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MELGAÇO, DO MONTE À RIBEIRA

História e narrativas duma terra raiana

MELGAÇO, DO MONTE À RIBEIRA

História e narrativas duma terra raiana

MELGAÇO EM A ILUSTRE CASA DE RAMIRES

melgaçodomonteàribeira, 08.03.13

 

 

A ILUSTRE CASA DE RAMIRES

 

    Gonçalo vergou os ombros, confessou que se ocupara de toda essa heráldica história por um motivo bem rasteiro – por miséria!...

   — Por miséria?

   — Sim, prima Maria, por penúria de moeda, de cobres.

   — Conte! conte! Olhe, a Anica está ansiosa…

   — Quer saber, Sra. D. Ana?... Pois foi em Coimbra, no meu segundo ano de Coimbra. Os companheiros e eu chegamos a não juntar entre todos um vintém. Nem para cigarros! Nem para o sagrado decilitro de carrascão e as três azeitonas do dever… Um deles então, rapaz muito engraçado, de Melgaço, surdiu com a idéia estupenda de que eu escrevesse aos meus parentes de França, a esses Cleves, a esses Tancarvilles, senhores decerto imensamente ricos, e solicitasse, com desembaraço, um emprestimozinho de trezentos francos.

D. Ana não conteve um riso, sinceramente divertido:

   — Ai! tem muita graça!

   — Mas não teve resultado, minha senhora… Já não existem Cleves, nem Tancarvilles! Todas essas grandes famílias feudais findaram, se fundiram noutras casas, até na casa de França. E o meu Padre Soeiro, apesar de todo seu saber genealógico, nunca conseguiu descobrir quem as representava com bastante afinidade para me emprestar, a mim parente pobre de Portugal, esses trezentos francos.

 

 Pag. 225

 

 A Ilustre Casa de Ramires


Eça de Queiroz


Edição «Livros do Brasil» Lisboa


Arquivado em: melgaço história, cultura