos do lugar mais próximo do lado espanhol contam, esvaziada a chávena do café e a copa da aguardente, que ali mataram um português, um ajuste de contas para lavar a honra de uma irmã iludida e enganada. Não era muito comum, mas acontecia portugueses e galegos conviverem nos montes quando guardavam o gado e os rapazes frequentarem os bailes e festarolas de um e outro lado da fronteira. Um rapaz do Souto e uma rapariga de Santo Amaro conheceram-se numa romaria e os encontros passaram de ocasionais a procurados. A moça tomou-se de amores, pensou que era correspondida e o que tinha de acontecer aconteceu. Algum tempo decorrido tornou-se o namoro evidente, a rapariga não conseguia esconder a proeminência progressiva do ventre. Instada pelos irmãos a denunciar o oportunista, quis ela remediar, avisando o namorado que urgia assumir a sua responsabilidade. Aparentemente, o amor não o consumia e não estava pronto para ser homem, perdida a honra da moça, perdia ele a sua, abandonando-a, não estava sozinha no mundo, tinha muitos irmãos para a ajudarem a criar o filho.

Os três irmãos uniram-se para cobrar a desfeita, até um garoto ainda menor de idade tomou parte no desforço. Observaram as idas e vindas do bandalho pelos caminhos da serra e uma noite surpreenderam-no nas pedras de Penagache. A probabilidade de encontrarem alguém era mais do que mínima e, sem testemunhas, fizeram-no pagar a sua dívida com o bem mais precioso que tinha: a vida. Deixaram o corpo exposto ao tempo, sem qualquer resquício de respeito, abandonado no lugar onde foi encontrado em adiantado estado de decomposição. Foi identificado pela roupa e pelo anel que usava no dedo mindinho da mão direita. A família, amargurada por uma vida ceifada tão antes de tempo, mandou fazer uma cruz no alto da pedra na base da qual o tinham encontrado. Das razões que o teriam levado àquele fim não queriam saber, ou sabiam e calavam-se para não dar mais força às vozes viperinas do povo.

 

OS NOSSOS MORTOS

melgaçodomonteàribeira, 12.10.19

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mãe do sr. amadeu abílio lopes e banda dos b.v.m

 

OS NOSSOS MORTOS

 

É sempre doloroso falar daqueles que partiram, mas as notícias que tem sido dadas nos jornais da terra acerca dos que morrem são por norma curtas, demasiado sucintas para aqueles que, como eu, gostam de saber mais alguma coisa sobre essas pessoas, nossos conterrâneos. Não se trata de curiosidade, de mera estatística, mas também de sentimento. Nós, os que saímos de Melgaço, nunca esquecemos o nosso berço, nem as suas gentes. Sentimos a sua falta, sua cumplicidade, por vezes até o seu mau feitio!

Em A Voz de Melgaço de Outubro findo (11/10/2013) falou-se de Amadeu Abílio Lopes, mais conhecido por “Bicho Fino”, alcunha que a sua própria mãe lhe pôs, por achar que era esperto, vivaço. Diz-se aí que morreu em Abril de 2013, com 99 anos de idade. Acontece que ele nasceu no lugar de Cortinhal, Chaviães, a 13/3/1913, pelo que se a minha máquina de calcular não me trai ele faleceu com 100 anos feitos e não com 99 anos. Outra coisa que se diz no jornal é que «cedeu a sua parte como accionista, mais de 70% à Câmara Municipal.» Se a memória não me falha, eu li na altura (1997) que eram 68,8/%. A diferença não é significativa, mas o seu a seu dono.

Amadeu Abílio Lopes era filho de Vitorino José Lopes, soldado da Guarda-Fiscal, e de Maria Rosa Cortes, lavradeira. Em 1927, com treze ou catorze anos de idade, no segundo ano da ditadura dos militares, emigrou para o Brasil, onde teve de trabalhar muito, e “no duro”, apesar da sua tenra idade. Depois de adulto entrou no mundo dos negócios, foi dono de uma ou duas padarias, conseguindo juntar algum cabedal.

Casou em 1942 com Ulysseia Pires, natural do Rio de Janeiro, a qual Não lhe deu filhos. Nunca se esqueceu da sua freguesia de nascimento, mandando ali construir uma vivenda, que baptizou de “Lar da Saudade”, onde passava férias quando vinha a Portugal.

Também se diz em A Voz de Melgaço que ele foi «um benfeitor» da Câmara Municipal de Melgaço. Quanto eu sei a doação não se traduziu, nos primeiros anos, num benefício para a Câmara, mas sim numa despesa, a juntar a outras. Na altura que o senhor Amadeu, juntamente com outros sócios, criou a sociedade anónima, tentava-se em Melgaço erguer uma Adega Cooperativa, a qual não foi avante por diversas razões, uma delas por falta de apoio financeiro. Há muita gente no concelho, e fora dele, que poderá falar nesse assunto melhor do que eu.

É certo que ele deu, ao longo da sua vida, algum dinheiro à Santa Casa da Misericórdia e aos Bombeiros Voluntários de Melgaço, sobretudo à sua banda de música; ninguém poderá negar isso, pois está registado na imprensa local. No entanto, ninguém pense que a entrega gratuita das acções da “Quintas de Melgaço – Agricultura e Turismo, SA” ao município foi um gesto altruísta, fundado no seu grande amor por Melgaço. Há quem afirme que teria feito bem melhor se as tivesse vendido por um preço justo a pequenos e médios produtores. Que vocação, que competência técnica e científica, tem uma Câmara Municipal para gerir uma sociedade anónima? As Câmaras Municipais que se saiba são organismos políticos, não são gestoras de empresas, sejam elas sociedades anónimas ou não. Sendo assim, perguntar-se-á: por que motivo o presidente da edilidade aceitou essa oferta? A resposta não é fácil, e até pode haver mais do que uma resposta. Quando eu era pequeno dizia-se em Melgaço que quando a esmola é grande o pobre desconfia. Pelos vistos ninguém desconfiou, e os autarcas aceitaram com agrado a dita prenda. Em troca, pois de uma permuta, e agradecidos, atribuíram à Praça José Cândido Gomes de Abreu o nome do senhor Amadeu Abílio Lopes, além da medalha de ouro do município. Tudo bem. José Cândido morrera em 1908, já estava esquecido. Quem se lembra que foi graças à sua iniciativa que se criou o hospital? No entanto, vão ficando no esquecimento, espécie de limbo, alguns melgacenses que contribuíram imenso para o prestígio do nosso concelho; mas não doaram acções de empresas, mesmo que as mesmas não valham fortunas.

Nada me move contra o senhor Amadeu Abílio Lopes, não o conheci pessoalmente, na velhice quis ser útil ao seu concelho, interveio no seu desenvolvimento, mas daí a subir ao pódio… E se a moda pega? Isto é, se no fim da sua vida qualquer empresário doa ao município a sua empresa? Talvez eu esteja a dar relevo a coisas que em si não tem grande importância, mas de facto gostaria que aqueles que foram eleitos tivessem mais em conta a opinião do povo quando se atribui o nome de uma praça, avenida, rua, a figuras mais ou menos conhecidas.

Na citada notícia de A Voz de Melgaço fala-se de Rosa, casada com Maximino Reinales: «Amadeu Abílio Lopes não tinha filhos. Criou, como se fosse sua filha, Rosa Esteves…» Fiquei admirado, pois o senhor Amadeu e esposa residiam no Brasil e a esposa do meu amigo Maximino morava e mora em Melgaço. É provável que a tenha apoiado financeiramente, que a estimasse, a tenha convidado para ir passar uns tempos com ele e a esposa ao Brasil, mas criá-la, no verdadeiro sentido da palavra, julgo que não. No entanto, se alguém souber mais do que eu sobre este assunto faça favor de me esclarecer.

Gostaria de mencionar outros conterrâneos que faleceram recentemente: uma senhora de Castro Laboreiro, que já tinha 104 ou 105 anos de idade, uma bonita idade; Manuel José da Silva, da Vila de Melgaço, cuja morte e de sua filha, Maria de Fátima, nos comoveu a todos; de Leonardo Carvalho, mas não posso roubar mais espaço ao jornal, pelo que falarei deles noutra oportunidade.

Desejo a todos os melgacenses um bom Natal e que 2014 nos traga mais justiça e já agora mais algum dinheiro.

 

                                                            Joaquim Rocha

 

   NR.: Agradecemos ao Dr. Joaquim Rocha as achegas à notícia da morte do Sr. Amadeu Abílio Lopes.

   Fizemos as diligências mais que suficientes para obter mais dados, e até pedimos que escrevessem sobre ele, pois com ele, pois com ele tinham convivido bastante.

   Estranhamos o silêncio dos responsáveis da Adega de Melgaço cuja maioria das acções ele ofereceu à câmara. Pedimos que nos fornecessem uma foto do Sr. Amadeu. Insistimos no pedido, mas ficámos sem resposta.

   Da nossa parte, tudo fizemos para que, no momento da verdade, que é o da morte, primássemos pelo acolhimento e pelo sanador e retemperador perdão, eventualmente o Sr. Amadeu precisasse por parte de quem não se sentiu tão correspondido como julgava merecer.

 

                                                                                                 Carlos Nuno

 

Em, A Voz de Melgaço