Saltar para: Post [1], Pesquisa e Arquivos [2]

MELGAÇO, DO MONTE À RIBEIRA

História e narrativas duma terra raiana

MELGAÇO, DO MONTE À RIBEIRA

História e narrativas duma terra raiana

AS MULHERES DO CONTRABANDISTA

melgaçodomonteàribeira, 08.03.13

 

 

UMA VIDA SENTIMENTAL PARTICULARMENTE ATRIBULADA

 

   "Águas passadas não movem moinhos." Helena do Ângelo, de 70 anos, resume, assim, as vidas sentimentais atribuladas – a sua, a de Adolfo Vieira e a de outras mulheres que ele conquistou ao longo das décadas de 40 e 50.

   No auge, dono de propriedades, milionário, figura respeitada, Adolfo deitou para trás das costas moralismos ou tradições familiares e tratou de levar a vida à sua maneira. As mulheres terão sido a sua perdição.

   Casado com Ernestina, senhora da vizinha vila de Melgaço, cedo abandonou o lar, deambulando atrás deste ou daquele rabo-de-saia. “Se calhar, porque a legítima nunca lhe pode dar filhos”, recorda Joaquim Brito, presidente da Junta de Freguesia de Monção, que herdou do pai uma alfaiataria, onde Adolfo Vieira mandava fazer os seus fatos.

   De Helena do Ângelo, o homem deixou três filhos  –  Idalina, Luís e Fernando – , da Quinhas outro, mais um da Binda das Sousas e dois da bonita galega Pilar Ramona. Avesso a “falsos moralismos”, conforme relata o dono de um café no centro de Monção, o contrabandista viveu ali todas as suas paixões, fixando residência conforme a senhora amada. Devaneios que nunca escondeu.

   Na vila, não se conhecem desvarios sentimentais, arrufos públicos, dramas conjugais. “O que havia era que, quando íamos à mercearia, ficávamos a olhar umas para as outras, a ver quem comprava mais, para ver a quem ele tinha deixado mais dinheiro”, lembra Helena.

   Adolfo alugou casas, entregava a mesada às companheiras, “amou todos os filhos”, mas deitou tudo a perder. “A Ramona fê-lo perder a cabeça. Gastou todo o dinheiro com as mulheres, mais a Pilar, mas também me deu muito!”, atira.

   Helena, por desgosto, emigrou para Angola e, quando voltou, soube que Adolfo, antes de morrer, tentara voltar para a esposa. “Quem não teve a carne também não quer o osso”, ter-lhe-á dito Ernestina, na versão de Helena.

   Há dias, Pilar Ramona passou por Monção, aonde foi tratar de papelada relacionada com a morte recente dos dois filhos. E quis visitar Helena, por quem nutre um sentimento de amizade…

 

 DIÁRIO DE NOTÍCIAS – QUINTA-FEIRA, 30 DE JANEIRO DE 1997