A TI MARIA E O PADRE
UM PADRE EXALTADO
O caso da mãe do Jacob que aludi, foi o seguinte:
A tia Maria, já idosa, com outras mulheres e a canalha da doutrina (catequese) entre eles eu, frequentavam a novena no mês de Maio, todos os dias à tarde.
O pároco, na altura jovem, passava por grave crise existencial e problemas de família (um seu irmão casara com a filha de ex-padre e isso era, a seu ver, sacrilégio).
Devido a esse estado de espírito andava o padre com os nervos à flor da pele aumentando o seu natural temperamento exaltado.
Numa das novenas, a propósito de gesto ou posição engraçada de um dos rapazes os outros caíram no riso. Riso abafado como convinha na situação. Rir disfarçado nessas ocasiões acorria a miúdo e ninguém dava importância. Nesse dia, porém, a gracinha fora maior e o riso prolongado e um dos rapazes não se contendo riu mais forte. Para quê!... O padre, que estava de costas dirigindo as orações, voltou-se abruptamente descarregando uma série de bofetadas fortes e estridentes na cara do rapaz que estava mais perto. Pegou-o pela orelha e levou-o até à porta expulsando-o.
A tia Maria, que estava ajoelhada como todos os demais no meio da igreja, pareceu-lhe que aquele rapaz agredido era o seu neto Zeca, Zeca Chatice, por acaso não era, e protestou resmungando em voz baixa, que aquilo não se fazia, etc., etc.. O padre, em altos brados mandou a mulher retirar-se da igreja. Ela obedeceu continuando a resmungar. O acto religioso continuou sem grande ou nenhuma devoção. O facto foi muito comentado e tempos depois o pároco foi transferido. Reminiscências de infância.
Rio, 31 de Maio de 1996
Correspondência entre Manuel e Ilídio