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MELGAÇO, DO MONTE À RIBEIRA

História e narrativas duma terra raiana

MELGAÇO, DO MONTE À RIBEIRA

História e narrativas duma terra raiana

CONTRABANDO, A FROTA EM MELGAÇO

melgaçodomonteàribeira, 08.03.13

 

 

A FROTA



   Frota era o termo como se vulgarizou o contrabando. Foi uma invenção do Ná. Em 1940 a guerra mundial estava no auge germânico. A Melgaço chegavam as notícias através dos poucos rádios existentes, dos jornais e principalmente das revistas de propaganda enviadas pelas Embaixadas dos países envolvidos no conflito. Essas revistas eram maravilhosas em aspecto gráfico, coloridas, quase só com fotografias mostrando o progresso dos exércitos dos países em questão. Quem distribuía as revistas inglesas (em língua portuguesa, umas e outras) era o António Reis e o Alfredo Pereira (Pandulho); e as alemãs o Hilário. Este, além de distribuir as revistas expunha nas suas vitrines cartazes e fotografias do cenário da guerra, exibindo o sucesso nazista.

   Nos primeiros anos de guerra, em Melgaço, havia bastantes simpatizantes dos alemães.

   Então, falava-se muito no movimento das frotas marítimas, dos grandes navios, especialmente as frotas (comboios) que atravessavam o Atlântico com suprimentos americanos para os aliados. Os submarinos alemães botavam a pique parte dessas frotas.

   O contrabando em Melgaço era a única actividade do povo; acontecia, vez por outra, para mostrar serviço ou porque não lhes davam a ‘bola’ que esperavam, os guardas-fiscais prendiam as mercadorias. ‘Bola’ era a propina para fecharem os olhos. E este termo derivava da bola de carne com veneno que alguém incomodado dava, secretamente, aos cães vadios ou dos vizinhos para se calarem (morrerem).

   Quando, então, a guarda-fiscal pegava as mercadorias diziam: a Frota de fulano foi a pique. O termo se vulgarizou e passou a designar contrabando em todo o Alto-Minho e pessoas ficaram famosas e ricas como Frotistas.

 

Rio, 31 de Maio de 1996

 

Correspondência entre Manuel e Ilídio